Atrás do balcão da Bamboletras (XLVIII)

Atrás do balcão da Bamboletras (XLVIII)

Várias e boas conversas ocorreram hoje à tarde na Livraria Bamboletras. Um velho professor de literatura conversou comigo e com quem estava próximo sobre o “balaio de preconceitos” que aflorou nos últimos dias. Há os bolsonaristas que criticam O Avesso da Pele sem tê-lo lido, claro, mas há gente mais próxima de nós que só consegue falar nos poucos palavrões do livro e que o acusam de ser, pasmem, um livro racista por causa de uma cena de séquiço da qual, sinceramente, não lembro. A cena seria racista ao inverso! Ou pornográfica… Qualquer coisa serve para acusar. E meu amigo perguntou: quantos livros acusados de pornográficos se tornaram clássicos para a geração seguinte? Um monte. É só o tempo de esvaziar o balaio.

O estranho é que a história do pai sumiu da boca desses caras. O cerne virou coisa secundária. A falência educacional de nosso país descrita no Avesso é terciária. O balaio transformou o livro em outra coisa.

Os outros papos foram mais legais, excetuando-se aquele sobre Israel…

Nas redondezas da Bamboletras (sábado, 20/01/2024)

Nas redondezas da Bamboletras (sábado, 20/01/2024)

Mesmo para uma pizzaria popular como a Domino’s, a postura da mulher era por demais à vontade. Sentada, com as costas encostadas na parede e com os pés descalços sobre outra cadeira, ela parecia estar em casa.

Estava com, supostamente, seu companheiro e eu sentei bem na frente dela, em outra mesa. Ele falou primeiro.

— Até que horas a gente vai ficar aqui?

Ela respondeu:

— Até eles fecharem à meia-noite.

Eram 20h15. Eu olhei para ela, que passou a falar comigo:

— É que estamos sem luz em casa, então é melhor ficar beliscando uma pizza e bebendo cerveja — riu. — Aqui pelo menos tem luz e ar condicionado.

Este é um retrato de Porto Alegre pós-temporal.

4 livros

4 livros

A Boa Sorte, de Rosa Montero

A romancista e ensaísta Rosa Montero é, em âmbito mundial, uma das mais importantes escritoras em atividade. Há dezenas de livros e estudos acerca de sua obra. Autora dos excelentes A ridícula ideia de nunca mais te ver e Nós, Mulheres, teve seu A Boa Sorte lançado recentemente no Brasil. É seu primeiro romance onde o personagem principal não é uma mulher. Mas isso talvez seja falso, porque quem ilumina e altera as feições da história é uma personagem feminina. Dentro de uma narrativa fluida e misteriosa, conhecemos Pablo Hernando, um sujeito que some em uma pequena e decadente cidade espanhola. Assim que ele chega, à noite, de trem, compra um apartamento. O vendedor fica surpreso, pois o comprador quer fazer tudo imediatamente, em dinheiro, sem nem mesmo visitar o imóvel. Quem é Pablo Hernando? A polícia está atrás dele? Por que ele escolheu ficar em Pozonegro, onde não conhece ninguém? Então Raluca, funcionária do supermercado local, entra em cena. Ela é sua vizinha e tenta integrá-lo à comunidade. Até consegue um emprego para ele. A descida de Pablo aos infernos é muito bem descrita por Montero. Há medo, angústia, culpa, e também amor, generosidade e inocência. E a boa sorte.

A Boa Sorte é da Todavia, tem 256 páginas e custa R$ 74.90.

A tirania do mérito, de Michael Sandel

Neste livro, Sandel ataca um consenso que ainda reina em alguns meios, o da meritocracia. O livro defende que há um lado negro, um lado desmoralizante nela, ou seja, o de que se a pessoa não ascender socialmente, não terá ninguém para culpar além de si mesma. Inclusive, segundo Sandel, as elites de centro-esquerda teriam abandonado as velhas lealdades de classe para assumir um novo papel de moralizadores da vida. Isto seria particularmente cruel com quem não teve a melhor das formações, justamente as classes mais desfavorecidas. Porque os méritos são normalmente alcançados por quem estudou nas melhores escolas, não? Sandel reconhece o valor do mérito, mas trata de demonstrar como sua aplicação tornou-se tóxica. Segundo o autor, este seria o momento para iniciar um debate sobre a dignidade do trabalho e suas recompensas, tanto em termos de remuneração, como em termos de estima. Com a pandemia, percebemos como somos dependentes, não apenas de médicos e enfermeiras, mas também de entregadores e prestadores de quaisquer serviços, muitos deles transitando via de regra na economia informal. Esse livro traz o problema e sugere soluções para amenizá-lo. Ou seja, não é um livro de simples objeções.

