Dia Nacional da Consciência Negra: os cartões-postais dos linchamentos da Ku Klux Klan

Dia Nacional da Consciência Negra: os cartões-postais dos linchamentos da Ku Klux Klan

Retirado daqui.
Tradução livre deste blogueiro

A humanidade pode ser pior do que você imagina, muito pior.

Terrorismo é definido como “o uso de violência e intimidação na busca de objetivos políticos”. A mídia ocidental gosta de pintar terroristas com rostos morenos, mas uma das mais horríveis campanhas de terror aconteceu no século passado em solo norte-americano — os estimados 3.436 linchamentos de homens e mulheres negros americanos entre 1882 e 1950, com o objetivo de controlar e intimidar a população negra pouco antes libertada. Não muitas coisas são mais perturbadoras do que ser confrontado com a evidência visual do lado sombrio da humanidade, especialmente quando são evidências de um ódio generalizado e da violência de um ser humano para com o outro. Este ódio veio do medo e foi impulsionado pela religião e pela crença de que os assassinatos são atos de moralidade. Esta violência visava intimidar e suprimir quaisquer aspirações que uma comunidade possa ter por igualdade e um futuro melhor.

Quando me deparei com a coleção de cartões-postais norte-americanos de James Allen e John Littlefield, publicada em um livro intitulado Without Sanctuary: Lynching Photography in America, notei quão importante é conhecer essas imagens, hoje mais do que nunca. Esses cartões-postais foram feitos para comemorar eventos que fizeram muitos brancos norte-americanos se sentirem orgulhosos — de sua raça, de sua superioridade, de sua civilização e de sua inteligência. Eles tiraram fotos de suas realizações nojentas e covardes para serem conhecidas e lembradas. Nas costas, eles escreveram para amigos e familiares numa empolgação de sociopatas. Esses cartões-postais capturam turbas testemunhando com alegria o assassinato de rapazes e moças, cujo crime mais grave foi a cor da pele. Os cadáveres pendurados e carbonizados nesses cartões-postais viviam em um mundo que contava os dias até seu assassinato, a partir do momento em que colocavam ar em seus pulmões infantis. Essa história é poderosa, de revirar o estômago e de importância essencial. E o mais impressionante sobre essas fotos é que elas não apagam os perpetradores como muitas histórias e memoriais fazem hoje, preferindo focar em quem foi vitimado em vez de naqueles que orgulhosamente — e com o apoio do governo — torturaram, estupraram e assassinaram pessoas. Os assassinos nessas fotos estão orgulhosos, são homens adultos olhando para a câmera com a convicção sorridente de que o adolescente que eles acabaram de matar, um contra cem, merecia seu ódio, medo e frustração. Nenhum grande júri era necessário; a lei estava nas mãos dos assassinos. 

A história não é linear. A história está acontecendo ao nosso redor, o tempo todo. Essas fotos são contexto, são realidade, são fotos do terrorismo norte-americano. Esteja ciente de que essas fotos são repugnantes e muito reais.

O linchamento de Elias Clayton (19 anos), de Elmer Jackson (19) e de Isaac McGhie (20), em 15 de junho de 1920, Duluth, Minnesota.

Por James Allen

Eu tenho um brique, sou um catador, um colecionador. É minha vida e minha vocação. Eu procuro itens que algumas pessoas não querem ou não precisam mais e os vendo para outros que precisam. As crianças são catadoras naturais. Eu fui uma delas. Eu brincava com isso desde quando colecionava abelhas em potes.

Meu pai trazia para casa sacos de lona estufados com nomes de bancos, sacos de moedas de cobre ou meio dólar e nós, crianças, sentávamos em volta dos montes de moedas como se estivéssemos em volta de uma fogueira e gritávamos sons de bingo quando encontramos alguma moeda especial.

As mães não aconselham seus filhos a serem catadores. Nenhum adulto deseja ser chamado disso. No Sul dos EUA, é um termo pejorativo. É coisa de gente muito humilde e ignorante, talvez ladra. Tenho tentado trazer dignidade a meu trabalho, viajando incontáveis ​​estradas em meu estado natal, adquirindo coisas que creio serem úteis e reveladoras — móveis feitos à mão, potes feitos por escravos, colchas remendadas e bengalas esculpidas. Muitas pessoas que me vendem estão sobrecarregadas de bens, ou prontas para irem para o lar dos idosos ansiando pela morte. Alguns são vendedores são relutantes, outros ansiosos. Alguns são amáveis, gentis e acolhedores, outros são mesquinhos, amargos e meio enlouquecidos pela vida e pelo isolamento. Nos EUA tudo está à venda, até uma vergonha nacional. Um dia, deparei-me com um cartão-postal de um linchamento. Os cartões-postais pareciam triviais para mim, eram produtos de segunda mão. Ironicamente, a busca por essas imagens me trouxe um grande senso de propósito e satisfação pessoal.

O linchamento de Thomas Shipp e Abram Smith. Este foi um grande encontro de linchadores acontecido no dia 7 de agosto de 1930, em Marion, Indiana. Inscrito a lápis na moldura: “Bo aponta para seu niga.” Fora da moldura está escrito: “Klan 4º Joplin, Mo. 33.” Achatadas entre o vidro e o papel há cabelos da vítima. ”
Este é o cadáver carbonizado de Jesse Washington suspenso em um poste. O verso diz “Este é o churrasco que fizemos ontem à noite, minha foto está à esquerda com uma cruz sobre seu filho Joe.” 16 de maio de 1916, Robinson, Texas.

O estudo dessas fotos gerou em mim um enorme medo dos brancos, medo da maioria, dos jovens, da religião, dos aceitos. Talvez certo cuidado a respeito dessas coisas já estivesse em mim, mas certamente não tão ativamente como após a primeira visão de um frágil cartão-postal de Leo Frank morto em um carvalho. Não foi o cadáver que me impressionou, foram os rostos delgados como cães de uma matilha, circulando atrás da morte. Centenas de mercados de pulgas depois, um comerciante me puxou de lado e em tom conspiratório me ofereceu um segundo cartão, este de Laura Nelson, presa como uma pipa de papel em um fio elétrico. A visão de Laura criou uma camada de pesar sobre todos os meus medos.

Acredito que os fotógrafos destes cartões foram mais do que espectadores dos linchamentos. A arte fotográfica desempenhou um papel tão significativo no ritual quanto a tortura. A luxúria impulsionou sua reprodução e distribuição comercial, facilitando a repetição infinita da angústia. Mesmo mortas, as vítimas não tinham abrigo.

