100 anos de Ulysses: ‘Nota sobre o homem feminino’

100 anos de Ulysses: ‘Nota sobre o homem feminino’

Outro fragmento encontrado no meu micro. Sim, no dia 2 de fevereiro, Ulysses completará 100 anos incomodando.

Quando nos encontramos com Leopold Bloom, ele está fazendo café da manhã para sua esposa e falando carinhosamente com um gato. Se você passasse por Bloom na rua, nunca o notaria. Sua vida exterior é circunscrita pelas ruas de Dublin e pelas exigências de sua carreira totalmente inconsequente (publicitário), mas sua vida interior é vasta e cheia de humor. Ele está totalmente à vontade com suas próprias sombras e contradições. Ele aceita o mundo e sente prazer nas menores coisas. Conheceu a tragédia — o suicídio de seu pai, a morte de seu filho recém-nascido — e conheceu a alegria, como marido de Molly e pai de Milly. Ele ama animais, abomina a violência e aceita o fato de que sua esposa está transando com outra pessoa. Esta última parte lhe causa dor, mas ele aprendeu há muito tempo que o mundo é maior do que sua dor e possessão não faz parte de sua compreensão do amor.

Bloom é o filho de um imigrante judeu e, portanto, não é a escolha óbvia para ser o herói de um épico irlandês. Bloom é Dublin por completo, mas ele ainda é um estranho. Seus concidadãos gostam muito dele, mas ele ainda é um mistério e eles não confiam nele. Em suas mentes, ele é passivo e “feminino”. Todos sabem que sua esposa está tendo um caso. O que está errado com ele? Que tipo de homem é esse?

Bloom é rapidamente ridicularizado por expressar essa queixa sentimental, mas ele não parece se importar. Ele tem acesso a uma palavra, a um sentimento, a um universo — o amor — que homens como os seus contemporâneos fazem tudo o que podem para evitar. Porque deixar entrar aquela palavra, esse sentimento, destruiria a fachada de força que eles passam todo o tempo tentando manter.

O labirinto de Ulysses parece ter sido projetado com um propósito, dentre outros: neste dia comum, 16 de junho, um jovem, Stephen Dedalus, conhecerá um homem mais velho, Leopold Bloom, que é totalmente livre das definições de masculinidade que fizeram o mundo tão miserável. Bloom acorda Stephen de seu pesadelo.

100 anos de Ulysses: ‘Alguma coisa sobre o sexo em Ulysses

100 anos de Ulysses: ‘Alguma coisa sobre o sexo em Ulysses‘

Este fragmento estava no meu micro. Não lembro de tê-lo escrito, mas tenho tantos arquivos esquecidos por aí que sei lá se é meu ou copiado. Minha dúvida vem dos muitos parênteses. Não costumo usá-los tanto assim. Bem, vocês devem saber que Ulysses completa 100 anos no próximo dia 2 de fevereiro, não?

O tema da sexualidade é essencial no Ulysses de James Joyce. Este romance é pontuado de passagens que descreve sexo e, principalmente, falam a respeito. Tal onipresença da sexualidade conduz o leitor através do romance como um tema central: a maioria das ações centra-se no encontro das 16h entre a esposa de Leopold Bloom, Marion (Molly) Bloom e Hugh Boylan. Este encontro é muito significativo durante aquele 16 de junho de 1904. Engraçado meu relógio parou às quatro e meia, ele vem à tarde,  Bloom está sempre com isso na cabeça.  São apenas duas as passagens que se referem ao encontro de Molly com Boylan e, portanto, a seu caso com outro homem.

Desde sua publicação, Ulysses criou grande polêmica devido a suas passagens obscenas. O livro foi classificado como escandaloso e se tornou um objeto de censura. Hoje, não parece tão obsceno, porém o caráter de Leopold Bloom surpreende e é moderno até hoje.

Leopold Bloom tem enorme admiração pela esposa, acha-a linda, parece envaidecido com os elogios que ela recebe, mas não dorme com ela desde a morte de seu filho Rudy, mais de uma década antes. Como alternativa, procura por pequenas “aventuras eróticas” em sua vida cotidiana. No açougue, ele dá uma boa olhada no traseiro de uma mulher. Caminha atrás dela. Agradável ver isso logo de manhã. Em outra passagem, Bloom observa uma bela dama na rua enquanto está conversando com McCoy até que de repente um bonde passa e bloqueia sua visão.

A história está cheia desses pequenos incidentes, que são uma alternativa à antiga vida sexual de Bloom com Molly. Lembrando-se de um momento íntimo com sua esposa, Leopold Bloom, nota uma diferença entre ele mesmo há 10 anos: “Eu. E eu agora. ”. Ele de certa forma se apieda e anseia por afeição física, que ele compensa com a masturbação.

Ao longo da história, o leitor descobre vários encontros sexuais de Leopold Bloom com outras mulheres.

Leopold Bloom tem uma correspondência erótica com uma mulher chamada Martha, para o qual ele usa o pseudônimo “Henry Flower”. Ao ler a carta de Martha, pode-se supor que Martha está ansiosa para conhecer Bloom, e também que Bloom deve ter negado esse pedido várias vezes: “Oh, como eu anseio em conhecê-lo. Henry querido, não negue meu pedido antes que minha paciência se esgote.”. No geral, a carta de Martha parece ser muito apaixonada e íntima, já que ela se refere a Bloom como “desobediente”. Bloom, por outro lado, parece estar bastante entediado, ou talvez até incomodado com essa correspondência, o que pode ser visto na passagem em que ele responde à carta de Martha. Sentado em um hotel, ele casualmente escreve sua carta, fingindo que é um anúncio e observando que ninguém perceba que na verdade não é.

No entanto, Leopold Bloom quer manter contato com Martha e tenta “continuar assim”. Ele só pode usar essa correspondência para aumentar sua autoconfiança, já que Martha adora ‘Henry Flower’.

O 13º episódio Nausicaa fala sobre Bloom estar na praia assistindo uma jovem garota chamada Gerty MacDowell. Este episódio pode ser visto como uma das passagens centrais sobre a sexualidade em Ulysses. Também pode ter sido recebido como a passagem mais “obscena” do romance, quando Leopold Bloom observa a uma jovem garota, que provavelmente tem mais ou menos a mesma idade de sua própria filha, com uma conotação erótica. Além disso, o protagonista se masturba na praia, o que teve um caráter ofensivo nos tempos de Joyce.

O capítulo está dividido em duas partes. A primeira parte é contada por um narrador onisciente em um estilo feminino de escrita. A segunda parte de Nausicaa muda novamente para o monólogo interior de Leopold Bloom.

No início do capítulo, Gerty é descrita como extremamente bela, quase parecida com uma deusa: “A palidez do rosto era quase espiritual em sua pureza de marfim, embora sua boca de rosa fosse um arco genuíno de Cupido, grega perfeito”. Esta menina está passando a tarde na praia com duas de suas amigas, até que Leopold Bloom aparece. Gerty percebe e olha para ele de uma maneira bastante romântica. Ela reconhece o rosto triste de Bloom (“[…] o rosto que encontrou seu olhar lá no crepúsculo, pálido e estranhamente desenhado, pareceu-lhe o mais triste que já vira” e sente uma atração por ele baseado na imaginação romântica . Gerty pergunta a si mesma se esse homem pode se casar (“Havia a questão mais importante e ela estava morrendo de vontade de saber se ele era um homem casado ou um viúvo que perdera a esposa”) e, portanto, pensa em uma vida futura com Leopold Bloom: “Mais querida do que o mundo inteiro, ela seria para ele e douraria seus dias de felicidade”. Apesar do fato de que Gerty tem uma perspectiva muito romântica, ela também está ciente de seu impacto sexual no estranho.

Os monstros septuagenários (ou octogenários)

Os monstros septuagenários (ou octogenários)

Penso que a reposição de supercraques da música brasileira simplesmente não ocorreu. Dos mais jovens, quem poderia entrar naturalmente nesta lista? Talvez André Mehmari, Lenine, Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro e Chico César. Há outros?

Caetano Veloso (7 de agosto de 1942 — idade 79 anos)
Carlos Lyra (11 de maio de 1933 — idade 88 anos)
Chico Buarque (19 de junho de 1944 — idade 77 anos)
Edu Lobo (29 de agosto de 1943 – idade 78 anos)
Egberto Gismonti (5 de dezembro de 1947 — idade 74 anos)
Elomar (21 de dezembro de 1937 — idade 84 anos)
Francis Hime (31 de agosto de 1939 — idade 82 anos)
Gilberto Gil (26 de junho de 1942 — idade 79 anos)
Guinga (10 de junho de 1950 — idade 71 anos)
Hermeto Paschoal (22 de junho de 1936 — idade 85 anos)
Ivan Lins (16 de junho de 1945 — idade 76 anos)
João Bosco (13 de julho de 1946 — idade 75 anos)
João Donato (17 de agosto de 1934 — idade 87 anos)
Jorge Ben Jor (22 de março de 1939 — idade 82 anos)
Marcos Valle (14 de setembro de 1943 — idade 78 anos)
Martinho da Vila (12 de fevereiro de 1938 — idade 83 anos)
Milton Nascimento (26 de outubro de 1942 — idade 79 anos)
Paulinho da Viola (12 de novembro de 1942 — idade 79 anos)
Paulo César Pinheiro (28 de abril de 1949 — idade 72 anos)
Rita Lee (31 de dezembro de 1947 — idade 74 anos)
Tom Zé (11 de outubro de 1936 — idade 85 anos)
Toquinho (6 de julho de 1946 — idade 75 anos)

Funeral Blues, de W. H. Auden

Funeral Blues, de W. H. Auden

O poema Funeral Blues foi escrito por Auden em 1936, como a Canção 9 do livro Twelve songs, e costuma ser citado como expressão exemplar de um forte sentimento de perda e de luto. O poema ganhou popularidade internacional devido ao filme Quatro casamentos e um  funeral, numa cena em que o personagem Matthew homenageia seu companheiro morto. Funeral Blues foi musicado por Benjamin Britten. Segue o original e algumas traduções. Ao final, colocamos a famosa cena de Quatro casamentos.

