Bom dia, Renato (com os principais lances de Grêmio 0 x 0 Flu)

Bom dia, Renato (com os principais lances de Grêmio 0 x 0 Flu)

Por Samuel Sganzerla

Então, eis que tivemos mais um capítulo desse recente drama que o Grêmio vive: a inglória missão de furar retrancas. Ontem à noite, lá na Arena, o Fluminense entrou em campo de forma semelhante aos times que enfrentamos nas últimas rodadas do Brasileirão – e ao Defensor, que também chegou todo fechado lá atrás, para nos encarar na Libertadores.

Éverton contra as retrancas | gremio.net
Éverton contra as retrancas | gremio.net

Muito provavelmente, Renato, tudo isso seja reflexo lá do início deste mês que hoje se encerra. Após uma sequência de grandes goleadas nossas, todos os times que nos encararam, principalmente aqui em casa, estabeleceram um padrão tático que faria inveja a Karl Rappan, o técnico inventor do “Ferrolho Suíço”.

Chegando no estádio com dois amigos que foram assistir à partida comigo, comentei com eles: “O jogo de hoje vai ser um saco! Tenham certeza que o Fluminense vai entrar numa formação defensiva com uma linha de 5 atrás e uma linha de 4 logo à frente, no meio, com um jogador do setor se deslocando para pressionar a bola e o resto fechando”. Dito e feito!

Ao longo dos 90 minutos de partida, nós tivemos 70% de posse de bola, 20 finalizações e oito escanteios (contra nenhum do Fluminense). Apesar do grande número de chutes, foram apenas seis a gol, sendo poucas chances claras para marcar. Novamente, Renato, tivemos o predomínio absoluto do jogo, mas não conseguimos transformar isso em vitória.

Num primeiro tempo em que praticamente apenas nós jogamos, nossa melhor oportunidade veio num cabeceio do Kannemann, que passou rente ao travessão, por cima do gol. André teria feito um dos grandes golaços de sua carreira, se não estivesse ligeiramente impedido antes de matar no peito e mandar uma bicicleta para as redes da meta do time carioca.

O segundo tempo mudou um pouco de figura. Se o adversário não tem um grande elenco, tem pelo menos um técnico que sabe “tirar leite de pedra”. Diferentemente dos confrontos contra Atlético-PR, Inter e Paraná, em que ficamos no 0 a 0, mas não corremos risco nenhum, os cariocas souberam propiciar alguns bons contra-ataques, que levaram perigo à nossa meta. Agradecemos mais uma vez ao Grohe, por sinal.

O meio campo com Maicon e Cícero na volância certamente ganha qualidade na armação, Renato, mas perde um pouco em marcação – e dali e do mau posicionamento do Madson é que nasceram as jogadas de perigo do adversário. Sinto que o Arthur faz falta não somente pela sua importância na equipe, mas porque o próprio futebol do nosso capitão não tem a mesma desenvoltura sem ele – ontem o Maicon cometeu alguns erros de passe e demarcação que não costuma cometer, mas foi bem mesmo assim.

Luan, apesar de criticado pelos analistas dos botecos dos arredores da Arena, é sempre uma peça fundamental no time. Mesmo não produzindo tudo que pode, as jogadas das melhores chances sempre passaram por seus pés, terminando em passes precisos que carregavam o time para o ataque com mais qualidade. Mas, como ele mesmo sabe, pode fazer mais, apesar da ferrenha marcação que sofre.

E as nossas melhores chances de vencer o Fluminense vieram na metade da segunda etapa, pelos pés do Everton. Contudo, ontem ele não conseguiu ser decisivo, como tem sido neste 2018. O destaque vai para dois lances: o primeiro no contra-ataque fulminante, em que deixou o marcador na saudade e encobriu o goleiro, que conseguiu dar um leve desvio na bola, fazendo-a sair caprichosamente, na rede pelo lado de fora; a segunda foi a grande chance do jogo, em que ele perdeu um gol que não é do seu feitio, com a bola sobrando dentro da área e o goleiro já vendido no lance (bateu novamente na lateral de fora da rede).

Eu entendi a tua opção por Lima no lugar do Ramiro, Renato, procurando dar mais ofensividade ao Grêmio, que sabia que enfrentaria um ferrolho. Mas não funcionou muito bem, porque o garoto teve boa movimentação, até desenvolveu bem algumas jogadas, mas nenhuma produção efetiva. Pepê entrou bem em seu lugar, mas também não fez muito. O destaque negativo da partida vai para Madson, que APANHOU da bola, e para os escanteios mal batidos pela equipe – hora de voltar aos treinamentos!

Enfim, mais um 0 a 0. Contudo, apesar de também estar insatisfeito com o resultado, gostaria de dizer que não faz o menor sentido esse clima de “queda” que alguns estão tentando criar. Se o Grêmio não reproduziu seu melhor futebol nas últimas rodadas, também não se pode dizer que não manteve uma vitoriosa sequência, atrapalhada por empates com times que entraram com o único objetivo de não perder o jogo para nós.

Neste mês de maio, o Grêmio fez nada menos do que nove partidas, tendo seis vitórias e três empates – sabendo que poderíamos ter saído vitoriosos de todos estes. Fez 17 gols e sofreu apenas três (um no time reserva, um contra e aquele azarado na goleada contra o Santos, em que a bola desviou no Kannemann e interrompeu o recorde de invencibilidade do Grohe). E isso tudo lembrando que não conseguimos colocar os 11 titulares em campo há dois meses.

Temos que ter em mente, Renato, que nossa missão até a parada da Copa do Mundo vai ser enfrentar, em meio a todo esse desgaste, times que entrarão em campo contra o Grêmio para fazer um ponto (talvez o Palmeiras fuja dessa lógica). Até que as outras equipes comecem a precisar construir o resultado, buscar a vitória, a nossa realidade será continuar encarando adversários que se contentam em empatar conosco no Brasileirão.

Quero dizer, com isso tudo, que obviamente gostaria de estar na liderança, agora um pouco distante por conta desses pontos perdidos. Mas que não há qualquer motivo para desesperança, visto o alto padrão de jogo que o time tem mantido e as circunstâncias atuais. Mudanças pontuais e alguns reforços no elenco podem muito bem nos colocar na ponta da tabela, visto que não há nenhuma equipe disparando neste início de campeonato. Que venham os próximos jogos! Até domingo e boa viagem a Salvador, Renato!

Saudações Tricolores!

E segue o baile…

https://youtu.be/HBrYVZCJI4c

Uma historinha no Parangolé

Uma historinha no Parangolé

Às vezes, almoço no Parangolé Bar E Restaurante. É muito tranquilo, gostoso e equilibrado. Hoje, completei nove ou dez almoços e ganhei um grátis, mas o que desejo contar é que sempre compro uma mineral com gás e levo a garrafa com o resto, normalmente a metade do conteúdo. Jamais lembraria que esquecera de levar minha água na última sexta. Pois o Seu Cláudio guardou o restante na geladeira. Hoje, ele perguntou se podia servir a água que eu já comprara. São gestos desses que fazem o Parangolé um lugar tão especial. É muita atenção, honestidade e fineza. Meu muito obrigado ao pai da Ana Laura Freitas!

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Bom dia, Odair (com os principais lances de Inter 2 x 1 Corinthians)

Bom dia, Odair (com os principais lances de Inter 2 x 1 Corinthians)

Aquele gol do Rossi aos 92 minutos… Foi tão Champions League, né, Odair?

A comemoração do gol decisivo de Rossi | Foto: Ricardo Duarte
A comemoração do gol decisivo de Rossi | Foto: Ricardo Duarte

E foram 30 mil pessoas ao Beira-Rio durante a crise dos transportes! Nossa torcida é maravilhosa, mas o time tem que trazê-la para o seu lado. Jogando bola.