A Tirania do Mérito é da Civilização Brasileira, tem 430 páginas e custa R$ 69,90.

Eu serei a última, de Nadia Murad

Este é o um relato autobiográfico do que Nadia Murad passou nos cárceres do Estado Islâmico e de sua fuga. Hoje, Nadia é ativista de direitos humanos e, em 2018, recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Ela faz parte da minoria étnico-religiosa Iazidi. Há cerca de 800 mil iazidis no mundo, a maior parte localizada na fronteira do Iraque com a Síria. Seu povo pratica uma religião sincrética, o iazidismo, que tem elementos do cristianismo e do islamismo, tudo o que o Estado Islâmico não aceita. Em Eu serei a última, ela conta sua brutal experiência – os dias do cerco a sua vila, a prisão, a fuga e, afinal, sua chegada na Alemanha. Dizer que a história é intensa é pouco. Nadia Murad é vendida, torna-se escrava sexual – chama-se a “jihad sexual” – e sua fuga não foi exatamente planejada. A impotência de uma minoria perante o EI, o tráfico humano, o genocídio, os estupros, a vivência em uma sociedade cruelmente patriarcal, a doutrinação dos extremistas islâmicos, a conversão forçada ao islamismo, tudo é violento, porém há trechos leves, como os das lembranças da vida antes da invasão. Em cada página, ficamos nos perguntando como tudo isso (ainda) acontece e até onde o ser humano pode chegar.

Eu serei a última é da Novo Século, tem 394 páginas e custa R$ 69,90.

O despertar de tudo, de David Wengrow e David Graeber

Este livro tornou-se rapidamente um clássico. Com bom humor e argúcia, O despertar de tudo revela que o passado não é aquilo que pensávamos e que a história da humanidade, tal como a conhecemos, traz um viés bastante equivocado. Dentre muitas fontes, os autores utilizam, por exemplo, textos indígenas para recontar a história. Graeber e Wengrow nos dão uma visão mais sofisticada de nossas origens, a partir de informações vindas da moderna arqueologia. O livro revela novidades a respeito da antiguidade, principalmente dos períodos “primitivos” anteriores à escrita. O que emerge é uma visão mais complexa e surpreendente, que é sintetizada de forma brilhante pelos autores. O livro também coloca em questão o mito explicativo que justificativa a desigualdade social entre seres humanos e a origem do ordenamento social hierárquico, corporificado no que chamamos de “Estado”. Acompanhado de vasto material bibliográfico, O despertar de tudo – nascido de uma longa troca de e-mails entre os autores – é coerente, convincente e provocativo, sublinhando a importância de nos mantermos sempre abertos para revisar nossos conceitos com base na ciência.

O Despertar de Tudo é da Cia. das Letras, tem 696 páginas e custa R$ 119,90.

Atrás do balcão da Bamboletras (XLVII)

Atrás do balcão da Bamboletras (XLVII)

Vocês sabem o motivo do nome Bamboletras? Pois é, vem de bambolê das letras. Sim, nossa livraria foi concebida por sua grande fundadora Lu Vilella como dedicada à literatura infantil. Depois ela estendeu a curadoria para os pais dos pequenos e o resto vocês sabem.

Durante nossos quase 28 anos — fazemos aniversário em abril — e até hoje, mantivemos especial cuidado com a área de infantis.

Vejam a querida vovó Jussara Musse com nossa cliente Isabel (5 meses) em foto desta semana. Assim se fazem leitores, mesmo que no começo eles estejam mais interessados em morder os livros…

Outro dia, publicaremos uma foto da irmã gêmea da Isabel, a Beatriz. Não queremos semear ciúmes entre as meninas e nem críticas da mamãe Carolina Musse Branco!

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📍 Visite-nos na Av. Venâncio Aires 113, de segunda à sábado, das 9h às 19h, e aos domingos, das 11h às 17h.
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Igrejas que se tornaram livrarias (I)

Igrejas que se tornaram livrarias (I)

No Brasil, não sei de outra igreja que tenha se tornado livraria além da nossa Bamboletras. Mas há vários casos no resto do mundo. Estes locais laico-religiosos preservam vitrais e altares. Foi o que fizemos na nossa linda igrejinha da Av. Venâncio Aires, em Porto Alegre. É claro que os exemplos que vou começar a mostrar aqui são de enormes prédios históricos localizados em sua maioria na Europa. A briosa Bamboletras é muito menor, claro, mas quem já nos visitou volta, pois sabe que o ambiente é acolhedor, bonito e tem cultura, além de uma excelente curadoria, pois quem atende também é leitor.

Essa foto é da Bamboletras.