Funeral Blues

Stop all the clocks, cut off the telephone, 
Prevent the dog from barking with a juicy bone, 
Silence the pianos and with muffled drum 
Bring out the coffin, let the mourners come. 
 
Let aeroplanes circle moaning overhead 
Scribbling on the sky the message ‘He is Dead’. 
Put crepe bows round the white necks of the public doves, 
Let the traffic policemen wear black cotton gloves. 
 
He was my North, my South, my East and West, 
My working week and my Sunday rest, 
My noon, my midnight, my talk, my song; 
I thought that love would last forever: I was wrong. 
 
The stars are not wanted now; put out every one, 
Pack up the moon and dismantle the sun, 
Pour away the ocean and sweep up the woods; 
For nothing now can ever come to any good. 
 
April 1936

W. H. Auden (1907-1973)

.oOo.
 
Que parem os relógios, cale o telefone,
jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás.
 
Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto — um laço no pescoço —
e os guardas usem finas luvas cor-de-breu.
 
Era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto
viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.
 
É hora de apagar estrelas — são molestas —
guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.
 
(tradução de Nelson Ascher)

.oOo.
 
Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Não deixem o cão ladrar aos ossos suculentos,
Silenciem os pianos e com os tambores em surdina
Tragam o féretro, deixem vir o cortejo fúnebre.
 
Que os aviões voem sobre nós lamentando,
Escrevinhando no céu a mensagem: Ele Está Morto,
Ponham laços de crepe em volta dos pescoços das pombas da cidade,
Que os polícias de trânsito usem luvas pretas de algodão.
 
Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,
A minha semana de trabalho, o meu descanso de domingo,
O meio-dia, a minha meia-noite, a minha conversa, a minha canção;
Pensei que o amor ia durar para sempre: enganei-me.
 
Agora as estrelas não são necessárias: apaguem-nas todas;
Emalem a lua e desmantelem o sol;
Despejem o oceano e varram o bosque;
Pois agora tudo é inútil.
 
(tradução de Maria de Lourdes Guimarães)

.oOo.
 
Parem já os relógios, corte-se o telefone,
dê-se um bom osso ao cão para que ele não rosne,
emudeçam pianos, com rufos abafados
transportem o caixão, venham enlutados.
 
Descrevam aviões em círculos no céu
a garatuja de um lamento: Ele Morreu.
no alvo colo das pombas ponham crepes de viúvas,
polícias-sinaleiros tinjam de preto as luvas.
 
Era-me Norte e Sul, Leste e Oeste, o emprego
dos dias da semana, Domingo de sossego,
meio-dia, meia-noite, era-me voz, canção;
julguei o amor pra sempre: mas não tinha razão.
 
Não quero agora estrelas: vão todos lá para fora;
enevoe-se a lua e vá-se o sol agora;
esvaziem-se os mares e varra-se a floresta.
Nada mais vale a pena agora do que resta.
 
(tradução de Vasco Graça Moura)

.oOo.
 
Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Não deixem o cão ladrar aos ossos suculentos,
Silenciem os pianos e abafem o tambor
Tragam o caixão, deixem passar a dor. 
 
Que os aviões voem sobre nós lamentando,
Escrevinhando no céu a mensagem: Ele Está Morto,
Ponham laços de crepe nos pescoços das pombas da região,
Que os polícias de trânsito usem luvas pretas de algodão. 
 
Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,
A minha semana de trabalho, o meu descanso de domingo,
O meu meio-dia, a minha meia-noite, a minha conversa, a minha canção;
Pensei que o amor ia durar para sempre: “não tinha razão”. 
 
Agora as estrelas não são necessárias: apaguem-nas todas;
Emalem a lua e desmantelem o sol;
Despejem o oceano e varram a floresta;
Pois agora nada mais de bom nos resta.
 
(tradução anônima)

.oOo.

Parem os relógios, cale o telefone 
Evite o latido do cão com um osso 
Emudeça o piano e que o tambor surdo anuncie 
a vinda do caixão, seguido pelo cortejo. 
 
Que os aviões voem em círculos, gemendo 
e que escrevam no céu o anúncio: ele morreu. 
Ponham laços pretos nos pescoços brancos das pombas de rua 
e que guardas de trânsito usem finas luvas de breu. 
 
Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste 
Meus dias úteis, meus finais-de-semana, 
meu meio-dia, meia-noite, minha fala e meu canto. 
Eu pensava que o amor era eterno; estava errado 
 
As estrelas não são mais necessárias; apague-as uma por uma 
Guarde a lua, desmonte o sol 
Despeje o mar e livre-se da floresta 
pois nada mais poderá ser bom como antes era. 
 
(tradução anônima)

À morte de um canalha, por Mario Benedetti

À morte de um canalha, por Mario Benedetti

(Em 2006, em “homenagem” à morte de Pinochet, o grandíssimo Mario Benedetti (1920-2009) escreveu o poema que segue em tradução livre encontrada na rede).

À morte de um canalha, por Mario Benedetti

Vamos festejá-lo
venham todos
os inocentes
os lesados
os que gritam à noite
os que sonham de dia
os que sofrem no corpo
os que alojam fantasmas
os que pisam descalços
os que blasfemam e ardem
os pobres congelados
os que amam alguém
os que nunca se esquecem
vamos festejá-lo
venham todos
o crápula morreu
acabou-se a alma negra
o ladrão
o suíno
acabou-se para sempre
hip-hurra´
que venham todos
vamos festejá-lo
e não-dizer
a morte
sempre apaga tudo
a tudo purifica
qualquer dia
a morte
não apaga nada
ficam
sempre as cicatrizes
hip-hurra´
morreu o cretino
vamos festejá-lo
e não-chorar por vício
que chorem seus iguais
e que engulam suas lágrimas
acabou-se o monstro prócer
acabou-se para sempre
vamos festejá-lo
a não-ficarmos tíbios
a não-acreditar que este
é um morto qualquer
vamos festejá-lo
e não-ficarmos frouxos
e não-esquecer que este
é um morto de merda

.oOo.

A la muerte de un canalla

Vamos a festejarlo!
vengan todos!
los inocentes, los damnificados
los que gritan de noche
los que sueñan de día
los que sufren el cuerpo
los que alojan fantasmas
los que pisan descalzos
los que blasfeman y arden
los pobres congelados
los que quieren a alguien
los que nunca se olvidan
vamos a festejarlo!
¡vengan todos!
el crápula se ha muerto!
se acabó el alma negra!
el ladrón
el cochino
se acabó para siempre
hurra!
que vengan todos
¡vamos a festejarlo!
a no decir: la muerte siempre lo borra todo
todo lo purifica cualquier día
la muerte no borra nada!
quedan siempre las cicatrices
hurra!
murió el cretino
vamos a festejarlo!
a no llorar de vicio!
que lloren sus iguales y se traguen sus lágrimas!
se acabó el monstruo prócer!
se acabó para siempre!
vamos a festejarlo!
a no ponernos tibios!
a no creer que éste es un muerto cualquiera
vamos a festerjarlo!
a no volvernos flojos!
a no olvidar que éste
es un muerto de mierda

Por Mario Benedetti
Montevideo, 11 de diciembre 2006.

Mario Benedetti (1920-2009)

Em 3 sugestões, a Bamboletras reúne passado, presente e futuro

Em 3 sugestões, a Bamboletras reúne passado, presente e futuro

A newsletter desta quarta-feira da Bamboletras.

Olá!

As sugestões da semana têm a ver com passado, presente e futuro. Passado que se reflete até hoje na obra Memórias do Esquecimento, de Flávio Tavares. Presente na discussão sobre racismo e feminismo da autoficção da grande Djaimilia Pereira de Almeida, Esse Cabelo. E futuro no livro sobre Edgar Morin que trata dos desafios multidisciplinares do século XXI — num mundo cada vez mais especializado.

Excelente semana com boas leituras!

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Esse Cabelo, de Djaimilia Pereira de Almeida (Todavia, R$ 57,90, 104 páginas)

Romance de estreia da excelente Djaimilia, Esse Cabelo é um livro amoroso e um tanto irônico. Nascida em Angola em 1982 e agora vivendo em uma nação da periferia da Europa, o romance é a história da maturidade de uma mulher negra que é considerada forasteira em seu próprio país e não consegue enxergar a possibilidade de “retornar” a uma pátria que, de fato, jamais foi sua. Obra de estreia de Djaimilia Pereira de Almeida, com pontos de contato com o romance pós-colonial, o ensaio de identidade e a autoficção, este livro traz uma contribuição única a um diálogo global cada vez mais importante sobre racismo, feminismo, colonialismo e independência.

Memórias do Esquecimento, de Flávio Tavares (L&PM, R$ 46,90, 269 páginas)

Vencedor do Prêmio Jabuti, Memórias do Esquecimento é um relato cru sobre a prisão e a tortura após o golpe militar de 1964 no Brasil. Formado em Direito e professor da UnB, o jornalista Flávio Tavares participou da resistência à ditadura e foi preso. Libertado com outros catorze presos políticos em troca do embaixador dos Estados Unidos, em 1969, iniciou longo exílio no qual foi vítima (e sobrevivente) da chamada Operação Condor. Este livro é um testemunho sobre os labirintos de uma época sombria e tortuosa. Da repressão à resistência, da dor à esperança, está tudo aqui, para jamais esquecer. Livraço!

