O Questionário de Proust (XIX) – Responde Luigi Augusto de Oliveira

Publicado em 14 de março de 2007

Sim, pedi-lhe uma mini-bio. Recebi como resposta:

Olá, Milton.
Veja se serve a minha biografia oficial. Normalmente não serve, mas é a oficial… Nessa Era de Kali-Google, talvez seja até excessiva:

“Luigi Augusto de Oliveira é mineiro.”

Bem, aí está. Porém, fui ao Kali-Google e, de cara, encontro Luigi Augusto de Oliveira (Brasil, 1969). Poeta e romancista. Autor de livros como Dalma, na rede (1997), Solo para ti (2001), e Crucial e vão (2001)..

Tento de novo e leio Luigi Augusto Oliveira foi vencedor na categoria romance do 1º Prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira, que teve como júri o romancista Cristóvão Tezza e os escritores André Sant´Anna e Bernardo Ajzenberg. Também fico sabendo que ele foi menção honrosa no Concurso de Narrativas Breves Haroldo Maranhão.

E há coisas como esta e esta por aí. Conheço-o apenas de e-mails trocados. Suas respostas são excelentes. Confiram.

Ah, e seus livros também estão por aí.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Não creio em defeitos. Creio em atitudes e omissões, adequadas ou não a um contexto.

Como gostaria de morrer?

Sem sofrer senão o imprescindível, mas sem inconsciências ou distrações. Não quero perder o espetáculo, afinal é único e exclusivo.

Qual é seu estado mental mais comum?

A esperar. Mas sem saber o quê, e sem nunca ser o que eu supunha que seria, ou como seria, quando posteriormente me ocorre imaginar que eu supunha algum objeto um pouco menos impreciso. Desculpem a confusão: é frustrante para mim também, e assim eu comunico um pouco desse estado.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Menos o preferido que o mais obsedante: eu.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Entre as que continuam a ser, a biblioteca exagerada que não viverei pala ler/reler bem. Entre as finadas, ter um dia levado a sério o que a grande mídia (e as menores que apenas a acompanham) considera ser a cultura, a arte, o merecedor de atenção.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Não desprezo pessoas, mas atitudes e omissões, e nem sempre por serem inadequadas ao contexto: ao contrário, tendo a admirar estas e a desprezar as demasiado adequadas, eficientes, as que dão “sucesso”… já que o Grande Contexto é um fracasso em todos os sentidos.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Não admiro pessoas, etc.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Um violoncelo.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Só quando falo ou escrevo.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Quando já nem sequer ocorrerá pensar nisso, ou desejá-lo ou a seus subterfúgios.

Qual é seu maior medo?

Que nada mude. Nem mesmo para pior. Que na velhice eu veja que nem um pouco “disso” que aí está sequer começou a acabar.

Qual é seu maior ressentimento?

Não ter sabido mais cedo e jovem das coisas que eu devia desprezar – e isso era quase tudo.

Que talento desejaria ter?

Ouvido absoluto. Menos pelo ouvido que por ter algo concretamente absoluto.

Qual é seu passatempo favorito?

Desprezar passatempos e cada vez mais aprender a enxergar como quase tudo que nos é ofertado fazer é mero passatempo.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

O mesmo que em todas as demais: a visibilidade. Maria Zambrano disse que, pela etimologia, família são aqueles que enfrentam a fome juntos. Mas as fomes só podem ser bem enfrentadas na quietude, na moita, o que se torna a cada dia mais difícil e condenável socialmente.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

A sofreguidão por passatempos ou por diversão, ou por visibilidades (o “vejam que eu também estou a fazê-lo!”), se não for tudo a mesma coisa.

Onde desejaria viver?

Na mais ensolarada entre as cidades da Escandinávia, mas não das grandes nem das lembradas em qualquer mapa.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Inteligência. Cada vez mais inútil e mesmo prejudicial, socialmente e para o indivíduo em sua inserção social.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

Não creio em qualidades etc.

Quando e onde você foi mais feliz?

No ventre. O “mais” da pergunta é dispensável.

Próximo: Marconi Leal

Obs. do Milton: Sobre a última pergunta, a grande Iris Murdoch diz o seguinte: “A tranqüilidade de espírito, a ausência de ansiedade, a ausência de medo: são estes os ingredientes da felicidade.” Retirado deste excelente blog.

O Questionário Proust (XVIII)– Responde Marconi Leal

Publicado em 19 de março de 2007

O fim de semana acabou. Finalmente! Eu não aguentava mais. Ah, o trabalho, os compromissos, os telefonemas, a mesa de trabalho bagunçada, a falta de dinheiro, a correria… Pode haver coisa melhor? Estou feliz, enfim! Bem, aí estão as respostas do Marconi Leal. Muito boas, muito boas. Talvez para me agradar, ele responde que gostaria de viver aqui. Só que é exatamente onde eu também queria estar.

Marconi Leal nasceu no Recife, a 30 de janeiro de 1975. Não por vontade própria, mas por puro esquecimento. No caso, esquecimento de sua mãe, que não tomou a pílula. Atualmente, reside em São Paulo, onde desenvolve o trabalho de redator, revisor e escritor, além de uma asma alérgica motivada pela poluição. É autor de O Clube dos Sete,Perigo no Sertão,O País Sem Nome, entre outros. Considera “entre outros” o melhor deles.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

O fato de elas não serem eu.

Como gostaria de morrer?

Respirando.

Qual é seu estado mental mais comum?

O aparelho em jambo me sucede ontem.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Deus.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Certa vez votei no PFL.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Fosse ele uma pessoa, desprezaria o Bush.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Os imitadores de Paulo Francis. Não têm talento, mas são persistentes.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Numa atendente de telemarketing, pra me vingar.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Declarando o IR.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

O William Bonner decapitado.

Qual é seu maior medo?

Medo, nenhum. Pavor: baratas voadoras.

Qual é seu maior ressentimento?

Não tenho ressentimentos. E me ressinto muito disso.

Que talento desejaria ter?

O de ouro.

Qual é seu passatempo favorito?

Discutir com a televisão.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Só os parentes.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Recolher amostra para exame de fezes.

Onde desejaria viver?

Dentro de certa crônica sobre um cinema Marabá.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Virtude no âmbito social? Desconheço.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

O fato de que ele dura no máximo 100 anos.

Quando e onde você foi mais feliz?

Aqui em casa, diante do computador, minutos atrás, antes do Milton Ribeiro me mandar esse questionário.

O Questionário de Proust (XVII) – Responde Allan Robert

Publicado em 13 de março de 2007

Não sei vocês, mas eu me divirto muito com este questionário. E há os bastidores. Pedi uma mini-biografia de 5 a 10 linhas para o Allan, ele começou o texto dizendo que tinha pouco a dizer mas escreveu 20 linhas ou mais… Tá bom. O Allan mora em Piacenza e é o grande autor do Carta da Itália. Encontrei-o quando estava em Trento, lá em dezembro de 2005. É inacreditável que ele, tão gentil e tranqüilo no meio daquela neve, tenha sido alguém que, na juventude, trocasse socos por quaisquer motivos, como confessa abaixo.