O linchamento de JL Compton e Joseph Wilson, vigilantes. Ocorreu no dia 30 de abril de 1870, em Helena, Montana. A inscrição impressa no canto superior direito diz: “Hangman’s Tree, Helena Montana”. O verso deste cartão afirma: “Mais de vinte homens foram enforcados nesta árvore durante os primeiros dias.”
O corpo espancado de um homem afro-americano, apoiado em uma cadeira de balanço, roupas respingadas de sangue, tinta branca e escura aplicada no rosto e na cabeça. Na parede, há a sombra de um homem usando uma vara para apoiar a cabeça da vítima. Postal de 1900.

Essas fotos provocam em mim um forte sentimento de negação e um desejo de congelar minhas emoções. Com o tempo, percebo que meu medo do outro é medo de mim mesmo. Então, esses retratos, arrancados de outros álbuns de família, tornam-se os retratos da minha própria família e de mim mesmo. E os rostos dos vivos e os rostos dos mortos se repetem em mim e na minha vida diária. Já vi John Richards em uma estrada remota do condado, balançando-se em passadas de cavalinho de pau, cabeça baixa, olhos no chão. Já encontrei Laura Nelson em uma mulher pequena e robusta que atendeu minha batida na porta de uma varanda dos fundos. Em seus olhos profundos, observei uma multidão silenciosa desfilar em uma ponte de aço brilhante, olhando para baixo. E na Christmas Lane, a apenas alguns quarteirões de nossa casa, Leo, um menino pequeno, com a fralda da camisa para fora e o boné descentrado, vai para as orações do sábado.

A silhueta do cadáver do afro-americano Allen Brooks pendurado no arco em Elk, cercado por espectadores. O linchamento aconteceu em 3 de março de 1910 na cidade de Dallas, Texas. Inscrição impressa na borda, “LYNCHING SCENE, DALLAS, MARCH 3, 1910”. Inscrição a lápis na borda: “Tudo bem e gostaria de receber um postal seu, Bill’. O verso do cartão diz “Bem, John – este é um registro de um grande dia que tivemos em Dallas … Um negro foi enforcado por agressão a uma menina de três anos. Eu vi a agressão.”
Os cadáveres de cinco homens afro-americanos, Nease Gillepsie, John Gillepsie, “Jack” Dillingham, Henry Lee e George Irwin com espectadores.6 de agosto de 1906. Salisbury, Carolina do Norte.
Cartão postal do linchamento de Will James, Cairo, Illinois 1909
Bennie Simmons, ainda vivo, embebido em óleo de carvão antes de ser incendiado. 13 de junho de 1913. Anadarko, Oklahoma.
O linchamento de Leo Frank. 17 de agosto de 1915, Marietta, Geórgia. Sobreposta à imagem: “o fim de Leo Frank, enforcado por uma turba em Marietta. Agosto 17. 1915. ”

Imagens do linchamento de Frank Embree, Fayette, Missouri 1899

Bolsonaro lidera as pesquisas enquanto Bolsominions assassinam e agridem

Bolsonaro lidera as pesquisas enquanto Bolsominions assassinam e agridem

Texto e pesquisa de Raphael Tsavkko Garcia

Bolsonaro ainda não foi eleito (e oxalá não será), mas apenas neste mês (ou dez dias) seus bolsominions já se assanharam com a possibilidade de sua vitória promovendo agressões e assassinatos.

Vocês tem ideia do que será um governo com esse fascista no poder? O sentimento de poder que dará aos seus seguidores violentos, a grupos como Carecas, neonazis e afins?

Enquanto isso, Bolsonaro, o homem que diz que vai ter pulso firme contra a bandidagem, afirma que não tem como controlar seus eleitores criminosos.

Alguns episódios:

— Mestre de capoeira é morto com 12 facadas após dizer que votou no PT, em Salvador (https://is.gd/9exhZK)

— Médica do RN rasga receita após paciente idoso dizer que votou em Haddad para presidente (https://is.gd/g2moGL)

— Ex-Furacão 2000, mulher trans é atacada com barra de ferro por apoiadores de Bolsonaro (https://is.gd/CynY4x)

— Jornalista é agredida e ameaçada de estupro ao sair de zona eleitoral (https://is.gd/3LgjDX)

— Menina de 19 anos é agredida e teve marcada à faca sua barriga com uma suástica por usar camiseta com a expressão #EleNão (https://is.gd/hivG9t)

— Estudante da UFPR acaba de ser brutalmente violentado em frente à Universidade por membros de uma torcida organizada aos gritos de “Aqui é Bolsonaro!”. (https://is.gd/HUIdkz)

— Um gay morto no armário por um assassino obcecado por Bolsonaro (https://is.gd/AUnAnt)

O MBL declarou apoio ao Bolsonaro, e seus métodos de intimidação não envergonham o mestre:

–Aluno da UFBA é levado por PMs após convidar pessoas para discussão sobre as eleições (https://is.gd/xOMFqI)

Isso sem falar na intimidação contra a irmã de Marielle Franco (https://is.gd/jnaTEb);

— o assédio virtual contra a Miriam Leitão (https://is.gd/gFbY2q);

— a ameaça nada velada do deputado eleito Rodrigo Amorim ao destruir placa com nome de Marielle ao lado do candidato ao governo do Rio, Witzel (https://is.gd/KupKKC)…

Bolsonaro é um perigo para o país. É um fascista que precisa ser parado antes que seus seguidores cometam mais crimes. Em apenas duas semanas bolsominions assassinaram pelo menos 2 pessoas e agrediram ou ameaçaram outras tantas, imaginem apenas o que acontecerá se ele for eleito.

Foto: Reprodução Facebook

Negligência de governos destrói o Museu Nacional: acompanhe a sequência do corte de verbas

Negligência de governos destrói o Museu Nacional: acompanhe a sequência do corte de verbas

Um incêndio consumiu quase todo o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Há apenas dois meses, a instituição tinha comemorado os 200 anos de sua criação.

O Museu foi fundado por Dom João VI em 1818 e possuía o quinto maior acervo do mundo, com mais de 20 milhões de peças, e era referência para pesquisadores de várias áreas. Suas obras contavam uma parte importante da história antropológica e científica da humanidade.

Lá estava o fóssil — com mais de 11 mil anos — de Luzia, a mulher mais antiga das Américas, cuja descoberta nos anos 1970 alterou todas as pesquisas sobre a ocupação da região.

Também havia a reconstrução do esqueleto do Angaturama Limai, o maior dinossauro carnívoro brasileiro, com quase todas as peças originais, algumas com 110 milhões de anos.