Edgar Morin — Complexidade no Século XXI, org. de Edgard de Assis Carvalho (Sulina, R$ 39,90, 182 páginas)

O objetivo primordial deste livro é problematizar o significado da obra de Edgar Morin na busca da complexidade perdida, nestes tempos sombrios do século XXI, dominados pela fragmentação, pela especialização, pelas desigualdades e contradições da mundialização. Às vésperas de completar 100 anos em 8 de julho deste ano, Edgar Morin é um pensador polifônico, transdisciplinar, empenhado em desvendar os sentidos do futuro num mundo cada vez mais interligado, interconectado, interdependente. Sua vida e suas ideias transparecem a todo tempo em seus ditos e escritos. Daí decorre a religação entre a razão e a emoção, marca indelével da totalidade de sua extensa obra, que considera a racionalidade aberta como matriz para o desvendamento dos múltiplos sentidos. A complexidade no século XXI será necessariamente transdisciplinar, envolvendo terra, a vida, a cultura, a humanidade. Considerado como um utopia realizável, esse horizonte exigirá a formação de pesquisadores que ultrapassem suas competências disciplinares e proponham interpretações universais, ao mesmo tempo globais e locais, capazes de englobar a totalidade dos saberes.

Djaimilia Pereira de Almeida

Bach é sinônimo de “música”, substantivo sem dono

Na Folha, em 18 de dezembro de 1999

Chega a ser difícil pensar nele como compositor. A música de Bach (1685-1750) tem uma autoridade tamanha, e há tanto tempo, que é quase sinônimo de “música”, substantivo sem dono. Desde o início do século 19, estudar composição é estudar a música de Bach e aprender piano — ou violino ou violoncelo — é aprender a tocar Bach.

Até hoje ninguém disputa com ele a supremacia no domínio da música religiosa — com palavras ou sem. Bach é o ponto de apoio da música na nossa cultura e é mais natural pensar nele como música do que como um homem que escrevia música.

Há uma certa ironia nisso, antevista num artigo antológico de Theodor Adorno, “Bach Defendido de Seus Admiradores” (em “Prismas”). O que os compositores fazem dele, absorvendo seus ensinamentos e os torcendo para seus próprios fins é uma coisa; outra, bem diferente, é o que faz a indústria cultural.

O mais humano dos compositores será neutralizado em monumento: Bach vira ideologia (conforto religioso, tema de festivais e competições) e mercadoria (música para ninar bebês, jingles de espera telefônica, trilha de comerciais natalinos). É uma ironia porque Bach, para Adorno, representa justamente “a emancipação do sujeito”, capaz de gozar da liberdade no domínio objetivo de todas as técnicas de composição da sua época.

Nesse cenário, as celebrações de 250 anos da morte de Bach, no ano que vem, fariam prever um carnaval soturno de produtos e promoções. Mas a tese de Adorno tornou-se obsoleta, em parte, devido ao resgate de Bach pela “alta” cultura, fruto do embrutecimento cada vez maior da “baixa”.

Bach foi salvo, paradoxalmente, pela decadência da cultura de massa, na qual uma música dessas não tem mais lugar. O que as gravadoras estão apresentando, desde já, para comemorar o número redondo, são coleções que impressionam pela magnitude e seriedade, grandes monumentos cujo sofisticado apelo comercial não diminui sua importância para os ouvintes de boa-fé.

É o caso das doze caixas integrando a série “Bach 2000”, da Teldec. São 153 CDs, com a obra completa de Bach: aproximadamente seis dias e meio de música. Nem tudo é novo na empreitada. Há gravações antigas do Concentus Musicus de Viena e do Leonhardt-Consort, interpretando cantatas, e curiosidades de arquivo, como as suítes para violoncelo, registradas na década de 60 por Nikolaus Harnoncourt (pioneiro da “autenticidade”, mas nesse caso decepcionante).

Há também surpresas, como as peças para alaúde-cravo, tocadas pelos músicos do Giardino Armonico; ou as fantasias para órgão, ornamentadas fantasticamente mesmo por Ton Koopman. (“Sem os ornamentos, essa música faz pensar no interior de uma igreja barroca devastada por um incêndio”, comenta Koopman no encarte.)

Sem pretensão de “obras completas”, a série Bach da Harmonia Mundi talvez seja uma pedida melhor para quem não tem muito conhecimento dos intérpretes -nem fundos ilimitados no banco.

Ao contrário da Teldec, que só vende caixas inteiras de doze ou mais CDs, os discos da Harmonia Mundi podem ser comprados um a um. Incluem gravações antológicas da música sacra (“Missa em Si Menor”, “Paixão Segundo São Mateus”, “Magnificat”), regidas por Philippe Herreweghe.

Nas cantatas para contralto, o solista é o contratenor Andreas Scholl, que está hoje para a música barroca como Ian Bostridge para a romântica: é o intérprete predestinado para nós (quem diria?), ouvintes predestinados.

Os CDs da Harmonia Mundi aderem impecavelmente aos princípios da interpretação autêntica; mas essa nova geração de músicos já chegou àquele ponto em que conhecimento e intuição viram uma coisa só. Escutam a música naturalmente, com o ouvido de dentro, sem o qual o de fora é só um pavilhão auditivo. Estrela entre estrelas, o violinista Andrew Manze reinventa a “Toccata e Fuga em Ré Menor” (mais conhecida na versão para órgão) com um fogo de imaginação que transcende todos os tratados, sem esquecer deles.

Para o mês de março, está previsto o lançamento também de um CD-ROM, “Johann Sebastian Bach – Uma Enciclopédia Musical”, com biografia, catálogo interativo, ensaios de musicologia e acervo de imagens. A invenção do CD-ROM não alterou rigorosamente nada nos hábitos da escuta; mas beneficia muito esse tipo de instrução, no qual o comentário vem junto com a música, e vice-versa.

Pode-se mencionar ainda outra coleção integral, do selo Hänssler Classic, com 171 CDs, sob a coordenação de Helmuth Rilling. Seria uma grande notícia, se não tivesse sido eclipsada, de antemão, pelas outras duas coleções, que são bem superiores.

Numa era de empobrecimento, inclusive intelectual, o advento dessas coleções ganha uma conotação quase religiosa: sustenta, ao menos, a religião de Bach e a paixão da música. Seremos nós as primeiras gerações a terem a possibilidade de escutar a obra completa de Bach, desde que foi escrita. O efeito de uma escuta sistemática dessas é difícil de prever. O que pode fazer conosco é assunto para a alma de cada um. O que há de fazer com a música é um assunto maior, que talvez não tenha interesse ainda, mas vai ter daqui a 50 ou 250 anos.

De Alexandre Kovacs, do Mundo de K, sobre Abra e Leia

De Alexandre Kovacs, do Mundo de K, sobre Abra e Leia

Por Alexandre Kovacs, no Mundo de K.

Milton Ribeiro – Abra e Leia – Editora Zouk – 150 Páginas – Capa de Emanuelle Farezin – Lançamento: 2021.

Milton Ribeiro é uma das pessoas mais inteligentes e bem-humoradas que você vai encontrar no facebook, mesmo que este humor seja um tanto ácido ou carregado de ironia às vezes, mas não é culpa dele o crescente número de idiotas úteis que desafiam a nossa paciência, espalhando bobagens nas redes sociais. Há alguns anos acompanho os seus artigos como jornalista na mídia tradicional e também nos blogs que ele mantém desde 2003, uma inspiração para todo resenhista. Em 2018, Milton realizou um sonho de adolescência transformando-se em livreiro aos 60 anos, quando adquiriu a tradicional Bamboletras em Porto Alegre. E, no final do ano passado, mais um antigo projeto foi cumprido sob a pressão dos muitos amigos da área de literatura: a publicação de Abra e Leia, seu primeiro livro.

Os 22 contos desta antologia foram escritos ao longo dos anos e não apresentam uma unidade temática, longe disso. Contudo, percebemos em muitas das narrativas os traços biográficos do autor, o conhecimento enciclopédico sobre música erudita, assim como as referências literárias e cinematográficas, sem desmerecer dos assuntos mais populares como o futebol e a sua inusitada paixão colorada. Influenciado por autores clássicos e contemporâneos, Milton sabe como contar uma história, seja em primeira ou terceira pessoa, com uma edição precisa do texto, ele conquista a nossa atenção desde o início, construindo finais que valorizam a imaginação do leitor, sempre mantendo um texto afiado e bem-humorado, sua marca registrada.

Chama a atenção o cuidado na criação dos personagens: Marquinhos é um jogador de futebol da segunda divisão gaúcha que é subornado pelo seu ex-time – o Ipiranga de Erechim – para errar todos os escanteios, faltas e pênaltis na decisão do campeonato. Ele é um pai solteiro, coisa incomum no machismo que impera nesta área e, apesar das dúvidas sobre a paternidade, revela um amor incondicional pelo seu filho Enzo. Neste conto, Marquinhos e Enzo, o grande, a ironia fica um pouco de lado e o autor deixa a emoção correr solta pelo texto, sem clichês.