Tem muito pouco a ser dito a meu respeito. Não que eu seja simplório ou modesto, mas raramente me sinto bem no papel de protagonista. Carioca, Flamengo, nascido e crescido em Copacabana até os 13 anos. Depois, Embu, em SP, onde minha mãe, pintora, participou do nascimento do movimento artístico daquela cidade. Passei muito tempo na Via Dutra, morando ora no Rio, ora em SP. Não me formei em Propaganda e Marketing, nem em Economia. A curiosidade me levou a diversos cursos: fotografia, piloto de avião, canto, judo, batik, joalheria, capoeira. Mas nada levado muito a sério, só buscava algumas respostas e diversão. Era capaz de mudar de humor com um olhar errado e trocar socos com qualquer um. Com o tempo aprendi a respeitar o ponto de vista alheio, até porque os socos doem. Casado com a Eloá há vinte anos, pai da Bianca há 14 e da Luiza há 12, sou fiel aos amigos e aos animais. Meu blog começou a partir da necessidade de manter laços que me são caros e dos e-mails que enviava semanalmente aos amigos deixados no Brasil. Não tenho paciência de editar nada do que escrevo e o meu solecismo fica explícito na cacografia que produzo (gosto de pensar que ninguém precisa da gramática para ser criativo, mas no fundo é preguiça mesmo). Já produzi e expus quadros, esculturas e jóias e vendi tudo. Uns trocados com fotografia, mas prefiro tomar água de coco na praia. Quando tinha 17 anos pensava que era fácil ser poeta, mas não me empenhei. Vim para a Itália em 1999 pensando em ficar uns 4 ou 5 anos, mas pensando morreu um burro. Meus melhores momentos acontecem quando estou dormindo: tenho cada sonho. Prefiro ser um observador. Às vezes privilegiado, como um voyeur que, protegido pela porta, se diverte a olhar dentro das casas que as pessoas constroem na alma.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas ?

A arrogância.

Como gostaria de morrer?

Quem disse que eu gostaria de morrer?

Qual é seu estado mental mais comum?

Costumo me perder em divagações e sou muito distraído .

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Não gosto de listas de preferências. Acho que elas reduzem os horizontes.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Charutos, se tiver que escolher algo material, mas ainda acho que a maior extravagância do ser humano é estar vivo.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

A lista seria muito longa .

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Admiro muitas pessoas do meu círculo pessoal. Entre as pessoas famosas não admiro ninguém de maneira especial, mas poderia citar Amyr Klink.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Um tigre, uma gaivota, um professor de literatura .

Em quais ocasiões costuma mentir ?

Qualquer ocasião é boa para mentir. O importante é não perder a oportunidade.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Uma casa de campo na beira do mar.

Qual é seu maior medo ?

Sobreviver às minhas filhas.

Qual é seu maior ressentimento?

Descobrir que a humanidade não retribui a consideração que tenho por ela.

Que talento desejaria ter?

Poder voar como os pássaros. Ter o dom da escrita.

Qual é seu passatempo favorito ?

Ler e caminhar por lugares desconhecidos.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Acredito que os defeitos fazem parte das pessoas tanto quanto as qualidades.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Viver da miséria ou ignorância alheias.

Onde desejaria viver?

Numa casa de campo na beira do mar.

Qual a virtude mais exagerada socialmente ?

A humildade.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

A lealdade. Por pessoas, idéias ou ideais .

Quando e onde você foi mais feliz?

No Rio, em Salvador, em Ilhabela e em Macaé. Enfim, em qualquer cidade de praia.

O Questionário de Proust (XVI) – Responde Tiago Casagrande

Publicado em 7 de março de 2007

Apresentar Tiago Casagrande, o Tiagón? Fiquei um bom tempo na frente do monitor pensando em como somos parecidos. Ele não sabe disso. Sinto-me muito próximo a ele. Ele é mais ou menos eu há 22 anos atrás. Espero que dê mais certo… Um exemplo: só li suas respostas hoje, mas já tinha pensado em dizer que meus momentos mais felizes ocorreram enquanto ouvia música e quando vi meus filhos pela primeira vez. Ele respondeu o que eu responderia e colocará seus filhos na resposta quando tivé-los. Estou escrevendo este parágrafo – agora!, em linguagem Tristram Shandiana – e vejo a Olivia no MSN. Peço-lhe para que ela apresente o Tiago. Ela escreve o que segue e não acrescentarei mais nada porque não precisará:

Tiagón é uma mente que transita por entrelinhas de idéias, nisso de captar o que existe em planos outros. Um escritor meio musical ou talvez um músico meio literário perdido – perdidíssimo – entre publicitários. E ele só faz mesmo sentido em sua falta de sentido, olhando o mundo com seus olhos de rei anacrônico feito criança que não sabe ler e vira o livro de ponta-cabeça porque afinal são tudo pequenos desenhos enfileirados. E só não digo que Tiagón é gênio porque gênio é coisa de poeta romântico e crítico bardólatra mal-resolvido.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Ultimamente os humanos andam me irritando muito. E a maioria desses defeitos pode ser englobada numa categoria “desrespeito”.

Como gostaria de morrer?

Sonhando. Ei, na verdade eu não gostaria de morrer! Essa é uma pergunta capciosa? ;-D

Qual é seu estado mental mais comum?

Ocupado, como um pregão da bolsa de valores. Na minha cabeça tem sempre um monte de gente gritando, confundindo e geralmente me vendendo.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Space Ghost, versão talk show host. Meu alter ego é burro e sem noção de nada.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Um ao vivo pirata do Black Sabbath, gravado em 74. Na época, custou quase uma mensalidade da Famecos (que era, imagina, 350 pilas).

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Provavelmente, o Faustão.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Woody Allen.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Ah, só se fosse alguém muito rico, tipo Príncipe de Dubai, essas coisas. Se é pra voltar pro miserê, me deixa em paz!

Em quais ocasiões costuma mentir?

Em eventos e festinhas de publicitários. Mas só porque é de bom tom.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

A ausência total de angústia. (Soou muito dramático? Dá pra botar um drum roll no final, se achares melhor ;-))

Qual é seu maior medo?

Um ataque simultâneo de mais de 150 espécies de insetos, sendo metade deles (mais um) formada por unidades de ataque voadoras. Agh!

Qual é seu maior ressentimento?

A vitória da Yeda nas últimas eleições. E o futebol do Ronaldinho na final do mundial de clubes passado.

Que talento desejaria ter?

Barba e costeletas.

Qual é seu passatempo favorito?

Ler os blogs da Verbeat! Ler continua refrescando.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Adicionaria uma tia rica, generosa e moribunda. E um primo fanho. Primo fanho é diversão garantida!

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Rabada!

Onde desejaria viver?

Numa Porto Alegre com a segurança de 20 anos atrás. E que tivesse mais bares legais perto da minha casa. E um súper melhorzinho, porque aquele da Carazinho tá muito bagunçado. E num Petrópolis que não tivesse tanta lomba. E o Barranco não cobrasse tão caro.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Vida saudável. Ergométricas, broto de alfafa e despertar às 6h da madrugada não conjugam com o verbo “viver”. Tá todo mundo maluco.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

A sorte.

Quando e onde você foi mais feliz?

Acontece seguido, esteja onde estiver, ouvindo música. De tempos em tempos, surge *aquela* música, que não é só uma grande música mas também tem aquela rara capacidade de traduzir musicalmente o que a palavra “beleza” significa a toda a sensibilidade do nosso córtex. Sendo capaz de desafiar áreas inexploradas da nossa subconsciência. (Inclusive houve hoje; descobrindo “Holy Ghost”, do Owls.) E no momento desse encontro a torrente elétrica que se cria vai levar os harmônicos do som pra tocar pertinho do lugar onde ficam as melhores memórias, e o resultado é uma sensação de plenitude e compreensão alavancada pela música e formada pela fumaça de todas as felicidades das mais felizes memórias. É como se *aquela* música pudesse traduzir os códigos inconscientes do que é mais puro e bom naquilo do que somos formados, sem que o raciocínio estrague tudo. E quando isso acontece, eu me sinto feliz pelo que tenho e pelo que sou. Sem ter que pensar no que “felicidade” significa.

O Questionário Proust (XV)– Responde Luiz Biajoni

Publicado em 3 de março de 2007

O Biajoni tem razão. Conheço pessoas que dizem que ele é louco. Não é. E olha que eu sei identificar os loucos e os chatos a quilômetros de distância. É um cara legal, daqueles que a gente senta tranqüilo num bar sabendo que só receberá gentileza e boas piadas. Passamos uma tarde e uma noite entre outros amigos, em São Paulo. Como não gostar de alguém que topa qualquer papo, de alguém que tem autêntica curiosidade pelas pessoas, de alguém que ADORA provocar, mas que aceita o contra-ataque com o melhor dos humores? É um ressentimento justo, Biajoni. Te entendo. E, puxa, gostaria de vê-lo muito mais do que uma vez.