Pois bem, iniciamos o jogo pressionando o Corinthians até Klaus e Danilo Fernandes fazerem uma lambança antológica. Um esperou pelo outro, ninguém foi na bola, Mateus Vital foi: 0 x 1. O maior culpado foi o zagueiro, que surpreendeu o estádio inteiro ao se omitir.

Jogamos bem mais do que o Coringão. Nosso principal problema foi a péssima atuação de Pottker. Com Damião isolado, o Inter tinha dificuldades para atacar. Lucca era o melhor da frente, mas estava sozinho. O que está acontecendo com Pottker? O moço dá boas entrevistas e não parece burro. Mas quando entra em campo, tenta arrancadas individuais que não dão certo. Nem olha para os companheiros de time. Tornou-se totalmente improdutivo.

Nosso meio de campo permanecia sem armação. A coisa só avançava pelas laterais. Não temos um meio produtivo. Com todo mundo pelos lados, há um Saara entre Dourado e Damião. Não melhoramos muito neste quesito no segundo tempo, mas pressionamos bastante.

O segundo tempo trouxe o Corinthians ainda mais recuado e o Inter com absoluta segurança defensiva. Mas sem força no ataque. O gol saiu quando tu tiraste Iago para colocar Nico López. O time melhorou muito. Com companhia Damião começou jogar. Num lance muito bem realizado, Lucca cruzou e Damião marcou. Então os ingressos de Rossi e Juan fizeram aumentar a pressão sobre os paulistas. Passamos a criar e perder gols. Um foi justamente anulado.

O gol que nos deu a vitória nasceu de um constrangedor erro defensivo do lateral Mantuan. Mas demonstrou que Rossi é um cara ligado, prontinho para deixar Pottker na reserva.

Meu amigo Julio Linden faz uma observação importante: o perfil de jogadores como Moledo, Zeca, Lucca e Rossi tem feito uma diferença brutal em relação aos grupos de jogadores de anos anteriores. Eles não são acomodados e resignados com derrotas.

Odair, teu trabalho começa a aparecer, mas há que afastar esses medalhões e ter uma conversinha ao pé do ouvido do lateral esquerdo Iago. Zeca parece que vai resolver o problema do outro lado. Participou maravilhosamente nos momentos de pressão sobre o Corinthians.

O resultado deixa o Inter na oitava posição do Brasileirão, com 11 pontos em 7 jogos. Faltam 34 para nos livrarmos da Segundona… Na quarta-feira (30/5), o Inter vai a Salvador enfrentar o Vitória pela oitava rodada. No Beira-Rio, volta a atuar no dia 2 de junho contra o Sport.

https://youtu.be/aR4ftw_8mI8

Bom dia, Renato (com os lances de Ceará 0 x 1 Grêmio)

Bom dia, Renato (com os lances de Ceará 0 x 1 Grêmio)

Por Samuel Sganzerla

Renato, tu sabes que não sou caminhoneiro, mas estive parado semana passada. Todavia, as últimas três partidas do Grêmio merecem um comentário comum: foram três ocasiões em que o Grêmio precisou furar uma retranca. Felizmente, tal quarta passada, na Libertadores, conseguiu ontem, lá em Fortaleza.

Thonny Anderson comemora seu gol ao final da partida em Fortaleza | Foto: gremio.net
Thonny Anderson comemora seu gol ao final da partida em Fortaleza | Foto: gremio.net

É verdade que nossa vitória deste domingo saiu num contra-ataque já nos 15 minutos finais de jogo. Algo que eu tenho até dificuldades de me lembrar quando aconteceu pela última vez. Nosso Tricolor, em seus triunfos recentes, vence se impondo sobre o adversário ou na base do ABAFA.

Agora, Renato, eu me permito ser sincero contigo: o Grêmio dos últimos jogos tem ficado abaixo das exibições que nos fizeram criar tantas expectativas para esta temporada. Apesar de ainda manter o padrão tático e o controle do jogo, o time tem sido mais lento nos ataques e errado mais passes.

Claro, vamos dar um desconto: já faz dois meses que não conseguimos entrar com todos os titulares em campo. A ausência do Arthur é muito sentida no meio campo. Ontem, ao menos tivemos a volta do Everton. E que diferença com ele no ataque!

O Cebolinha foi simplesmente o homem do jogo. Infernizou a defesa adversária do início ao fim, metendo uma bola na trave na primeira oportunidade, com nem três minutos se partida. Ainda sofreu dois pênaltis, sonegados pelo senhor Wagner Reway (esse cidadão não ia tomar uma geladeira mais severa, depois da LAMBANÇA que fez em Vitória e Flamengo, na primeira rodada?).

De qualquer forma, a despeito da péssima arbitragem a que estamos acostumados, merece destaque o gol da partida. Não sei se foi precipitação do Jorginho ao mandar o time do Ceará para cima do Grêmio no fim do jogo, mas o Everton, que nada tem a ver com isso, fez uma jogada espetacular no contra-ataque.

Como um velocista, atravessou mais de meio campo, para servir a bola cabeça de Thonny Anderson, que tinha acabado de entrar (que estrela, hein, Renato?!), para marcar com o gol livre. O meu elogio maior, porém, vai pelo fato de que o defensor do Vozão tentou fazer falta no Everton no meio-campo, no início da jogada, que preferiu a jogada a tentar cavar um cartão. Garantiu nossa vitória assim.

Se o Cebolinha continuar com essa bola toda, vai acabar mais cobiçado do que frentista de posto com gasolina. Merece todo nosso reconhecimento, então. Por outro lado, o destaque negativo vai para André, que sabemos que tem muito mais potencial do que o futebol que tem mostrado. Te liga, guri!

Enfim, apesar de não ter sido uma grande atuação, o 1 a 0 protocolar garantiu os três pontos, que era o mais importante. Graças aos resultados paralelos, acabamos nos mantendo a apenas dois pontos da liderança – que, sabemos, poderia ser nossa. Mas não é hora de ficar chorando sobre leite derramado.

Depois de amanhã, quarta-feira, retornaremos ao gramado da Arena. Enfrentaremos o Fluminense, adversário direto pela ponta da tabela. Renato, sei que o calendário é complicado e que o time vem sofrendo com o desgaste (10 jogos e mais de 30 mil quilômetros a serem percorridos neste mês que antecede a parada da Copa do Mundo).

Renato, com foco total no Brasileirão agora, faremos cinco jogos em duas semanas, três deles em casa. É a oportunidade de buscarmos a liderança do campeonato – ou de ficarmos o mais próximo possível dela, pelo menos. Depois de podermos curtir a Copa do Mundo, torcendo por Geromel e companhia (não sei os outros, mas eu irei), esperamos retornar com o time completo e preparado para um segundo semestre, que, tomara, seja de muitas alegrias também.

https://youtu.be/Jt2Dpue5aRU

Verão no fim do mundo, de Luís Augusto Farinatti

Verão no fim do mundo, de Luís Augusto Farinatti

Capa_Verão no fim do mundo_Finalizada_2004.cdrEu lia as histórias de Farinatti em seu extinto blog, então, para mim, é impossível considerá-lo um estreante. Sempre gostei de seu estilo fluido e focado na história. Mas lia seus contos à medida que ele os publicava, espaçados no tempo. O conjunto de 12 contos de Verão no fim do mundo — lidos em duas sessões de 6 contos — teve efeito catalisador e me surpreendeu positivamente. Há unidade nas 125 páginas do livro, não há pontos fracos. Hábito que tenho quando gostei muito do que li, o final do livro fez com que eu girasse o volume em minhas mãos frias de maio, sem desejar abandoná-lo. Bom sinal. E quais foram os motivos principais disso? O caráter profundamente humano daquilo que tinha lido, o fato do autor não participar do livro em digressões e a facilidade da leitura. Como bônus, vai um tanto de bom humor, principalmente no conto Reunião Dançante.