Polare Maastricht (Maastricht, Holanda)

Funcionando numa igreja de 700 anos, a Polare Maastricht, na cidade de Maastricht, Holanda, deixou intacta toda a estrutura do edifícios. Tetos pintados, órgãos, sacristias e vitrais convivem com prateleiras e outros móveis modernos, sem serem tocados por eles. Vamos dar uma olhada nela?

A livraria está constantemente nas listas de mais bonitas do mundo e já foi considerada a mais bela de todas pelo The Guardian. Aberta em 2007 sob o nome Selexyz Dominicane, ela agora pertence a uma rede de livrarias e se chama Polare Maastricht. As modernas estantes de três andares, com passarelas e escadas, integram-se ao maciço edifício e, como dissemos, não encostam nas paredes nem em nenhuma outra parte da estrutura original, para não danificá-la. O café fica no antigo santuário da igreja.

 

Atrás do balcão da Bamboletras (XLVI)

Atrás do balcão da Bamboletras (XLVI)

18h10

– Vou comprar esse livro pro meu pai e depois eu leio.

Eu sorrio em resposta.

18h32

– Vou comprar esse livro pro meu pai e depois eu leio. Normal, né?

Eu sorrio mais largamente e digo que tal estratégia já é um clássico.

19h05

– Vou comprar esses livros pro meu pai e depois eu leio. Sempre quis ler essa edição de luxo do Ulysses 100 anos.

Olho boquiaberto pro sujeito.

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Fica a dica.

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Arte: Tietbo

 

Um livro

A Livraria Bamboletras é um dos lugares mais legais de Porto Alegre, mas está em crise financeira. A crise não foi causada pela mudança para a nossa bela e inusitada sede atual, tudo começou com a pandemia em 2020. Depois tivemos uma lenta recuperação em 2021, só que a surpresa de como começou a ser feita a reforma do Nova Olaria complicou demais nossa vida. Aqueles tapumes deram a todos a impressão de que não havia mais ninguém funcionando no shopping. E nós ainda estávamos lá, pulsando.

Fomos para um espaço que era uma igreja. Estamos preocupados, mas muito contentes com o que ainda estamos construindo. Queremos recebê-los!

Não estamos longe de atingir o equilíbrio, mas, se não o alcançarmos, sua falta pode nos impedir de nos tornarmos aquilo que sonhávamos — sermos uma referência ainda maior na área cultural da cidade, recebendo não somente lançamentos de livros como grupos de leitura, pocket shows e, quem sabe, uma parceria para um mini café.

Ah, se você, que está lendo este texto, comprasse um livrinho por mês conosco! Ou desse um de presente! Ah, você também pode fazer um pix para que fique um crédito pra você. Ou se fazer um pagamento mensal que também gere crédito. Livros são coisas boas! Sim, sei, está chovendo hoje, mas temos WhatsApp, entregadores, correio, e-mail. E, dizem, haverá dias sem chuva.

(Lembrem que o Dia dos Pais está aí!).

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A incrível história da livraria que sobreviveu à pandemia e se mudou para uma igreja

A incrível história da livraria que sobreviveu à pandemia e se mudou para uma igreja

Por Marco Weissheimer no Sul21

Livraria Bamboletras se mudou para o prédio de uma antiga igreja localizada no bairro Cidade Baixa. Foto; Luiza Castro/Sul21

Uma das mais tradicionais livrarias de Porto Alegre, a Bamboletras estava há 26 anos instalada no Nova Olaria, um também tradicional centro comercial e espaço cultural da Cidade Baixa. Os últimos dois anos e meio foram de fortes emoções, imprevistos e muita tensão para o livreiro Milton Ribeiro e para todo o grupo de funcionários da livraria. No dia 19 de março, a Bamboletras foi obrigada a fechar as portas para o atendimento ao público, com o início do processo de isolamento social causado pela pandemia da Covid-19. O distanciamento mudou totalmente a forma de operação da Bamboletras, uma livraria que, até então, atendia o público diretamente na sua sede no Nova Olaria, e teve que passar a trabalhar via telefone, tele-entrega, whatsapp e outros dispositivos virtuais.

Assim como aconteceu com a maioria das livrarias e outros estabelecimentos comerciais, a Bamboletras ficou bastante combalida financeiramente em 2020. “Em 2021, a gente estava começando finalmente a respirar quando recebemos a notícia de que o Nova Olaria seria derrubado para a construção de um novo edifício. Foi uma dura notícia para nós. Depois de passar um ano dificílimo, ficamos sabendo que teríamos que sair do Novo Olaria”. Após a frustração inicial com a notícia, Milton Ribeiro e sua equipe começaram a busca de uma nova sede para a livraria. Bernardo, filho de Milton, descobriu, próximo à rua Lima e Silva, onde estava localizado o centro comercial que está sendo demolido, o prédio de uma pequena igreja que estava para alugar.