E o prazer de estar com o Bia é perfeitamente transposto a seus textos. São leves, fluidos e, quando ele quer, muito provocativos. É bom lê-lo, prova disso é que dá de goleada em mim em número de leitores aqui na Verbeat.

Obs.: Na verdade, acho que estou escrevendo isto só porque ele diz eu sou bonito, apesar de ter denunciado que passo muito trabalho equilibrando uma taturana debaixo do nariz.

– Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Irritação. Pessoas que se irritam por qualquer coisa me enchem.

– Como gostaria de morrer?

Numa manhãzinha de segunda-feira, para fazer valer uma folga para os amigos. De ataque cardíaco fulminante.

– Qual é seu estado mental mais comum?

Meu estado mental mais comum se chama “lambari”. Parece que tem vários deles atravessando meus pensamentos.

– Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Ulisses, da Odisséia.

– Qual é ou foi sua maior extravagância?

Comprar CDs. Fazendo contas por baixo, gastei um automóvel zero em CDs. (Bom, não podemos contar exatamente como extravagância o fato de ter escrito um livro, né?)

– Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Desprezo o Bush.

– Qual é a pessoa viva que mais admira?

Pô, admiro muita gente. Admiro todos que vivem bem fazendo o que gostam.

– Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Pô, se pudesse, gostaria de voltar “Biajoni reloaded” – tive uma ótima vida até agora, apesar de todas as dificuldades.

– Em quais ocasiões costuma mentir?

Não costumo mentir. Se o faço em alguns momentos é para proteger alguém que amo – ou para não constranger alguém.

– Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Casa com quintal e plantas, não precisar trabalhar, família por perto, livros, discos e filmes à mão, computador bom com internet rápida, comidas e bebidas boas, não ter hora para dormir ou acordar.

– Qual é seu maior medo?

Não dar conta de cuidar das pessoas que dependem de mim.

– Qual é seu maior ressentimento?

Ser considerado maluco por alguns.

– Que talento desejaria ter?

Da música, saber tocar um instrumento.

– Qual é seu passatempo favorito?

Sentar com amigos para uma cerveja e uns beliscos ouvindo discos obscuros e tecendo conspirações.

– Se pudesse, o que mudaria em sua família?

O volume da voz.

– Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

É incrível que ainda exista gente passando fome, pleno século XXI.

– Onde desejaria viver?

Olha… Atualmente penso muito em Minas Gerais.

– Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Minha? Me empolgar e beber demais quando com os amigos.

– Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

A mesma que Schopenhauer: a de (ainda) se sacrificar por outrem.

– Quando e onde você foi mais feliz?

Atualmente. Embora precisasse de mais dinheiro.

:>)

O Questionário de Proust (XIV) – Responde Serbon

Publicado em 2 de março de 2007

BIOGRAPHIA DO SERBON (por ele mesmo)

Roqueiro, sãopaulino , blogueiro e pai em horário integral; músico bissexto(bissexual é a mãe) e jornalista nas horas vagas. Sergio Bomfim (corruptela de Serbon ou Serbão para os íntimos) encontra-se em crise da meia idade, pois entrou há pouco na chamada Casa dos Enta. Está criando um alter-ego, o Leonardo, que já tem 12 anos, desenha pra caramba e – oh tempora, oh mores! – sempre sacaneia o pai. Serbão já tentou largar o vício de blogar, mas desistiu e segue a política de redução de danos: apenas um post por dia.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

a pieguice. argh!!!!

Como gostaria de morrer?

eu queria morrer dormindo, como meu avô. não desesperado, gritando, com os passageiros do vôo que ele pilotava.

Qual é seu estado mental mais comum?

confuso? não peraí, indeciso. não, confuso mesmo. é, confuso. ou indeciso.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Kramer, do Seinfeld. não trabalha, não faz nada e sabe-se lá como vive, mas é um tremendo cuca-fresca.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

uma vez, quando o real estava pau a pau com o dólar. arrisquei e comprei um vidrinho de caviar. fiquei sem dinheiro pro ônibus. mas gostei. como diria o Mundinho de Dona Flor, “tem gosto e cheiro de xibiu”…

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Nicolas Cage, disparado.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Jim Morrison. ele não morreu não, forjou a própria morte e trocou de identidade. tem um cadáver de uma loba no túmulo de Père Lachaise.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

eu queria voltar como eu mesmo, mas com toda a experiência que tenho agora!!!!

Em quais ocasiões costuma mentir?

em todas as necessárias.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

o dolce far niente. sou devoto de São Domenico De Masi, o santo padroeiro do ócio.

Qual é seu maior medo?

o de não ter medos, pois aí, estarei anestesiado na vida.

Qual é seu maior ressentimento?

minhas histórias de rejeição.

Que talento desejaria ter?

surfar.

Qual é seu passatempo favorito?

internet. é o favorito de 90% dos que lêem blogs, mas só 0,1% admitem.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

gritaríamos menos.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

ir à uma festa, e recolher todas as latinhas de alumínio “pra reciclar”…

Onde desejaria viver?

num cantinho aconchegante.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

aparências…

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

carisma.

Quando e onde você foi mais feliz?

rapaz, pergunta difícil não vale!

O Questionário de Proust (XIII) – Responde Sílvia Chueire

Publicado em 28 de fevereiro de 2007

Não era para eu ser amigo da Silvia, não devia gostar dela e muito menos lê-la. Ela é uma poeta e eu sou o anti-poético por excelência. Leio pouca poesia, nunca me ocorreu pensar algo que pudesse tornar-se poema e me pergunto: que estado de espírito poderia me fazer parir aquelas linhaszinhas? Mas sou um leitor dedicado e descobri a Silvia junto com os portugueses que editam seus livros. Gosto das linhaszinhas dela. Muito.

Ela é médica psiquiatra – não cobra nada para me tratar pelo telefone e, na maioria das vezes,  ainda paga a ligação do Rio -, é dona deste blog, escreveu Por favor, um blues, livro de poemas lançado em Portugal, já tem outro a caminho (também em Portugal) e é alguém que derruba o estigma das loiras serem burras. Ou será que as libanesas são loiras diferentes? Sim, deve ser isso. A propósito, quando você for a seu blog e cruzar com algo que tenha como título “Árabes”, leia!

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

A hipocrisia.

Como gostaria de morrer?

Rapidamente.

Qual é seu estado mental mais comum?

Consciente.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Há vários, o Mersault do Estrangeiro de Camus, a Ana Terra do Tempo e o Vento do Érico Veríssimo são dois deles.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Não me lembro de uma.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Não vale a pena mencionar.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Não está mais viva.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Voltava mar.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Para evitar chatos.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

A paixão correspondida.

Qual é seu maior medo?

Alzheimer.

Qual é seu maior ressentimento?

A maldade, a falsidade, o mau-caratismo.

Que talento desejaria ter?

Gostaria de poder pintar.

Qual é seu passatempo favorito?

São muitos : navegar na net, ler, cinema, ouvir música, dançar, etc.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Não mudaria, estão bem assim.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

O abuso de crianças.

Onde desejaria viver?

No Rio de Janeiro e em Lisboa. Talvez Paris (temporariamente) e uma ilha em Angra dos Reis.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

A beleza.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

São duas, inteligência e o bom caráter.

Quando e onde você foi mais feliz?

No dia em que tive cada um dos meus filhos, no Rio. E depois: entre 1999 e 2001, por aí.

O Questionário de Proust (XII) – Responde Manoel Carlos

Publicado em 27 de fevereiro de 2007

Uma das melhores lembranças que trouxe de minha última viagem ao Rio foi Manoel Carlos. Gostei muito de conhecê-lo. É um pernambucano tranqüilo e gentil, de posições firmes – muito próximas às minhas -, e que aceita a cordial discordância. Mas se você quiser ver um Manoel amoroso é só falar o nome Flora… Espero que seus outros três filhos não se irritem com minha inconfidência (ou suposição de preferência, talvez; o que sei eu, afinal?).

