Dueto bufo de dois gatos, de Gioachino Rossini (?)

O Duetto buffo di due gatti (tradução literal : Dueto humorístico (bufo) de dois gatos) é uma peça popular para dois sopranos. Seria sensacional se fosse de Rossini — torço para que um dia descubram que é — , mas dizem que não é. Tratar-se-ia de uma compilação escrita em 1825, com passagens retiradas principalmente de sua ópera Otello, de 1816. O autor da compilação foi, provavelmente, o compositor inglês Robert Lucas Pearsall.

A música, pela ordem de aparecimento, é constituída por:

— Um extrato da cabaletta da ária Ah, come mai non senti, cantada por Rodrigo no segundo ato de Otello;
— um trecho de um dueto entre Otello e Iago, no mesmo ato;
— a Katte-Cavatine do compositor dinamarquês Christopher Ernst Friedrich Weyse.

Mas nada é certo e costuma-se atribuir a composição ao impagável Rossini. Como já disse, espero que tenham razão.

Divirtam-se. Os guris do primeiro vídeo são mais engraçados.

Os 50 maiores livros (uma antologia pessoal): XXIV – Anna Kariênina, de Liev Tolstói

KariêninaEm meio a leitura fiz a seguinte anotação:

Li rapidamente um terço do livro de 814 páginas. Incrível como minha lembrança do romance era distorcida. É ainda melhor do que eu lembrava. Tolstói não é aquele estilista perfeito — usa estranhas pontuações e repete palavras tal como o tradutor Rubens Figueiredo (excelente) referiu no prefácio. Por exemplo, nas páginas 241-242 há um parágrafo de quase uma página onde a palavra “camponeses” aparece 15 vezes. Sem problemas, o homem sabe contar uma história como ninguém. Tais repetições não revelam descaso com o texto. Tolstói era um escritor cuidadoso, revisava muitas vezes seus textos que depois eram passados a limpo à noite por sua mulher. Ele usa as repetições em seu hábil discurso livre indireto, inserindo-se nas idiossincrasias e vícios de linguagem dos personagens.

Outra coisa é que as descrições nunca são contadas sem o filtro e a emoção de um personagem. Não são descrições mortas, sem ação, Tolstói integra tudo, fica lindo. Vemos a propriedade de Liêvin enquanto o mesmo sofre e trabalha nela. Nada para, tudo narra.

Esta tremenda obra de arte muito bem planejada é cheia de pequenos detalhes significativos. Há dois personagens principais, Liêvin e Anna. Em torno deles gira toda a ação, com apenas dois ou três pontos de contato mais claros, Kitty, Oblónski e sua mulher Dolly. Duas perspectivas da mesmíssima Rússia. Um painel? Sim, mas um painel de câmara, sem e com maior grandiosidade do que em Guerra e Paz.

Tal como na primeira leitura, que fiz aos 17 anos, o bovarismo de Anna me parece mais antipático do que o da heroína de Flaubert, mas sua impulsiva irreflexão é um dos pontos altos do romance. Uma coisa de que não lembrava era da ironia de frases que se contradizem em grande parte do romance. Às vezes umas contra as outras, às vezes internamente.

(Paixão de outros: estou num banco para falar com uma gélida gerente de contas. Ela se levanta para ver se um cartão está na agência. Quando volta, interrompe arregalada o ato de sentar. Fica suspensa olhando para o livro de Tolstói e me diz lenta e saborosamente: Anna Kariênina… eu simplesmente amo esse livro! Senta-se e começa a falar comigo com se fôssemos velhos amigos).

.oOo.

Bem, alguns dias após a leitura, procurando olhar o livro com impossível distância — durante um mês travei de grande intimidade com todos aqueles russos e não dá para negar que me envolvi com eles… — , dá para notar que a obra-prima de Tolstói funciona como um Gioco delle coppie (Jogo das Duplas). A narrativa vai todo o tempo em dois focos: de Anna-Vronski para Liévin-Kitty e de volta para Liévin para Anna. Mas há também Moscou e São Petersburgo (Moscou parece São Paulo; Petersburgo, Rio de Janeiro…), Vronski e Kariênin, os dois filhos de Anna, o campo e cidade, Aglaia e a modenidade. E podemos formar outras duplas contrastantes entre Liévin e seus irmãos, Anna e Kitty, etc.

Além da boa e famosa trama, da extrema habilidade de Tolstói como narrador — que se manifesta de forma espetacular quando das crises de Anna e na cena do parto de Kitty –, chama atenção o caminhão de realismo despejado pelo autor sobre seus personagens. Anna está a léguas de poder aspirar a condição de boa pessoa do século XIX ou de qualquer tempo. Na época, ser virtuoso era o que mais contava e ela, passando por cima de Kitty, largando o marido por pura concupiscência (OK, bom motivo), renegando a filha ainda bebê e sendo suscetível a atitudes muito, mas muito impulsivas, está longe da perfeição e muito próxima do que vemos por aí. Tolstói não faz o gesto de justificá-la assim ou assado. O leitor da época devia ter ficado bastante desconfiado… Vronski, o amante, é bem melhor, mas sua entrada no romance é a de um militar bonito (o autor gosta de citar seus dentes perfeitos), vaidoso e bastante chato. Kariênin, o marido traído, é um carola que obedece aos mandamentos divinos e consegue errar em tudo, principalmente na avaliação de si mesmo. Melhor é Liévin, o alter ego das maluquices idealistas de Tolstói que tem consciência de que todos o acham meio louco. Talvez, à exceção de Anna, que vive de amor e de impulsos, seja muita gente bem intencionada vivendo junto.

Oblónski, irmão de Anna, é o brilhante personagem que liga os dois lados do romance, o de Anna e o de Liévin. É um tipo bem Turguêniev: é simpático, tem impecável trato social, trai a esposa sem deixar margem à dúvidas e vive muito feliz, endividado e endividando-se. Mas chega de personagens.

O livro de Tolstói é de açambarcante virtuosismo. As descrições estão totalmente permeadas de humanidade, a trama e os mais mínimos conflitos são construídos com cuidado. As cenas de amor pelo povo e pelo campo, protagonizadas por Liévin, poderiam ser um porre na mão de um escritor médio. Na mão de Tolstói, deixam a gente repleto de literatura.

Não me arrependi de modo nenhum de relê-lo. Foi um bom investimento em 814 páginas perfeitas.

Ah, a tradução do russo de Rubens Figueiredo acompanha pari passu a qualidade de Tolstói.

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Bom dia, Renato (com os melhores lances de Grêmio 2 (5) x 1 (3) Estudiantes)

Bom dia, Renato (com os melhores lances de Grêmio 2 (5) x 1 (3) Estudiantes)

Por Samuel Sganzerla

Bom dia para todos aqueles que têm o coração forte para sobreviver às provações que o Grêmio nos traz, que carregam o azul, o preto e o branco na alma. Renato, 28 de agosto de 2018 será um desses dias para se guardar na memória da imortalidade Tricolor.

A derrota por 2 a 1 para o Estudiantes na Argentina, no jogo de ida, acabou não sendo dos piores resultados, graças ao gol qualificado. Entramos ontem à noite em campo sabendo que uma vitória mínima bastaria, que nos colocaria nas quartas e manteria vivo o sonho do Tetra.