O ambiente mais comum das histórias é o da região de Santa Maria e periferia. Creio que apenas Copacabana e O rio pela janela passam-se fora daquela região, no Rio de Janeiro e em Paris. Mas não esperem regionalismo. O que há são as peculiaridades dos habitantes da região, perfeitamente integradas às histórias. Em Laranja azeda, uma velha senhora que está perdendo sua moradia orgulha-se e vê vantagem em algo inusitado. Em Lembrança dos teus familiares são mostradas contradições entre quem conhece e desconhece o morto. Em Forasteiros, temos o descontrole em uma região onde a presença policial é rarefeita. Farinatti sabe envolver e finalizar suas histórias. Como Ernani Ssó escreveu abaixo, há semelhanças com as obras não-Maigret de Simenon.

Mas meu conto preferido é mesmo a história-título, cheia de cortes e lacunas.

Ou seja, a coleção é muito boa. Há voz própria, a abordagem é variada e criativa, o texto é fluido e envolvente. Sei que Farinatti passou muito tempo revisando e reescrevendo estes contos. Afirmo que valeu a pena. Muito.

Recomento fortemente.

Lançamento de Verão no fim do mundo em Porto Alegre:
Neste sábado, 9 de junho, às 18h
Na Livraria Bamboletras
Centro Comercial Nova Olaria
Rua Gen. Lima e Silva, 776

Luís Augusto Farinatti
Luís Augusto Farinatti (foto retirada do perfil do autor no Facebook)

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Ernani Ssó escreveu o que segue no Coletiva.net.

Verão no fim do mundo (por Ernani Ssó)

Passei um medo danado a semana passada: recebi um livro de um amigo. Não estou de brincadeira, não. Imagina se eu não gostasse? Pra piorar, trata-se de livro de estreia. Pelas minhas contas, livro de estreia bom só acontece um ou dois por década e olhe lá.

Previ noites de insônia e suores frios, mesmo que eu tenha visto esse amigo apenas duas vezes. Sabe o que é? Devido à educação que recebi (por culpa de uma avó pra quem a sinceridade era matéria de fé) aliada a um distúrbio acho que glandular, costumo dizer o que penso, principalmente em matéria literária e política. Isso nunca acabou em tragédia, mas, convenhamos, minha vida social é complicada. Enfim, o terceiro encontro com meu amigo poderia ser constrangedor.

Não deu nada. Gostei demais dos contos do Luís Augusto Farinatti. Agora pretendo mostrar as provas ou pelo menos dar minhas razões. Também meus desconsertos. Uma resenha é um espaço muito limitado.

Verão no fim do mundo (editora Modelo de Nuvem) tem doze contos. Pelo quarto ou quinto, comecei a me perguntar: a quem Farinatti leu mais? Eu não via influência de ninguém que eu conheço. Seus contos estão na linha do Tchekhov – gente comum, dramas cotidianos, silêncios nas horas certas -, mas isso não quer dizer absolutamente nada, porque uns oitenta por cento dos contos seguem a linha aberta por Tchekhov e muitos autores nem precisaram ler Tchekhov pra isso, tal a marca que o homem deixou.

Lembrei então do Sérgio Faraco. Farinatti tem uma prosa tão clara e seca, tão organizada e sólida como a dele, mas pensei no Faraco mais pelo cenário, o Rio Grande do Sul da fronteira, as cidadezinhas cheias de tédio, o conhecimento das coisas do campo. Aos apressadinhos, aviso logo: não há regionalismo algum no Farinatti, tipo uma ode à chula, nem é necessário um glossário – como também não é necessário conhecer Copacabana ou Paris pra ler os contos ambientados por lá. A massinha de modelar do Farinatti são as pessoas, e as pessoas, sabe-se, são mais ou menos bestas em qualquer lugar.

Enfim, é bem possível que seja ignorância minha, como em tantos outros casos. Mas acho que o Farinatti não deixa pistas porque não teve pressa de publicar. Ficou quieto, trabalhando duro, até amadurecer. Pela cara dele não se diria. Vá acreditar em cara.

Ao chegar ao fim do volume, tive de olhar o índice e pensar: do que foi mesmo que gostei mais? Sim, o conjunto é bem parelho, mas a dificuldade de escolha foi porque no começo senti a literatura em segundo plano. Eu lembrava de umas pessoas, dos dramas delas. O escritor tinha ficado oculto, sem ostentações de linguagem e sem comentários explicativos. Essa confiança no que se narra e essa confiança na perspicácia do leitor não se aprendem de um dia pro outro. Outra coisa é que pra apostar totalmente nas pessoas é preciso conhecer um tiquinho delas.

Evidente que o escritor não tem como se ocultar no caso da escolha do drama e da comédia que aborda e, digamos, no gerenciamento deles ao longo dos parágrafos. Foram a escolha e o gerenciamento que me levaram aos contos preferidos: oito, alguns mencionados abaixo. Os detalhes: a naturalidade e intensidade com que as pessoas e suas dores são apresentadas, a revelação às vezes súbita do desvão de um sentimento dúbio (o que ultrapassa o mero retrato), a história se fechando sem pontas soltas, embora deixe portas e janelas abertas ou semifechadas pra quem quiser se arriscar.

Lá pelas tantas me lembrei do Georges Simenon, escritor focado apenas no drama e no que está estreitamente conectado a esse drama, considerando literatura ou excrecência tudo o que entrar no texto apenas por si mesmo. Ele disse, numa entrevista, que as cartas que recebia de leitores não eram cartas comentando seu belo estilo ou coisas assim. Eram pra contar que tinham vivido algo parecido com o que tal personagem tinha vivido em certo livro, ou pra contar seus próprios problemas, como se Simenon fosse um padre ou médico.

Não sei bem por quê, mas acho que os leitores do Farinatti não vão se confessar com ele. Agora, pode apostar, vão contar histórias dos vizinhos, de um cunhado encrenqueiro ou ridículo, do filho drogado de um conhecido. Coisas assim. Por mais besta que seja a história, ou até por isso mesmo, o Farinatti a salva com sua mágica: recria o contexto e dá peso humano a cada gesto. Mágica simples, como se vê, mas de fatura complicadíssima.

Ver pra crer? Leia “Laranja azeda”, o segundo conto do volume. Com um mínimo de fatos, como fazer um doce de laranja azeda e pegar dois ônibus, temos uma situação, uma velha sem ânimo, um sobrinho ativo e ganancioso que nem aparece, mas está presente demais, uma vizinha indignada, dois advogados conformados com a incompetência e umas lembranças descosidas – tudo gente nítida e emoções turvas. Como se isso não bastasse, lemos com interesse. Pra encerrar, um exemplo de revelação súbita de um sentimento esquivo: quando a velha se admira, com uma espécie de orgulho, que seu processo tenha sido enviado a Porto Alegre e não lamenta ou não compreende sua derrota, temos o traço mais profundo e talvez mais cruel sobre essa pessoa.

Por falar em nitidez, o Farinatti faz uma coisa que a maioria dos escritores contemporâneos desaprendeu: seus personagens (sabemos sempre quem é quem e como se sente) se movem num mundo concreto. Com pequenos toques, ele indica onde estamos, se faz sol, se venta, se há mais gente por perto. Atenção: ele não para a narrativa pra descrever. O ambiente está integrado à ação. Daí que temos uma grande sensação de solidez, de realidade em três dimensões. O texto nunca é um exercício de linguagem, mas um objeto, uma coisa feita de madeira, sei lá. Isso acontece mesmo em contos como “O rio pela janela”, que acontece mais na cabeça do rapaz do que num apartamento em Paris.

Depois dos primeiros contos, passei a confiar no taco do Farinatti. Mesmo assim, às vezes me peguei ansioso, temendo que ele estragasse o final da história, como em “Forasteiro”. Havia tudo pra uma derrapada. Mas não. Ele nos dá um desenlace surpreendente e ao mesmo tempo de uma naturalidade à prova de balas. Talvez até tenha nos levado de propósito a pensar num lugar-comum do tipo mais usado nos mais reles filmes gringos. O personagem segue em frente e o Farinatti sai de fininho, nos deixando na mão.