Pedi-lhe uma minibio e ele escreveu esta:

“Nascido em Pesqueira, Agreste de Pernambuco, em 1951. Analista de Sistemas e Consultor. Viveu em Pernambuco, África e Rio de Janeiro, onde reside. Foi Coordenador do DCE da UFRJ, Secretário Geral do Instituto Cultural Brasil África, membro da Coordenação Executiva Nacional do Comitê Anti-Apartheid do Brasil e membro do Conselho Editorial do Jornal Inverta. Recebeu Moção de Honra da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Ocupou diversos cargos na administração pública. Casado, tem quatro filhos.”

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Geralmente condenamos nos outros nossos próprios defeitos.

Como gostaria de morrer?

Gostaria de não morrer.

Qual é seu estado mental mais comum?

Sendo uma pessoa comum, não tenho alterações significativas de humor ou estado mental.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

É mutável, depende das circunstâncias, o que durou mais tempo como preferido não era de ficção, entre infância e adolescência, foi Spartacus.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Eita! Fiquei ruborizado só de me lembrar.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

É circunstancial, conjuntural, hoje seria fácil dizer que é Bush.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Conheci pessoas tão maravilhosas, como Prestes, Gregório Bezerra, Vasco Cabral… o padrão exigido passou a ser alto demais, admiro aspectos de pessoas, algumas como escritores, outras como músicos, mas não tenho ídolos vivos.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Depois da experiência, como eu mesmo, pois poderia ser eu e ser muito melhor, mais útil, mais produtivo, mais tolerante…

Em quais ocasiões costuma mentir?

Às vezes, omito (para não machucar os outros), às vezes aumento um pouco (quando me entusiasmo numa narrativa), mas não minto.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Não tenho uma idéia de felicidade perfeita, pois a felicidade está sempre associada a um processo de construção, aprendizado e aperfeiçoamento.

Qual é seu maior medo?

É de me deixar dominar pelo medo, pois só me considero corajoso pela capacidade de superar meus medos.

Qual é seu maior ressentimento?

Procuro me esquecer das coisas que possam provocar ressentimento.

Que talento desejaria ter?

Musical.

Qual é seu passatempo favorito?

Já gostei muito de praticar esportes, atualmente gosto de ouvir música, ler, usar computador e ver jogos pela TV.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Não sei, talvez precisasse mudar algumas coisas em mim, antes de tentar mudar coisas em minha família, mas com certeza o que manteria é o afeto que nos une.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Há tantas, talvez as que determinem degradação moral.

Onde desejaria viver?

Como diz Paulinho da Viola, voltar quase sempre é partir para um outro lugar. O Recife é a cidade de que mais gostei, mas não sei se o Recife que amo é real ou se o criei, fertilizado pela saudade.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Não sei.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

Muitas. Generosidade, humildade, simplicidade.

Quando e onde você foi mais feliz?

Em geral sou mais feliz no presente, pois a felicidade passada, por saudosa que seja, serve para me ajudar a ser feliz no presente. Em Pesqueira, no Recife, na África e no Rio tive momentos de felicidade que carregarei para sempre comigo.

Caro Milton, respondi de supetão, pois não vale a pena pensar muito, se o fizermos, poderemos perder a naturalidade.

O Questionário de Proust (XI) – Responde Marcelo Backes

Publicado em 23 de fevereiro de 2007

Conheço Marcelo Backes há muitos anos. Gaúcho de Paca Norte, noroeste do estado, é o cara que mais sabe sobre literatura dentre todas as pessoas que conheço. Além de incontáveis traduções – incluindo Goethe, Kafka, Marx, Heine, Nietzsche, Schnitzler e outros de língua alemã – é autor de três livros: Estilhaços (Record, 2006), A Arte do Combate (Boitempo, 2003) e Lazarus über sich selbst: Heinrich Heine als Essayist in Versen (Peter Lang Verlag, 2005). Também selecionou e traduziu os contos do esplêndido Escombros & caprichos: O melhor do conto alemão no século 20 (L&PM, 2004). Tudo isso, é claro, está longe de ser desprezível, mas a mim o que interessa é o grande amigo de frases surpreendentes e lapidares que, como eu, sofre com as agruras do Internacional de Porto Alegre. O que mais sinto em relação ao Marcelo são saudades; porra, como este cara viaja! Atualmente mora no Rio com sua Nina, mas hoje, neste momento, está na Alemanha. Não disse?

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Prometer tudo e não fazer nada; eu não prometo nada – e não estou falando de trabalho – e tento fazer alguma coisa.

Como gostaria de morrer?

Gaúcho e missioneiro que sou, na guerra mundana ou em batalha amorosa.

Qual é seu estado mental mais comum?

Letargia, combatida e vencida todo dia. É pena, mas tem de ser assim.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

O príncipe Míchkin, de “O idiota”, de Dostoiévski.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Entre as confessáveis, volubilidades como passat alemão, armani, osklen e que tais…

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Ignoro muitas, tento me ocupar de poucas delas a ponto de chegar a desprezá-las.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Admiro muito o Zezinho Queiroga, por exemplo, e Juli Zeh, uma autora alemã de trinta e bem poucos anos.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Na condição de touro, mas no pampa bravio e selvagem de vários séculos atrás.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Sempre que a verdade especulativamente doeria mais; mas apenas se a coisa for de foro privado, pois em questão pública não se mente.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Viver muito bem de direitos autorais sem me prostituir intelectualmente. Ave, paraíso!

Qual é seu maior medo?

Ter o filho que um dia quero ter.

Qual é seu maior ressentimento?

Não ser um grande jogador de sinuca.

Que talento desejaria ter?

Talvez cantar, que seria onde eu ganharia mais, uma vez que partiria do zero absoluto, na condição de pior cantor do mundo. Diria ser um grande jogador de futebol, mas sou capaz de fazer 200 embaixadinhas.

Qual é seu passatempo favorito?

Olhar o mundo em todas as suas protuberâncias.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Não mudaria nada, mudar o outro segundo nosso manual é piorá-lo, e ademais eu gosto de meus familiares como eles são.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

A fome; outro dia vi um casal na parada de ônibus, e o marido disse a mulher: “Não vamo pegá esse que a passagem tá dois”. A do outro, que ele pegaria vários minutos mais tarde, era um e noventa.

Onde desejaria viver?

Berlim.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

O sucesso, que em muitos casos é inversamente proporcional à capacidade. O que eu mais admiro são esses talentos grandiosos, que sucumbem pelo fato de serem humanos, demasiado humanos: Mike Tyson, Maradona, Jan Ullrich, um ciclista alemão, por exemplos; o Zidane, outro dia: defendo e defendi a cabeçada dele.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

A bondade.

Quando e onde você foi mais feliz?

Na cama, em diversos lugares diferentes deste vasto mundo.

O Questionário de Proust (X) – Responde Leila Couceiro

Publicado em 22 de fevereiro de 2007

Só fui conhecer a Leila quando ela entrou na Verbeat. O Tiago me disse: é inteligente, politizada, muito mulher e ainda é bonita; enfim, é o máximo. Então tá. O Tiago tinha razão. Depois, ela se tornou meu objeto de visitação obrigatória porque também escrevia muito bem, além de ser divertida, solidária, iconoclasta na medida certa e de irremovível modéstia. É um dos melhores seres humanos que me foram apresentados na rede. Pedi-lhe uma mini-bio e ela, em minutos, mandou-me o que segue:

Eu trabalhei como repórter de jornal e revista nos anos 90, e depois de me mudar para os EUA (Sacramento) em 2000, me acomodei num emprego mais tranqüilo e estável de funcionária de universidade. Assim é mais fácil dar atenção ao meu filho, que nasceu em 2003. Então eu abri o blog para matar a saudade dos tempos de escrever matérias. Nos meus posts eu sempre gosto de dar um gancho jornalístico atual, mesmo que sejam sobre temas abobrinhas.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Egoísmo ou individualismo em excesso.