Foto: gremio.net
Foto: gremio.net

E o Grêmio começou com todo ímpeto e gana de quem queira buscar o resultado. Porque, te confesso, Renato, eu não vi os primeiros cinco minutos do jogo. Ainda estava entrando na Arena, quando só ouvia os gritos da gurizada nas arquibancadas.

A sagrada cerveja pré-jogo ignorou a possibilidade de haver fila, assim como eu negligenciei o efeito diurético do álcool. No que finalmente ingressamos no estádio, fui reto atender às minhas necessidades fisiológicas.

Estava lavando as mãos quando ouvi a explosão da nação Tricolor, naquele início envolvente que me deixou mais uma marca na data de ontem: foi o primeiro gol que comemorei num banheiro da Arena. E quer saber? Pouco importa!

Importou, na verdade, que, quando finalmente tomamos nossos lugares, no lance seguinte, o primeiro que acompanhamos visualmente, veio o empate deles. Falha rara do Geromito, depois de Jaílson (que, registre-se, jogou muito bem ontem) ter perdido a bola.

“Bom, temos mais de 80 minutos”, pensei eu. E, Renato, foi um verdadeiro massacre Tricolor ontem. O Estudiantes não viu mais a bola depois do empate. E o Grêmio, que tem tido dificuldades para ser efetivo e errado batente na definição dos lances, ontem criou bastante e foi impecável.

Os números me impressionaram, Renato. 82% de posse de bola, 90% de acerto nos passes, 25 finalizações. O problema era aquele: 8 chutes a gol contra 1 único deles. E estava tudo empatado. Mesmo reconhecendo que o Grêmio estava jogando muita bola, a filha da mãe teimava em não entrar. E o tempo passava. Aqueles 80 minutos foram se esvaindo.

Sei lá, Renato! Teve um momento em que tudo era nervosismo. Um filme se passou na minha cabeça: um mês de agosto que ia se desenhando trágico; talvez o fim dessa boa fase do Grêmio; a maldição das oitavas da Libertadores; a corneta de que não ganhávamos de um campeão no mata-mata continental desde 2007 buzinando nos meus ouvidos. Olha, tanta coisa se passou ali…

Só que, com o perdão devido, às vezes essa fase de time que ganha jogando um futebol envolvente e tal nos faz esquecer por um breve momento do que é feita a essência de ser gremista. Como se eu ter encontrado o Galatto antes do jogo não fosse para me lembrar de qual a forma em que se forja a alma azul celeste.

Já estávamos nos acréscimos, quando Cebolinha sofreu a falta na lateral da área. Luan, que ontem jogou demais, colocou a bola lá no meio da confusão – o chuveirinho, a JOGADA SUPREMA do futebol. E Alisson, esse menino maravilhoso, desviou com a cabeça, fazendo com que a pelota caprichosamente batesse no travessão antes de entrar.

Cacete, que explosão, que loucura, que sentimento! O CORAÇÃO TEM QUE SER FORTE DEMAIS, RENATO! Porque todos comemoramos aquele gol como se fosse o último de nossas vidas. Como se não houvesse amanhã! Só que ainda restavam os pênaltis, né?! Eu achei que iria ter algum troço que a medicina ainda não denominou, mas fiquei firme.

Firme atrás do gol onde foram cobradas as penalidades. E, Renato, obrigado por ter colocado a gurizada treinar pênaltis! Deu certo ontem! O Grêmio converteu todas as suas cobranças. E eu, atrás do gol, fiz meu papel de xingar, vaiar, sinalizar e tudo o mais que pudesse tentar atrapalhar os jogadores argentinos.

A verdade é que não deram certo as minhas MANDINGAS. Porque o único jogador deles que eu não xinguei até a oitava geração da família foi o que parei para comentar com o desconhecido ao meu lado: “Zagueiro, canhoto e tomou pouca distância: vai bater um tiro de meta na torcida”. Como eu estar certo nessas horas, Renato!

Agora, eu queria destacar a última cobrança. Quando Lugüercio foi bater a quarta penalidade dos argentinos, o erro nos classificaria. Mas ele bateu muito bem. E comemorou muito, saiu em direção ao meio campo olhando para a torcida deles e vibrando. Quando passou pelo André, que já caminhava em direção às área, deu dois tapinhas na cabeça dele, provocando. Fez de tudo para reverter a pressão.

Confesso, Renato, que fiquei com uma raiva desgraçada daquele gringo; mas com receio de que a má fase do André pesasse na perna. Quando nosso centroavante foi ajeitar a bola, o goleiro argentino fez o mesmo gesto: se aproximou dele, provocou, deu dois tapinhas na sua cabeça.

E o André, frio, sem expressar nenhum medo, foi para a bola… E bateu com EXTREMA categoria, esperando o goleiro definir o canto no último centésimo, rolando a bola suavemente para o outro lado da goleira! Gol da classificação! E que mostrou que o André tem bola! Ainda pode jogar o que sabe no Tricolor!

Grêmio nas quartas de final da Libertadores da América 2018. Milhões de corações Tricolores testados ao seu limite. A redenção de um mês muito ruim para as pretensões que criamos com esse baita time. Que venha setembro! Que venha o Tucumán! Que venha o Tetra!

Saudações Tricolores, Renato!

E segue o baile…

Uma longa e bela entrevista que fiz com Paixão Côrtes

Uma longa e bela entrevista que fiz com Paixão Côrtes

Publicada em 20 de setembro de 2010 no Sul21

Dias depois da publicação desta entrevista, recebi uma ligação no celular. Era Paixão Côrtes me agradecendo. Ele disse que, tchê, ficou bem completa. Perguntou se podia utilizá-la em outras publicações, com as fotos também. Respondi que as palavras e a cara eram dele. Deu risada. Só o vi aquela vez. Tive a melhor das impressões do velho gaúcho falecido ontem.  

Fotos: Bruno Alencastro / Sul21
Fotos: Bruno Alencastro / Sul21

João Carlos D`Ávila Paixão Côrtes nasceu em Santana do Livramento no dia 12 de julho de 1927. É agrônomo, mas sua principal atuação dá-se como folclorista e pesquisador. Paixão Côrtes é um personagem decisivo da cultura gaúcha e do movimento tradicionalista no Rio Grande do Sul, do qual foi um dos formuladores, juntamente com Luiz Carlos Barbosa Lessa e Glauco Saraiva. Juntos, partiram para pesquisas de campo. Viajaram pelo interior, a fim de catalogar traços da cultura do Rio Grande. Em 1948, foi um dos fundadores e organizadores do CTG 35 e, em 1953, criou o pioneiro Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição. Ele será o patrono da próxima Feira do Livro de Porto Alegre. Paixão Côrtes falou ao Sul21 em sua residência, em Porto Alegre.

Sul21 – O senhor possui duas grandes linhas de trabalho: uma como etnógrafo – por seu trabalho de pesquisa e documentação – e outra, ligada ao movimento tradicionalista.