É isso, o autor oculto ou esquivo se revela mais quando silencia. Também é mais eloquente quando silencia. O silêncio está em toda parte no Verão no fim do mundo, mas em contos como “Lembrança dos teus familiares” (as informações contraditórias e a mudez de quem conhece o morto) e “Tarde de domingo” (como o assassino, se é mesmo um assassino, reagiu?), se você prestar atenção, pode ouvir ao fundo o risinho sacana do Farinatti.

Uma última coisa: disse que ele manja de gente. Como o silêncio, esse conhecimento está em toda parte, em detalhes, falas, atmosferas, tristezas. Meu exemplo favorito é o final do conto “Reunião dançante”, talvez o mais divertido e com certeza o mais bem-humorado. Sim, o adolescente às voltas com um amor romântico é atropelado pela vida. Sabe-se, a vida não dá moleza, a vida nos vira pelo avesso a três por quatro. Às vezes nos vira do avesso deliciosamente. Os sinais de que topei com alguém adulto, quer dizer, que aceita a vida sem precisar cobri-la com o merengue de qualquer tipo de fé, me faz bem.

Meus reparos a esses contos são tão pequenos que nem vale a pena falar. Corte de uma que outra palavra, melhoria de uma que outra frase, coisas que às vezes podem ser descontadas em minhas manias. Mas do final de “Isaura e o Toco” não abro mão. Acho que devia ser apenas uma insinuação.

No mais, encontro você na livraria Bamboletras, dia 26 de maio, às 18 horas. Ou vai ficar em casa lendo best-seller de americanos iletrados? A gente precisa vencer o Bananão em todas as frentes.

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Bom Dia, Odair (com os principais lances de Inter 3 x 0 Chapecoense)

Bom Dia, Odair (com os principais lances de Inter 3 x 0 Chapecoense)

Seis jogos, oito pontos. Uma campanha modesta, mas temos que considerar que, destas seis partidas, enfrentamos quatro dos cinco favoritos ao título: Palmeiras, Cruzeiro, Flamengo e Grêmio. Da lista dos cinco melhores times do país, só não enfrentamos o Corinthians, cuja partida será no próximo domingo. Depois, a tabela fica mais fácil.

Bem, então a tabela faz com que joguemos cinco jogos complicadíssimos nas primeiras sete rodadas. De fáceis, há apenas Bahia e Chapecoense. E vencemos ambos. Não dá para reclamar muito de ti, né, Odair?

Se Renato fosse técnico do Inter (tesconjuro!) ficaria possesso durante o jogo de ontem. Imaginem que a Chape se fechou atrás, com todos os seus jogadores atrás da linha da bola, fazendo uma incrível retranca! Comportou-se como um time de segunda divisão! Não deveria ser permitido fazer isso…

Só que fizemos três gols.

Moledo comemora seu gol. Está jogando muito | Fotos: Ricardo Duarte
Moledo comemora seu gol. Está jogando muito | Fotos: Ricardo Duarte

Apresentamos as falhas de sempre: com a bola, fomos lentos, tivemos criatividade nenhuma e erramos passes e mais passes fáceis. Também não é crível que entremos em campo com 3 volantes para enfrentar a Chapecoense, um dos favoritos ao rebaixamento. Jogando juntos, Dourado — que fez excelente partida –, Edenílson e Patrick são um exagero apenas justificado quando o adversário é alguém como o… Corinthians, por exemplo.

Quem está mal mesmo são Damião e Pottker. Espero que tais medalhões nao venham a incomodar a ascensão de Lucca e Rossi.

De positivo, alem da boa atuação de Dourado, tivemos os chutes de fora da área de Lucca e a confirmação da segurança de nossa defesa. (Cuesta levou o terceiro cartão e não enfrentará o Corinthians). Zeca também foi bem e deverá crescer. (A troca dele pelo Sasha foi o negócio do ano ou foi a troca de Roger por Lucca?). O passe melhora com ambos, Zeca e Lucca. Outro fato legal foi que, mesmo ganhando, o time continuou em ritmo acelerado e marcando muito.

Goleamos. 3 x 0. Achamos um gol no final do primeiro tempo com Lucca e depois a coisa andou naturalmente. Com isso, pulamos do 17º lugar para o 10º. Se conseguirmos certa regularidade, acabaremos loguinho no meio da primeira página da classificação. Há um perde e ganha muito grande. O próximo adversário é o Corinthians, domingo (27/5), às 16h, no Beira-Rio. Por mim, um empate está bom. Mas uma vitória poderia dar uma nova feição para nosso combalido Inter, Odair.

https://youtu.be/fs0bLaCFvWo

A mais bela e estarrecedora capa de revista (Planeta ou Plástico?)

A mais bela e estarrecedora capa de revista (Planeta ou Plástico?)

“Planeta ou plástico?” A capa da nova edição da revista National Geographic é impactante: traz um saco plástico como iceberg. Nos EUA, no Reino Unido e na Índia, os exemplares serão enviados aos assinantes embalados em papel — o objetivo é que isso aconteça no mundo todo, com todas as edições, até o final de 2019. A revista também está ‘poluindo’ seu feed do Instagram para que os seus 88 milhões de seguidores vejam fotos dramáticas da poluição por plástico pelo mundo. As ações são apenas o início de uma campanha que deve durar anos. “A crise do plástico não foi criada da noite para o dia e não será resolvida assim. Como a marca mais seguida no Instagram e uma empresa de mídia global que atinge consumidores em 172 países, queremos usar nosso alcance para impactar e reunir nossos públicos para resolver desafios globais como a crise dos plásticos”, explicou a diretora de marketing da National Geographic Partners, Jill Cress.

Capa Nat Geo

Nesta sexta (18), a Ospa interpretará o polêmico 4´33, de John Cage

Nesta sexta (18), a Ospa interpretará o polêmico 4´33, de John Cage

4’33 (1952) é uma obra do compositor John Cage que, às vezes, é descrita erroneamente como “quatro minutos e meio de silêncio”. A música se enquadra no movimento happening e é uma das obras precursoras da arte conceitual por não executar nenhuma nota musical.

Sua primeira apresentação foi ao piano, interpretada por David Tudor, embora a peça tenha sido composta para quaisquer outros instrumentos ou conjuntos. A partitura está estruturada em três movimentos que são identificados por movimentações do regente e dos músicos. Eles se mexem, de alguma forma…

John Cage (1912-1992)
John Cage (1912-1992)

Questionando o paradigma da música ocidental, que explicava a música como uma série ordenada de notas, Cage se voltou para o silêncio de forma eminentemente conceitual. Todos os mínimos ruídos, comuns em salas de espetáculos, criam a aura do happening, provocando o público e fazendo com que uma execução pública seja diferente da anterior e de contornos inesperados.

As execuções costumam ser muito engraçadas. Nem todos os músicos conseguem permanecer sérios e parte do público não entende o que está acontecendo. Normalmente, a galera custa a se manifestar, mas era isso que desejava Cage. O budista Cage achava que a peça seria “incompreensível no contexto ocidental”, e relutou em “escrevê-la”: “Eu não queria que parecesse, nem para mim, como algo fácil de fazer. Eu não queria viver com esta impressão”.

Apesar do caráter provocativo, Cage conseguiu destacar a importância do silêncio na música, a sua impossibilidade real e, por consequência, ampliar os limites da arte.

O silêncio já tinha desempenhado um papel importante em várias das obras de Cage compostas antes de 4′33. O Dueto para Duas Flautas (1934), composto quando Cage tinha 22 anos, começa silenciosamente. O silêncio é um elemento estrutural importante em algumas das Sonatas e Interlúdios (1946-48), Música das Mutações (1951) e Duas Pastorais (1951). O Concerto para piano e orquestra preparados (1951) encerra com um silêncio prolongado e Waiting (1952), uma peça de piano composta apenas alguns meses antes de 4′33, consiste em longos silêncios emoldurando um único e curto ostinato. Além disso, em suas canções The Wonderful Widow, de Eighteen Springs (1942) e A Flower (1950), Cage manda o pianista tocar um instrumento fechado.