“[…] Eu sabia falar com a imprensa. Dava mais entrevistas e aparecia mais do que os outros, mesmo medindo 1,63 m. Eu era o baixinho que fazia a ligação entre o meio de campo e o ataque. Quer dizer, jogava em posição de craque, mas não era o caso. Tinha alguma habilidade e batia as faltas, pênaltis e escanteios do time, só que passava mais da metade do tempo machucado. Mas não naquele ano. Como o Enzo dizia na escolinha, aquele era o ano do seu pai. Eu ficava todo orgulhoso, pois tudo o que faço é para ele. / Ganhava cinco mil por mês no Guarany e os caras do Ipiranga me ofereceram vinte e cinco para errar todos os escanteios e faltas na decisão. Pênaltis também, se acontecessem. Eu estava em pânico com essa possibilidade – achava que era impossível errar o gol num pênalti. Se eu treinava diariamente, porra, como ia fazer para bater embaixo da bola a fim de mandá-la para fora? E eu sempre batia coladinho, com jeito. Que merda. Só sei que pedi o dinheiro adiantado, porque depois eles sumiriam, é óbvio. Como eu tinha fama de sério e confiável, me pagaram em dinheiro, um em cima do outro, ali na hora.” – Marquinhos e Enzo, o grande (pp. 15-16)

Já em Passando camisas, conhecemos Ana, uma morena bonita e sensual, daquelas que atraem os olhares masculinos e que recebe cantadas até dos amigos do marido mas, em matéria de traição, parece que é ele, o marido Daniel, que está na dianteira. Ana percebe que algo está errado quando descobre uma nota fiscal no bolso da camisa de Daniel, não de uma joia ou uma lingerie para a possível amante, mas sim de um ferro Ultragliss Diffusion 90 Arno. Nesta narrativa, o autor equilibra humor e ironia com sensibilidade em uma história simples do cotidiano mas que, quando bem contada, como é o caso, se torna um clássico.

“À noite, quando voltava para sua pequena casa na periferia, Ana seguia trabalhando. Ali, ela também preparava a comida, limpava a casa, lavava e passava suas roupas e as de Daniel. Ontem, porém, sua rotina foi quebrada. Ao pegar uma camisa de seu marido, Ana sentira um pequeno papel num dos bolsos. Retirou-o e viu tratar-se de uma nota fiscal. Ele tinha comprado um ferro Ultragliss Diffusion 90 Arno por cento e noventa e nove reais. Estranho. Daniel gostava de andar alinhado, mas era muito dinheiro por um ferro de passar. E, além do mais… Cadê o ferro? Observou melhor a data da nota: a compra fora feita há quinze dias e ela não recebera ferro novo nenhum. Faltava muito para seu aniversário e eles não tinham dado presente para nenhum amigo ou parente nos últimos dias – o que significaria aquilo? Será que ele comprara para um amigo que estava sem crédito? Voltou a olhar a nota: compra à vista.” – Passando camisas (pp. 39-40)

Mas é no conto O Violista, o maior em extensão – praticamente uma novela –, no qual encontramos personagens que só poderiam ter sido concebidos por Milton: começando por Romeu, um violista brasileiro que reside em Portugal, contratado pela Orquestra Nacional do Porto e que se prepara para interpretar a Sinfonia Concertante de Mozart para Violino e Viola, uma das poucas peças que valorizam a viola, um instrumento sempre relegado (os detalhes da comparação entre violino e viola são simplesmente deliciosos). A jovem violinista lituana, Saida Rekasiute (certamente inspirada na esposa de Milton, a violinista Elena Romanov): “alguém com 15 anos e 15 quilos a menos do que ele, e, fundamentalmente, com 15 centímetros a mais de altura”. Sebastián Rivero, um maestro prepotente que ameaça a carreira do violista e, finalmente, a moça brasileira, atendente da pizzaria, com a qual Romeu flerta ao telefone.

“Hindemith, Bartók e Mozart foram dos poucos compositores a voltarem suas luzes para a viola. O primeiro tocava vários instrumentos, dentre eles a viola, os outros dois talvez fossem bons corações que se deixaram levar por violistas pedintes, deprimidos com um repertório de terceira linha. / No dia do primeiro ensaio, Romeu foi apresentado à violinista com quem faria o duo. Ela o deixou instantaneamente irritado. Era jovem, muito jovem, alta e bonita, tinha os cabelos e olhos castanhos dos trópicos, mas a pele muito branca e o sotaque de seu inglês denunciavam a origem mais ao norte. Era báltica, lituana. Romeu não deu grande importância à beleza da moça, mas fixou-se em seus pés. Notou que ela estava de sapato baixo. Concluiu que todo seu esforço, dormindo dias e noites sobre a partitura de Mozart, seria solapado por alguém com 15 anos e 15 quilos a menos do que ele, e, fundamentalmente, com 15 centímetros a mais de altura. Ninguém veria um arredondado, pequeno e feio violista brasileiro. E, pior, ela certamente viria de salto alto no dia do concerto.” – O Violista (p. 108)

Um livro muito recomendado e que demonstra um conhecimento e habilidade para mesclar as referências musicais na trama que só encontro em Haruki Murakami na atualidade. A estreia de Milton Ribeiro na literatura nos deixa ansiosos para conhecer os seu próximos lançamentos.

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Sobre o autor: Milton Ribeiro nasceu e vive em Porto Alegre. É livreiro e jornalista da área cultural. É um melômano apaixonado por Bach, cinéfilo devoto de Bergman, proprietário da Livraria Bamboletras e leitor inveterado. Ministra cursos em Centros Culturais como o StudioClio e o Instituto Ling, além de ser colunista da Mundi | Cultura em Revista. Mantém os blogs Milton Ribeiro e PQP Bach. Também é daltônico como Van Gogh e Uderzo. Músicos amigos dizem que teria ouvido absoluto, uma característica 100% inútil, pois não toca nenhum instrumento.

Onde encontrar o livroClique aqui para comprar Abra e Leia de Milton Ribeiro

Um século lendo Ulysses

Um século lendo Ulysses

Fazem exatamente 100 anos que o intrincado romance de James Joyce, que fortaleceu minha vocação de escritor, chegou à livraria Shakespeare and Company como se fosse o Santo Graal.

De Juan Gabriel Vásquez
Traduzido informalmente pelo dono do blog

Há 100 anos, em Paris, um escritor irlandês à beira do desespero escreveu cartas e telegramas e fez telefonemas para garantir que seu novo romance saísse no dia programado. James Joyce já havia publicado dois livros que teriam sido suficientes para abrir um espaço para ele na história: Dubliners, que às vezes me parece o melhor livro de contos em língua inglesa, e Portrait of the Artist as a Young Man, um romance cujas últimas páginas me fazem estremecer hoje, os mesmos arrepios que me causaram quando os li pela primeira vez, mais ou menos na idade de seu protagonista. Mas em janeiro de 1922, Joyce ficou mais conhecido por um romance que não havia sido publicado na íntegra, mas já era uma lenda: Ulysses. Vários capítulos haviam aparecido em várias revistas, dividindo os leitores da época como estão hoje: metade achou o romance uma obra-prima; a outra metade, que era de uma obscenidade incompreensível. Nenhuma editora ousara publicá-lo, prevendo — corretamente — que receberia ações judiciais e tentativas de censura. Joyce abordou o assunto desconsoladamente a um amigo livreiro e ficou tão surpresa quanto ela quando a ouviu perguntar: “Você daria à Shakespeare and Company a honra de ser sua editora?”

O nome da livreira era Sylvia Beach: uma jovem americana de olhos arregalados e lábios finos que viera a Paris para escapar das restrições de sua família presbiteriana e cuja livraria da Rue de l’Odéon era um ponto de encontro para expatriados. (Hemingway e Pound o frequentavam, também Gertrude Stein, mentora de todos). A ideia de que esta livraria se encarregasse da publicação de Ulysses era inusitado, para dizer o mínimo, mas foi feito: em abril de 1921 Joyce e Sylvia Beach concordaram em publicar mil livros, desde que fossem vendidos antecipadamente, e lembro-me da carta que George Bernard Shaw escreveu quando recebeu um convite para comprar um cópia: “Se você acha que um irlandês, já velho, pagaria 150 francos por um livro, você sabe muito pouco sobre meus compatriotas”. Durante o resto do ano, Joyce se dedicou a terminar aquele romance impossível, corrigindo os capítulos publicados e procurando alguém para limpar os impenetráveis ​​manuscritos dos inéditos. O processo já teria sido bastante difícil mesmo se Joyce não tivesse imposto adicionalmente a data de publicação: 2 de fevereiro.

Era seu aniversário de 40 anos, e Joyce era um homem supersticioso. Ele nunca quis, por exemplo, que o romance fosse publicado em 1921: os números do ano somam 13. No verão ele saiu para beber vinho com um amigo, e não apenas ficou preocupado quando encontrou o conjunto de talheres estranhamente disposto, mas quase lhe deu uma síncope quando o amigo viu passar um rato: era sinal certo de azar. Por volta dos mesmos dias, para piorar a situação, ele teve um ataque de irite que o deixou acamado em um quarto escuro pelas próximas semanas. Mas ele continuou revisando as provas, enviando novos acréscimos ao seu impressor — um bom homem de Dijon que quase enlouqueceu no processo — o tempo todo lembrando-lhe que o romance deveria ser publicado em 2 de fevereiro. No primeiro dia do mês, passeando em um parque com sua esposa, Nora, e a escritora Djuna Barnes, ouviu um homem dizer-lhe: “Você é um escritor abominável”. Mas ele disse isso em latim, e Joyce achou que era um horrível presságio.

Incrivelmente, como diz Borges em um conto, o dia prometido chegou. No dia 2 de fevereiro, às sete da manhã, o motorista do expresso Dijon-Paris trouxe um pacote com os dois primeiros exemplares da primeira edição do Ulysses. Sylvia Beach os esperou na estação de trem, como se fossem dignitários de algum governo estrangeiro, levou um para a casa dos Joyce e levou o outro para mostrá-lo em sua livraria. Richard Ellmann, autor de uma biografia de Joyce que teve um lugar na minha vida que as biografias normalmente não têm, diz que a livraria estava cheia até o final da tarde. Ele conta ainda que Joyce, por sua vez, foi jantar com a família e vários casais de amigos para comemorar o evento, mas só no final do jantar ele se atreveu a tirar o livro do pacote que guardava embaixo do assento. . “Era um volume”, escreve Ellmann, “encadernado nas cores gregas — letras brancas sobre fundo azul — que Joyce considerava como boa sorte.”