Foi queimado igualmente o sarcófago da sacerdotisa Sha-amun-em-su, mumificada há 2.700 anos e presenteada a Dom Pedro 2º em 1876, e que nunca tinha sido aberto. A coleção de múmias egípcias e a de vasos gregos e etruscos evidenciam o perfil mundial do acervo, que também abrigava o maior conjunto de meteoritos da América Latina.

Porém Bendegó, o maior meteorito já encontrado no país com mais de 5 toneladas, sobreviveu intacto.

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O Museu Nacional encontrava-se sob a guarda da UFRJ, ou seja, sofrendo com os cortes da Educação, recebendo apenas R$ 13.000 de manutenção mensal para seus 20 milhões de itens de História e Arte brasileira. Não me digam que o incêndio de hoje não é resultado das políticas da quadrilha — com Supremo, com tudo — que atualmente ocupa o Planalto, que não é resultado do Centrão que está destruindo o país há bem mais de um governo. Claro, o governo anterior igualmente não tratou nada bem a cultura — imaginem que o Museu teve de fechar as portas, em 2015, por falta de verbas para o pagamento dos funcionários, em pleno governo Dilma. Mas é agora que se orquestra um grande ataque à cultura. Os governos estaduais e municipais começaram a combater o meio cultural do país que não os apoia. Sartori e Marchezan estão fazendo o seu tanto do RS e em Porto Alegre, assim como Pezão e Crivella no RJ.

Aliás, no mesmo sentido, Bolsonaro defende a extinção do Ministério da Cultura… Ele pensa que uma secretaria seria o suficiente para tratar do assunto.

Vejamos: em 2014, ano em que as atenções estavam voltadas para as arenas da Copa do Mundo, foram repassados apenas R$ 427 mil para o Museu. Em 2015 foi ainda pior: R$ 257 mil. Subiu um pouco em 2016, R$ 415 mil. No ano passado, foram 246 mil e agora, no ano do bicentenário, somente R$ 54 mil. A estrutura apresentava sinais visíveis de má conservação, como fios elétricos expostos e paredes desencascadas, rachaduras na estrutura, sem falar na falta de dispositivos anti-incêndio. A Petrobras, através da Lei Rouanet, ajudou a manter o museu até a Lava a Jato. Com a crise da empresa, cessou o patrocínio.

Bem, o dinheiro destinado para a manutenção do Museu Nacional era equivalente a 10 auxílios-moradia do Judiciário. Agora, nem precisam mais ter esse gasto. Me apavora o fato de que o Theatro Municipal, o MAM, o Jardim Botânico, o Real Gabinete Português, a Biblioteca Nacional, etc., — para não falar em instituições de outros estados –, estejam sob as mãos de governantes como os nossos. Já o STF e o Congresso Nacional devem estar limpíssimos e conservadíssimos, ao menos seus prédios.

Foto: Mídia Ninja

Um médico

Eu finjo que não tô nem aí, tento minimizar, mas estou aí sim. Fiquei em estado de choque com uma consulta a um oftalmologista. Não consigo pensar em outra coisa. A paciente era a Elena. Ela fez uns óculos. Não deram certo. Foi a um segundo médico. Deu mais certo, mas não totalmente. E retornou ao segundo médico. O diálogo foi curto.

— Doutor, eu não consigo ler partituras com clareza. Vejo muito bem longe, vejo como se estivesse com um binóculo, mas perto não consigo. Normalmente, a partitura fica mais ou menos aqui — disse ela, estendendo o braço e fazendo um ângulo de 90 graus com a mão.

— Olha, acho que a senhora quer me dar um migué — respondeu ele.

Foi uma reação pra lá de inesperada.

Em gauchês, “dar um migué” significa “enganar” ou “levar vantagem”. O que não dá para entender é qual seria a vantagem que a Elena obteria ao vê-lo e em ir à ótica pela terceira vez.

— Não, eu quero apenas conseguir trabalhar com algum conforto. Meu trabalho exige que eu enxergue bem.

— A senhora pediu um receita para longe e eu dei! — respondeu ele taxativo e com a voz mais alta.

Comecei a me mexer na cadeira pensando em como intervir.

— Não, eu pedi uma receita para trabalhar — disse Elena.

Eu estava presente na primeira consulta e foi isso mesmo o que ela solicitou. Assenti ao que ela disse.

— A senhora viu que eu fiz testes para perto e longe, não para visão intermediária! — rebateu ele quase aos gritos.

— Eu não conheço o seu trabalho. Não sei quais são os testes. Sempre fui clara, preciso ver bem as partituras. Elas ficam a certa distância. E lhe disse claramente isso — falou Elena com extrema lentidão e sem mudar o tom de voz calmo.

— EU NÃO ME IMPORTO COM O TEU TRABALHO! PRA MIM TANTO FAZ!

O homem estava histérico. Então, levantou e a chamou para novo exame. Começou a fazê-lo ainda agressivo, mas foi se acalmando aos poucos. Eu estava pasmo, mas tratei de ajudar o dotô no novo exame. Eu segurava as letras que a Elena deveria ler na posição onde ficaria uma partitura. Na receita anterior, ele fez questão de escrever no verso, em letras garrafais: RECEITA OK.

Quando uma mulher se comporta assim, costuma-se dizer que é mal comida.

Bem, recebemos a nova receita. A despedida foi quase cordial.

Eu acho que as pessoas estão ficando loucas. Não vou avançar, mas acho que todo mundo entende o que quero dizer.

A Elena saiu de lá dizendo que precisava chorar um pouco. E eu, ainda pasmo, pensei que tenho que ir ao médico preparado para brigar. Como raramente grito e brigar fisicamente eu não sei, talvez devesse apresentar uma faca, algo assim. Ou será que o Boçalnato tem razão e devo andar com arma de fogo? Costumo acompanhá-la nos médicos apenas para poder conversar a respeito depois. É uma atitude de carinho, consideração, etc. Será que vou ter que me transformar em guarda-costas? Nunca antes tinha visto médicos maltratando clientes. Foi uma novidade destes tempos sombrios.

(Sim, ela tem convênio).

A nova programação da FM Cultura é…

A nova programação da FM Cultura é…

Vejam a reação do público à estreia de Renato Martins na FM Cultura antes que deletem. Um sucesso. A FM Cultura era uma das coisas boas deste estado.

Vamos tentar dar amplificação a quatro manifestações sobre a nova FM sem Cultura e outra de antes da “modernização”.