Paixão Côrtes – Na semana passada, lancei, num CTG de Flores da Cunha, uma espécie de resenha de todas as minhas publicações, que vão desde os livros até os folhetos, artigos e opúsculos. O trabalho mostra todas as capas das edições e reedições organizadas cronologicamente. Estou com 83 anos, mas tenho a sorte de ter visto organizarem isso para mim. A gente fica trabalhando e não tem ideia do que produziu. (Paixão Côrtes mostra a publicação. O número de obras é efetivamente muito alto. Há livros sobre música e danças e os folhetos sobre gastronomia e tradições de regiões específicas. Ele nos convida a trocar a sala, onde estamos, para o que chama de “sua baia”, porque diz ter “sentido” que a charla seria longa. A “baia” é onde trabalha, um escritório cheio de livros. Ele senta na sua cadeira predileta, coberta por um pelego.)

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Sul21 – A Feira do Livro de Porto Alegre habitualmente tem um ficcionista como patrono. Esta é a primeira vez que ela se curva à cultura popular e a alguém que faz outro gênero de trabalho. Um trabalho ligado a uma antropologia intuitiva, que os antropólogos titulados pouco se dignaram a fazer, ou seja, a pesquisar e documentar o folclore gaúcho no território, lá fora, como os gaúchos dizem.

PC – Inicialmente, quero dizer que me senti muito lisonjeado (por ter sido escolhido patrono), pelo simples fato de eu não ser um escritor na concepção atual e, sim, um escrevinhador: recolho as temáticas da cultura popular, estudo-as e tento dar a elas nova dimensão, através da divulgação em texto escrito, devolvendo ao povo o que é dele. Eu vou às pessoas, vejo-as, ouço-as e trato de sentir a alma popular de nossa coletividade. A expressão pessoal e individual e o desenvolvimento econômico e social não interessam a meus trabalhos; seria outro estudo. Interessam-me os aspectos espontâneos e coletivos da cultura, sua identidade. Interessa-me preservar aquilo que o tempo dirá se terá continuidade em cada etnia. O que me interessa é dar às pessoas um conforto, um ânimo e uma certeza de que pertencem a uma coletividade.

Sul21 – E o instantâneo?

PC – Pois é, tchê, o instantâneo, o modismo, o oportuno e o circunstancial “justificam”, entre aspas, ações que são inteiramente desprovidas de sentido histórico. Dá muita tranquilidade o valor dado às origens como uma forma de identificar e projetar as comunidades dentro de um universo maior. E o maior mérito de um povo civilizado é não apenas compreender-se a si mesmo, mas compreender a si mesmo de forma a compreender os outros. O conhecimento de si é uma forma de projetar conhecimento para fora, entende? E como é que os homens simples, jovens, rurais vão projetar sua originalidade num universo maior sem conhecer a realidade e as vivências do seu passado cultural, social e artístico? É aí, então, que se estabelece a ação e a reação e o respeito de um pela cultura do outro.

Paixão_Cortes_03Sul21 – Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia, escreveu Tolstói.

PC – Mas isso é uma verdade evidente, né? E este conhecimento pode renovar valores e melhorar a própria humanidade. E com mais paz, tchê, que é o que a gente procura. Mas voltando à Feira, foi por tudo isso que, apesar de me sentir honrado e surpreso com o convite, passei a achar natural que me colocassem ao lado de escritores, ensaístas, historiadores, professores e coisa e tal para concorrer a patrono. Pô, depois de 60 anos olhando diariamente nos olhos do povo, acho que eu merecia um reconhecimento, apesar de que vou te dizer uma coisa: só agora, aos 83 anos, é que estou começando a produzir coisas mais maduras. Meu novo livro já está em 700 páginas. Mas como, tchê? É porque hoje eu relaciono melhor as coisas. Estou, de verdade, descobrindo o significado daquilo que eu recolhi há anos. Hoje, vejo com mais exatidão as peculiaridades que me ajudam a reproduzir uma época passada.

Sul21 – O senhor está falando em ciência do folclore, em etnomusicologia, em pesquisa. Como isso funcionava no campo? Que métodos o senhor utilizava para recolher as informações, como fazia para tornar aquilo palpável?

PC – O negócio era o seguinte: nos primeiros anos, lá por 1947, eu entrava em comunidades onde eu jamais estivera, de quem eu só conhecia parte da história. E saía perguntando, falando com os mais velhos. Olha bem, tchê, eu tinha 20-22 anos, chegava lá de bota, bombacha e lenço no pescoço, eu sou um homem do campo e não um gaúcho de palco, microfone e holofote. Eu ia buscar a cultura daquelas pessoas lá na convivência com eles, num diálogo direto, sem tecnologia nem nada. Buscava mais aos idosos para saber de suas vivências e acabava causando muita espécie porque eu, jovem, de 20 anos, não procurava a sociedade das moças e, sim, a dos velhos e das velhas e eles não me conheciam. A estranheza era a seguinte: o que esse guri está fazendo aqui, saído de não sei onde, me perguntando umas coisas sobre a família e sobre o tempo de moços de seus pais? Deve estar procurando alguma herança!

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Sul21 – E o senhor perguntando como ele sapateava…

PC – Claro! E o sujeito pensando, mas por que ele precisa saber como eu sapateio? Por que tenho que dar satisfações a esse desconhecido? Então, foi muito difícil adotar, criar um sistema onde eu fosse anotando todas aquelas coisas e ainda relacionando com o meio social e econômico. Eu levava umas anotações prévias sobre a região e começava tateando. “O senhor conhece a chimarrita, o balaio, etc.?” E, naquela época, não existia gravador. Só o Instituto de Música tinha um gravador que pesava 10 quilos e gravava o som em fita de papel. Hoje, ninguém sabe o que é, mas eu tenho tudo guardado. A coisa era assim: eles me diziam como dançavam cada música e eu tentava imitar porque o bagual tinha vergonha de fazer aquilo sem música.

Sul21 – Então eles cantavam para o senhor.

PC – Mas, claro, isso eles tinham que fazer. Então eu girava prum lado e eles diziam, não, é para o outro lado, e eu anotava a posição dos pés. Direito 1, esquerdo 1, direito 2… Tudo desenhadinho para não esquecer. Anotava também as letras e ah, tem uma coisa importante: eu tenho muito boa memória, mas ela funciona de um jeito gozado. A música entra pelo ouvido e vai para o cérebro, mas eu só decoro a melodia se ela vai para o pé. Então, se eu não dançasse, não conseguia voltar para casa com ela no ouvido. Daí, falava com meus amigos músicos a fim de que eles tirassem a música e transformassem tudo aquilo em partituras. Eu cantava e dançava para eles. Depois, com o gravador do Instituto tudo ficou mais fácil e eu cheguei a refazer algumas visitas para ter certeza das anotações. Tava tudo certo.

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Sul21 – Enquanto o senhor pesquisava num lugar, Barbosa Lessa fazia pesquisas paralelas noutro lugar, certo? E tudo era feito em fins-de-semanas, porque ambos trabalhavam.

PC – Ah, pois é, um trabalhão. Raramente, nós viajávamos juntos. E era só um gravador. Eu comprava duas passagens no ônibus, uma para mim e outra para o gravador, que era enorme. Quando alguém reclamava, eu mostrava a passagem “dele”. E tudo saía do nosso bolso. Aí, eu gravava tudo naquele trambolho e devolvia o gravador ao Instituto. Senão, tinha que trazer no ouvido.