Milton Ribeiro: “Ainda fico meio surpreso. Sou o proprietário de uma livraria dentro de uma igreja”. Foto: Luiza Castro/Sul21

O prédio, localizado na rua Venâncio Aires, nº 113, pertence à Igreja Nova Apostólica, uma igreja protestante restauracionista surgida na Alemanha em 1863, que se baseia na Bíblia conforme a interpretação dos apóstolos e chegou ao Brasil em 1928, com uma missão numa comunidade alemã que vivia no bairro de Santana, em São Paulo.

Em um primeiro momento, Milton admite que achou a ideia muito estranha. “Uma igreja?” – questionou. “É uma ideia meio europeia. Na Alemanha e na Holanda, é comum prédios de igrejas se tornarem outra coisa, principalmente livrarias. Me deu um frio na barriga, fiquei pensando que poderia ser um lance muito ousado”, conta. Mas a ideia ousada e inusitada acabou virando realidade e, a considerar os primeiros dias de atividade na nova casa, está dando certo. “Estamos aqui há quatro dias (a conversa com o Sul21 ocorreu na quarta-feira, 20 de julho) e as pessoas estão gostando muito e recebendo super bem a novidade”.

Ele destaca ainda que foi muito bem tratado pelos donos do prédio, que gostaram da ideia de que o espaço que abrigava a Igreja Nova Apostólica passasse a ser ocupado por uma livraria. “Não me pediram carteirinha de crente nem nada do tipo, a gente se respeitou bastante e a ideia foi acolhida por eles”. Por enquanto, a Bamboletras ocupa a sala central do andar de baixo, mas há outros espaços no andar de cima, onde morava o padre, um longo corredor lateral e um pátio arborizado nos fundos. Milton planeja utilizar esse pátio para realizar lançamentos de livros e outros eventos, principalmente durante o verão. Além disso, conta ainda, muitos clientes estão pedindo, “com uma certa insistência e veemência”, que a livraria abrigue um café também. “Tem que ter o cheiro do café aqui dentro”, rogou uma cliente. A equipe da Bamboletras está pensando no assunto. “Vamos ver se a gente consegue implantar essa ideia nós mesmos ou em parceria com alguém”, diz Milton.

Livros passaram a conviver com belos vitrais coloridos. Foto: Luiza Castro/Sul21

O livreiro ainda está assimilando todo o simbolismo envolvido na mudança de sede da livraria para uma igreja, no momento em que o país vai saindo do isolamento social provocado pela pandemia e sofre um processo de desmonte de políticas e espaços públicos também na área cultural. “Estou pensando em escrever uma série de textos sobre todo esse processo, justamente para refletir a respeito disso. Foi uma coisa muito súbita e rápida. Quando começaram as obras no Nova Olaria, eles colocaram, sem anunciar para a gente, um tapume preto em frente ao prédio. Com isso, as pessoas deixaram de entrar, porque achavam que não tinha mais nada lá dentro.

Houve muitos sustos e algum desespero inclusive.  Não tivemos muito tempo para refletir sobre tudo isso que aconteceu. É óbvio que, para mim, é uma situação muito irônica, eu,  uma pessoa que sempre se declarou ateia e sempre reclamou muito da mistura entre política e religião. Ainda fico meio surpreso. De vez em quando eu olho para a nova sede da livraria e penso ‘meu deus, estou trabalhando numa igreja’. Mais ainda, sou o proprietário de uma livraria dentro de uma igreja”.

O movimento, nos primeiros dias de funcionamento da Bamboletras em sua nova casa, está muito bom e deixa Milton Ribeiro animado com o futuro. “As pessoas estão gostando muito da novidade. No Nova Olaria, as lojas foram paulatinamente fechando. Durante a pandemia, praticamente todas saíram, especialmente os bares. A gente não sabia o quanto aquilo impactava a livraria. Foi se criando uma atmosfera meio deprimente. Um ambiente que era culturalmente ativo e brilhante, passou a ficar esvaziado e abandonado. Olhando hoje, vejo que esse processo nos prejudicou demais. A gente devia ter saído antes de lá”.

A mudança de astral fica evidente para quem entra na livraria. A equipe toda com o ânimo renovado e as pessoas, antigos e novos clientes, que entram curiosos para conhecer a novidade. O livreiro e agora também “pastor” Milton Ribeiro parece já estar preparado também para conviver com os inevitáveis trocadillhos que acompanharão o novo espaço, transformado em templo dos livros, capela da leitura e santuário da cultura em uma Porto Alegre tão castigada nos últimos anos.