Por duas vezes tive nas mãos um exemplar dessa edição. A primeira foi quando eu tinha 21 anos, no verão de 1994, quando o feitiço inexplicável causado por Ulysses estava no auge. Eu havia lido o romance um ano antes com uma espécie de reverência, e ainda não entendo que ligação misteriosa aquele livro hermético estabeleceu comigo. Li-o com uma dedicatória que nunca mais tive, acompanhada de dois livros paralelos que explicavam ou iluminavam todas as referências; hoje ainda acho que é a única maneira de ler este romance cheio de piscadelas e sinais, grandes e pequenos, e que lê-lo sem ajuda bem escolhidas é perda de tempo e explica por que tantos leitores ficam de fora. Em todo o caso, essa leitura dos meus vinte anos teve muito a ver com a consolidação da minha vocação e também — por razões mais pessoais e sem dúvida mais frívolas — com a minha decisão de arranjar um pretexto para ir a Paris.

A primeira coisa que fiz quando cheguei a Paris, aos 23 anos e com a obsessão devoradora de aprender a escrever romances, foi caminhar até o número 12 da Rue de l’Odéon. A livraria Shakespeare and Company já não existia, claro, e a que existia e existe com o seu nome não é a mesma, ainda que seja uma digna herdeira. Mas havia (e há) a placa que nos conta friamente o que aconteceu ali. Pois bem, em poucas semanas fará 100 anos que uma cópia daquela primeira edição foi exposta como um Santo Graal naquele lugar desaparecido, e nestes dias não pude evitar voltar à minha própria edição, publicada 70 anos depois, e percorrer minhas passagens favoritas: os três primeiros capítulos, o capítulo da biblioteca, a cidade da noite (ainda hilário) e o famoso monólogo de Molly Bloom. Hoje não admiro as coisas que admirava quando tinha 20 anos – nem dificuldades gratuitas nem pirotecnias sem propósito – mas encontrei outras para admirar. E há quase um ano, quando um amigo madrileno me pôs nas mãos um desses exemplares, voltei a sentir uma emoção um tanto ridícula e de qualquer modo incomunicável, porque naquele momento o passado, a amizade e a literatura se misturavam, três coisas que sempre levei muito a sério.

Juan Gabriel Vasquez é escritor. Seu último romance é Olhando para trás (Alfaguara).

Tudo é Rio, de Carla Madeira

Tudo é Rio, de Carla Madeira

Este livro foi lançado pela primeira vez em 2014 por uma pequena editora. Depois, a Record comprou os direitos de publicação, levando Carla a ser a escritora mais lida do Brasil em 2021 logo após Itamar Viera Junior. Neste ínterim, ela lançou mais dois romances – A Natureza da Mordida e Véspera –, mas o carro-chefe, quem é um tremendo sucesso é este Tudo é rio.

Ninguém pode acusar a mineira Carla Madeira de não ser direta. Sim, ela é direta a ponto de assustar. Mas o contrário da sutileza não é necessariamente a grossura. O livro tem força e impacto e estas são indiscutíveis qualidades. E não falo apenas das descrições das cenas de sexo, mas dos vastos sentimentos à flor da pele. Ou seja, sua literatura não têm muita nuance, fala sempre com clareza. A autora não observa o tempo cronológico, fazendo com que o leitor vá lentamente construindo a situação descrita no início do livro. Como chegaram àquilo? As surpresas aguçam nossa curiosidade a cada capítulo. Aliás, estes são muitos e curtos. A narrativa envolve amores, atração sexual crua, relações familiares, amizades, amores e ódio.

Sem grandes spoilers, podemos dizer que o livro conta a história do triângulo amoroso entre uma mulher, seu marido e uma prostituta. Sabemos sobre a formação do casal, da tragédia que lhes ocorre e da barulhenta entrada do terceiro vértice. Todo o clima e as reações das pessoas parecem ser mais “antigas”. Por exemplo, quando a autora fala em ferro de passar – o romance não contextualiza época ou local –, a gente fica pensando “mas já existia isso na época desta história?”. Há suspense, erotismo e a criação de um belo e estranho clima. Há também uma pergunta que fica no ar e que Chico Buarque já fizera na letra de sua canção Almanaque: “Me diz me diz / Me responde por favor / Pra onde vai o meu amor / Quando o amor acaba”. Mas, no final, ficamos sabendo que…

Tudo é rio tem personagens que tomam atitudes extremas e tal fato fez com que muitos leitores rejeitassem o livro. Eles esperavam que a autora problematizasse mais a violência doméstica. Há agressões a mulheres e crianças, além de uma bem escondida pedofilia. Creio que não cabe à autora punir seus personagens ou fazer um ensaio a respeito. Cabe-lhe contar uma história. Mas é fato que a estrutura novelesca transformou um ato criminoso em uma coisa simples. E a frase final “Deus retornou ao lar” não parece uma ironia e sim um perdão. Ademais, o livro é como aqueles filmes de Tarantino onde os caras fazem o que bem entendem e parece que não há lei ou polícia para impedi-los. Nem vizinhos.

A baixa densidade psicológica dos personagens também leva-nos a pensar num romance antiquado. As frases às vezes parecem de auto-ajuda. As atitudes súbitas das pessoas nos remetem às novelas da Globo: a prostituta é linda, irresistível e de enorme persistência; o homem é macho, calado e violento; a mulher é bondosa e ama os animais; sua mãe é a Rainha do Bom Conselho. Ou seja, o sucesso de Carla Madeira é o mesmo de Nora Roberts, Isabel Allende e Gilberto Braga.

Mas jamais devemos esquecer que ele está calcado na sólida tradição literária de folhetins e fábulas onde o Bem vence o Mal, mesmo que haja violência e Brasil.

Carla Madeira: muita trama nos cabelos e na cabeça

Atrás do balcão da Bamboletras (XLIV)

Atrás do balcão da Bamboletras (XLIV)

Estava voltando do almoço, me arrastando no calor de Porto Alegre. Quando entrei todo suado no ar condicionado da livraria, ouvi uma moça dizer que queria porque queria um Tudo é rio, de Carla Madeira, o livro que eu estava lendo e que carregava sob meu sovaco. Na Bamboletras, tínhamos vendido o último exemplar dele no findi. Sabia que não tínhamos o livro.

Ela viu meu livro e perguntou:

— Me vende o teu?

Respondi que minha mulher já tinha lido aquele exemplar e que eu estava na página 160 de 212. Estava usadinho.

— Ah, me vende… Vou viajar amanhã e preciso! Tu busca outro exemplar pra ti na distribuidora!

— Mas eu anoto meus livros, sublinho, coloco um U quando dou risada e um ∩ quando discordo. E estrago a lombada.

— Tô nem aí. Quero!

— Mas ele estava na minha axila.

— Me vende. Nem precisa me dar o desconto-axila.

Vendi, né? Amanhã chega o meu.

Bamboletras recomenda China, Jamaica e Santiago

Bamboletras recomenda China, Jamaica e Santiago

A newsletter desta quarta-feira da Bamboletras.

Olá!

A China é enorme, a Jamaica é bem menor e Santiago é menor ainda. O livro sobre a China fala do regime político lá implantado há algumas décadas. Jamaica… Bem, Jamaica Kincaid é o nome da autora do drama familiar que é nossa segunda recomendação. E Santiago é o Santiago, nosso super premiado e talentoso vizinho aqui da Cidade Baixa. Ensaio, romance e desenho (ou desdenho), tem para todos os gostos!

Excelente semana com boas leituras!

Corre para garantir seu exemplar aqui na Bamboletras!
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O Socialismo do Século XXI, de Elias Jabbour e Alberto Gabriele (Boitempo, R$ 67,00, 312 páginas)

Este livro é um meticuloso trabalho teórico e estatístico. A obra analisa a gigante República Popular da China das últimas duas décadas, locomotiva do sistema econômico mundial. Afinal, o que é o socialismo chinês? É possível afirmar que difere do capitalismo tal qual o conhecemos até aqui, embora ainda seja prematuro defini-lo como alternativa consolidada. Com uma postura crítica, os autores não desconsideram a complexidade da China e fogem de preconceitos ideológicos como enquadrar o país como mais um fracasso socialista ou, na via oposta, como um paraíso do comunismo realizado. Oferecem ao leitor uma abordagem materialista, que analisa a peculiaridade das relações de propriedade e das ferramentas de planejamento vigentes no país. Tudo isso para apontar seu papel crucial como alternativa realista.

Agora veja então, de Jamaica Kincaid (Alfaguara, R$ 69,90, 144 páginas, R$ 69,90)

O Sr. Sweet compõe em seu estúdio, enquanto a Sra. Sweet passa o tempo na cozinha escrevendo. Seus filhos correm pela grande casa. Contudo, a perfeita imagem da família tradicional americana é abalada quando o marido deixa a esposa por uma mulher mais jovem. Através dos fluxos de consciência de múltiplos personagens, Jamaica Kincaid mostra as angústias escondidas que muitas vezes estão por trás de uma aparente perfeição. Aparentemente singelo, mas potente, Agora veja então é uma análise ferina sobre as diversas maneiras como o transcorrer dos anos afeta um casamento. Os personagens, em confronto, se desesperam em situações cotidianas, suas mentes tentando entender linearmente uma realidade que, de fato, não é linear. Escrevendo no passado, no presente e no futuro, Kincaid faz da passagem do tempo sua principal ferramenta narrativa.