Serviço

Data: 18/05/2018 20h30
Local: Salão de Atos da UFRGS
Av. Paulo Gama, 110 – Bom Fim, Porto Alegre – RS, 90035-121

Programa

Armando Albuquerque: Evocação de Augusto Meyer
John Cage: 4’33”
Antônio Carlos Borges-Cunha: Noturno para Piano e Orquestra (estreia) | Solista: André Carrara
George Gershwin: Concerto para Piano em Fá | Solista: Olinda Allessandrini

Todo dia a mesma noite, de Daniela Arbex

Todo dia a mesma noite, de Daniela Arbex

todo dia a mesma noiteDaniela Arbex é uma jornalista mineira, autora de Holocausto brasileiro, eleito melhor livro-reportagem do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte em 2013 e segundo melhor livro-reportagem no prêmio Jabuti de 2014. Depois, em 2016, Arbex voltou com Cova 312, que recebeu o Jabuti de 2016 na categoria livro-reportagem.

O tema de Holocausto é o Hospital Colônia de Barbacena (MG), manicômio onde milhares de pacientes foram internados por “problemas pessoais”, muitas vezes sem diagnóstico importante de doença mental — epilépticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, meninas grávidas pelos patrões, moças que haviam perdido a virgindade antes de casarem –, onde muitas vezes eram torturados, violentados e mortos.

Cova 312 conta a história real de como as Forças Armadas torturaram e mataram o jovem militante político Milton Soares de Castro. Depois, completaram o crime forjando seu suicídio e fazendo sumir seu corpo. A autora reconstitui a trajetória de Milton, morto em 1967 aos 26 anos, de seus companheiros e de sua família. E o segue até descobrir seu corpo na anônima Cova 312 que dá título ao livro.

Seu terceiro livro-reportagem é este Todo dia a mesma noite, onde dá a real dimensão da tragédia ocorrida na Boate Kiss, de Santa Maria, na madrugada de 27 de janeiro 2013. E não somente a dimensão, mas também as consequências em sobreviventes e familiares. Arbex gravou centenas de horas de depoimentos de pessoas que participaram de alguma forma da tragédia: vítimas sobreviventes, familiares dos que morreram, equipes de resgate e profissionais da área da saúde.

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O livro é um memorial contra o esquecimento. As pessoas nos banheiros da Kiss em busca de ar, o ginásio onde pais foram buscar seus filhos mortos, os celulares tocando e tocando, os hospitais onde se tentava desesperadamente salvar vidas, a negligência de empresários, políticos e cidadãos, a indiferença de religiosos, os aproveitadores. Tudo isso em contraposição às pessoas que até hoje fazem tratamento psiquiátrico, às doenças mentais que eclodiram, às tentativas de suicídio.

A obra é resultado de dois anos de trabalho. Arbex também examinou as 20 mil páginas do processo da Kiss na Justiça.

É um livro cheio de delicadeza e empatia pelas vítimas. As histórias se confundem ao serem contadas em recortes, em coexistência umas com as outras. O fundo da cena é duro e conhecido: um país que não se vê representado seja no âmbito da Justiça, seja no político. Um país com uma democracia muito periclitante, e com instituições tão despregadas da realidade que podem ignorar luto e tragédia.

Foto: Arquivo Agência Brasil
Foto: Arquivo Agência Brasil

Bom dia, Renato! (com os gols de Monagas 1 x 2 Grêmio)

Bom dia, Renato! (com os gols de Monagas 1 x 2 Grêmio)

Por Samuel Sganzerla

Olha, Renato, ganhar no sufoco é algo a que não estávamos mais acostumados! Obviamente, ninguém imaginou que o time misto do Grêmio, em meio a uma maratona de jogos e a uma viagem de mais de seis mil quilômetros, repetiria as atuações anteriores.

Foto: gremio.net
Foto: gremio.net

O que importa, claro, foi trazer da Venezuela os três pontos, a liderança do grupo e a vaga para a próxima fase da Copa Libertadores. Mas não pensamos que o jogo teria tantas reviravoltas e dificuldades como encontramos ontem em Maturín.

Com quase todo o time reserva do meio para a frente, à exceção de Ramiro, a criação e o volume de jogo naturalmente não se deram com a mesma intensidade da equipe titular. Para piorar um pouco, com nem dez minutos de jogo, Alisson, nosso décimo segundo jogador, sentiu a coxa e teve que ser substituído (esperamos que não seja nada grave).

No primeiro tempo, o Grêmio até criou chances, mas não encontrou o caminho do gol. O Monagas, a despeito de suas fragilidades, esforçou-se bastante, dando-nos dificuldade na articulação. Aliás, Renato, o Thonny Anderson é bom jogador, mas não vem conseguindo exercer a função de Falso 9 em que tu o escalas.

Quando voltamos do intervalo, o jogo seguiu naqueles ares protocolares, apesar de mantermos o total controle da partida. Se antes parecia que o Grêmio, como de costume, viria construir a vitória no cansaço da segunda etapa, ontem chegou a aparentar que um morno 0 a 0 seria o nosso destino.

Foi aí que Ramiro, nosso PEQUENO GIGANTE, apareceu mais uma vez. Não apenas sendo fundamental à equipe, como se mostra cada vez mais, mas desta vez aparecendo para (quase) resolver a partida. Chute cruzado da intermediária, que morreu no canto do goleiro Baroja. Está certo que o arqueiro pulou atrasado, mas mérito de que arrisca.

E assim parecia que o Tricolor já encaminhava mais uma vitória na Copa e que voltaríamos tranquilos com a liderança para casa. Principalmente depois de Grohe fazer uma excelente defesa, na única chance clara dos adversários até aqueles 80 minutos de partida. Mas deixamos de matar o jogo, de aproveitar as chances para ampliar o placar. E, num descuido, demos chance para o azar. Aí o crime (quase) aconteceu.

Não pode aos 47 do segundo tempo, Renato, o ponta venezuelano ficar no mano a mano com o marcador, na entrada da lateral da área. Ramiro poderia ter matado a jogada antes, mas aí precisou ter o cuidado de não cometer pênalti. Isso acabou permitindo o cruzamento na nossa área, e Kannemann, desequilibrado, tentou afastar quase debaixo das traves, mas empurrou para o fundo do gol do Marcelo.

Como o argentino tem muito crédito, isso passa batido. Mas sofríamos o empate que nos custaria muito caro. Com a vitória do Cerro sobre o Defensor, dificilmente teríamos chance de classificar em primeiro do grupo (os paraguaios só precisariam de uma vitória sobre os venezuelanos em casa para se garantir na liderança). Péssimo! Um balde de água fria!

No entanto, Renato, é nessas horas que a gente precisa invocar o espírito aguerrido de que tanto nos orgulhamos. Foi sensacional ver nosso time não se abater e ir para cima já no lance seguinte. Cícero, em mais uma boa atuação no meio campo, dominou na área para marcar após bom cruzamente, quando sofreu cristalina penalidade.

Após certo tumulto, ocorrido enquanto assistíamos no replay a infantilidade do zagueiro venezuelano no lance, Jailson chamou a responsabilidade. Confesso que fiquei surpreso, Renato, mas se tu o deixaste ou mandaste bater, é porque ele vem bem nos treinos, tive certeza. E daí o nosso Will Smith correu para bola e anotou, com muita categoria.

Fim de jogo, Renato, e voltamos ao Brasil com o que precisávamos. Com mais emoção do que o necessário, mas o susto também ensina. Agora é pensar no Brasileirão e no Defensor semana que vem, para garantirmos a vantagem na próxima fase, depois da parada da Copa do Mundo (quando espero também que nossos jogadores já estejam em plenas condições físicas).

Ao final, gostaria de agradecer a ti e a todos jogadores e membros da comissão técnica pela atitude de auxiliar e se solidarizar com o povo venezuelano. A situação no vizinho do Norte, todos sabemos, não está na da fácil.