Como gostaria de morrer?

Feliz, velha e, de preferência, sem dor.

Qual é seu estado mental mais comum?

Contemplativo.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Jesus Cristo.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Ter usado minhas economias para viajar para Nova York com uma amiga, numa época em que estava desempregada. Valeu a pena cada centavo.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Fica um empate entre George Bush, Dick Cheney e o time de âncoras da Fox News.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

No momento acho que Al Gore está dando uma contribuição fundamental à humanidade ao alertar a opinião pública sobre o aquecimento global, de forma simples e com sólidas evidências científicas. Os políticos só farão alguma coisa sobre isso se houver pressão popular.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Angelina Jolie.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Em poucas ocasiões, apenas para poupar os sentimentos das pessoas que eu gosto.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Estar tudo bem ao mesmo tempo na vida amorosa, saúde, família e vida profissional. Mas se não tiver tudo isso, serve uma temporada numa ilha paradisíaca.

Qual é seu maior medo?

Alguma coisa ruim acontecer com as pessoas que eu amo.

Qual é seu maior ressentimento?

Não gosto de perder tempo remoendo ressentimentos. Eu tenho memória seletiva.

Que talento desejaria ter?

Ter fôlego e resistência de maratonista. Mas não usaria isso para correr maratonas, é chato.

Qual é seu passatempo favorito?

Viajar.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Faria minha irmã parar de fumar, e adotaria uma menina.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Crianças abandonadas.

Onde desejaria viver?

Num Rio de Janeiro sem violência e com melhor distribuição de renda.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Juventude.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

A capacidade de sobreviver e superar as piores adversidades e ainda conseguir contribuir de forma positiva para a comunidade.

Quando e onde você foi mais feliz?

Foram muitos momentos, fica difícil escolher o melhor… Ser criança pegando onda na praia, ou o meu pai lendo histórias num livro pra mim, ou ajudando minha mãe a fazer um bolo. Sair da universidade direto para um ótimo emprego e vivendo um grande amor. A fase de recém-casada. A gravidez. Ver meu filho aprender coisas novas.

O Questionário de Proust (IX) – Responde Guga Alayon

Publicado em 20 de fevereiro de 2007

Ah, pois é, às vezes esqueço de pedir um currículo básico do entrevistado. Foi o caso do Guga. O blog do Guga Alayon tem mudado muito. Ele, que é arquiteto, dono (ou sócio) da Ao Cubo – Projetos e Obras, antes nos mostrava projetos de casas lindas desenhadas por ele. Lindas mesmo. Lembro que uma vez fiquei discutindo sobre umas palmeiras numa cobertura. Agora, ele tem publicado fotos e poemas – ou fotos com poemas. A gente sabe: arquitetos são aqueles que não nasceram suficientemente machos para serem engenheiros, nem suficientemente gays para serem decoradores… Daí, essa coisa de poesia, claro. Solta a franga, meu! Por outro lado, Guga é atualmente o maior piadista de comentários que conheço.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

O ato da deploração.

Como gostaria de morrer?

De amor.

Qual é seu estado mental mais comum?

O Estado de sítio.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Nicolo Machiavelli…ah, era ficção…

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Só uma. Ter chegado aos 4.4 com poucas retíficas.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Roberto Marinho.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

O Zé Ninguém.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Como Deus seria no mínimo divertido.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Só em questionários.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Aquela tipo 100%.

Qual é seu maior medo?

Não estar aqui pra ver o fim dos tempos.

Qual é seu maior ressentimento?

Nunca acertar 6 números da mega-sena acumulada no mesmo cartão.

Que talento desejaria ter?

O de não precisar falar tanta merda ao tentar significar algo.

Qual é seu passatempo favorito?

Jogar futebol.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

O tal do PIB.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

A abjeção por si só.

Onde desejaria viver?

Num mundo melhorzinho.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Bacanais.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

Amar e ser amado,
pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado
e é vivendo que se vive para a vida eterna

Quando e onde você foi mais feliz?

Nos nascimentos dos meus pimpolhos. Sem dúvida alguma!

O Questionário Proust (VIII) – Responde Adelaide Amorim

Publicado em 4 de abril de 2007

Houve época em que eu e a Adelaide conversávamos mais. Depois fomos diminuindo o ritmo. É alguém de quem gosto muito. Li os dois livros desta carioca que diz ter alma de carioca, mas que é tímida e silenciosa como alguém de terras mais frias. É psicanalista e tem tantos filhos e isto me causa tantos ciúmes que nem lembro se são cinco ou seis. Vimo-nos em duas oportunidades: a primeira rapidamente na Flip de 2004; eu sozinho, ela com o maridão Marcílio; a segunda em abril de 2005, no Rio, quando pudemos conversar um pouco mais, ela sozinha, eu com a Claudia. Adelaide acha que eu produzo demais, que leio demais, que ouço demais, que três blogs é muito, mas ela tem seis filhos, é psicanalista, escreveu dois livros ótimos, mantém dois blogs (aqui prosa – atenção para os livros anunciados na coluna da esquerda – e aqui poesia) e ainda colabora na Focando.

Cruzes, tem gente que não se enxerga mesmo… Fala Adelaide!

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Insensibilidade. Não é fácil se deixar afetar pelo sofrimento alheio, porque sabemos que o outro é feito da mesma matéria que nós, e portanto nada nos protege do que o afeta. Isso faz medo, preferimos não ver para não sofrer com ele, imaginar que as coisas ruins nunca vão nos acontecer.

Mas há um outro lado da medalha: o mundo não vai se tornar um lugar melhor sem que haja solidariedade e compaixão. Sem qualquer conotação ideológica, é fácil ver como o que nos sobra pode salvar a vida de quem não tem o essencial. Não falo só de bens materiais, embora em certa medida sejam indispensáveis para viver bem. Mas penso principalmente numa infraestrutura – educação, saúde, alimentação, espaço para exercer a criatividade – sem a qual o fosso que separa as “castas” fica cada vez maior e os ressentimentos e tensões também. Essa é uma condição – não a única, mas uma das mais poderosas – para o aumento da violência e o caos social.

Como gostaria de morrer?

Dormindo, se não for pedir muito…

Qual é seu estado mental mais comum?

Engraçado isso, nunca tinha parado pra pensar. Acho que é uma atenção um pouco desproporcional, que facilmente os outros tomam por alheamento.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Já fui Mrs. Dalloway, a heroína de Böll em Casa Sem Dono e GH de Clarice, aquela da barata, mas felizmente tomei o final como uma metáfora. Também já fui a Hanna do Paciente Inglês. Mas também me identifiquei com a Natasha Rostova de Guerra e Paz.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Céus, acho que nunca cometi nenhuma. Acho que sou uma simplória completa. A não ser que possa considerar extravagância o fato de estar sempre em busca de alguma coisa e nunca me sentir estável em alguma função ou estado.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Páreo duro entre os ladrões de colarinho branco e as pessoas com vocação para ditadores.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Gente como Luís Eduardo Soares e Marina Maggessi, nossa querida amiga, que conseguem endurecer sin perder la ternura jamás. Além deles, Zilda Arns é um exemplo de gente que merece a vida que recebeu.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Tenho uma enorme curiosidade de entender a cabeça dos gatos.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Quando a verdade não vai trazer nenhum benefício e vai magoar alguém ou agravar uma situação já desagradável ou complicada. E também, circunstancialmente e já que não sou de ferro, quando preciso me defender de um julgamento equivocado e injusto.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Amar quem nos ama, ser livre e fazer o que se gosta. Mas às vezes, se o amor for muito bom, até posso deixar por menos um pouquinho.

Qual é seu maior medo?