Sul21 – Podemos voltar poucos anos? Quero relembrar de quando o senhor tinha 17 anos, mudou de colégio – foi para o Júlio de Castilhos no turno da noite – e, junto a outros estudantes, quis estender os festejos da Semana da Pátria até o dia 20 de setembro, data da Revolução Farroupilha, fundando o departamento…

PC – Departamento de Tradições Gaúchas do Colégio Júlio de Castilhos. Como eu estava ausente da vivência contínua com a vida no campo que me era familiar, comecei a conversar com as pessoas e fui vendo que um era de Cruz Alta, outro de Bagé, não sei mais onde. E aí combinávamos: “Aparece lá para tomar um mate”. Tomar mate, naquela época, só dentro de casa. Na rua, nem pensar. Nem na porta de casa. Bombacha ninguém ousava vestir em Porto Alegre.

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Sul21 – Vocês logo perceberam que o Colégio Júlio de Castilhos poderia abrigar essa iniciativa?

PC – Ah, não foi tão simples. O negócio é que eu botava bota e bombacha e ia para a aula. E era aquele comentário só. Eu morava na Sarmento Leite, e o antigo prédio do Julinho era na João Pessoa, onde fica hoje a Faculdade de Economia da UFRGS. De noite, eu ia pilchado. Quando fazia frio, ia de poncho. Chovia, botava um chapéu. O pessoal falava: “Olha o guasca de fora”, “Olha o guapo”. E eu não me ofendia, sabia o que eu era, eles não estavam me ofendendo ao dizer aquilo.

Sul21 – E as moças?

PC – As moças não participavam. Elas estavam em outra. “Miss”, “Star”, tudo nome americano. E eu fui indo, vestido assim. Foi aí que eu comecei a pensar: por que a gente não faz um núcleo de resistência a essas loucuras norte-americanas e tudo o mais que está aí? Fui bolando, pensando, sozinho. E aí um dia, no Grêmio Estudantil, expus a coisa: “Acho que a gente deveria preservar as nossas tradições”, etc. Tinha a Chama da Pátria, no 7 de setembro, data magna da pátria. Foi aí que tive a ideia de tirar uma centelha da pira da pátria e levar para o Júlio de Castilhos, fazer uma continuidade da chama da pátria, lá num candeeiro, até o 20 de setembro. E o pessoal dizia: “Mas como?”. Então fui na Liga de Defesa Nacional, um órgão muito importante na época. Eu conhecia o major Vignolli. Apresentei minhas intenções, numa carta que nós tínhamos preparado. Ele me perguntou: “Então, qual é a ideia?”. E eu, numa insolência que só hoje percebo, respondi: “Vou tirar uma centelha da pira da pátria para levar para o Colégio Júlio de Castilhos”. Imagina, eu com 18, 19 anos. Aí ele chamou um sujeito: “Ô Pimentel, vem aqui”. O sujeito chega e diz: “E aí, Paixãozinho, como é que vai?”, todo entusiasmado. Era amigo do meu pai, com quem tinha trabalhado lá em Santa Maria, me conhecia desde pequeno. E perguntou: “O que é que tu estás fazendo aqui?”. A ideia era prolongar do 7 de setembro até o 20, da Revolução Farroupilha. Aí eles me perguntaram como é que eu queria fazer isso, se era a cavalo, como é que era e tal. Eu tinha pensado em três cavalos – um com a bandeira do Rio Grande, outro com a bandeira do Colégio Júlio de Castilhos e outro com a bandeira do Brasil.

Paixão_Cortes_07Sul21 – Mas qual era a importância de pegar a centelha da pira da Pátria?

PC – Era muito importante, porque aquela centelha era uma homenagem aos pracinhas que morreram na segunda Guerra Mundial, em Pistoia. O fogo vinha de lá, atravessava o Atlântico, chegava a Recife e descia até aqui. Nós éramos nacionalistas, brasileiros e gaúchos. Nós queríamos participar desta homenagem, dando continuidade do nosso jeito, do nosso modo, de cavalos, bombachas e música nossa. Houve um baile, até. Bom, nós queríamos aquele mesmo fogo dentro de um candeeiro, que era a luminária dos nossos galpões.

Sul21 – E os gaúchos, de onde saíram?

PC- Eu convencia um, que convencia outro. Mas aí não tinha arreio. E cavalo? Não tinha. Fui falar com o doutor Pimentel: “Olha, consegui um piquete bom. Gente firme. Mas não temos cavalo, nem arreio”. O doutor Pimentel disse que conseguia os cavalos, do Regimento Osório. “E os arreios?”, perguntei. “Isso vai ser difícil”. Falei para ele: “O senhor me arruma uma caminhonete e dois homens que eu dou um jeito”. Cinco horas da manhã saímos em direção a Belém Novo. Foi clareando o dia e iam aparecendo aquelas figuras a cavalo; eu mandava parar a caminhonete e começava a dar um discurso sobre o gaúcho, a pátria, o gauchismo, e os caras ficavam atônitos (risos). Assim arranjei 14 arreios. Só na palavra! Devolvi um por um, eu mesmo. Montamos os arreios e conseguimos oito pessoas. Faltou gente para montar, as pessoas ficavam com vergonha. Tu podes imaginar oito loucos vestidos de gaúcho, de faca?

Paixão_Cortes_08Sul21 – A revolução Farroupilha não era comemorada?

PC – Não, era tudo proibido. Os símbolos estaduais eram proibidos. Não era feriado, não tinha nada e nós comemoramos com um baile no Teresópolis. Um veio pilchado, o outro não. Nós tínhamos uma bandinha alemã que nem sabia tocar a nossa música, foi uma dificuldade ensinar alguma coisa para quem só sabia tocar valsinha. E todo mundo chorando por causa da fumaça do churrasco. Uma bagunça, tudo improvisado.

Sul21 – E a expansão do movimento? E o CTG 35?

PC – O nome nós decidimos numa reunião em 5 de janeiro de 1948, mas a fundação foi em 24 de abril. Foi difícil. Não conseguimos o registro civil. Nós queríamos um CTG, eles falavam em associação; eles falavam em presidente, nós em patrão; eles falavam em vice-presidente, nós em sota capataz; eles em relações públicas, nós em invernada disso ou daquilo. E lá dentro também era confuso. Nós tínhamos poucas descrições, partitura nenhuma, então o Lessa e eu começamos a procurar. Eu viajava muito, pelo serviço, então íamos cada um para um lado. Começou em Palmares. Eu estava falando com um rapaz sobre danças tradicionais e ele me falou da tal “dança do pezinho”. Eu não sabia: “Que dança do pezinho? Vocês dançam isso?” E o cara: “Claro, lá na praia, nas festas”. E aí formou-se um grupo e nós fomos a Palmares para pesquisar. Bem, se a 100 quilômetros de Porto Alegre tem uma dança dessas, como é que não vai ter por esse Estado inteiro?

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Sul21 – E os clubes?

PC – O clubes não nos aceitavam. Ninguém podia entrar num clube de bota e bombacha.

Sul21 – E os escritores que dizem que o senhor e Barbosa Lessa “inventaram” as tradições e toda a mitologia gaúcha?