Faço das tuas palavras as minhas e espero que o mundo olhe para a Venezuela com mais atenção. E torço para que o povo local consiga vencer os governos que os condenam à miséria e à opressão (algo infelizmente nada raro por estas bandas, independentemente de espectro ideológico).

De toda forma, parabéns por serem campeões dentro e fora de campo, Renato!

Saudações Tricolores!

E segue o baile…

https://youtu.be/SyIkshYj264

Bom dia, Renato! (com os “melhores lances” do Gre-Nal)

Bom dia, Renato! (com os “melhores lances” do Gre-Nal)

Por Samuel Sganzerla

Renato, estou preocupado com o Grêmio! Mais uma vez perdemos pontos em casa, deixando de vencer um time que se mostrou nitidamente inferior no campo a nós! Hehehe!

Cornetas à parte, eu te confesso que imaginei que o jogo seria como foi: Odair lembraria da célebre frase de José Mourinho e estacionaria o ônibus do Inter na pequena área. Um esquema 8-1-1 de fazer inveja aos saudosos do Ferrolho Suíço e do CATENACCIO.

Foto: gremio.net
Foto: gremio.net

De nossa parte, não entramos com o mesmo ímpeto do domingo passado, na goleada contra o Santos. Talvez os que tomaram o avião logo depois do clássico já estivessem um pouco com a cabeça na Venezuela.

O fato, porém, é que sabemos que o Grêmio pode produzir mais do que isso. Mesmo que o adversário entre com o objetivo de não deixar ter jogo, que seja daquelas partidas em que o Marcelo Grohe não faz nada além de ser um espectador privilegiado.

Claro, Renato, tivemos o infortúnio de o André perder um gol relativamente fácil. O time inteiro que falhou na pontaria ontem, na verdade. E teve também, em homenagem à data comemorativa do fim de semana, o senhor Wilton Pereira Sampaio sendo uma mãe para o coirmão, deixando de marcar duas penalidades a nosso favor. Mas poderíamos ter vencido independentemente disso.

No final, também não faltaram os elementos tradicionais do clássico Grenal: bate-boca, reclamação, corneta, confusão. Aliás, muita confusão! O imbecil que atirou um sinalizador em campo, podendo prejudicar o clube, fica como meu destaque negativo.

E houve o estranho “desconforto” do argentino há poucas horas antes da partida – o que eu destaco apenas porque me chamou a atenção, domingo passado, que pareceu que ele fez de tudo para cavar sua expulsão contra o Flamengo. Mas isso não é problema nosso. Só comento porque, mesmo não estando em campo, lá estava ele para tumultuar depois do apito final. Normal.

Enfim, Renato, os resultados paralelos nos mantiveram a apenas dois pontos da liderança. Poderia ser nossa já, não deixo de pensar. Agora, contudo, é voltar novamente a cabeça para a Copa Libertadores, quando entraremos em campo lá em Maturín, Venezuela.

Temos uma maratona de jogos neste mês. Serão oito partidas até a parada da Copa, e as duas da Libertadores não podem ser menosprezadas, apesar da liderança no grupo e da fragilidade do próximo adversário.

Renato, queremos a vantagem de trazer as decisões para a Arena. Assim como tu, queremos levantar de novo a Copa este ano, de preferência em boa casa. Até terça-feira, nossa cabeça é apenas “Rumo ao Tetra!”. E vamos que vamos!

Saudações Tricolores!

E segue o baile…

P.S.: “Deixando a rivalidade de lado, foi muito bonita a merecida homenagem das duas equipes e da torcida a Fábio Koff. Momentos de grandeza da história da Dupla, em respeito a um grande homem.”

https://youtu.be/zTXzd86jBl8

A Ospa tocará ‘Um Réquiem Alemão’ (ou Humano) no próximo sábado

A Ospa tocará ‘Um Réquiem Alemão’ (ou Humano) no próximo sábado

Um Réquiem Alemão, de Johannes Brahms, existe por um só motivo: a morte da mãe do compositor em fevereiro de 1865. Escrito entre 1865 e 1868, ele tem várias curiosidades: é composto de sete movimentos, que juntos resultam em algo entre 65 a 75 minutos, tornando-o a mais longa composição de Brahms. Há mais: Um Réquiem Alemão é música sacra, mas não é litúrgica e, ao contrário de uma tradição musical de séculos, não é cantado em latim e sim em língua alemã, de onde vem seu título Ein deutsches Requiem ou Um Réquiem Alemão.

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A primeira referência ao Réquiem está em uma carta de 1865 que Brahms escreveu para Clara Schumann, pianista, compositora e viúva de Robert. Escreveu que pretendia desenvolver uma peça a ser “uma espécie de Réquiem alemão”. Depois, Brahms teria dito ao diretor de música na Catedral de Bremen que teria de bom grado chamado o trabalho de Um Réquiem Humano. Mais adiante, vocês verão que este sujeito de Bremen era um chato de primeira linha.

Embora as Missas de Réquiem na liturgia católica comecem com orações pelos mortos, o de Brahms centra-se nos vivos, começando com o texto “Bem-aventurados são aqueles que suportam a dor, porque serão consolados”. O tema do conforto aos que ficam repete-se em todos os movimentos seguintes, exceto o final, sobre a morte.

Em seu Réquiem, Brahms omitiu propositalmente qualquer dogma cristão. Até pelo fato da ideia de deus ser visto sempre como fonte de consolo. A simpatia e compaixão pelo humano persiste por todo o tempo, o que não significa dizer que o Réquiem seja ateu — ateu sou eu, mas alguns escreveram este absurdo sobre a obra –, apesar de sua contenção religiosa. De qualquer forma, a enigmática escolha dos textos fica para os musicólogos decifrarem. Quando o diretor da catedral de Bremen expressou sua preocupação com isso, Brahms recusou-se a adicionar o movimento que lhe fora sugerido: “A morte redentora do Senhor, etc.” (João 3 : 16). Mas, por incrível que pareça, o citado diretor obrou finalizar o Réquiem por uma ária do Messias de Handel, — ??? — “I know that my redeemer liveth”. Tudo para satisfazer o clero. Um total abuso.

O Réquiem foi inicialmente contestado. Wagner achou-o ridículo, mas temos que lhe dar o mérito da coerência: ele errava sempre. Na verdade, estava apenas contrariado com o título “Alemão”. “Alemão” seria a ele mesmo, Wagner. O que Brahms estava pensando? A reavaliação do Réquiem veio através de Schoenberg e seu brilhante ensaio Brahms the progressive. Então, a história da percepção a Brahms descreveu 180º: seus trabalhos passaram de “acadêmicos” a “modernos”. Agora, são eternos.

SERVIÇO

A Ospa apresentará Um Réquiem Alemão no próximo sábado (12/05) às 17h, na Casa da Música da Ospa. Estarão no palco o Coro Sinfônico da Ospa, a soprano Raquel Fortes e o barítono Alfonso Mujica. Regência de Manfredo Schmiedt.

Na ocasião, a Ospa presta homenagem à memória de Eva Sopher, falecida neste ano — uma grande incentivadora da cultura porto-alegrense e da orquestra. A Casa da Música da Ospa fica no Centro Administrativo Fernando Ferrari (Caff), na Avenida Borges de Medeiros, 1501, no Centro de Porto Alegre.

Bom dia, Renato!

Bom dia, Renato!

Quer dizer, hoje não é um bom dia, na verdade! Agora pela manhã, quando vinha aqui falar sobre a boa vitória do nosso time reserva na Copa do Brasil, recebi a notícia de que o grande Fábio André Koff nos deixou, aos 86 anos.

Koff era um homem de inteligência ímpar, uma personalidade marcante. Foi Juiz de Direito e uma importante figura no cenário social e político gaúcho. Mas será eternamente lembrado como o grande Presidente do Grêmio que foi, carregando as três cores na sua alma e levando nosso clube às suas maiores glórias. Um multicampeão: é assim que qualquer gremista sempre lembrará de Fábio Koff.