Confira mais imagens da igreja que virou livraria

Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

Antiga igreja vai virar livraria no bairro Cidade Baixa em Porto Alegre

Antiga igreja vai virar livraria no bairro Cidade Baixa em Porto Alegre

A Bamboletras, que opera na Nova Olaria, está de mudança para novo ponto na Venâncio Aires

Por Mauro Belo Schneider – editor do GeraçãoE, Jornal do Comércio

INSPIRAÇÃO Milton Ribeiro conta que em outros países é comum encontrar livrarias em igrejas | Foto: Luiza Prado/JC

O capítulo que a tradicional livraria porto-alegrense Bamboletras se encontra tinha tudo para ter um final triste. Mas o proprietário do estabelecimento que opera na galeria Nova Olaria, da rua Lima e Silva, no bairro Cidade Baixa, deu uma reviravolta no enredo.

Amante de histórias que é, o jornalista Milton Ribeiro transformou o fim de um ciclo em um começo que tem tudo para dar certo, embora seja um pessimista nato. O seu negócio funcionará, a partir de julho, dentro de uma antiga igreja apostólica, na avenida Venâncio Aires, nº 113.

O encerramento das operações da Bamboletras na Nova Olaria se deve à construção de três torres que ocuparão o terreno, administrado pela Dallasanta. A ideia é que a loja permaneça no centro dos prédios e que a empresa possa retornar à Lima e Silva quando tudo estiver pronto. Mas, primeiro, Milton verá como ficará o complexo. “Se for legal, eu volto”, revela.

Foto: Luiza Prado/JC

Sua atenção, agora, está voltada para o desafio de tornar o local que recebia cultos, na Venâncio, em um destino turístico. “Na Europa, é muito comum livrarias ocuparem igrejas”, conta ele. “Aqui, nunca vi isso. Espero que seja um atrativo”, emenda.

Desocupada há quatro anos, a igreja receberá as estantes da atual loja e passará por reformas. Há um pátio nos fundos, que abrigará o público, e a possibilidade de incluir uma cafeteria. Além disso, a estrutura conta com uma sala para lançamentos e um palco. “Vamos ver o que dá”, expõe o jornalista.

Foto: Luiza Prado/JC

Milton, que mora no Bom Fim, comprou a Bamboletras em 2018. Ele diz que seu negócio tinha o perfil de atender a clientela no balcão, mas a pandemia gerou uma crise. As pessoas sumiram e entraram os motoboys, os ciclistas e as entregas por correio.

Quando o pior do surto sanitário havia passado, uma nova dificuldade: o fechamento da Nova Olaria e das lojas vizinhas. Não havia mais gente que se surpreendia com a presença de uma livraria ao ir jantar ou beber no centro comercial. Apesar de tudo isso, ele celebra o fato da marca permanecer viva. “Se estivéssemos em outro bairro, estaríamos mortos”, considera.

Isto porque, para ele, a Cidade Baixa é destino de pessoas de vários estados, que estão em Porto Alegre a passeio ou a negócios. A boemia, os casarios antigos e as ruas tranquilas são características que atraem os curiosos, segundo Milton. “O bairro se organiza em torno da Rua da República e da Lima e Silva, mas há muitas outras coisas peculiares”, aponta.

Em breve, uma dessas coisas será sua livraria na igreja. Uma história que colocará, novamente, a Cidade Baixa na rota até de quem já conhece a região.

Foto: Luiza Prado/JC

No 1º de maio a gente não trabalha!

No 1º de maio a gente não trabalha!

Em condições normais, a Bamboletras não abre somente 3 dias por ano. Em 25 de dezembro, 1º de janeiro e 1º de maio — Dia do Trabalhador. Portanto, não abriremos neste domingo.

Mas, nesta sexta e sábado, estamos esperando vocês das 10 às 21h.

🗾 Estamos ainda no Shopping Nova Olaria – Rua General Lima e Silva, 776 – loja 3
📝 Pedidos pelo WhatsApp (51) 99255 6885
🚴🏾 Tele-entrega pelo (51) 99255 6885 (WhatsApp) ou 3221 8764.
🖥 Confere o nosso site: bamboletras.com.br
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No Facebook, recebemos este comentário de parte do Igor Freiberger:

“É bem como dizia o Antonio Ermínio de Moraes: brasileiro adora um feriado, não gosta de trabalhar e quer só benesses. Imagina parar três dias por ano! Três! Não são três horas ou três turnos, que já seria abuso. São três dias inteiros. Tu achas que os escravos tinham essa folga toda? Ou que os herdeiros que construíram este país ficam parados todo esse tempo? Meu filho, nunca verás um bilionário sem fazer nada por três dias. Quando ele não está fraudando relações trabalhistas, está tendo um trabalho imenso para organizar festas no iate ou se desgastando em conluios a fim de sugar o Estado. Ou tu achas mesmo que participar de reuniões secretas no Planalto e conchavos na FIESP não dá trabalho? Ou todo o cuidado que ele dedica para evitar que os convivas tomem uísque inferior durante o convescote e falem mal do anfitrião? A vida é dura. Nunca, jamais, verás um grande capitalista três dias parado!”