1. José Fernando Cardoso, funcionário da rádio.

Gente amiga (2), um último esclarecimento sobre as mudanças na Programação da FM CULTURA, pra que não haja alguma dúvida – e parece que tá ocorrendo um certo ruído, especialmente em relação a uma frase do presidente da FUNDAÇÃO PIRATINI, Orestes de Andrade Júnior, postada aqui no Facebook, de que “ouvimos e construímos uma nova grade junto com os servidores”. Sim, de fato Orestes e alguns membros de sua diretoria nos ouviram: nós, servidores da FUNDAÇÃO lotados na RÁDIO, fizemos três reuniões com eles na semana retrasada – e depois houve mais duas, com o novo diretor, Paulo Inchauspe, e os três programadores musicais, eu, Martinha e Clarisse. Nas reuniões com o Orestes, nos foi apresentada, num primeiro momento, uma nova grade, fechada, que acabaria por sofrer (mínimas) alterações depois de críticas e sugestões nossas. Pra se ter uma ideia, no primeiro modelo de grade não constava o ‘Conversa de Botequim’, simplesmente o programa mais conhecido e reconhecido – pelos ouvintes, músicos, colegas, apoiadores, jornalistas, divulgadores etc. – de toda a história de 28 anos da FM CULTURA. Insistimos que o ‘Conversa’ e o ‘Estação Cultura’ não poderiam cair: conseguimos manter o primeiro – e sugerimos o Demétrio Xavier pra apresentá-lo, já que a direção insistiu que o Luiz Henrique não mais poderia exercer a função -, mas infelizmente perdemos a batalha pelo segundo. Então, dizer que a grade foi construída conosco não é exatamente o que aconteceu – nossa compreensão sobre a discussão é bem diversa. Não concordamos com quase nada do que foi proposto pelos gestores: nem a troca dos apresentadores da Casa por terceirizados, nem a supressão de programas, nem o ‘Clássicos’ sendo jogado lá pra madrugada – é daí que surgiu a frase do “tu e mais 6”, quando uma colega nossa disse que era ouvinte assídua -, nem a inclusão de música estrangeira – que já é contemplada nos programas jornalísticos ‘Café Cultura’, ‘Cultura Na Mesa’, ‘Estação Cultura’ e segmentados –, o que fatalmente vai ocasionar perda de espaço para músicos locais e nacionais -, nem o esvaziamento do ‘Café Cultura’, que terá outro formato, muito mais superficial – risco que corre também o ‘Cultura Na Mesa’. Portanto, concluindo: a grade já estava modificada, 95% do que muda já estava decidido, nos opusemos de maneira muito clara, questionamos se essas medidas não deveriam passar pelo Conselho Deliberativo – eu, o colega Walmor Sperinde e o próprio Orestes, que ocupava uma das cadeiras do colegiado como representante da SECOM, sabemos disso de cor, até porque a FUNDAÇÃO ainda não foi extinta, então seu Estatuto e Diretrizes ainda tão valendo -, mas o atual presidente disse que entende que isso não é necessário. Então o que foi feito é que, a partir de nossa discordância, demonstrada já de cara e de forma veemente, deixou-se uma margem – pequena, minúscula, eu diria – para que sugestões nossas fossem levadas em conta. O que é bem diferente de uma construção conjunta, entre servidores e direção, da nova grade de Programação. O que aconteceu foi isso, perguntem aos demais colegas que lá estavam. Abraço a todos. E a luta continua.

2. Francisco Marshall, historiador.

DE ONDAS E DETRITOS

Se você fosse o dono ou gestor de uma empresa, trocaria uma funcionária culta, bem preparada tecnicamente, dedicada, reconhecida e aclamada por seu público, prestando um serviço relevante para a comunidade, pessoa certa no lugar certo, por seu oposto?

E trocaria um produto sofisticado, relevante, correto, bonito, singular, bem acolhido por seu público, por uma babaquice vulgar estilo camelódromo?

Resposta hoje vigente: “sim, afinal a empresa não é minha, o risco de solapá-la não atinge meu patrimônio, e o acionista maior (meu chefe) gosta mesmo de uma boa babaquice vulgar e aduladora. Ademais, se eu quebrar esta empresa, haverá quem aplauda, como há quem goste de me ver agredindo seus técnicos e seus clientes.”

3. Marcos Abreu, engenheiro de som.

FM Cultura

4. Renato Martins, apresentador do Café Cultura, comprovando o “mais do mesmo” em emissora pública.

Renato Martins comprovando o mais do mesmo

5. E vejam este post, por favor.

Aqui, o link, vale a pena clicar.. Hoje recebi uma visita pra lá de especial. A professora Isabel Velásquez é mexicana. Vive nos EUA. Leciona linguística na University of Nebraska. Lá ela ouve, diariamente, a FM Cultura! Fã de MPB, não perde um Conversa de Botequim. Apoiado por esta livreira. Participando de um seminário na PUC, as professoras que a acompanharam disseram que há três dias ela quer vir conhecer a livraria que apoia uma rádio cultural. E veio. Disse que a Bamboletras faz parte de seu imaginário cotidiano. Ao ouvir a rádio pensava: como será essa livraria? Agora conhece. Coisa de gente que ama os livros. Foi um lindo encontro!

14 de junho de 2017: A Noite da Maldade em Estado Puro

14 de junho de 2017: A Noite da Maldade em Estado Puro

O RS é um estado triste administrado por um merda. Porto Alegre — local onde nasci e onde vivo — é uma cidade truculenta, capaz de desalojar crianças numa noite como a de ontem. Somos um estado hipócrita e sujo, que tem Campanha do Agasalho para que a primeira dama apareça e que depois, em noite gelada, pede para a Brigada tirar o teto de 200 pessoas que não têm para onde ir. Foi uma noite horrorosa, de guerra contra desarmados e desamados, patrocinada por Sartori, pelo PMDB gaúcho e seus aliados. Espero que ninguém esqueça da noite desumana de 14 de junho de 2017 na hora de votar em outubro de 2018. Noite gelada, famílias postas no olho da rua, silêncio de parte da imprensa e prisão de deputado — fato apenas importante em relação às famílias por não ter ocorrido desde a ditadura. Meu pequeno consolo é não ter votado em nenhum deles. Nem de perto. Isso não me dá nenhum mérito. Gauchada burra, vá tomar no cu!

Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21

Aline S. G. (não pretendo sujar meu blog com seu nome completo, nem receber eventuais visitas deste tipo de gente) é o nome da juíza que autorizou a reintegração de posse de um prédio que ficou mais de dez anos abandonado e que nos últimos dois anos abrigava 70 famílias (homens, mulheres, crianças, idosos, etc.). Preocupada com o trânsito de veículos na região, determinou que a desocupação ocorresse à noite, autorizando o uso de força contra crianças, idosos, mulheres e homens. Esta senhora recebe um salário de milhares de reais. Além de outros tantos benefícios, percebe também R$ 4.300,00 de auxílio moradia, pagos com dinheiro público.