O futuro deste mundo louco e com ele o de meus filhos e netos.

Qual é seu maior ressentimento?

Ter perdido tanto tempo em atividades que não me deram senão dinheiro. A demora em cair a ficha do que eu realmente queria da vida.

Que talento desejaria ter?

Ser uma cozinheira melhor do que sou.

Qual é seu passatempo favorito?

Gosto de ler e de cinema, mas o que me envolve mesmo é a pintura, que virou o passatempo mais gratificante porque deixa um resultado de que quase sempre gosto.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Não mudaria. A não ser talvez um maior retorno financeiro pelo trabalho de meus filhos, eles bem merecem.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Ter que escolher entre comer todos os dias ou cuidar dos filhos.

Onde desejaria viver?

Sinto falta da proximidade do mar, mas estou bem feliz onde moro, perto da serra e da floresta.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Se entendi bem, isso tem a ver com o famigerado politicamente correto. A sociedade parece que é levada pela mídia e pelos interesses de mercado (que geralmente andam de mãos dadas) a valorizar determinados comportamentos e atribuir virtude às ações que os expressam. Houve um tempo em que essa valorização se pautava pelos interesses da Igreja. Seja como for, isso envolve muita hipocrisia e cria mitos fake que acabam completamente esvaziados. É preciso desconfiar dos modelos que a sociedade impinge, porque por trás deles há apenas interesses de grupos ou pessoas.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

A capacidade de empatia e suas correlatas solidariedade, compaixão e lealdade.

Quando e onde você foi mais feliz?

Talvez agora, porque já não ambiciono muita coisa que foi motivo de ansiedade e frustração. E porque, além de ter tudo de que alguém precisa para ser feliz (exceto o prêmio da mega, que já provou não ser decisivo para isso), aceito o que posso conseguir e gosto muito do que posso fazer.

O Questionário de Proust (VII) – Responde Branco Leone e/ou Albano Martins Ribeiro (*)

(*) Ele explicou, ou tentou…, num e-mail:

Sua pergunta procede sobre como me apresentar. O Inagaki já abriu as “identidades”, relacionando uma com a outra. Se você quiser fazer o mesmo, relacionar o “blogueiro” Branco Leone com o “escritor e dramaturgo” Albano Martins Ribeiro, fique à vontade.

Se quiser material pra compor um curriculinho à sua maneira, tem coisa aqui, no meu “site pessoal”. Fique à vontade. Tem coisas que podem interessar, como o Dezamores, a peça de teatro, a entrevista pra EntreLivros, revistas onde publico e tal.

Pronto, nem precisei escrever nada!

Com vocês, Branco Leone ou Albano Martins Ribeiro:

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

A arrogância, que é a forma mais feroz da burrice.

Como gostaria de morrer?

Sem saber.

Qual é seu estado mental mais comum?

Preocupado.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Brancaleone da Nórcia: pobre, cheio de esperança e, por isso, idiota.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Ter procriado.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Não me lembro de uma só pessoa que mereça a deferência. Talvez por desprezá-la.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Donald Trump.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Um cão perdigueiro. Ou uma orca. Mas a padronagem é apenas coincidência.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Quando estou escrevendo.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Mulher e filhos, comida e bebida, cachorros e cabras, tempo e sossego, dias de sol e noites frescas, tudo junto num mundo sem mosquitos e impostos.

Qual é seu maior medo?

Sobreviver a meus filhos.

Qual é seu maior ressentimento?

Ter agido, por muito tempo, como se eu fosse eterno.

Que talento desejaria ter?

O de transformar trabalho em dinheiro.

Qual é seu passatempo favorito?

Nenhum. Quando me lembro de que o tempo está passando, perde a graça.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Reintegraria os membros que se foram.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Não ter quem acredite em você.

Onde desejaria viver?

Aqui mesmo, mas sem pagar aluguel.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

A beleza, que nem virtude é.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

Saber dizer o que pensa sem se preocupar com o que pensem.

Quando e onde você foi mais feliz?

Amanhã, onde eu estiver.

O Questionário de Proust (VI) – Responde Cynthia Feitosa

Publicado em 27 de fevereiro de 2007

Até aceito que um homem seja burro; mas uma mulher, nunca! Não, não precisam ter doutorados, PhDs e nem sequer universidade – conheço algumas muito “formadas” que são imbecilíssimas, provando que titulação está longe de ser conhecimento ou cultura e que educação de direito é uma coisa, educação de fato é outra -, basta que sejam surpreendentes e que sua inteligência se derrame pelos olhos (fato fundamental). Detesto as mulheres que trabalham a favor do marasmo, adoro as cheias de respostas imprevistas e pertinentes e se ainda forem gentis e sorridentes… Credo!

A Cynthia é assim. Há nela algo de transbordante que capta nossa atenção quando estamos em sua presença. Nunca se sabe o que virá dali. Pode ser uma ironia risonha, uma frase sorridente e educada ou uma acolhedoramente solidária, mas pode vir também outra prazenteira e destruidora… Ela é o máximo. O Nelson Rogério tem razão.

Cynthia Feitosa:

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

A burrice arrogante.

Como gostaria de morrer?

Velha, até então saudável, de forma rápida e indolor.

Qual é seu estado mental mais comum?

Irritada.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Emília, do Monteiro Lobato.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Não sou extravagante.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

George W. Bush.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Gabriel García Márquez.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Num gato de estimação, amado e bem-tratado.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Quando a verdade pode ferir os sentimentos dos outros.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Ter saúde, amor, dinheiro suficiente e um interesse/causa/paixão/talento a que se dedicar.

Qual é seu maior medo?

Doenças degenerativas.

Qual é seu maior ressentimento?

Ter levado muito tempo para aprender coisas sobre o mundo e sobre mim.

Que talento desejaria ter?

Musical.

Qual é seu passatempo favorito?

Ler.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

A mania de guardar e ruminar mágoas.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Material, intelectual ou moral? Sei lá, o Brasil.

Onde desejaria viver?

Num lugar um pouco mais frio e um bocado mais civilizado.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

A “simpatia”.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

A capacidade de se colocar no lugar dos outros.

Quando e onde você foi mais feliz?

Depois de descobrir quem eu era e o que queria, e antes da saúde começar a se deteriorar.

Próximo: Branco Leone.

O Questionário de Proust (V) – Responde Flavio Prada

Publicado em 14 de fevereiro de 2007

Amigos.

Na última quarta-feira, por pura sorte do blog, pedi a vários amigos para responderem a este questionário. Digo “por pura sorte do blog” porque, se não fosse o fato de muita gente tê-lo respondido, isto aqui estaria provavelmente parado. O que houve? Ora, no dia seguinte, minha mãe desabou sozinha em sua casa, batendo fortemente a cabeça. Desde então está hospitalizada. Ela tem 79 anos e a queda deixou-lhe alguns sangramentos cerebrais ainda não absorvidos. Talvez não precise de cirurgia, mas está muuuuuito confusa. Meus dias têm sido uma correria. Há o trabalho e há minhas três mulheres: uma no hospital, outra me auxiliando como pode e outra esperando – numa boa – alguma diversão durante suas férias comigo. As duas últimas não cobram nada. São uns amores. O problema é minha ânsia em atender a tudo e a todos com qualidade. Olha, normalmente sinto-me muito bem sendo filho, amante e pai; quando isso pesa, é porque não estou bem. Amanhã de manhã, depois de ter levado a Bárbara na equitação – sua maior paixão – e depois de marcar outras aulas em todas as próximas manhãs (cavalos não pulam carnaval), vou me sentir melhor e ainda vai faltar a Claudia…

Enquanto isso, vou mostrando para vocês as respostas. Hoje, vou de Flavio Prada. Bobagem explicar quem é. Vão a seu blog que vale – e como! – a pena. Conheço-o pessoalmente. Talvez vocês não imaginem quão multimídia esse cara é: arquiteto, artista plástico, guitarrista, tecladista, cineasta caseiro, escritor e cozinheiro. Garanto que ele é ótimo nas duas últimas funções. Na casa dele, só me sobrou lavar a louça. Achei suas respostas engraçadas e às vezes um tantinho mal-humoradas… Mas quem é que manda encher o saco dos outros com questionários, porra?!