Atrás do balcão da Bamboletras (XLV)

Atrás do balcão da Bamboletras (XLV)

O telefone toca:

— Livraria Bamboletras.

— Boa tarde, vocês têm o livro do Santiago, “Caderno de Desdenho”?

— Olha, acabou de acabar.

(risadas)

— Ah, que pena!

— Mas pera aí porque ele costuma almoçar aqui do lado e, se tivermos sorte, eu pergunto se ele tem o livro em casa.

Saio da livraria ainda falando no telefone e lá está o Santiago Neltair Abreu almoçando e pontificando com amigos.

— Santiago, tu tem o teu livro em casa? Os nossos acabaram!

— Tenho sim, Milton Ribeiro. Te levo 5 depois do almoço.

— É que tem uma moça que quer dar de presente para um gaúcho que está fazendo aniversário e que mora há décadas em Fortaleza.

— Qual é o nome do cara?

Eu pergunto no telefone.

— É R., Santiago.

— Diz pra ela que ele vai receber um com dedicatória.

Depois vocês pensam que é fácil ser livreiro…

Atrás do balcão da Bamboletras (XLIV)

Atrás do balcão da Bamboletras (XLIV)

Estava voltando do almoço, me arrastando no calor de Porto Alegre. Quando entrei todo suado no ar condicionado da livraria, ouvi uma moça dizer que queria porque queria um Tudo é rio, de Carla Madeira, o livro que eu estava lendo e que carregava sob meu sovaco. Na Bamboletras, tínhamos vendido o último exemplar dele no findi. Sabia que não tínhamos o livro.

Ela viu meu livro e perguntou:

— Me vende o teu?

Respondi que minha mulher já tinha lido aquele exemplar e que eu estava na página 160 de 212. Estava usadinho.

— Ah, me vende… Vou viajar amanhã e preciso! Tu busca outro exemplar pra ti na distribuidora!

— Mas eu anoto meus livros, sublinho, coloco um U quando dou risada e um ∩ quando discordo. E estrago a lombada.

— Tô nem aí. Quero!

— Mas ele estava na minha axila.

— Me vende. Nem precisa me dar o desconto-axila.

Vendi, né? Amanhã chega o meu.

No caminho para a Bamboletras

Bah, tenho até vergonha de contar, mas hoje eu dei susto num cara que nem lhes conto. Ou conto?
Eu estava caminhando de fones, ouvindo o início de uma das muitas obras que amo: a Cantata BWV 198, Trauerode, de J. S. Bach.

Ela inicia com uma breve introdução instrumental, depois entra o coral e diz: “Laß, Fürstin, laß noch einen Strahl”. Laß é pronunciado como Lass. E eu entrei junto com o coral, sem desafinar, cantando “Lass!”.

Só que o coral entrou quando eu estava chegando na sinaleira para atravessar a Osvaldo Aranha. Eu devo ter quase gritado em meu puro entusiasmo e o cara que estava na minha frente deu um pulo, erguendo os braços. Lass!

Eu? Eu olhei pro outro lado. Será que ele pensou que fosse um assalto? Lass!

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Cantata BWV 198 é uma Ode Fúnebre, severa e sombria. Ele compôs esta cantata a pedido da Universidade como uma ode fúnebre para Christiane Eberhardine , esposa de Augusto II o Forte , o Eleitor da Saxônia e Rei da Polônia . A cantata foi apresentada pela primeira vez em 17 de outubro de 1727 na Igreja da Universidade de Leipzig. O próprio Bach dirigiu do cravo. O texto foi escrito por Johann Christoph Gottsched , professor de filosofia e poesia. O texto é puramente secular, proclamando como o reino está em choque com a morte da princesa, quão magnífica ela era e quão triste será sua falta. Elementos sacros relativos à salvação e vida após a morte estão ausentes.

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Para quem quiser ver e ouvir a Trauerode, aqui está um bom link.

Debaixo do boné do Falero

Debaixo do boné do Falero

Ler para o outro é um ato de puro amor. Eu acho. E ler para a pessoa amada é mais ainda, claro.