Caderno de Desdenho, de Santiago (Libretos, R$ 45,00, 140 páginas)

Santiago é um gênio do desenho e do pensamento. E ele apresenta, neste Caderno de Desdenho, o melhor de sua produção dos últimos 30 anos. com desenhos inéditos e outros publicados em revistas e jornais. Dentre 100 premiações em salões nacionais e internacionais. 16 cartuns vencedores selecionados constam desta obra comemorativa. Desdenhando a pompa e a circunstância, com irreverência nata, Santiago é um artista conectado às questões sociais e sempre alerta contra as injustiças e as artimanhas por parte dos poderosos. Afinal, se o rei está nu, alguém precisa registrar o fato com qualidade e excelência.

A Louca da Casa, de Rosa Montero

A Louca da Casa, de Rosa Montero

Eu não sei como este livro veio parar em minhas mãos. Trata-se de uma edição de 2005 da Ediouro e nunca o vi na Bamboletras e nem o comprei. Não lembro se alguém me deu de presente, mas agradeço muitíssimo a quem o tenha feito, pois é excelente.

A louca da casa é uma homenagem à literatura. O título do livro é extraído de Santa Teresa de Jesus, que chamou a imaginação de “a louca da casa”. E é disso que trata o romance-ensaio: de imaginação, de literatura, de processos, de invenção, de criação, do acaso. Montero aproveita todas estas e outras questões do fazer literário para refletir sobre elas e escrever capítulos cheios de referências e citações de outros autores, além de momentos autobiográficos que nem sempre precisam ser verdadeiros, pois como a própria autora aponta no post scriptum, “ toda autobiografia é ficcional e toda ficção autobiográfica, como dizia Barthes”. Por exemplo, há um caso pessoal a que é contado três vezes, mas cujo final é sempre diferente, para alegria do leitor mais, digamos, experimental, meu caso.

O livro está repleto de referências pessoais, muitas quem sabe fictícias, como o romance com o famoso ator ou a existência da irmã Martina. Seu gênero? Bem, é um romance, um ensaio, uma autobiografia. É a obra mais pessoal de Rosa Montero, uma viagem pelos meandros da fantasia, da criação artística e das memórias mais secretas.

A autora revela seu íntimo e sua relação com a escrita num jogo narrativo em que a literatura e vida pessoal se misturam em um coquetel com biografias de outras pessoas e autobiografia ficcional. Descobrimos que o grande Goethe lisonjeava os poderosos a extremos ridículos, que Tolstói era um louco, que Mark Twain talvez tenha morrido na infância — sim, verdade! –, que Montero teve um caso bizarro e hilário com um ator famoso. Mas não devemos confiar em tudo que a autora conta sobre si mesma: as memórias nem sempre são o que parecem.

É um livro delicioso sobre fantasia e sonhos, sobre os medos e dúvidas dos escritores, mas também dos leitores, mas é, antes de tudo, a quentíssima história de amor e salvação que existe entre os escritores e suas possibilidades. Ao final, como disse um resenhista espanhol, dá vontade de pagar Rosa pelo braço e dizer: “Menina, mas que histórias você acabou de me contar!”.

Este livro recebeu o prêmio Qué Leer 2004 para o melhor livro do ano, o Grinzane Cavour 2005 e o Roman Primeur 2006.

“Quando uma mulher escreve um romance protagonizado por uma mulher, todo mundo considera que está falando das mulheres; mas se um homem escreve um romance protagonizado por um homem, todo mundo considera que está falando do gênero humano”.

Rosa Montero, ao afirmar que nunca teve intenção de escrever sobre mulheres

Rosa Montero

Virson Holderbaum sobre meu livro Abra e Leia

Virson Holderbaum sobre meu livro Abra e Leia

Eu quase não consegui ler o livro. Como eu moro na praia e os carteiros as vezes não entregam no Campeche por causa dos cachorros, dei o endereço da casa da minha mulher que mora no centro de Floripa , aí quando o livro chegou ela leu, depois os filhos leram e nada de me entregarem. Tive que dar uma ordem geral do tipo me devolvam que o livro é meu! Não foi fácil.

Augusto Maurer, sobre Abra e Leia

Augusto Maurer, sobre Abra e Leia

Milton,

terminei ontem, com certo alívio, de ler teu livro. Explico. Da aquisição à conclusão da leitura, foram quase 4 meses. Não pensa, com isto, que foi uma leitura pesada, trabalhosa. Ao contrário: peguei o livro umas 4 vezes, no máximo, lendo vários contos de cada vez, cada desfecho levando a um desejo inadiável de ler o próximo. Qual meu temor ? Simples: que se tratasse apenas de mais um bom livro. É, com certeza, um grande livro! É que, sabendo de teu conhecimento literário enciclopédico, não esperava (apenas temia) que fosse diferente. Pura burrice: quem estreia nas letras depois dos 60, sabe muito bem a que veio.

Não vou, aqui, entrar em detalhes sobre cada conto. São tantas as observações que prefiro deixá-las para algum momento futuro, ao redor de uma boa mesa e levemente embriagado. Tb não vou te parabenizar – e sim agradecer pelo acréscimo de algo que valha a pena ser lido no já tão saturado universo do corpus literis. E tb, é claro, à Elena, pelo fundamental incentivo a saíres do armário ou melhor, neste caso, da gaveta.

Grande abraço,

Augusto

No caminho para a Bamboletras

Bah, tenho até vergonha de contar, mas hoje eu dei susto num cara que nem lhes conto. Ou conto?
Eu estava caminhando de fones, ouvindo o início de uma das muitas obras que amo: a Cantata BWV 198, Trauerode, de J. S. Bach.

Ela inicia com uma breve introdução instrumental, depois entra o coral e diz: “Laß, Fürstin, laß noch einen Strahl”. Laß é pronunciado como Lass. E eu entrei junto com o coral, sem desafinar, cantando “Lass!”.

Só que o coral entrou quando eu estava chegando na sinaleira para atravessar a Osvaldo Aranha. Eu devo ter quase gritado em meu puro entusiasmo e o cara que estava na minha frente deu um pulo, erguendo os braços. Lass!

Eu? Eu olhei pro outro lado. Será que ele pensou que fosse um assalto? Lass!

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Cantata BWV 198 é uma Ode Fúnebre, severa e sombria. Ele compôs esta cantata a pedido da Universidade como uma ode fúnebre para Christiane Eberhardine , esposa de Augusto II o Forte , o Eleitor da Saxônia e Rei da Polônia . A cantata foi apresentada pela primeira vez em 17 de outubro de 1727 na Igreja da Universidade de Leipzig. O próprio Bach dirigiu do cravo. O texto foi escrito por Johann Christoph Gottsched , professor de filosofia e poesia. O texto é puramente secular, proclamando como o reino está em choque com a morte da princesa, quão magnífica ela era e quão triste será sua falta. Elementos sacros relativos à salvação e vida após a morte estão ausentes.

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Para quem quiser ver e ouvir a Trauerode, aqui está um bom link.

Bamboletras recomenda dois helenistas e um jornalista

Bamboletras recomenda dois helenistas e um jornalista

A newsletter desta quarta-feira da Bamboletras.

Olá!

Dois livros extraordinários cujas concepções tiveram seus nascedouros na Grécia Antiga. A Casa dos Poetas é uma espécie de BBB grego e Autobiografia do vermelho é mais lírico e experimental. De quebra, recomendamos a biografia do sábio Olyr Zavaschi, jornalista gaúcho querido e professor informal de muita gente boa.

Excelente semana com boas leituras!

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Casa dos Poetas, de Leonardo Antunes (Zouk, 92 páginas, R$ 40,00)

Casa dos Poetas, de Leonardo Antunes, escancara seu DNA grego logo de início. Temos Dioniso, também conhecido como Baco, que entre outras atribuições, é o deus do teatro desde quan­do, na Atenas clássica, Ésquilo, Sófocles e Eurípides passeavam pelos palcos suas tragédias. Temos também a referência explícita a Aristófanes e àquela que é, talvez, a sua comédia mais inventiva: As Rãs. E, não menos importante, o povo brasileiro, convidado para assistir o espetáculo. Do que trata o espetáculo? O título dá a pista. Casa dos Poetas remete à alcunha do reality show de maior audiência na te­levisão brasileira, o Big Brother ou “A casa mais famosa do Brasil”. Como sabem até mesmo quem não acompanha realities ou não assiste televisão, mas vai à padaria, anda de taxi ou está no grupo da família no whats, a ideia do espetáculo é isolar em uma casa um grupo heterogêneo de “descolados” que, filmados o tempo todo, estarão à mercê dos espectadores, que escolhem os elimina­dos até que se aponte o vencedor. Ora, Dioniso é, a contragosto, o mestre de cerimônias e árbitro dessa reality original (ao que eu saiba ainda não foi feito um com esse mote) entre poetas. A peça se passa em tempos pandêmicos e, em respeito aos protocolos, Dioniso usa máscara e a “casa” foi transportada para o compu­tador, cada poeta em seu quadrado, mas, graças à tecnologia 3D, capaz de contracenar com o deus.

Autobiografia do Vermelho — Um Romance em Versos, de Anne Carson (Ed. 34, 192 páginas, R$ 52,00)

A canadense Anne Carson é uma das autoras mais reconhecidas e premiadas da atualidade, seja como helenista, ensaísta, crítica de arte, tradutora ou, principalmente, como poeta. Autobiografia do vermelho, seu livro mais celebrado, reúne todas essas facetas ao recriar, nos nossos tempos, o mito grego de Gerião, um monstro vermelho a quem Héracles teve de exterminar para cumprir um de seus doze trabalhos. Baseada na descoberta, nos anos 1960 e 70, de novos fragmentos da Gerioneida, poema lírico do grego Estesícoro (séculos VII-VI a.C.), Carson compõe este tocante “romance em versos” que transforma Gerião em um menino sensível e absorto e, seguindo o fio de um tempestuoso relacionamento amoroso com Héracles, nos apresenta uma peculiar história de amadurecimento.