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

O pior defeito das outras pessoas é que elas não são eu mesmo.

Como gostaria de morrer?

Quando estivesse ainda vivo.

Qual é seu estado mental mais comum?

Frio e preciso. Ou seja, “frio” porque o espaço vazio é sempre mais frio. E “preciso” porque preciso entender o que é “estado mental”.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Eu mesmo.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Ficar atento à respiração, da manhã até à noite.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Mario.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Recorro à faculdade de nao responder algo que possa me comprometer legalmente.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

O mais plausível ao retornar depois de morto: ossos.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Quando digo: “pra falar a verdade…”

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Nao responder à perguntas.

Qual é seu maior medo?

Receber perguntas para responder.

Qual é seu maior ressentimento?

Esquecer guarda chuvas nos lugares.

Que talento desejaria ter?

Pergunta inútil.

Qual é seu passatempo favorito?

Olhar o relógio.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Pergunta inteligentíssima, mas eu não posso.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Crianças com fome.

Onde desejaria viver?

O que quer dizer? Eu já estou vivo!

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Não sei o que isso quer dizer.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

Preciso de muito tempo pra responder isso.

Quando e onde você foi mais feliz?

O “mais” da pergunta objetiva excluir todos os outros bons momentos que tive e tenta me obrigar a eleger apenas um, como se fosse lógico que uma vida pudesse encontrar sentido em algum píncaro de glória, em algum fugaz átimo de ilusória alegria. Querem me reduzir a um ansioso infeliz, na verdade. Vão tomar no cu.

O Questionário de Proust (IV) – Responde Luís Graça

Publicado em 12 de fevereiro de 2007

Luís Graça tem 44 anos e nasceu em Lisboa. Jornalista de profissão, é atualmente freelance. Freqüentou recentemente um workshop de criação teatral com o dramaturgo José Sanchis Sinistierra, no Teatro Nacional D.Maria II, em Lisboa.

Como obras individuais publicou “A Idade das Trovas” (Editora Universitária, 1999, poesia), “Meia-Dúzia de Maldades”, teatro, Inatel, 2000), “De boas erecções está o Inferno cheio, Polvo, 2004, poesia), “O homem que casou com uma estrela porno e outros contos perversos” (Polvo, 2003), “Neura 2004” (contos, Oficina do Livro, 2004) e “Fado, Futebol de Farpas, uma ventura psicadélica” (edição de autor, 2006, romance).

Começou a publicar no DN-JOVEM, suplemento literário para jovens até 25 anos, criado pelo “Diário de Notícias”. A sua escrita abarca os campos do romance, contos, poesia lírica e satírica, teatro, ensaio.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

A hipocrisia.

Como gostaria de morrer?

Tranqüilamente, durante o sono. A olhar um pôr do sol, como os índios, afirmando: “Está um belo dia para morrer”; de espada na mão, como um viking.

Qual é seu estado mental mais comum?

Actualmente, bastante irritado, com o momento actual do mundo. O termo mais correcto será revoltado. Algumas vezes, deslumbrado com as pequenas pérolas de que desfruto, seja no cinema, no teatro, na televisão, nos livros, nos CD, nos sorrisos das mulheres bonitas, nos afagos dos cães e dos gatos.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Corto Maltese, de Hugo Pratt. Simboliza o romantismo, o herói rebelde e muito humano, recheado de mundo e de vida.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Ter oferecido 40 cravos a 40 mulheres desconhecidas, no dia dos meus 40 anos, partindo de uma florista do Mercado da Ribeira (Cais do Sodré, Lisboa, junto ao Tejo) e acabando à porta de minha casa. E até encontrei uma pessoa que ia para um funeral e pretendia saber onde podia comprar flores. Acabei a dar-lhe os pêsames e ela a dar-me os parabéns.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Não tenho tempo para decidir entre um vasto rol de políticos portugueses e estrangeiros.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

É igualmente difícil decidir. Mas ainda hoje estive no lançamento de mais um livro do alpinista português João Garcia. É um herói. Já perdeu amigos nas escaladas, já arriscou a vida para tentar salvá-los. Continua a subir, sempre a subir. E não deixa de ter os pés na terra. Sempre humilde e disponível.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Um golfinho. Jim Clark. Leif Eriksson.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Nas ocasiões em que uma mentira é mais ética que a verdade.Nas ocasiões em que a verdade é demasiado dolorosa para ser dita. Nas pequenas mentiras do quotidiano, para evitar conflitos, como forma de auto-defesa.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Uma ilha tropical, um pôr-do-sol, um grande livro na mão, a Miss Universo deitada numa rede ao nosso lado, um fabuloso par dançando o tango na linha do horizonte, o tema musical seria “The fool on the hill”, dos Beatles.

Qual é seu maior medo?

O sofrimento físico. A perda das nossas memórias. Tornar-me num homem cada vez mais amargo.

Qual é seu maior ressentimento?

Não sei.

Que talento desejaria ter?

Gostava de ser um maravilhoso pianista de jazz.

Qual é seu passatempo favorito?

Ler.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Muita coisa. Mentalidades, atitudes, acções e omissões.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

A fome a a doença.

Onde desejaria viver?

Sydney.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

A beleza física.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

A solidariedade, a hombridade, a ternura.

Quando e onde você foi mais feliz?

Três dias em Sierre, Suíça, (1994), num festival de BD. A descer uma pista rápida de waterslide em Alcantarilha (Algarve 1988) e em Riccione (Itália), em 1995; sempre que cheguei ao topo do Monte Atalaia (Venda do Pinheiro, Malveira, a 30 km de Lisboa) e consegui vislumbrar ao longe, por entre a névoa, o Palácio da Pena, em Sintra. No dia em que me abracei a um cão Samoiedo e senti aquele pelo todo fofo ao meu redor, vendo apenas a sua cauda a abanar.

O Questionário de Proust (III) – Responde Sandra Pontes

Publicado em 11 de fevereiro de 2007

Sorrio quando vejo que Sandra Pontes escreveu um post cujas linhas iniciam por travessões. Ela é mestre nos diálogos rápidos e inesperados. Suas figuras femininas têm algo da Maitena e isto é um grande elogio partindo de quem costuma pegar emprestado as revistas da argentina. Diz que é uma paulistana suspeita. Nasceu no bairro da Lapa, perdeu-se numas cidades estranhas pelo interior do estado, ama a capital cearense, mas tem o coração fincado em Osasco.

Segue dizendo que teve a idéia de montar o primeiro blog após relembrar as notas altas que obtinha nas aulas de redação. Achou que poderia, com meia dúzia de toques num teclado, prender a atenção dos outros em suas conversas alucinadas com seu amigo imaginário, montar post de ajuda na cozinha ou arranhar meia dúzia de rimas.

Completa declarando que pode ficar brava com a gente, mas é igual chuva de verão: faz um barulhão antes, espalha para tudo quanto é lado durante, mas, depois, passa. Não duvido. E adoro quando ela entra à noite no MSN descrevendo o cardápio recém construído.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Intriga, veneno, puxada de tapete para se promover. Deplorável querer crescer depreciando o trabalho alheio.

Como gostaria de morrer?

Dormindo. Simplesmente parar de respirar…

Qual é seu estado mental mais comum?

De uma menina de 12 anos.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Martin Riggs (Mel Gibson) em Máquina Mortífera. “Nervosinho”, mas brincalhão. Alguma semelhança???

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Três semanas na Europa e US$ 525.00 de excesso de bagagem (Na volta. As compras, é claro!) mesmo distribuindo a “muamba” na bagagem de mais duas pessoas.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Político. Qualquer um.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Idoso. Com uma aposentadoria de merda, remédios caros, maltratado e ainda assim, sorri para você.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Acho que num cachorrinho de madame. Comer, brincar e dormir num tapetinho persa…

Em quais ocasiões costuma mentir?