Não sei se leio bem ou se a Elena é boa ouvinte, mas a coisa funciona e hoje eu estava terminando o livro do José Falero com a Elena deitada a meu lado quando vi que, em uma das crônicas finais de “Mas em que mundo tu vive?”, ele cita a Livraria Bamboletras.

Fiquei muito comovido por duas razões: pela livraria que tento fazer sobreviver e por Falero falar de seu pai, morto há 20 anos, tal como o meu. Sim, esta crônica foi uma das que me atingiram com força.

E a Elena acaba de perguntar:

— O Falero é aquele cara que a gente encontrou com a mãe dele no Café Cantante?

— Sim.

— Quanto talento debaixo daquele boné, hein?

Sobre a Bamboletras, Cidade Baixa, Nova Olaria, Guion e outros que tais

Não (por Luiz Hall)

De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.
José Saramago

Não pude deixar de pensar no velho portuga e sua implicância com o twitter quando li as últimas notícias envolvendo o fim das atividades do Guion e da mudança proposta para o Nova Olaria que ganhará três torres de apartamentos e passará a se chamar ‘NO’.

Estas duas letras carregam uma carga muito grande. Chega a ser simbólico o apócope como uma negação de uma história construída até então naquele local.

Desde o princípio, quando tudo ainda era mato, a Lu Vilella por ali aportou e tijolo por tijolo foi assentando com suas mãos decididas uma Livraria de Todos os Gêneros e construiu uma relação não com o Nova Olaria, nem com a Cidade Baixa, mas como uma referência de livraria para toda a cidade.

E muito mais. Lembro da história de uma fã mexicana que ouvia as transmissões da Rádio da Universidade pela internet e curiosa se perguntava que Livraria era aquela que patrocinava um programa que ela curtia ouvir.

Mas esta é uma história de mudanças. Quando assumiu a Livraria, o Milton Ribeiro trouxe seus próprios tijolinhos e com a força e a gana de criar coisas belas agregou à livraria outras características e novidades como os inúmeras sessões de autógrafos e debates que consolidaram a Bamboletras como a grande referência que é. Sorte nossa por supuesto.

Se for lembrar de todo este tempo frequentando aquele local, imagino o espaço como a nossa Troia. Camadas e camadas sobrepostas de histórias.

E que local! Representou como nenhum outro estabelecimento a antiga Rua da Olaria que celebrou a libertação dos escravos já sob a alcunha de Rua General Lima e Silva em 1884 em edição do jornal A Federação (Na Rua Lima e Silva todos são livres!).

O Guion também. Uma oásis para os cinéfilos que se esbaldaram na seleção dos filmes apresentados todos estes anos.

Se me pedissem a opinião sobre que filme poderia marcar a despedida do cinema eu indicaria aquele chileno dirigido pelo Pablo Larraín baseado na peça El Plebiscito do Antônio Skármeta.

Tenho curiosidade pelo que poderá vir no pós reforma. Se o cinema prometido terá a sorte de uma curadoria nos mesmos termos ou se será mais um exibidor de blockbusters. Se o espaço não se transformará em mais um centro comercial comum.

Torço pela quase balzaquiana Bamboletras, pelo Milton Ribeiro, pelos inestimáveis Gustavo Ventura, Eliane et alli… que precisarão passar por esta provação como torço por todas as livrarias de rua.

E concordo com o que o arquiteto e historiador Renato Menegotto disse para o Rua da Margem.

Não se quer congelar o tempo. A cidade pode evoluir sem perder a essência histórica, com sobreposições graduais, reveladoras da vida e do tempo. O problema são as intervenções abruptas, que quebram a escala do bairro.

Mas Milton, se tens que levantar âncora e partir, quem sabe não poderias vir para o Navegantes. Poderia ser como uma ilha aqui no bairro. Ou um porto seguro nesta cidade que ultimamente vem se mostrando mais aflita que alegre.

~ ESCLARECIMENTO SOBRE A BAMBOLETRAS E A REFORMA DO NOVA OLARIA ~

Ontem surgiram notícias sobre a “destruição” do Nova Olaria, onde localiza-se a Livraria Bamboletras. Como creio saber mais a respeito do que a maioria das pessoas e para que as narrativas apocalípticas recuem um pouco, aqui vão as informações que possuo.

Marquei uma reunião com os administradores há uns 20 dias. Fui recebido numa sala de reuniões com toda a pompa, vieram 2 pessoas falar comigo.

As notícias:

1. Eles vão construir 3 torres aqui. Duas de “studios” (apartamentos JK, bem entendido) e uma de apartamentos maiores. Um prédio será no atual estacionamento, outro na ex-FADERGS e outro naquela Academia que fica na Lima e Silva e que a gente passa na frente quando vai para o Zaffari, saindo da Bamboletras.