Olyr Zavaschi: o legado de um homem cordial, de Mario de Santi (Vienense, 272 páginas, R$ 50,00)

Quem conheceu Olyr, sabe do grande jornalista e pessoa que ele foi. Meio caladão, quando abria a boca era para dizer coisas sábias e para das palpites exatos. Faleceu em 2011, aos 69 anos. Formado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), começou a trabalhar como jornalista em 1968 no Diário de Notícias e ingressou na RBS em 1971. Comandou o processo de informatização dos jornais do Grupo. Foi ainda o responsável pela criação da Agência RBS de Notícias, alimentadora dos periódicos da rede. Sereno e cordial, foi um professor como poucos. Sua vida familiar e profissional está descrita nesta bela biografia de Mario de Santi.

Uma lista preciosa: a dos livros para rir

Uma lista preciosa: a dos livros para rir

Nestes anos de 2020 e 2021, apareceram muitas pessoas na Livraria Bamboletras pedindo livros para rir. Sim, a coisa foi complicada e vários leitores foram bem explícitos ao me pedirem livros para segurar quem está sucumbindo.

Aqui na livraria, muitas vezes a gente é também divã. Por exemplo, no dia em que Bolsonaro foi eleito, tivemos clientes que choraram em nosso balcão. Como consolar alguém que está triste porque elegemos um idiota, sabendo que o eleito é uma besta pior do que o tio do churrasco após 3 cervejas?

Mas volto ao tema inicial. Preparei uma lista de livros cômicos. Mas não basta ser cômico, tem que ser MUITO BOM. Nada tenho contra as palhaçadas, mas acho que rir de nervoso também é rir.

Fiz uma lista de improviso:

— Oblómov, de Ivan Gontcharóv
— Enclausurado, de Ian McEwan
— As Intermitências da Morte, de José Saramago
— O Mestre e Margarida, de Mikhail Bulgákov
— Complexo de Portnoy, de Philip Roth
— Os livros de Claudia Tajes
— Uma Confraria de Tolos, de John Kennedy Toole
— A Guerra das Salamandras, de Karel Čapek
— Matadouro Nº 5, de Kurt Vonnegut
— Lucky Jim, de Kingsley Amis
— A Gargalhada de Sócrates, de Nelson Moraes
— Ingresia, de Franciel Cruz
— Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift

Perguntei, no meu perfil do Facebook, que livros deveria acrescentar à lista e a resposta foi uma chuva de excelentes sugestões. Confiram abaixo:

— Incidente em Antares, Érico Veríssimo;
— O Nariz, Gogol;
— Casos do Romualdo, Simões Lopes Neto;
— Escola de Mulheres, Molière;
— O Burguês Fidalgo, Molière;
— A Megera Domada, Shakespeare;
— A Comédia sos Erros, Shakespeare;
— As Alegres Comadres de Windsor, Shakespeare;
— Lisístrata, Aristófanes;
— As Rãs, Aristófanes;
— As Nuvens, Aristófanes;
— Dez Quase Amores, Cláudia Tajes;
— A Casa dos Budas Ditosos, João Ubaldo Ribeiro;
— Um, nenhum, cem mil, de Pirandello
— Contos do Tchekov. “Um sobrenome cavalar” alegra o dia do mais amargo dos turrões.
— A ironia do Machado não seria um tipo de humor? Se sim, Memórias Póstumas!
— Histórias da Vida Privada, do Verissimo
— LFV é minha leitura para tempos difíceis
— As cosmicômicas – Italo Calvino
— Auto da compadecida ☺️
— Anotações de um jovem médico.
— A morte de um estranho
— Instruções para os criados
— Bartleby
— Contos da Cantuária. Chaucer. Penguin Companhia.
— O Complexo de Portnoy, do Roth; Meus Prêmios, do Bernhard; Minha Mocidade, do Churchill; Memórias do Subsolo
— O Homem Nu do Fernando Sabino
— Tia Julia e o Escrevinhador, do Vargas Llosa
— O autor mais engraçado que existe é o P. G. Wodehouse. Qualquer livro seu é prazer garantido e muita risada. Só não sei como andam seus livros em catálogo no Brasil.
— A mulher que escreveu a Bíblia, Moacyr Scliar
— A peregrina de araque
— Faltou o Paul Beatty, especialmente em “O Vendido” e todos os livros do Pynchon
— A Consciência de Zeno e Tristram Shandy.
— O Compromisso e O Ofício, ambos de Serguei Dovlátov, são muitíssimo engraçados. E o recém lançado no Brasil, Tchevengur, do Andrei Platônov, tem a mesma hilaridade ácida e absurda do Dom Quixote.
— A esposa de Gogol do italiano Landolfi.
— “As nuvens” , Aristófanes.
— “Esperando Godot ” do Becket e “Muito Barulho por Nada” do Shakespeare.
— “Uma Proposta Modesta e Outros Ensaios” do Jonathan Swift.
— E o Henfil ? Nenhum livro com os Fradins, o bode Orellana e a Grauna?
— Qualquer coisa do Verissimo, mas acho que A velhinha de Taubaté seria meio agridoce demais…
— O remorso de Baltazar Serapião – Walter Hugo Mãe
— Comédias da vida privada. A autobiografia do Billy Wilder. Qualquer treco do Reinaldo Moraes. — A trilogia de Bridget Jones.
— As rãs – Mo Yan
— Eu amava os contos da coleção “Para gostar de ler” – eram excelentes, muita leveza.
— O Analista de Bagé
— Suas histórias da Bamboletras renderiam um ótimo livro, meu caro.
— As melhores tiradas de PQP Bach” tb…
— O Senhor da Foice, de Terry Pratchett
— Tomar um café com papo com Milton Ribeiro é o melhor!
— Todos do Olavo de Carvalho.
— Veríssimo (LF) e Antonio Prata.
— Recomendo também o pai, Mário Prata.
— Woody Allen
— “Cuca Fundida” e “Sem Plumas” são ótimos, bem lembrado!!!
— Barão de Itararé
— Dom Quixote.
— Biografia do Deltan Dallagnol. Parei nas primeiras 20 páginas, porque não conseguia parar de rir.
— É interessante como Dostoievksi é engraçadíssimo. O jogador, por exemplo, tem partes maravilhosas para o riso. Assim como Os demônios e O idiota. Mas as páginas a que me referi de Memórias entraria em qualquer antologia das mais hilárias da literatura
— Já leu “O Eterno Marido”? Muito engraçado.
— Olha o livro que me fez gargalhar esse ano foi A vida pela frente do Roman Gary, mesmo não estando na minha forma olímpica
— “O Homem ao Quadrado”, de Leon Eliachar. Piadas ótimas e outras não tanto, mas o conceito dos capítulos do livro é genial (capítulos pra ler no banheiro q tem papel hig… Ver mais
— O apocalipse dos trabalhadores, do Valter Hugo Mãe, tem cenas engraçadíssimas, apesar de toda a tragédia.
— Também qualquer Woody Allen
— Quase Memória do Cony
— Ainda não está em livro, mas está no Facebook, “As Corônicas”, do Fernando Corona
— Ouvi dizer que A Gargalhada de Sócrates arranca algumas risadas. 🙂
— Os livros de crônicas do Aldir Blanc.
— Millôr Fernandes
— A dica que me ocorre primeiro já está na lista, As intermitências do morte. Talvez Incidente em Antares caiba aí. Nu de botas, do Antonio Prata, mesmo sem ser ficção, é uma ótima pedida pra quem cresceu nos anos 80. Eu me divirto com Emma, da Jane Austen
— Millor Fernandes e o Luiz Fernando Veríssimo!
— Reacionarismo católico inglês: qualquer um do Evelyn Waugh e O Homem que era Terça Feira, do CK Chesteron.
— Os contos do Mark Twain, são autêntica literatura de emergência para tempos sombrios.
— Asno de Ouro; D.Quixote; Gargantua e Pantagruel; Gil Blas; O Sofá
— As aventuras de Huckleberry Finn
— Lembro de ter rido bastante com o Digam a satã que o recado foi entendido. Do Daniel Pellizzari. — — Encontro muito humor tb nos livros da Veronica Stigger. ❤❤ A Veronica Stigger tem uma preciosidades de humor cruel
— Milton, se você não leu ainda o Estacao Atocha, do Ben Lerner, leia. É hilário e excelente.
— Asco, de Castellanos Moya, e O Inspetor Geral, de Gogol.
— O Tirza é um romance que te choca ao mesmo tempo que te faz rir bastante. Recomendo.
— Jô Soares, romances e autobiografias; Beckett, Stanislaw e Ricardo Araújo Pereira
— Livros dos chargistas… Santiago Neltair Abreu,
— A Gargalhada de Sócrates, do Nelson Moraes;
— Qualquer um do Alasdair Gray;
— Tristram Shandy.
— Sempre uns 80 por cento dos autores que você cita eu só nunca ouvi falar, como acho que na verdade nem existem. 😃
— Lembra de “Porcos com Asas”? Eu rio até hoje só de lembrar uma parte. E “Patty Diphusa” também é de matar de rir.
— Ri muito com Resposta certa, do David Nichols. Não sei se está à altura da bamboletras, mas foi o terceiro livro que mais me fez rir nos últimos tempos. O segundo foi A gargalhada de Sócrates. O primeiro foi o programa do evento do Brasil paralelo.
— Eu ia sugerir “Cágada”, do Gladstone O. Mársico, mas deve estar esgotado… infelizmente.
— Ia indicar A Gargalhada de Sócrates, mas seu radar não o deixou escapar…
— Os do L.F. Verissimo em primeiro lugar.
— O conto “Comportamento nos velórios”, do Cortázar. Está no livro Histórias de cronópios e de famas e na antologia Autoestrada do sul, da L&PM.
— Bah, os da Cláudia Tajes são hilários, dá para rir muito!
— Acrescente ‘Bilac vê estrelas’, de Ruy Castro. Classicamente falando, O Asno de Ouro de Apuleio e Satiricon.
— Candido Urbano Urubu.
— O livro de crônicas do Nelson Rodrigues, A Cabra Vadia, é para rir demais.
— A Auto da Compadecida de Ariano Suassuna
— Novela de Eduardo Mendoza Garriga
— Caviar é uma ova do Gregório Duvivier
— Luis Fernando Verissimo
— Mais um, maravilhosamente engraçado: Uma casa para o sr Biswas.
— “Quem matou Roland Barthes?”
— Os velhos marinheiros, de Jorge Amado
— Cuca Fundida, do Woody Allen
— Qualquer um do Gabo
— A Importância de Ser Prudente, Oscar Wilde.
— Nao digo rir, mas sorri muito lendo o barão das arvores, do ítalo calvino.
— “Macaco preso pra interrogatório” e “O riso dos torturados”…
— “A uruguaia” e “As desventuras de Arthur Less” – engraçados e boa literatura
— Fábulas fabulosas, do Millor. Cabaret Demenzial, da Veronica Stigger. Esse último é humor cruel, mas ri muito com algumas das histórias, como a do casal que vai se mudando pra lugares cada vez mais minusculos por falta de grana.
— Lembrei dum conto dos cervantes, acho que se chamava os faladores. Era dos de gargalhar. E as comédias de Shakespeare ou Moliére. 🤣
— “A morte e a morte de Quincas Berro D´água”
— Podes colocar um sub-título: Livraria Bamboletras, uma Farmácia Literária. Que tal?
— “manual prático de bons modos em livrarias”. pequenino e engraçadíssimo.
— Cândido de Voltaire; O Inspetor Geral de Gógol; O Santo e a Porca, Auto da Compadecida, de Suassuna.
Diego Michel GÓGOL!!!!!
— eu citaria o Pornopopeia de Reinaldo Moraes.
— “Os amores difíceis”, livro de contos do Ítalo Calvino apresenta alguns contos muito hilários
— Autobiografia da Rita Lee. Os subterrâneos do Vaticano de André Gide.
— FEBEAPÁ -Festival de besteiras que assolam o país. Sérgio Porto -Stanislaw Ponte Preta.
— O Livro dos Seres Imaginários, de Jorge Luis Borges.
— Comédias da Vida Privada, do Veríssimo.
— Efraim (ou Ephraim) Kishon, vários titulos…lembro agora de Como Aborrecer um Guarda e outras…, Trad. Luis Fernando Verissimo. Muito bom.
— Ephrain Kishon húngaro israelense’ tb dramaturgo. Millôr Fernandes traduziu uma peça dele, “Pô, Romeu!”, muito engraçada.
— O Mundo é Pequeno, do David Lodge. É o mais engraçado dos romances dele, mas Invertendo os Papéis (mesmos personagens, alguns anos antes), e Terapia também são divertidos.
— E tem os João Ubaldos, além de tudo, engraçados.
— Bah, os do Verissimo sempre são hilários. Incluiria na lista o 10:04 do Ben Lerner e o Ninguém precisa acreditar em mim, do Juan Pablo Villalobos.
— Os livros do mochileiro das galaxias
— “Anedotário da Rua da Praia”. Um clássico! Indico também “O Imortal”, do Maurício Lyrio.
— Procurem Tom Cardoso ele manda muito bem cronista jornalista se é pra rir, ele manda pelo correio ! De chorar!
— Eu ri muito lendo “o grande mentecapto”, do fernando sabino
— Dementia 21 de shintaro kago, adoro o nu de botas do Antônio Prata.
— Tristram Shandy!
— KD o LVF?? São tão bons! E o Gregório Duvivier também! (Put some farofa) e também o “Nu de botas” do Antônio Prata. Livros muito engraçados e bons
— Alain de Botton. Esqueci o título, mas tem um ensaio sobre o amor que é hilário
— A Aldeia de Stiepantikov e seus habitantes, um adoravel livro pequeno e cômico do velho Fiodor Dostoiévski
— Se quiserem livro pra rir, cujos personagens são cachorros, recomendo Sítio Caipora, de uma certa Núbia Bento Rodrigues, né, bispo Franciel
— Cem anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. A parte do tapete voador é impagável!
— Pantaleao e as Visitadoras
— O furo, Evelyn Vaughn. Antigo. Será que tem?
— Eu ia indicar o Dom Quixote, mas já foi citado. É o meu livro favorito e tem trechos MUITO engraçados. Em uma de minhas internações hospitalares mais recentes, levei o Dom Quixote para (re)ler, mas tive que interromper a leitura porque ria muito…
— Luís Fernando Veríssimo na veia!
— O Auto da Compadecida!! Me diverti muito lendo
— A biografia da Rita Lee tinha cenas hilárias q eu não conseguia parar de rir
— “Porque almocei meu pai” de roy lewis, um clássico…..kkkk
— Matadouro 5 é de rir? Eita eu li errado então 🤦🏻‍♀️ Vou ter que reler 😅
— Melhor ler tudo sobre os irmãos Marx agora, nunca se sabe né?
— Woody Allen. Eu tinha que parar de traduzir pra rir.
— Mario Prata, hilário
— Claudia Tajes é de passar mal de rir
— Todos do Douglas Adams, mas principalmente O Guia do Mochileiro das Galáxias!
— Luís Fernando Verissimo TODOS
— Eu colocaria também Cama de gato do Vonnegut
— Confraria de tolos eu devo te agradecer, eu chorei de rir com esse livro
— Ri bem com o último do Kundera, A festa da insignificância
— Malícia negra, de Evelyn Waugh. Impagável…
— Livros do L F Verissimo, tens?
— “A gargalhada de Sócrates” – Nelson Moraes
— Todos de P.G. Wodehouse, principalmente, “Obrigado, Jeeves”.… Ver mais
— Rua dos Artistas e Arredores do Aldir Blanc
— Dois do KV Jr.: “Destinos Piores que a Morte” e “Um Homem sem Pátria”. Adequados, realistas, modernos.
— Ter meu humilde Ingresia nesta lista é motivo pra choro, digo, pra riso. Bom, não sei mais…Só sei que minhas 18 pontes de safenas quase estouraram agora.
— Pra rir … Luís Fernando
— O Proscrito, Ruy Tapioca
— Cântico pra Leibowitz
— Exército de um homem só