PC – É gente desinformada, são pessoas com raízes urbanas que não consideram o campo. Eu não penso ou invento nada. Tenho horas e horas de fitas e documentação. É só estudar. E como é que eu vou inventar se eu não sou compositor nem sei escrever partitura, se não sou músico? Como é que eu vou inventar coreografia sendo engenheiro agrônomo? Como é que eu vou inventar cultura trabalhando em outro ofício durante toda a semana. Mas se tem que sapatear ou montar num cavalo, ah, isso eu sei fazer. Ser me pedirem para dançar com uma prenda, vou dançar com o respeito e a nobreza que a mulher merece. O que é isso? Como é que eu e o Lessa faríamos para criar toda essa montanha de coisas que está nesses livros aí? Bom, nesse caso, nós seríamos geniais. Só que não somos, só fizemos registrar o que existia.

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Sul21 – Há preconceito.

PC – Há preconceito, mas não adianta, hoje é conceito. Mas é claro que tudo vai mudando, a cultura é dinâmica, nada é estático. Mas é um dinamismo coerente com a cultura original. Isto parece ser difícil de entender. Por exemplo, passei dez anos estudando os Birivas, alguns diziam mas o que é isso, Paixão? Pois é, está aí, olha este livro, Danças Birivas. Encontrei tudo, por onde eles andavam, suas canções e vestimentas. Isso é depois de 1732 e está tudo documentado. Só havia conhecimento sobre a indumentária masculina, mas me diga se há um baile sem a presença feminina, ainda mais numa época onde talvez o baile fosse a única chance de ver uma mulher com a qual se pudesse casar. Claro que havia os vestidos delas e está tudo aí. Chula, dança dos facões, chico do porrete, fandango… só homem dançando? Como é que uma sociedade se reunia, certamente de raro em raro, sem mulheres. Hein? É inimaginável. Elas ficavam em casa? Claro que não. Levei anos para saber por onde andaram, o que cantavam, dançavam, comiam, vestiam, se recreavam, etc. Sim, desapareceram, mas há que descobrir a origem de tanta coisa que chegou a nós de outro jeito. Agora, se o crítico não lê o livro para retrucar com conhecimento, eu não posso fazer nada, só não dou bola. Eu só reproduzo.

Sul21 – E o Laçador? Como foi a história do monumento?

PC – Em 1954, São Paulo comemorava 400 anos de fundação e fez um grande evento nacional, convidando todos os estados brasileiros, inclusive o Rio Grande do Sul. E eu tinha fundado o conjunto Tropeiros da Tradição, que era um grupo de músicas e danças folclóricas e lá fomos nós representar o RS. Havia um enorme estande, um pavilhão e havia sido previsto um concurso para uma alegoria, um símbolo que falasse do estado. Cada candidato apresentava um projeto e lá estava o Antônio Caringi. Só havia quatro artistas propondo projetos. E me convidaram de surpresa para fazer parte da comissão julgadora. Lá estavam o Dante Laytano, o Moisés Vellinho e outras pessoas de destaque na época. Eu era um bagual e nem sei porque me chamaram, mas me convidaram e eu fui. E cada artista mostrou uma maquete e fez uma exposição de motivos, vendeu seu peixe. E eu fiquei por lá avaliando. Eu gostei mais do projeto do Caringi e ele venceu.

Paixão_Cortes_11Sul21 – O Sr. conhecia ele?

PC – Não. E aí me pediram para escrever um arrazoado justificando a escolha. Eu fiquei louco de medo. O que eu sabia de obras de arte? Aí, o Caringi veio me visitar em minha casa para detalhar a vestimenta do Laçador. Ele queria saber de cada laço, de cada detalhe, como fazia, como usava, etc. E eu ia explicando tudo para ele. Aí ele voltou umas três ou quatro vezes com dúvidas e eu acabei de modelo para o monumento. Ele ia lá em casa e eu ficava lá parado com ele desenhando, rabiscando. Pegava o laço assim, assado, uma chatice. Dava opções para ele, puxava o lenço para cá, para lá. Ele me perguntava se podia colocar isso, ah, isso pode; ou aquilo, aquilo não pode, porque nenhum laçador usa assim. E a estátua saiu.

Sul21 – E o fato do senhor ser um colorado de quatro costados, sendo que a torcida do Grêmio é quem usa o Laçador como um símbolo seu? Há até chaveirinho para vender com o Laçador gremista.

PC – Olha, eu sou até cônsul cultural do Inter. Apesar de o Laçador ser um símbolo de todos os gaúchos, acho que os caras nem imaginam uma coisa dessas… Meu pai foi goleiro e ponta-esquerda do Inter entre os anos 1912-17. O apelido dele era Peru e, quando criança, eu era o Peruzinho. Meu avô, avó, pai, eu, todos os filhos e netos, todos são colorados. Todo mundo é bi da América e futuro bi mundial, tchê. O mundo está dominado, está tudo dominado! (risadas)

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Sul21 – E, para terminar: no que a sua atuação na Feira diferirá dos antecessores?

PC – Ontem, eu falei com o presidente João Carneiro. A programação foi levemente alterada para agregar mais alguns eventos de cultura popular. Haverá então quatro ou cinco “momentos originais”, não tradicionalistas. São pessoas vivas que, com roupas originais, remontarão a formação do Rio Grande do Sul. Vão estar tocando se apresentando e cantando lá na feira. E eles terão momentos de saudação onde explicarão ao público o que estão representando, seja mouros ou cristãos, remontando as lutas ibéricas, as desconhecidas manifestações africanas calhambolas e também o tradicionalismo vigente nos dias atuais. Mas tudo ainda tem de ser ajustado ainda. Foi tudo muito intenso nos últimos dias, houve muito trabalho. A abertura será com matraca e não com sino. A matraca é como chamavam as pessoas no interior do estado. Não sei se somos belos ou maravilhosos, sei que somos autênticos e que ajudamos a formar o que está aí. E o pessoal da Feira está sendo sensível aos pedidos simples de um patrono um pouco diferente. (A esposa de Paixão Côrtes, Marina, diz que ele tem uma entrevista marcada com uma rádio de São José do Norte naquele minuto. Não obstante ela estar com o telefone na mão, os dois não têm pressa. Ela diz que foi contra a candidatura a Patrono da Feira.)

Marina – Dá muito trabalho cuidar dele…

PC – Ela diz isso por causa do meu marcapasso. (Sugiro que ele vá no ritmo do marcapasso. Ele dá uma gargalhada, leva-nos calma e gentilmente até a porta. No caminho, diz que ainda não almoçou. Eram 15h30.)

Obs.: Duas perguntas e respostas da entrevista foram copiadas do material escrito que Paixão Côrtes entregou ao Sul21 durante a entrevista. Uma delas é “E as moças?” e a outra foi “E o gaúchos, de onde saíram?”.

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Bom dia, Odair (com o melhor de Inter 0 x 0 Palmeiras)

Bom dia, Odair (com o melhor de Inter 0 x 0 Palmeiras)

Desta vez, tivemos muita sorte, não, Odair? Aquele primeiro tempo era para ter terminado uns 2 x 0 pro Palmeiras, só que não é culpa nossa se as bolas passavam raspando o poste do Lomba, que só olhava, totalmente batido. O placar do jogo foi muito injusto, Odair.