TSE demonstra que a ética e a dignidade não podem prejudicar os negócios

TSE demonstra que a ética e a dignidade não podem prejudicar os negócios

Os financiadores de campanha mandam no país. Tanto faz se o presidente chama-se Michel Temer, Rodrigo Maia, Carmen Lúcia, Fernando Henrique, Nelson Jobim, Henrique Meirelles ou Gilmar Mendes. Os políticos têm que entregar o trabalho pelo qual já foram pagos. O importante é a continuidade das reformas (ou contrarreformas).

Hoje à noite, o TSE ignorou uma enorme quantidade de provas e evidências que demonstravam como o Dilma e Temer beneficiaram-se de caixa 2 na eleição de 2014. Amigo de Temer de tantas viagens e convescotes, Gilmar Mendes, presidente de uma corte de opereta, construiu a absolvição.

A opinião pública pouco importa no universo paralelo da maioria dos políticos e juristas de Brasilia. Nada os assusta, tanto que Temer devolveu em branco as 82 perguntas que a Polícia Federal fez a ele sobre sobre suspeitas de seu envolvimento em corrupção, organização criminosa e obstrução de Justiça. Eram “invasivas”, disse. Completou dizendo era “vítima de abusos e agressões”. Tadinho.

No último balanço realizado pelo Congresso em Foco, com base nos registros do Supremo Tribunal Federal, havia 148 deputados federais suspeitos ou acusados formalmente de crimes. Os delitos são variados: crimes de responsabilidade, contra a lei de licitações, corrupção, lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e crimes eleitorais e ambientais, entre outros. A maioria dos restantes são apenas lobistas, meros representantes de corporações.

Eles, os 148 e os só lobistas, votarão as tuas reformas.

TSE

Vejam se o juiz, nesta cena de Boleiros, de Ugo Giorgetti, não parece Gilmar Mendes (cena trazida por Idelber Avelar em seu perfil do Facebook):

Parágrafo 570 da sentença que absolveu Cláudia Cruz. Dizer o quê?

Parágrafo 570 da sentença que absolveu Cláudia Cruz. Dizer o quê?

Com a colaboração (imagem) de Miserere.

570

Será que Moro absolveria Marisa Letícia se encontrasse milhões em contas na Suíça e gastasse dinheiro público com luxos na Europa? Marisa é de uma classe, Cláudia é de outra. O juiz considerou em seu despacho que, “embora tal comportamento seja altamente reprovável, ele leva à conclusão de que a acusada Cláudia Cruz foi negligente quanto às fontes de rendimento do marido e quanto aos seus gastos pessoais e da família”. Pra que discutir com madame tão distraída, né?

O problema, gente, é que gastar dinheiro do marido corrupto não é crime.

A estupidez triunfante: o ódio de Sartori e de certa direita à cultura e à ciência

A estupidez triunfante: o ódio de Sartori e de certa direita à cultura e à ciência

O Tribunal de Justiça Militar permanece. Só Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo têm tais maravilhas de notável utilidade. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) já sinalizou que poderiam ser extintos para dar lugar à criação de câmaras especializadas nos Tribunais de Justiça dos estados para julgamento de processos de competência militar. O órgão gasta R$ 36 milhões ao ano, 26% de tudo o que o governo da anta Sartori pensa economizar com a extinção de fundações estaduais. Mas são milicos, não fazem pesquisa nem divulgam cultura. São gente boa.

Já a Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec), a Fundação Piratini (TVE e FM Cultura), a Fundação de Economia e Estatística (FEE), Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), a Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (Fepps), a Fundação de Zoobotânica (FZB) e a Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas (Corag) têm grande ligação com a produção científica e cultural do estado. Então devem ser extintas.

A burrice do governo olha apenas a despesa, sem buscar novas receitas. Não creio que nosso modelo federativo livre-se das isenções fiscais que somam R$ 9 bilhões por ano — pura e puta renúncia fiscal. Mas o governo recusa-se a ir atrás dos R$ 7 bilhões por ano de sonegação realizada basicamente por empresários. E quando vemos que a economia prevista com a extinção das empresas constantes no pacote de Sartori é de 137 milhões anuais — eu escrevi milhões, não bilhões –, só posso concluir que há um enorme ressentimento e ódio à ciência, à cultura e ao conhecimento.

Por outro lado, não temos uma imprensa plural. Os governos petistas nem tentaram alterar tal situação. Não houve a tão propalada democratização dos meios de comunicação, só o pagamento de alguns blogs. O monopólio da informação permanece e atrapalha qualquer reflexão crítica. A RBS, por exemplo, faz a assessoria de comunicação de todos os governos alinhados com o mercado, com a direita e com o senso comum evangélico. Servidor é vagabundo? Sim, é. Então vamos acabar com esses caras que só mamam na teta do estado.

Se as extinções ocorrerem como parece que vão, certamente haverá uma corrida de CCs vindos dos partidos aliados. Afinal, como ficar sem a FEE, por exemplo? Em substituição, vão contratar consultorias dos amigos, claro.

Eu não votei em Sartori, é claro. Não tenho grande visão política, mas o mundo me ensinou a avaliar pessoas e jamais votaria num cara flagrantemente mais ignorante, inepto e palerma do que eu. Ele está no posto para fazer um trabalho em benefício de grandes empresários. E só.

Fico deprimido de pensar que o local onde hoje está a TVE / FM Cultura talvez vire outra coisa. Fico fulo ao ver empresários e empresas sonegadoras protegidos. Fico desapontado com quem votou neste asno. Paralelamente, sorrio ironicamente com o ridículo discurso de fachada de que tais atos tirarão nosso Estado da situação de calamidade.

Sartori apontando sua falha.
Sartori apontando sua falha.

Cobertos de razão, torcedores colorados repudiam a declaração de Fernando Carvalho

NIKE SU13Eu já tinha escrito aqui neste blog que Fernando Carvalho era uma daquelas pessoas de alguma idade que não preservaram a inteligência. Disse e repeti. Acontece. Completo agora dizendo que ele deve ir para casa cuidar do netos, se os tiver e se os filhos permitirem. O que ele cometeu no dia de hoje já foi muito bem respondido pela ComudoInter e por minha amiga Elisa Piranema. Abaixo, copio os textos de meus amigos. Chega do Inter na 1ª Divisão, chega de fiascos. Vamos varrer esta diretoria nas eleições de dezembro. E adeus, Fernando Carvalho!

Também peço o encerramento do campeonato AGORA com a queda do Inter. Temos que repensar o clube.