Quando não quero ir a algum lugar ou compromisso e insistem. Aí invento uma mentirinha branca…

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Ter carro, casa, férias de 30 dias, sem precisar fazer orçamento mensal. Tudo isso só com a venda de sanduíche natural na praia.

Qual é seu maior medo?

Ficar sozinha quando envelhecer.

Qual é seu maior ressentimento?

Ver meu filho crescer sem a presença do pai biológico.

Que talento desejaria ter?

Ter coordenação motora para tocar bateria.

Qual é seu passatempo favorito?

Era dormir. Agora é tentar não ficar acordada tanto tempo durante a noite!

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Eu mesma. Mudaria o comportamento que tanta dor de cabeça deu a tanta gente.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Crianças catando comida em lixões e aterros sanitários.

Onde desejaria viver?

Numa ilha. Pequena, nada de luxo, mas tranqüila.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Solicitude. Ninguém pode ser solícito 24 horas por dia, 365 dias por ano.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

Esquecer. Mais importante que perdoar. A gente perdoa, mas pode não esquecer jamais. O esquecimento absorve o perdão.

Quando e onde você foi mais feliz?

Na barriga da minha mãe. Quente, com alimento e sem dor física, espiritual ou moral. Sem preocupações, aborrecimentos. Só tranqüilidade e proteção.

O Questionário de Proust (II) – Responde Theo Alves

Publicado em 9 de fevereiro de 2007

Fiquei felicíssimo com a receptividade ao questionário. Quase todos responderam. Como isto é um blog pessoal e às vezes até publico coisas minhas, vou divulgar os questionários à razão de uns quatro por semana, OK? Recebi vários que me entusiasmaram seja por sua originalidade, por sua extrema franqueza ou por serem reveladores. Claro que tive vontade de publicá-los imediatamente, mas vou respeitar a ordem de chegada em minha Caixa de Entrada. Portanto, hoje é a vez do excelente Theo Alves – que já foi homenageado por mim neste post, amanhã será o “Porque hoje é sábado”, domingo será a descoordenada baterista Sandra Pontes e segunda ou terça-feira – dependendo de minha vontade de postar – o escritor português Luís Graça, cuja última resposta levou-me a uma das mais felizes lembranças que tenho de minha infância em Cruz Alta.

Importante: quando mandei os e-mails propondo o questionário, não obedeci a critérios nenhuns. Como estava no Outlook Express, primeiro peguei alguns amigos que recém tinham comentado aqui no blog, depois fui para a base de endereços de e-mail, subindo e descendo indiscriminadamente. Dentre os que não convidei, não houve grandes irritações: o Tarsis respondeu nos comentários, mas acho que vou deletá-lo para que entre na fila de publicação. Ah, o Ery está no mesmo caso. O Guga Alayon mandou suas respostas por e-mail e também terá seu dia. Profilaticamente, aviso que não criei um clubinho fechado de respondedores de questionários, que não tenho os e-mails de todos e que estou aceitando adesões…

Agora, Theo Alves. Para quem não o conhece ainda, Theo vive em Currais Novos, interior potiguar, coração do deserto seridoense. Publicou dois livros de forma artesanal: “Loa de Pedra”, de poemas, e “A Casa Miúda”, de contos. Há ainda o livro inédito de poemas “Doce Azedo Amaro”, que recebeu menções honrosas nos concursos de poesia Luís Carlos Guimarães e Othoniel Menezes. Theo tenta evitar as palavras, mas o faz sem sucesso. Tem como sonho recorrente ser Federico Fellini, mas sabe que não conseguirá. Theo Alves edita o blogue “Museu de Tudo”, que andou meio abandonado, e editou o espetacular e deletado “O Centenário” que virou em parte livro, deixando saudades na blogosfera.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Me causa horror o elogio em boca própria. Sempre achei que a masturbação, seja do corpo ou do ego, é coisa que se faça só ou em companhia rara.

Como gostaria de morrer?

Aceitaria bem morrer de qualquer forma, exceto de vergonha.

Qual é seu estado mental mais comum?

O estado de sítio.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Dom Quixote, mas não Dom Alonso Quijano.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Creio que não ter uma tatuagem ou um piercing hoje em dia seja uma extravância enorme que cometo diariamente.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

O dom do esquecimento não me permite recordar seu nome. Assim sou mais feliz.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Estar vivo já é naturalmente admirável.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Insistiria em não voltar. Recorro ao Saramago diante da ressureição de Lázaro: ninguém pecou tanto que mereça morrer duas vezes.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Eu nunca minto. Invento uma verdade ou outra, que alguns insensatos ousam chamar de mentira.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

A música, um filme do Fellini, a companhia de meus queridos, sem a presença do tempo.

Qual é seu maior medo?

A memória.

Qual é seu maior ressentimento?

Os esforços práticos que a vida exige diariamente me deixam ressentido.

Que talento desejaria ter?

Qualquer um, sinceramente.

Qual é seu passatempo favorito?

Televisão.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Eu teria percebido mais cedo o quanto pareço com minha família.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Toda manifestação de miséria me parece abjeta.

Onde desejaria viver?

Às vezes aqui, em Currais Novos; outras vezes longe daqui, de Currais Novos.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

A praticidade.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

O bom humor.

Quando e onde você foi mais feliz?

Hoje, aqui.

O Questionário de Proust (I) – Responde Fabrício Carpinejar

Em fevereiro de 2007, minha mãe estava no hospital e eu mal podia postar. Não tinha muito tempo. Passei a tarefa a alguns amigos e eles me responderam rapidamente, preenchendo o espaço deixado por mim.

Este é um questionário clássico. Já foi respondido por muitos escritores e, minutos atrás, distribuí alguns e-mails propondo-o a amigos. Expliquei que desejava fazer uma série com eles. Espero que dê certo. E já deu, como vocês lerão no terceiro parágrafo.

Sobre o nome do questionário: Proust respondeu-o duas vezes, em idades diversas e de forma inteiramente diferente. Eu o resumi um pouco, o original é imenso e eu temia que ninguém se motivasse a enfrentá-lo… Algumas perguntas são fáceis, outras são irritantes. É um jogo. A idéia veio daqui. Admiro demais Roberto Bolaño (1953-2003), um gênio.

Desnecessário apresentar o poeta Fabrício Carpinejar. Seu e-mail partiu às 22h39 e a resposta chegou às 22h57. Dezoito minutos. Inaugurar esta série com Fabro é uma enorme honra para mim e meu pequeno blog.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Deploro quando vejo os meus defeitos nelas.

Como gostaria de morrer?

Sem marcador de página.

Qual é seu estado mental mais comum?

Excitado, prestes a dizer algum segredo.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Riobaldo: a dor o tornou sábio para a alegria de narrar.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Tomar banho nu numa festa.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Já morreu para mim.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Millôr Fernandes.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Vibrador, terminaria com meu complexo de inferioridade (risos).

Em quais ocasiões costuma mentir?

Quando a verdade não encontra saída.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Dormir colado ao cheiro de minha mulher. E acordar com o cheiro dela mais do que com o meu.

Qual é seu maior medo?

Morcegos.

Qual é seu maior ressentimento?

Perder amigos por incompreensão.

Que talento desejaria ter?

Tocar violino.

Qual é seu passatempo favorito?

Jogar futebol.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Aprenderia a fazer churrasco.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

O ressentimento.

Onde desejaria viver?

Vivo onde gosto.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Falar.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

Ouvir.

Quando e onde você foi mais feliz?

Quando minha filha leu um poema meu de um orelhão, com a voz de quem recém aprendeu a ler. Quando minha mulher disse que não mais conseguiria ficar longe de mim. Quando meu filho perguntou por que a couve era flor, se não cheirava bem.