Foste surpreendido pelo meio de campo do Palmeiras, muito mais ativo, marcador e hábil que o nosso. Foi até bom ver aquilo, pois talvez sirva para baixar a crista de certos jogadores — como Patrick — que já se considera craque de bola. Há que estar sempre atento e forte, gente. Acho que erraste feio ao não colocar D`Alessandro logo de cara no início do segundo tempo. A entrada do argentino fez com que mantivéssemos mais a bola e equilibrássemos a partida.

Foi um jogo de 0 x 0 entre duas das melhores defesas do campeonato (a outra é a do Grêmio): não podemos esquecer que o Palmeiras não toma gols há dez jogos consecutivos e o Inter há seis.

Rodrigo Moledo: desta vez, os dois times tinham solidez defensiva | Foto: Ricardo Duarte / SC Internacional
Rodrigo Moledo: desta vez, os dois times tinham solidez defensiva | Foto: Ricardo Duarte / SC Internacional

O fato é que entregamos o miolo do campo para o Palmeiras. O fato é que Zeca jogou muito mal, levando um banho de bola de Hyoran. O fato é que Jonatan Álvez fracassou totalmente e a entrada de Brenner… O fato é que um time que faz a substituição de Jonatan Álvez por Brenner pode ficar feliz de conseguir um 0 x 0, como escreveu o Corneta Colorada.

Então, Odair, abra o olho. Teu time fez uma partida pobre contra o Bahia e ontem, meu deus… Acho que Brenner é um braço roubado à agricultura e pode ser arquivado por um longo tempo. Álvez também é muito fraco. Já que Guerrero está impedido, talvez seja o caso de recolocar Pottker de centroavante.

Sobre o Palmeiras: o time de Felipão me animou muito. Está na Libertadores e é bem melhor do que o Grêmio.

Agora, o Inter tem 42 pontos em 21 jogos, ou seja, exatos e periódicos 66,6% de aproveitamento. Temos ainda 17 partidas por jogar. Dentre estas, 9 em casa e 8 fora. Faltam apenas 3 pontos para passarmos a linha dos rebaixados e 23 para a classificação direta à Libertadores.

O próximo jogo é no dia 2 de setembro, domingo, às 19h, contra o Cruzeiro em BH. Sim, este anos os inícios de turno são complicadíssimos. Na sequência, virão Flamengo e Grêmio no Beira-Rio.

E, já disse, cuide muito bem do time, Odair. Estamos claramente decaindo.

Morreu Claudiomiro, o maior centroavante que vi jogar no Inter

Morreu Claudiomiro, o maior centroavante que vi jogar no Inter

Há poucos dias, publiquei o que segue: “Já se passaram quase 50 anos e não vi ninguém melhor que Claudiomiro na centroavância do Inter. Um monstro”.

Não sabia se estava doente e ontem recebi de surpresa a notícia de sua morte aos 68 anos. Fez 210 gols com a camisa do Inter, sendo o terceiro maior artilheiro da história do clube, ficando apenas atrás de Carlitos e Bodinho.

Observado por Valdomiro, Claudiomiro comemora mais um gol | Foto: CP Memória
Observado por Valdomiro, Claudiomiro comemora mais um gol | Foto: CP Memória

Claudiô era um centroavante completo, forte e hábil, capaz de derrubar ou desconcertar zagueiros com dribles. Não era alto, mas era bom cabeceador. Fez o primeiro gol da história do Beira-Rio de cabeça. Seu apelido era bigorna em razão dos ombros largos e da farta musculatura, depois transformada em gordura.

Lembro especialmente de um gol contra a Ponte Preta. O drible que ele deu no goleiro foi uma obra de arte.

Como jogador, foi derrotado pelo peso. Jogou poucos anos, entre 1967 e 73. Em 73, eu tinha 16 anos. Jamais esquecerei de nosso maior centroavante.

Não perca sua cabeça: após 145 anos, o crânio de Haydn voltou para junto do corpo do compositor

Não perca sua cabeça: após 145 anos, o crânio de Haydn voltou para junto do corpo do compositor

Em vida, Haydn foi considerado um grande revolucionário. Ele, com Mozart (de quem era amigo) e Beethoven (de quem foi professor) formam o trio mais representativo do classicismo musical. Haydn nasceu em 1732 e morreu em 31 de maio de 1809. Sua obra é enorme. Compôs 104 Sinfonias e inúmeros quartetos e outras peças. E nada é curtinho ou mal feito, muito pelo contrário. O cara era um grande talento, como hoje podemos comprovar em milhares de concertos e gravações.

Franz Joseph Haydn (1732-1809)
Franz Joseph Haydn (1732-1809)

A partir da data de sua morte, em 1809, seu crânio (imagem acima) seguiu por surpreendentes caminhos. Haydn foi inicialmente enterrado no cemitério de Hundstaurm, mas pouco depois o administrador da prisão local, Johann Peter, e o secretário do príncipe Esterházy, Carl Rosenbaum, subornaram um coveiro e conseguiram exumar o cadáver para remover sua cabeça. Esses dois homens acreditavam ao pé da letra na frenologia, “ciência” que dizia que todas as habilidades e sentidos, em particular o sentido da música e da harmonia, residiam no formato do crânio. Haydn era pois uma cabeça a ser conquistada e analisada detidamente. A dupla pensou que naquele crânio poderiam encontrar os segredos de uma mente tão capaz, genial para a composição musical.

Frenologia é coisa séria, meu amigo.
Frenologia é coisa séria, meu amigo.

E eles estudaram e estudaram o crânio de Haydn sem chegarem a nenhuma conclusão. Bem, em 1820, o príncipe Esterházy, da família que empregara Haydn por décadas, desejou enviar os restos do compositor para outro momento cemitério mais nobre. Foi quando descobriram que lhe faltava a cabeça. Os primeiros acusados foram justamente Rosenbaum e Peter, que devolveram rapidamente o crânio. Então os restos mortais de Haydn puderam ser transferidos para o cemitério de Eisenstadt, onde foram enterrados.

Só que eles devolveram um crânio qualquer, não o de Haydn. Após a morte de Rosenbaum em 1828, a cabeça autêntica foi entregue a Peter, que fez questão de estabelecer em testamento que a cabeça de Haydn deveria ser entregue, após sua morte, para a Sociedade de Amigos da Música de Viena.

E Peter morreu, claro — afinal estamos narrando coisas do século XIX em pleno século XXI. Só que, após a entrega da cabeça por parte da viúva, um certo Dr. Halle, membro desta Sociedade, vendeu o crânio ao professor de patologia Carl Von Rokitansky, que trabalhava no Instituto de Anatomia de Viena. Mais frenologia.

Com a morte de Rokitansky, seus parentes devolveram a cabeça para a Sociedade de Amigos da Música de Viena. Imaginem que a sociedade ficou com ela até 1954. Neste ano foi construído um mausoléu para o compositor e os construtores entraram em acordo com o cemitério de Eisenstadt e a Sociedade de Amigos da Música de Viena para enfim fazerem o grande reencontro entre cabeça e corpo. Estudos científicos determinaram há poucos anos que a ossada confere. Tudo ali é Haydn. Ou ao menos é tudo a mesma pessoa.

O Mausoléu do compositor no Haydnpark, Viena.
O Mausoléu do compositor no Haydnpark, Viena.