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Ele presidiu o Imortal Tricolor em três oportunidades. Na primeira vez, em 1982/1983, a conquista que desbravou a América e que permitiu ao Grêmio atingir o topo do mundo – duas glórias que tu lembras muito bem, né, Renato?! Em sua segunda passagem, entre 1993 e 1997, dois mandatos consecutivos que nos remetem às glórias dos anos 90: o Bi da América e do Brasileirão e duas Copas do Brasil.

Koff voltaria à presidência do clube em 2013/2014. Integraria a gestão de seu sucessor, nosso atual Presidente, Romildo Bolzan Júnior, da qual se afastaria para cuidar da sua saúde. Ele também presidiu o Clube dos 13, que foi um importante movimento das grandes agremiações futebolísticas do país em oposição à mão-de-ferro com que a Confederação Brasileira de Futebol gerencia nosso amado esporte.

O mais importante a ser destacado, porém, é que Fábio Koff era um homem de caráter íntegro, uma pessoa correta. Nós gremistas lamentamos muito esta perda, porque sua história se confunde em boa parte com a do próprio Grêmio. Um homem que representou muito bem a Nação Tricolor e que agora repousará no panteão dos eternos campeões.

Para não dizerem que não falei nada do jogo de ontem, gostaria de parabenizar o teu trabalho, Renato, e do clube como um todo. Mesmo o Goiás de hoje não sendo sombra daquele time que fazia boas campanhas no Brasileirão e era sempre uma pedra no nosso sapato, a classificação para as quartas-de-final da Copa do Brasil com uma ótima vitória do time reserva simboliza bem o atual estágio do Grêmio.

Destaque para a grande atuação de Alisson (o melhor em campo e favorito a substituir Ramiro no clássico de sábado), com dois gols e uma assistência, e para Cícero, que jogou muito bem e fez dois lançamentos à lá Gerson no primeiro e no último gol. A equipe foi consistente o bastante para construir a vitória e permitir que tu desses oportunidade a jogadores jovens. Foi bonita também a comoção do Thaciano quando marcou o segundo gol do Grêmio.

Em verdade, eu poderia falar bem mais do jogo – ao qual só não assisti na Arena por causa do infeliz horário e da falta de mobilidade urbana que sacaneiam os trabalhadores. Mas hoje, mais do que qualquer coisa, é dia de luto pelo grande Koff, de modo que seria uma injustiça não dedicar esse texto a ele.

Deixo aqui minhas condolências a todos seus familiares e amigos. Meus pêsames a ti também, Renato, pois sei da amizade e admiração que vocês cultivavam um pelo outro, dessas relações que só são possíveis graças ao amor pelo Grêmio. E me permito aqui falar por toda a Nação Tricolor, deixando meu mais profundo agradecimento a Fábio Koff por ter sido a voz de todos nós e por todas alegrias que nos trouxe.

Koff, descansa em paz! Tua estrela seguirá brilhando, agora nos iluminando e nos abençoando do firmamento eterno. Como o grande Tricolor que és, sais da vida terrena para se tornar Imortal! Muito obrigado por tudo!

Saudações Tricolores!

E segue a vida…

Soldados de Salamina, de Javier Cercas

Soldados de Salamina

— Para escrever romances não é preciso imaginação — disse Bolaño. — Só a memória. Os romances são combinações de lembranças.

— Todas as boas narrativas são narrativas reais, pelo menos para quem lê, que é o único que conta — replicou Bolaño.

Javier Cercas, Soldados de Salamina

Soldados de Salamina, de Javier Cercas, é um grande, excelente livro. Não é bem um romance, é antes uma reportagem, mas a história contada é tão inacreditável que mais parece um romance. Melhor dizendo, pode-se supor algumas poucas liberdades criativas, poucas. O grosso da história é verídica. O que lemos é uma série de surpresas, formando uma mosaico de imenso efeito. Quando parece vamos respirar, entra em cena de Roberto Bolaño iluminando o relato de uma forma que só lendo.

A célebre Batalha de Salamina ocorreu entre a frota persa de Xerxes I e a grega, comandada por Temístocles. A vitória foi grega e, de certa forma, decidiu o destino da Europa.

Porém, se o título livro de Javier Cercas faz alusão à batalha, a ação de Soldados de Salamina acontece na Espanha, durante a Guerra Civil. O livro vendeu 300 mil exemplares só no país e recebeu todo um leque de prêmios. A história gira em torno da figura real de Rafael Sánchez Mazas, escritor e ideólogo fascista da Falange Espanhola e de como ele escapou do fuzilamento. A Guerra Civil Espanhola estava acabando e as tropas republicanas se retiravam, destruindo pontes e vias de comunicação para se proteger. Sánchez Mazas, prisioneiro dos republicanos, apesar de alvejado em um fuzilamento coletivo, consegue escapar apenas com alguns furos na roupa. Quando saem em sua busca… (sim, há pessoas que detestam spoilers). A história é muito bem contada, cheia de digressões, poesia e bom humor.

Sánchez Maza não apenas sobreviveu como tornou-se ministro do ditador Francisco Franco.

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Na primeira parte temos uma pesquisa-reportagem onde conhecemos a história de Sánchez Mazas e na segunda uma reportagem, tudo escrito com grande beleza literária. O texto de Cercas é prazeroso e grudento. Como um repórter gonzo, Cercas se coloca na história. Conhecemos até sua namorada, talvez a única personagem fictícia do livro, mas não podemos afirmar com certeza… Na segunda parte, também entra no relato o escritor Roberto Bolaño, amigo de Cercas. O chileno deu-lhe muitas sugestões e direcionamentos.

Sánchez Mazas era um literato, um escritor nascido em uma família tradicional que, inspirado pelas ideias fascistas que conhecera na Itália, participou da fundação da Falange Espanhola e trabalhou ativamente na divulgação de suas ideias. Cercas conheceu sua história através do próprio filho do falangista. Ficou obcecado, escreveu a reportagem, mas depois Roberto Bolaño lhe diz que talvez conheça um anônimo que participou do fuzilamento como atirador. E nova busca é empreendida.

Talvez aqui tenhamos outro personagem fictício, mas novamente não podemos garantir. O fato é que Miralles, o tal atirador, é absolutamente sedutor e tem uma incrível cara de personagem de Bolaño.

Recomendo fortemente.

Javier Cercas: obra-prima | Foto: Divulgação
Javier Cercas: obra-prima | Foto: Divulgação

Para onde vai o Inter?

Para onde vai o Inter?

É chato ver o Inter jogar. É sempre a mesma coisa — um time lento, previsível, com dificuldades para atacar –, ingredientes que agora receberam também um mau preparo físico. O time treina pouco, sabemos. Os jovens Damião e Pottker cansam… Sem falar do velho Dale.

Sem ataque, não marcamos gols há três jogos e seguem faltando 41 pontos para não cairmos. A bagunça é deprimente. É claro que a desorganização da instituição invadiu o gramado, isso faz tempo.

Patrick, uma das raras boas contratações do clube | Foto: Ricardo Duarte
Patrick na derrota do último domingo para o Flamengo. Ele é uma das raras boas contratações do clube | Foto: Ricardo Duarte

Os dirigentes dizem que precisam vender 2 ou 3 jogadores na janela de junho, mas talvez nem isso consigam. Hoje, nossos atletas são cavalos cansados e mal alimentados. Não valem nada. Precisaremos da indignação de um Michael Kohlhaas logo após o Gre-Nal que devemos perder no próximo sábado, pois a possibilidade de Série B é real novamente.

Odair Hellmann… Este vai receber uma boa rescisão.

O Inter é um time mal pensado e concebido. A confusão dos dirigentes é clara. Eles queimam técnicos que provavelmente sejam apenas marionetes deles. Vejamos.