2. O Nova Olaria (a partir de agora NO) será inteiramente reformado. Ficará o muro formado pela frente de todas as lojas e a parte de trás das mesmas. Isto é, só ficarão a parte da frente e a de trás das lojas nos dois lados. O meio será derrubado, assim como o maior problema do prédio: o teto. Neste item, concordo com os caras, o teto daqui está pedindo manutenção. Também o piso do meio será refeito e ficará da altura do piso das lojas, pois, realmente, hoje nada está preparado para a acessibilidade.

3. Isso começará lá pelo meio do ano que vem.

4. É óbvio que teremos que sair. A reforma deve demorar uns dois anos.

5. Eles me informaram que as novas lojas terão tamanhos iguais às atuais e querem que a Bamboletras volte após a reforma. Mostraram um estudo que demonstra que somos a mais importante a loja do NO, mais importante até que o Guion. Seríamos a principal âncora. Somos quem traz mais gente pra dentro do Shopping. Eles disseram que o NO tem afinidade com a cultura e que o cinema será derrubado e reconstruído logo depois, com ou sem o Guion. Que isso aqui só pode dar certo com a Bamboletras e o cinema. Fico feliz com as palavras, mas saibam que ainda estamos em crise — precisamos levantar a âncora e navegar melhor.

6. Mas mudei de assunto. Voltemos…

7. Disseram também que podem facilitar nosso aluguel em um prédio deles na Cidade Baixa até o retorno.

8. Claro que achei tudo isso uma merda. Duas mudanças é pra matar. Talvez fosse melhor apenas sair no primeiro semestre do ano que vem. Ou estamos tão grudados ao NO que seria melhor retornar? — esta é uma questão em aberto.

9. Afinal, eles fizeram uma pesquisa em POA perguntando sobre as palavras que ocorrem às pessoas quando pensam na Cidade Baixa. Entre as palavras mais citadas estava “Bamboletras”. Pode ser puxassaquismo, mas só pensei nisso agora. Ah, se a gente pudesse transformar nosso prestígio em $… Ah, se prestígio e boa curadoria pagasse contas…

10. Bem, as informações são estas. Pretendemos seguir, não obstante as obras e dificuldades. Somos teimosos e acreditamos no que fazemos. Boas livrarias são importantes. Passamos pela pandemia sem demitir nenhum funcionário — não adianta ser ideológico só no discurso, né? — e queremos seguir vivos. Estamos na luta e vocês não imaginam como. Apareçam. Como diria Drummond, precisamos de todos.

P.S. — Se alguém tiver sugestões, palpites. bons locais disponíveis para 2022, por favor, manifeste-se.

Atrás do balcão da Bamboletras (XLI)

Entra um sujeito enorme na livraria perguntando sobre os livros que havia encomendado. Ele fala com voz de trovão. Recebe o aviso de que um livro de sua lista chegaria no máximo em 30 min e fica batendo papo, enquanto folheia os que já tinham chegado.

Por algum motivo, chegamos ao tema da diferença (enorme) que há entre semitismo e sionismo. Ele se exalta, falando cada vez mais alto e declara:

— Por exemplo, há aqueles insuportáveis do Bom Fim e, por outro lado, no mesmo bairro, tem o Flávio Koutzii.

Neste momento, um respeitável senhor de chapéu e máscara — perfeitamente camuflado — volta-se para o autor do discurso e diz:

— Muito prazer, Flávio Koutzii. Vou me apresentar antes que o senhor comece a falar mal de mim. Imagine que saí de casa hoje pela primeira vez em muitos meses…

O cara ficou pasmo, absolutamente pasmo, e a conversa seguiu entre risadas.

Atrás do balcão da Bamboletras (XL)

Hoje foi uma boa manhã de sábado na livraria. Estava ocorrendo tudo normalmente, com os clientes, os pedidos e as entregas indo e vindo.

De repente, recebo um Whats que dizia que a amiga de uma cliente tinha recebido um livro por ela e que ela, a amiga, tinha achado nosso ciclista, o R, muito “simpático”. E pedia o número dele.

Pensei no que fazer, mas hoje é Dia dos Namorados, vocês sabem, e eu repassei imediatamente o número.

Já estava me arrependendo do meu papel de cupido e então liguei para o R a fim de avisá-lo de minha façanha.

— O quê? Ela é MARAVILHOSA. Veio com um gato na mão receber o livro, uma visão do paraíso!

O R é um cara talentoso e muito, mas muito legal. A menina deve ser também. Hoje é Dia dos Namorados. E a Bamboletras abençoa e deseja sorte a todos os amores. Aos antigos e aos recentes.

Ah, estamos abertos até às 19h. Venha buscar seu amor aqui!