O recital de Homero Velho e Liliana Michelsen no StudioClio

Foto: Chico Marshall
Foto: Chico Marshall

Sexta-feira (12) à noite, eu e Elena fomos assistir ao recital do barítono Homero Velho e da pianista Liliana Michelsen no StudioClio. O repertório foi o belíssimo ciclo de canções Dichterliebe (amor de poeta), de Robert Schumann, sobre poemas de Heinrich Heine, e o nem tanto La bonne chanson, de Gabriel Fauré, sobre poemas de Paul Verlaine.

Conforme sublinhou o próprio Homero, o recital deixou clara a diferença jamais negada de estilos entre música francesa e alemã. Bem, meu gosto é totalmente tedesco, ainda mais quando a comparação é com a música francesa.

Gostos à parte, o recital mostrou dois músicos entrosados — e eu creio que eles fizeram poucos ensaios prévios, pois Homero chegara a Porto Alegre no dia anterior –, de grande capacidade expressiva e belos fraseados. Eu já conhecia o timbre da voz de Homero do Don Giovanni que ele fez com a Ospa no inverno do ano passado, mas ouvi-lo numa sala pequena e com a qualidade acústica que temos no Clio foi um renovado e ampliado prazer. A voz do cara é mesmo um espanto. Tanto que quase gostei do Fauré. Quase.

Liliana acompanhou o altíssimo nível de Homero e Chico Marshall destacou-se como o bardo leitor dos poemas em português.

Vocês, meus sete leitores, conhecem Schumann, mas talvez não conheçam a poesia de Heine. Heine foi um satírico e dramaturgo genial. Até foi alvo de uns dois ou três textos elogiosos neste blog. Sua poesia romântica deve ser linda em alemão, porém em português certamente perde muito. Chico sofreu… Robert Frost escreveu que “a poesia é o que se perde na tradução”, corolário repetido recentemente no Paterson de Jim Jarmusch: “Ler um poema traduzido é como tomar banho de capa de chuva”. A poesia romântica de Heine é descabelada, ainda mais que o coitado do poeta não tem resposta da amada que casa com outro e deixa o moço sozinho com suas dores. Ou seja, a poesia é de matar, mas, com sua música, Schumann garantiu sua chegada a nossos dias. Só não precisavam traduzir, pelamor.

Le bonne chanson é um ciclo de nove canções. A desgraça de Fauré foi semelhante a do poeta criado por Heine. Olha só: boa parte do ciclo foi composta nos verões de 1892 e 1893 enquanto Fauré permanecia em Bougival como hóspede do banqueiro Sigismond Bardac e de sua esposa, a soprano Emma Bardac. Claro que Fauré estava apaixonado por ela, que acabou casando com Debussy… Fauré escrevia todos os dias e Bardac experimentava cantar, talvez pensando em Debussy. Acabou que Le bonne chanson foi dedicado a Emma e que Fauré acabou a obra aparentemente sem comer ninguém.

Saint-Saëns ouviu o ciclo e declarou que Fauré tinha ficado louco. Não é para tanto, mas entendo Camile. Por outro lado, Proust assistiu a estreia privada e adorou. Isso que ele nem ouviu Homero Velho e Liliana Michelsen. Duvido que tenha sido melhor.

Foto: Chico Marshall
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1 comment / Add your comment below

  1. Passo a imaginar que meu Guru leia Heine em alemão. Tá bom, dá próxima, leio tudo no idioma original, e sem iconofone.

    Ironias à parte, obrigado. E Homero é mesmo extraordinário, assim como Liliana, e este Schumann é naravilha máxima.

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