Bom dia, Odair (com os melhores lances de Bahia 0 x 1 Inter)

Bom dia, Odair (com os melhores lances de Bahia 0 x 1 Inter)

O futebol não é justo, felizmente. O Bahia jogou mais, esteve mais com a bola, rondou, rondou, até chutou, mas quem fez o gol foi o Inter. Nosso time se segura com um goleiro que está pegando tudo, uma dupla de zaga sensacional e um volante em fase iluminada. Não sofre gol há 529 minutos. O resto é bom, mas não impressiona. Então, como voltou a acontecer ontem, fazemos um gol e o jogo acaba. O problema é quando temos que tomar a iniciativa, como fomos obrigados que fazer contra o Ceará e o Paraná.

Patrick recebeu passe de Rossi para marcar o gol da vitória | Foto: Ricardo Duarte (SC Internacional)
Patrick recebeu passe de Rossi para marcar o gol da vitória | Foto: Ricardo Duarte (SC Internacional)

O Bahia começou levando mais perigo a nosso gol. Mas uma coisa é chutar, outra é marcar. E, logo após Camilo perder um gol feito, Patrick marcou em cruzamento de Rossi. Destaque para o lançamento espetacular de Edenílson para Rossi. O goleiro do Bahia saiu desesperado e ficou no meio do caminho, naquele gênero de erro que não tem acontecido conosco.

Jogar com Dudu é sempre um perigo. O Bahia pressionava o lado direito de nossa defesa, mas a coisa parecia mais ou menos controlada. O juiz estava estranho, mas minha confiança, assistindo ao jogo num bar, era ainda firme. (O Bahia é bom, não é o Vitória, o Bahia é um time de futebol).

Sem Nico López e Jonatan Álvez, suspensos pelo terceiro amarelo, tu, Odair, colocaste Pottker na frente, Camilo no meio e Rossi na direita, com dupla função: atacar e ajudar Dudu.

A partir do gol, o Inter fez o que detesto: recuou e deixou a bola com o Bahia, esperando a chance do contra-ataque. A dupla Rodrigo Moledo e Cuesta segurou tudo com certa folga.

Em toda esta fase, o Bahia teve apenas uma chance, quando Gilberto, livre, cabeceou desviado.

E seguramos a barra. Com isso, permanecemos no segundo lugar e ainda reduzimos a diferença para o líder São Paulo, que ficou no empate em Curitiba contra o Paraná.

Agora, o Inter chega a 41 pontos ganhos. Foi a quinta vitória consecutiva e a quinta fora do Beira-Rio.

Voltaremos a campo domingo, às 16h, contra o Palmeiras no Beira-Rio. Vamos lotar a casa, certamente. Teremos as voltas dos suspensos, mas Paolo Guerrero não vai jogar. A justiça suíça revogou nesta quinta-feira o efeito suspensivo que o liberava para jogar futebol. Com a decisão, o atacante peruano está impedido de atuar pelo Inter pelos próximos oito meses. E quem comprou a camisa 79, como é que fica? Que fiasco…

Bom dia, Renato (com o que de importante ocorreu em Grêmio 1 x 1 Cruzeiro)

Bom dia, Renato (com o que de importante ocorreu em Grêmio 1 x 1 Cruzeiro)

Por Samuel Sganzerla

Renato, eu vou definir a meu comentário sobre a praia hoje a partir em uma simples colocação: BOTA ESSE TIME TREINAR PÊNALTI, CACETE!

Mais dois pontos perdidos em casa, Renato! Se somar com as outras vezes em que eu disse exatamente isso neste ano, já valia a liderança! Não dá!

Éverton, uma onda irresistível de bom futebol pela esquerda. Já os pênaltis... | gremio.net
Éverton, uma onda irresistível de bom futebol pela esquerda. Já os pênaltis… Bem, isso não é com ele.| gremio.net

Renato, eu te pergunto: por que o Grêmio não quer ganhar o Brasileirão?! Até aquele time MEDÍOCRE do coirmão faz sua parte, mesmo que seja até MENTIROSA a colocação e os resultados recentes, pelo futebol que joga!

Agora, a gente não faz nem isso! Não! O Grêmio se tornou o time que gosta de perder chance atrás de chance de ir à luta, ÀS GANHA, pelo título nacional. Por favor!

E, mais uma vez, lembro o porquê de depois de o Everton Ribeiro ter abrido o placar lá no Maracanã, quarta passada, eu só acreditava se fosse na virada. Porque, se deixar para os pênaltis, a derrota é certa!

Pelamor, Renato! Mais dois pontos perdidos! “O Grêmio tem a posse, é melhor, mas não consegue fazer o gol”: já não aguento mais ver e ler esse comentário

“Pênalti perdido pelo Grêmio”, então, nem se fala! Sério, Renato, tu conheces algum time na história do futebol que perde tanto pênalti?! Eu não!

E um recado final: LUAN, TOMA JEITO, MOLEQUE!

Parece que o negócio mesmo é focar na terça que vem. O São Paulo, mais uma vez, vai levar esse caneco que a gente fica de olho, ali flertando, fazendo carinho, mas nunca pega mesmo! Mas que inferno!

Saudações Tricolores!

E segue o baile!

Bom dia, Odair (com os melhores lances de Inter 1 x 0 Paraná)

Bom dia, Odair (com os melhores lances de Inter 1 x 0 Paraná)

Em jogo emocionante, decidido nos descontos, o Internacional fez 1 x 0 no Paraná na manhã deste domingo (19/08), em partida válida pela 19ª rodada, a última do primeiro turno do Brasileiro. O resultado deixa-nos na segunda colocação, com 38 pontos, ou seja, com exatos 66% de aproveitamento. O líder São Paulo tem 41 e somos seguidos por Flamengo (37), Grêmio (36), Atlético e Palmeiras (ambos com 33).

A partida de ontem foi uma loucura absoluta, de cabo a rabo. Aliás, antes já estava espetacular. Quando saí de casa fiquei uns 20 min na calçada da Rua Santo Antônio, com minha camiseta vermelha, na parada de ônibus esperando o T5. Ia pro Beira-Rio, claro. Então passou um carro, parou, perguntaram-me para onde estava indo e me ofereceram carona. Devia ser sorte de aniversariante. Agradeço aos Drs. Glayton e Arthur, seu filho. Pessoas gentis, que não conhecia, gente de primeiríssima linha.

No primeiro tempo, dominamos inteiramente o jogo. Perdemos muitos gols em situações bem construídas, mas não marcamos. É claro que, com o passar do tempo, o Paraná foi ficando alegrinho e acabou criando algumas situações complicadas para nós.

O segundo tempo foi um horror, passamos 30 minutos sem dar um chute a gol até que a entrada de Rossi começou a fazer a diferença. Nem falo agora de Camilo e Lucca: ambos entraram mal, só que Camilo bateu uma falta e…

O gol de Camilo, que deu o segundo lugar ao Inter | Foto: Ricardo Duarte / SC Internacional
O gol de Camilo, que deu o segundo lugar ao Inter | Foto: Ricardo Duarte / SC Internacional

Como disse, o problema foi termos perdido aquele monte de gols no primeiro tempo. O time estava bem. No segundo tempo, o excelente Patrick afundou, Nico e Pottker desanimaram, Jonatan Álvez nem tocava na bola, estávamos sem jogadas e, pior, sem rebotes. A entrada de Rossi empurrou o time e a torcida e a de Camilo colocou um cara num local que era de amplo domínio do Paraná. Com ele, passamos e lutar pela segunda bola. Lucca nada fez.