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O Grupo do Facebook, ComudoInter divulgou uma carta de repúdio à declaração realizada ao Vice-presidente de futebol Fernando Carvalho, onde ele comparou o acidente com o avião da Chapecoense com o risco quase iminente de rebaixamento do Internacional.

Com diversas assinaturas, a carta dos torcedores pede o encerramento do campeonato mesmo que acarrete o rebaixamento do Internacional.

Leia na íntegra:

CARTA DE REPÚDIO ÀS DECLARAÇÕES DE FERNANDO CARVALHO

De: Torcedores colorados
Para: Torcedores de outros times, amantes do esporte, e acima de tudo seres humanos

É com um imenso pesar que nós, torcedores do Sport Club Internacional, repudiamos as declarações dadas pelo ex-presidente Colorado – o Sr. Fernando Chagas Carvalho – à Rádio Pampa na fatídica Terça-Feira, dia 29/11/2016, após o trágico acidente com o avião que transportava a equipe da Chapecoense, além de sua comissão técnica, comissários de bordo e jornalistas esportivos.

Outrora um presidente do qual nos orgulhávamos de um dia termos tido, por sua glória máxima de obter um título mundial, hoje nos envergonhamos por sua frase “Temos a nossa tragédia particular, que é fugir do rebaixamento (…) e esse adiamento de rodadas certamente será prejudicial”, que demonstra uma absurda falta de compaixão ao desprezar que nenhuma tragédia, única e exclusivamente futebolística – como ser rebaixado a uma série inferior –, se sobrepõe à tragédia ocorrida que acarretou a perda das vidas de pessoas, pais de famílias e profissionais dedicados.

Seria leviano ignorar a comoção global com tamanha catástrofe, de tal forma que compadecer-se da dor alheia não é demagogo, e sim empático. A sua dor, torcedor de Chapecó, é também a nossa dor. E a sua decepção com a declaração infeliz, é, também, a nossa decepção. Abaixo de vestirmos vermelho e branco somos também de carne e osso, e o que, esporadicamente, nos divide, é algo infinitamente menor quanto ao que nos une permanentemente: Somos seres humanos, e como tais, prezamos pelo bem estar de nossos semelhantes.

Acima de qualquer rivalidade, acima de qualquer disputa e acima de qualquer paixão a uma entidade futebolística, deve-se sempre existir o respeito. Respeito, este, que parece ser uma virtude desconhecida ao antigo dirigente, mas que acompanha a nós, torcedores do Internacional e verdadeiros representantes deste Clube do Povo.

Isto posto, nos manifestamos favoráveis ao encerramento do Campeonato Brasileiro sem a realização de sua rodada derradeira, cientes de que os resultados atuais acarretariam o descenso de nosso clube. Não há clima para futebol no que resta deste ano.

Por fim, a quem tenha se ofendido: Nosso imenso pedido de desculpas, tal declaração não representa a dor que também estamos sentindo.

Atenciosamente,
Torcedores colorados “

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A torcedora e minha amiga Elisa Del Pino Piranema publicou o que segue em seu perfil do Facebook. Ela também me representa.

Se já não bastasse todo o sofrimento que estamos vendo com a tragédia da Chape, tenho que ouvir um dirigente vir dar uma declaração NOJENTA E REVOLTANTE que o cidadão que é vice de futebol do Inter deu, pq me nego de hj em diante citar o nome dele.

Que moral tem essa criatura de falar uma coisa dessas se toda essa situação que estamos passando é culpa e muito dele por ter trazido o MAIOR DESAFETO DA TORCIDA COLORADA para nos treinar e se não bastasse insistir com ele mesmo vendo que o barco estava afundando.

Triste é ver um dirigente que já foi tão respeitado pelo Brasil inteiro, inclusive por mim, ter um fim tão decadente e patético.

Só tenho duas coisas a dizer: ESSE CIDADÃO NÃO REPRESENTA A MAIORIA DA TORCIDA COLORADA e peço desculpas às 75 FAMÍLIAS que perderam seus entes queridos por ter que ouvir e ler uma coisa dessas.

Triste é ver que tem pessoas que diante de uma tragédia dessas, consiga ainda pensar só no seu umbigo e sua reputação, pouco se lixando para os seres humanos que partiram de uma forma tão trágica.

Desculpe o desabafo mas numa hora dessas o que menos importa é se vamos cair ou não, pq a VIDA É MAIOR QUE TUDO E QUE TODOS.

Bolsonaro, Frota e o estupro

Bolsonaro, Frota e o estupro

A notícia do estupro de uma menina de 17 anos no RJ por mais de 30 homens, do vídeo da moça desacordada com os genitais à mostra, do orgulho dos criminosos que teriam vingado uma traição amorosa, todo este absoluto horror combina demais com as declarações imbecis, machistas e bravateiras de um Bolsonaro — “Você não merece ser estuprada”, disse ele — e com a confissão de Alexandre Frota na televisão de já ter estuprado — sob risos da plateia. Fico até com vergonha das mulheres.

chapabolsonaro

Concerto da Ospa tem desnecessários insultos de cunho sexista

Concerto da Ospa tem desnecessários insultos de cunho sexista
Carla Cottini
Carla Cottini

É claro que Carla Cottini é bonita e eu estou longe de ser insensível à beleza das mulheres, só que há limites para as expressões de admiração, ainda mais dentro de um teatro. Quem chama de gostosa na rua ou assobia, na verdade está proferindo um insulto. Não tem graça, não aproxima, não nada, é pura ofensa, é dizer e sair correndo. Dia desses, uma colega reclamou que, toda vez que come um picolé na rua, ouve as óbvias grosserias associadas ao ato de lamber. Chamar de gostosa num momento íntimo é uma coisa, ser chamada de gostosa por desconhecidos é outra. É a falsa cantada que revela não somente descontrole e impaciência, mas também desinteresse real, agressividade, frustração e raiva por não poder meter a mão. E não pode mesmo, meu amigo. Acreditava que tudo isto estava claro, ainda mais para uma plateia que vai ver uma Cortina Lírica no Theatro São Pedro.

Pois ontem o soprano Carla Cottini apresentou-se no velho teatro com a Ospa. Linda, num raro vestido de bom gosto, ela ia mostrar sua arte e oferecer sua voz, não seu corpo. (Explico o “raro”: as divas costumam exagerar e ultrapassar por metros a linha da elegância. Ela não.) Mas recebeu assobios de significado inequívoco em sua primeira entrada e, depois, quando concentrava-se para soltar a voz, um espectador atroz largou um suspiro daqueles bem vulgares e inoportunos. Carla respondeu com um sorrisinho sem graça e tratou de ser profissional. Conseguiu.