Illustration: A comedy mask reads a book.

Ainda sobre os 80 anos de Maurizio Pollini, comemorados anteontem

Ainda sobre os 80 anos de Maurizio Pollini, comemorados anteontem

Após anos ouvindo seus discos, vi Pollini em ação logo após a morte de Claudio Abbado, em 2014. Comprei o ingresso antecipadamente pela internet e, uns dois meses antes do concerto, com Abbado ainda vivo, recebi um e-mail informando que o longo programa tinha sido reduzido. Pollini pedia para retirar a Sonata de Chopin que contém a Marcha Fúnebre. Se eu quisesse poderia pedir de volta o $ do ingresso, etc. Fiquei quieto. Quando aconteceu o concerto, Abbado já tinha falecido. Na hora de Pollini entrar no palco, o locutor do Southbank Center de Londres disse que a Sonata de Chopin tinha sido recolocada no programa e que, de forma pessoal, Pollini dedicaria aquele recital à memória de seu amigo Abbado. O auditório pareceu tremer silenciosamente. Pollini entrou e tocou por 2h30. Sua Marcha Fúnebre foi linda, inspirada como jamais ouvi novamente. No final, deu vários bis e, no último deles, parece ter errado de forma proposital para que parássemos de aplaudir e o deixássemos ir para o hotel. Acho que aquele foi o recital mais emocionante, o momento máximo que tive dentro de uma sala de concertos.

(A Elena estava junto. Depois, fomos gastar o que não tínhamos num restaurante caro. Culpa do Pollini).

Como falar sobre cinema, de Ann Hornaday

Este livro tem como subtítulo Um guia para apreciar a sétima arte, o qual me parece mais adequado. Aliás, melhor mesmo é o original Talking Pictures: how to watch movies.

De forma didática, bem organizada e compartimentada, Ann Hornaday nos conduz pelos aspectos da produção de um filme – do roteiro e elenco à edição de som – e explica como avaliar cada etapa do processo. Como saber se um filme foi bem escrito, para além da qualidade dos diálogos? O que constitui uma ótima atuação? O que torna uma fotografia, edição e edição de som notáveis? E o que realmente faz um diretor? A autora — que é jornalista e importante crítica de cinema no Washington Post — nos oferece essas respostas e nos mostra como a experiência de assistir a um filme pode ser muito mais rica do que imaginamos. Os itens avaliados são roteiro, atuação, design de produção, fotografia, edição, som e música e direção. Para cada item, a autora dá boas dicas para avaliação, além de outras observações interessantes, tanto de sua lavra como das entrevistas realizadas por ela.

O problema do livro é que quase todo o referencial cinéfilo da autora é norte-americano, principalmente de filmes lançados entre 1990 e 2015 e sei que haveria exemplos até melhores fora daquela filmografia. Pois é, eu sei mais a respeito e prefiro o cinema europeu e boiei em boa parte dos “cânones”. Acho que deveriam ser utilizados apenas clássicos ou Hornaday deveria ter ampliado os exemplos.

Mas o livro tem curiosidades interessantes e observações preciosas sobre o que faz um filme ser bom ou funcionar e valeu a leitura.

Hornaday: por demais estadunidense para este que vos escreve | Foto: Divulgação