Desde o início de 2016 foram escalados 12 laterais direitos: Winck, Alemão, Junio, Dudu, Ruan, Fabiano, Ceará, William, Fabinho (este e os próximos improvisados), Edenilson, Danilo Silva e Gabriel Dias.

Os atacantes foram 17: Damião, Pottker, Roberson, Carlos, Cirino, Nico Lopez, Marcinho, Brenner, Brenner (outro), Sasha, Wellington Silva, Rossi, Lucca, Diego, Joanderson, Roger e Ronald.

São números razoáveis? Pode dar certo? E quanto custou toda essa gente?

Mas o principal problema é o meio de campo. Este é praticamente ignorado. Anotem o número de armadores: D’Alessandro, Juan Alano, Camilo, Richard, Valdívia e Mossoró (apenas 6). E o setor nunca funcionou. Talvez possamos colocar Patrick nesta lista, mas ele é um volante improvisado.

Tudo isso com três treinadores.

Ou seja, Marcelo Medeiros, Roberto Melo e seus homens estão perdidos. Gastam e a coisa não anda. Gastam muito. Gastam mal. O descritério reflete-se em um deficit de 62 milhões só no ano de 2017.

Não sei para onde vamos. O Inter é hoje dominado por empresários que tentam colocar seus “produtos” numa vitrine que está bem feia. Só tal fato explica a loucura nas contratações. Além dos jogadores citados, houve levas de jovens contratados para as divisões inferiores. Nem conseguiria citá-los.

E assim vamos nós. Jogando no lixo ano após ano com o Conselho — cheio de famosos alguéns que desconhecem  futebol — apenas observando.

Bom dia, Renato (com os principais lances de Grêmio 5 x 1 Santos)

Bom dia, Renato (com os principais lances de Grêmio 5 x 1 Santos)

Por Samuel Sganzerla

Eu sei, fazia tempo que eu não aparecia por aqui, né?! Ocorre, Renato, que atletas de fim de semana também se lesionam às vezes. No meu caso, uma pelada com uns amigos há umas duas semanas me causou um edema ósseo no cotovelo direito (aquela TRINCADA básica). Como sou destro e fiquei bom o braço engessado por duas semanas, nem conseguia escrever e digitar. Felizmente, nada mais grave e já estamos de volta.

Foto: gremio.net
Foto: gremio.net

E que forma de voltar a conversar contigo por aqui, né?! Com uma goleada em casa que seguiu outra. O torcedor que foi à Arena nos dois jogos desta última semana comemorou dez gols (no meu caso, metade deles na arquibancada, ontem, graças à minha lesão). Um número impressionante, tal qual o futebol que o Grêmio vem jogando. 2018, que já começou muito bem, vem prometendo ser mais um ano memorável na história Tricolor.

Se na terça-feira a superioridade sobre o Cerro Porteño, adversário da Libertadores, foi muito evidente, no jogo de ontem não foi diferente. O que surpreende até mais no caso do Santos é que é um forte e tradicional rival nas competições nacionais e internacionais. Neste ano, o time paulista buscou um excelente e promissor técnico para comandar um elenco de qualidade e faz boa campanha na Libertadores. E não tomamos conhecimento de nada disso neste domingo.

Renato, uma goleada de 5 a 1 do Grêmio sobre o Peixe seria histórica em quaisquer circunstâncias. Mas, além de tudo aquilo que eu já disse, a forma com que ocorreu nos empolga inevitavelmente. Foi um baile durante os 90 minutos. Um Tricolor que colocou o adversário na roda, mantendo a posse de bola por dois terços da partida, quase sem errar passes, sempre no campo de ataque, criando oportunidades naturalmente e praticamente sem dar chances de ataque ao time santista. O famoso ARRODIÃO, na definição do dicionário ludopédico gaudério.

Com um pouco de paciência e muito trabalho, o Grêmio furou o bloqueio da defesa do Santos e abriu o placar com um chutaço do Maicon. Golaço do nosso Capita, que vem jogando o FINO da bola. Enquanto ainda comemorávamos, a equipe santista se aproveitou daquele momento de euforia e descuido para empatar o jogo logo em seguida. Um acidente de percurso, que em nada nos abalou.

E foi possível sentir isso forte nas arquibancadas, Renato. Aquele gol contra poderia ser um balde de água fria na torcida, mas a gente seguiu cantando, alentando e comemorando, como se não tivesse sido nada. Porque é isso que esse time fantástico do Grêmio causa na gente! O momento atual nos faz sentir essa vibração intensa, essa coisa que nos faz confiar incondicionalmente no time, acreditar que a vitória logo mais se desenhará.

Foi o que aconteceu, quando Everton nos colocou novamente em vantagem, no apagar das luzes do primeiro tempo. Veio o intervalo, e todos tínhamos expectativas boas para a segunda etapa. Naquele momento, o otimismo pelo futebol jogado trazia nas arquibancadas a certeza da vitória – e de que ali não é a melhor hora nem o lugar para abordar assuntos mais delicados, mas divago, que isso é história para outro dia…

O fato é que o Grêmio voltou com a mesma intensidade e, logo aos 10 minutos do segundo tempo, o Capita mostrou mais um recurso e fez outro golaço, agora de falta. E o ritmo de baile seguiu, em homenagem ao menino dançarino de valsa, que ontem o assistiu em lugar privilegiado – sim, Renato, o Luan tem razão sobre ele. Aliás, nosso Rei da América, em mais uma boa atuação, daria assistência para o gol de André logo mais. E o outro Rei, o magistral Arthur, fecharia a conta, para encher a mão do torcedor. Fim de jogo, goleada convincente e torcida para lá de feliz. Rumo à minha casa, fui travando uma longa reflexão comigo mesmo.

Sabe, Renato, havia um tempo em que eu acreditava que tudo daria certo para o Grêmio, assim como na vida (que são praticamente a mesma coisa, eu sei). Aquele guri que tinha recém saído da casa dos pais e descido a Serra rumo à Capital quebraria muito a cara no decorrer dos anos e também cometeria muitos erros. Felizmente, aprenderia alguma coisa com eles, talvez. Mas algo do qual jamais se arrependeu foi de carregar com orgulho esse sentimento pelo Imortal Tricolor.

Lá em 2016, quando saímos da seca e ganhamos a Copa do Brasil pela quinta vez, muito se falava nos tais “15 anos”. Eu só conseguia pensar na década. Nos 10 anos em que tinha vindo morar em Porto Alegre, justamente num ano que simbolizaria a virada da gangorra Grenal para o lado deles (não que isso me incomode… muito). Ontem, doze anos depois, gangorra de volta para o nosso lado, muito lembrei daquele maio de 2006. Do alto dos meus 18 anos, tinha certeza de que, mesmo perdendo, sendo eliminado e até rebaixado, no final, as coisas dariam certo para o Grêmio (e errado para o coirmão, porque era parte da aura do gremista criado nos anos 90).

Acreditava nisso, Renato, da mesma forma em que acreditava que as escolha de um recém saído da adolescência seriam todas acertadas. Ingenuidade típica do furor da juventude, regada a festas, dramas brevemente intermináveis e pouca responsabilidade. O que se preservou intacto, dentre as coisas daquele tempo, foi aquela palpitação no peito em cada ida às arquibancadas, do Velho Olímpico à nossa nova e atual morada.

Eu já não acho que todas as minhas escolhas serão acertadas, Renato. O que é muito bom, claro, assim como saber reconhecer as próprias falhas. Também já não sou um poço de romantismo e otimismo com a vida e com o mundo que, noutra época, eu queria mudar do meu quarto. Mas, de alguma forma, Renato, hoje, em maio de 2018, boa parte de mim, que vem aqui escrever sempre contra o sentimento de euforia, contraditoriamente voltou a acreditar que, no final, tudo vai dar certo para o Tricolor. Muito obrigado por isso, de coração! É nessas horas que eu relembro o real significado do Grêmio ser chamado de Imortal.

Saudações Tricolores!

E segue o baile…