Intermezzo: O público do Theatro São Pedro é de contumaz baixo nível. Aplaude entre os movimentos, faz comentários em voz audível, etc. É bem diferente do que acontece na Ufrgs. Fim do intermezzo.

Para mim, é um prazer ver uma bela mulher, ainda mais quando canta maravilhosamente como Carla. Também é um prazer ver qualquer um ou uma cantando maravilhosamente, mas confesso preferir o primeiro caso. Porém, quando um machinho imbecil assobia ou faz sons pseudo-sensuais em pleno teatro, não é engraçado e ainda faz com que todo fascínio caia escada abaixo. É bagaceiro, nada tem a ver com a arte. Agora, meu amigo, se tu precisas mesmo homenagear a moça, há bons banheiros no Theatro São Pedro e eles aceitariam silenciosamente tua masturbação. E seria menos escroto.

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O clarinetista da Ospa Augusto Maurer, presente no concerto, já tinha escrito o mesmo em seu perfil do Facebook:

Sabem quando se sente vergonha alheia? Como ontem, no apupo à soprano por parte de um engraçadinho na cortina lírica da OSPA no Theatro São Pedro.

Só hoje li, ao arquivar o programa (pois presto pouca atenção a currículos artísticos, facilmente maquiáveis), que a moça, assídua solista nas raras casas de ópera nacionais, estudou canto na Espanha e também tem formação em artes cênicas, ballet clássico e jazz. Juro que não sabia onde me esconder. Orgulho de ser gaúcho.

Veja como Janaina Paschoal, advogada do golpe, fala como uma exorcista

Veja como Janaina Paschoal, advogada do golpe, fala como uma exorcista
A exorcista
A exorcista: vade retro!

Uma das responsáveis pelo pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a advogada Janaína Paschoal foi ovacionada em ato realizado nesta segunda-feira (4/4) na Faculdade de Direito da USP. Janaína disse que “as cobras que estão no Poder estão se aproveitando para se perpetuar”. Ainda afirmou que estamos num momento de reflexão. Por sua fala, não parece. Se você tiver condições mentais para ver o vídeo abaixo… Não parece mais com uma pastora evangélica tomada pelo demônio? Postura igrejeira, como disseram aqui no Sul21. Concordo. Fala em Cobra como se falasse no Demônio. Ou seria apenas uma atuação pra lá de canastrona? “Mais do que parar para refletir sobre o impeachment, que tem motivos de sobra, queremos servir a uma cobra?, disse ela, rimando involuntariamente. E emendou: “Nós somos muitos miguéis, muitas janaínas, não vamos deixar essa cobra dominando porque somos seres de almas livres. Não vamos abaixar a cabeça. Acabou a República da cobraaaaaa!!!”, gritou puxando um coro de “fora PT, fora jararaca”.

A coisa está ficando assustadora.

https://youtu.be/ymv2T1hVCo4

70 anos da Bomba de Hiroxima: retornando ao mais horrível ‘Porque hoje é sábado’ de todos os tempos

70 anos da Bomba de Hiroxima: retornando ao mais horrível ‘Porque hoje é sábado’ de todos os tempos

Amigos.

Hoje, faz 70 anos que esta bomba foi jogada. No dia 3 de novembro de 2007, publiquei excepcionalmente um furibundo obituário em lugar do tradicional PHES (Porque hoje é sábado). O motivo era simples: naquela semana tinha falecido no maior conforto um dos homens cuja existência mais me abalavam — Paul Tibbets.

Quando criança, lá pelos 8, 9 anos, perguntei a meu pai sobre o homem que fizera “aquilo em Hiroxima” ao final da Segunda Guerra. Não sobre quem ordenara — lá ia eu me preocupar com isso! –, eu queria saber sobre quem fizera. Parecia-me impossível alguém viver sabendo o efeito de sua ação. Não conhecia a palavra CULPA no sentido que hoje conheço, mas tinha ideia de que existiam atos impossíveis de se carregar por aí. Meu pai fez uma pesquisa para me responder e, dias depois, me disse: “Ele não se arrependeu”. Naquele dia, entendi um pouco menos o mundo.

Volto a este post porque esta semana morreu o último tripulante do avião que bombardeou Hiroshima: Theodore van Kirk. Suas declarações sobre a bomba e as guerras eram bem diferentes das de Tibbets: “Gostaria de ver as guerras e as armas definitivamente abolidas”.

Abaixo, minha homenagem de 2007 a Paul Tibbets.

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Ontem morreu Paul Tibbets, resultado da cruza entre Enola Gay e Paul Warfield Tibbets.

Viveu 92 anos, foi feliz e parece não ter sofrido dores

Nem físicas, nem morais, nem as da fome ou do desprezo.

Deus, em sua insistente não existência, deixou-lhe dizer que

“Não se arrependeu de ter ‘deixado cair'” em Hiroxima,

a bomba de 6 de agosto de 1945, que matou instantaneamente

78.000 e depois mais 62.000 japoneses.

O extremado amor de Paul por sua mãezinha ficou bem claro

quando ele batizou o B-29 com seu nome, hoje imortalizado.

Paul Tibbets era filho de Enola Gay e um grandíssimo filho da puta,

e partiu deste mundo para o inferno que existe, mas apenas sob o(a) Enola Gay.

Pensem nas crianças mudas telepáticas
Pensem nas meninas cegas inexatas,
Pensem nas mulheres rotas alteradas,
Pensem nas feridas como rosas cálidas,
Mas não se esqueçam da rosa da rosa,
Da rosa de Hiroxima a rosa hereditária,
A rosa radioativa estúpida e inválida,
A rosa com cirrose a anti-rosa atômica,
Sem cor nem perfume sem rosa sem nada

A Rosa de Hiroxima – Vinícius de Moraes

A bomba
é uma flor de pânico apavorando os floricultores
A bomba
é o produto quintessente de um laboratório falido
A bomba
é estúpida é ferotriste é cheia de rocamboles
A bomba
é grotesca de tão metuenda e coça a perna
A bomba
dorme no domingo até que os morcegos esvoacem
A bomba
não tem preço não tem lugar não tem domicílio
A bomba
amanhã promete ser melhorzinha mas esquece
A bomba
não está no fundo do cofre, está principalmente onde não está
A bomba
mente e sorri sem dente
A bomba
vai a todas as conferências e senta-se de todos os lados
A bomba
é redonda que nem mesa redonda, e quadrada
A bomba
tem horas que sente falta de outra para cruzar
A bomba
multiplica-se em ações ao portador e portadores sem ação
A bomba
chora nas noites de chuva, enrodilha-se nas chaminés
A bomba
faz week-end na Semana Santa
A bomba
tem 50 megatons de algidez por 85 de ignomínia
A bomba
industrializou as térmites convertendo-as em balísticos interplanetários
A bomba
sofre de hérnia estranguladora, de amnésia, de mononucleose, de verborréia
A bomba
não é séria, é conspicuamente tediosa
A bomba
envenena as crianças antes que comece a nascer
A bomba
continnua a envenená-las no curso da vida
A bomba
respeita os poderes espirituais, os temporais e os tais
A bomba
pula de um lado para outro gritando: eu sou a bomba
A bomba
é um cisco no olho da vida, e não sai
A bomba
é uma inflamação no ventre da primavera
A bomba
tem a seu serviço música estereofônica e mil valetes de ouro, cobalto e ferro além da comparsaria
A bomba
tem supermercado circo biblioteca esquadrilha de mísseis, etc.
A bomba
não admite que ninguém acorde sem motivo grave
A bomba
quer é manter acordados nervosos e sãos, atletas e paralíticos
A bomba
mata só de pensarem que vem aí para matar
A bomba
dobra todas as línguas à sua turva sintaxe
A bomba
saboreia a morte com marshmallow
A bomba
arrota impostura e prosopéia política
A bomba
cria leopardos no quintal, eventualmente no living
A bomba
é podre
A bomba
gostaria de ter remorso para justificar-se mas isso lhe é vedado
A bomba
pediu ao Diabo que a batizasse e a Deus que lhe validasse o batismo
A bomba
declare-se balança de justiça arca de amor arcanjo de fraternidade
A bomba
tem um clube fechadíssimo
A bomba
pondera com olho neocrítico o Prêmio Nobel
A bomba
é russamenricanenglish mas agradam-lhe eflúvios de Paris
A bomba
oferece de bandeja de urânio puro, a título de bonificação, átomos de paz
A bomba
não terá trabalho com as artes visuais, concretas ou tachistas
A bomba
desenha sinais de trânsito ultreletrônicos para proteger velhos e criancinhas
A bomba
não admite que ninguém se dê ao luxo de morrer de câncer
A bomba
é câncer
A bomba
vai à Lua, assovia e volta
A bomba
reduz neutros e neutrinos, e abana-se com o leque da reação em cadeia
A bomba
está abusando da glória de ser bomba
A bomba
não sabe quando, onde e porque vai explodir, mas preliba o instante inefável
A bomba
fede
A bomba
é vigiada por sentinelas pávidas em torreões de cartolina
A bomba
com ser uma besta confusa dá tempo ao homem para que se salve
A bomba
não destruirá a vida
O homem
(tenho esperança) liquidará a bomba.

A Bomba – Carlos Drummond de Andrade

hiroxima

A palavra "loser"

A palavra "loser"

loserSempre me irritei com a palavra loser, de uso cada vez mais corrente no Brasil. Um dia, será escrita como luzer. Uma vez, perguntado porque seus melhores personagens frequentemente acabavam mal, Mario Benedetti respondeu: “É porque ocorre assim; na maioria das vezes as pessoas boas escolhem perder e perdem”. Serão eles os losers? Se um homem bate na mulher é um loser… E a mulher, o que é? Ou seja, não há precisão vocabular. Prefiro chamar o homem de psicopata, violento, bêbado, brutal ou criminoso do que chamá-lo de loser. E será o agressor um perdedor em outro contexto? Detesto a expressão e desconfio de quem a utiliza.

A tradução de loser não é “fracassado”. É perdedor mesmo. Faço minhas as palavras do Paulo Briguet que transcrevo aqui:

Segundo as dublagens da Herbert Richers, a tradução de loser é “perdedor”. Um tradutor mais experiente diria que é “fracassado”. Em minha modesta condição de monoglota, discordo. “Fracassado” é um conceito por demais latino. “Perdedor” está mais adequado à origem (e à tosquice) da expressão.

Engraçado: o pessoal que adora falar dos EUA é o mesmo que usa termos anglo-saxônicos como loser. Na opinião da claque esquerdista, Bush, o capitalismo e o cristianismo são três faces do mesmo capeta. E quem ousa discutir o anátema é… loser. Paradoxo linguístico!

Ora, na opinião deste humílimo cronista, loser é coisa de filme adolescente americano, no mesmo nível de “a garota mais popular do colégio” e “quem será meu par no baile de formatura?”.

O humílimo está coberto de razão.

Desta vez o Grêmio será finalmente punido? (com imagens dos insultos)

Desta vez o Grêmio será finalmente punido? (com imagens dos insultos)
Aranha protesta contra os insultos.
Aranha protesta contra os insultos.

A maioria de meus amigos é gremista e acho que nenhum deles chegou próximo de me fazer alguma consideração que  roçasse o racismo. Nunca. Porém, quando determinados torcedores gremistas se juntam e ficam com raiva, seu descontrole cai nesta direção. Digo isso, porque tais posturas já se tornaram rotineiras. Por que sua comoção torna-se ódio?

Vou a estádios e sei o quanto irrita quando o goleiro adversário para o jogo atirando-se ao gramado, simulando uma lesão. É uma atitude comum na América Latina e considero-a altamente desonesta. Mas estamos num jogo, senhores, e, se o juiz permite, pode ser usado. Com isso, digo que A CULPA É DO JUIZ.

Infelizmente, acho que a única forma de acabar ou diminuir tais insultos — já houve um caso semelhante com o Paulão, do Inter — é a de punir o clube. Por exemplo, por que os torcedores não jogam mais objetos nos jogadores adversários? Ora, porque é punição é severa e um regula o outro na arquibancada. Já se “naturalizou” o fato de que não é para atirar objetos em campo — as punições ensinaram que tal comportamento é incorreto. Sabe-se do prejuízo que pode acarretar ao clube. Ora, um objeto jogado no gramado é menos grave do que um insulto racista? Certamente não. Racismo não caso para se relativizar. É caso para punir e extirpar.

Namoro antigo com o racismo
Um namoro antigo com o racismo

Desta forma, sou favorável a clube seja punido. Se fosse com o meu Inter, teria a mesma opinião. Punir apenas os que gritaram é inútil. Como disse a gremista Mayara Bacelar em seu perfil do Facebook, o histórico de aberrações cometidos por parte da torcida gremista é tão vergonhoso — basta lembrar o recente coro “O Fernandão morreu” — que não tem como continuar a apoiar ou se identificar com ela. Ela envergonha todos os gaúchos, gremistas ou não.