Em outras palavras, meu caro Odair, tu mexeste bem no time. Mesmo a a ideia de Lucca foi boa, apesar de não ter funcionado.

O time está bem ajeitado, jogando com segurança defensiva e boas soluções na frente. Apenas demonstrou ontem que se deprime com as chances perdidas. Há que treinar essa pontaria. Parece que o Camilo treina. Que golaço de falta!

Jonatan Álvez — três cartões em três jogos e o cara é centroavante… –, Fabiano, Nico López receberam o terceiro cartão amarelo e não jogam a próxima rodada contra o Bahia em Salvador, no dia 22, às 19h30, na Fonte Nova. O negócio é manter a defesa fechadinha e especular lá na frente. Hoje, somos um adversário muito chato. Sigamos assim!

(Viste como o Grêmio adiar o Gre-Nal, Odair? Viste que eles recém descobriram que as rodadas do Brasileiro às vezes coincidem com as datas da FIFA? Ou estariam com medinho de nosso time, ao qual Renato chamou de “time de segunda divisão”?).

Bom dia, Renato (com os lances de Corinthians 0 x 1 Grêmio)

Bom dia, Renato (com os lances de Corinthians 0 x 1 Grêmio)

Por Samuel Sganzerla

Foi no sábado, então, que fomos até Itaquera, São Paulo, jogar contra o Corinthians a última partida do primeiro turno do Brasileirão 2018. Mais uma vitória na conta, com uma boa atuação do time. Mas vamos falar um pouco sobre as pretensões do Grêmio neste campeonato.

Renato, a eliminação na Copa do Brasil fez com que não pudéssemos mais simplesmente fingir que o Brasileirão não era um título a ser buscado. Sabíamos que era praticamente impossível se dedicar a três competições simultaneamente. Agora, ainda temos a Libertadores, mas o nacional está aí, para se pleitear algo mais neste ano.

Neste sábado, o Grêmio venceu o Corinthians fora de casa | Foto: gremio.net
Neste sábado, o Grêmio venceu o Corinthians fora de casa | Foto: gremio.net

Quando olho para a tabela, 5 pontos de distância para o São Paulo, líder e campeão simbólico do Turno, não parecem muita coisa, pensando que ainda faltam 19 rodadas. Agora, por mais que todos os times possam fazer o mesmo exercício, confesso que vejo que o Grêmio perdeu está liderança para ele mesmo.

Não quero parecer arrogante, Renato, mas, com exceção do Palmeiras, nenhum time da parte de cima da tabela nos derrotou. Basta lembrar lá do início do campeonato, daqueles pontos bobos perdidos em casa. Saímos da Arena, depois de ficar no 0 a 0 contra o Atlético-PR, o coirmão e o Fluminense, com a sensação de que aqueles empates foram vitórias desperdiçadas.

Foram muitos jogos com o time reserva também (incluindo aquela derrota para o Botafogo), o que só foi mais produtivo
depois volta da Copa. Aliás, considerando só este último mês do campeonato, foram 16 pontos em 21 disputados. Um aproveitamento excelente, mas que ainda leva em conta aquela derrota patética para o Vasco e o empate contra a Chape, num jogo que poderíamos ter matado no primeiro tempo.

O que eu quero dizer, Renato, é que poderíamos muito bem estar no topo da tabela. Sei que tu sabes disso também. Mesmo com esse baita campeonato que o Tricolor Paulista está fazendo, sob a batuta de Diego Aguirre, e com o grande elenco que o Flamengo tem, são adversários possíveis de se superar, por mais difícil que seja.

Palmeiras e Cruzeiro eu acredito que se dedicarão mais às outras competições, como fizemos ano passado, até pelo que os dois vêm apresentando no Brasileirão. E, quanto aos demais, não vejo que tenham time e futebol para buscar o título. Claro, vão dizer que é clubismo eu colocar nesse grupo o coirmão, que surpreendeu a todos no primeiro turno – inclusive seus próprios torcedores. Mas é corneta só porque é o rival, já que, caso fosse outro time, seria ANÁLISE. Deixo a metáfora do elefante em cima da árvore para eles, então.

De qualquer forma, Renato, o que a gente espera é que o time mantenha a boa forma e consiga buscar mais 6 pontos nas partidas desta próxima semana. Começamos com o desafio contra o Cruzeiro na Arena, na quarta-feira, e no final de semana vamos a Curitiba, encarar o Furacão – que melhorou bastante, é verdade, mas precisamos recuperar os pontos que perdemos para eles no turno.

Seguimos na luta, acreditando que 2018 pode trazer ainda mais alegrias para o Grêmio do que já trouxe!

Saudações Tricolores!

E segue o baile…

O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa

O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa

Vendedor de Passados AgualusaExcelente livro de José Eduardo Agualusa, O Vendedor de Passados tem como narradora principal uma lagartixa. E esta conta a história de Félix Ventura, um negro albino que vende passados para quem não gosta muito do seu. Seus clientes são prósperos empresários, políticos e militares que têm assegurados seus futuros em Angola. Todavia, falta-lhes um passado que possa ser divulgado. O cartão de visitas de Ventura diz: “Dê a seus filhos um passado melhor”. A lagartixa Eulálio acompanha o trabalho de Félix dentro de sua enorme biblioteca, cheia de recortes de jornais e revistas de várias épocas, para consulta. Afinal, o passado tem de ser plausível, se possível colorido e sedutor. Deve ser real, ou quase.

Se a história de Agualusa é boa, a execução é ainda melhor. Sem spoilers, posso dizer que um dia aparece na casa de Félix um estrangeiro que precisa de uma nova identidade, uma identidade angolana. O livro foca-se neste trabalho. Félix arranja-lhe um passado caprichado, que é curiosamente bem complementado pelo cliente. Tudo acaba de forma surpreendente, deixando em pé a narrativa de Agualusa, a qual conta, ao final, com outros narradores. Não é possível  em alguns trechos identificá-los.

Diz Felix Ventura, citando um escritor:

Sou mentiroso por vocação. Minto com alegria. A literatura é a maneira que um verdadeiro mentiroso tem para se fazer aceitar socialmente.

E o próprio Félix acrescenta:

Acho que aquilo que faço é uma forma avançada de literatura. Também eu crio enredos, invento personagens, mas em vez de os deixar presos dentro de um livro dou-lhes vida, atiro-os para a realidade.

É claro que o livro é uma bela fantasia lúdico-poético-política de Agualusa. Ao final do narrativa, há uma súbita e bem construída tensão. Sim, o cliente não tinha tido vida fácil.

O Vendedor de Passados (2004) foi multi-premiado. É um raro livro simples que não é raso, inteligente sem ser pedante, porém, um tanto paradoxalmente, requer atenção para ser degustado adequadamente.

Recomendo!

A realidade fere, mesmo quando, por instantes, nos parece um sonho. Nos livros está tudo o que existe, muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo o que realmente existe. Entre a vida e os livros, meu filho, escolhe os livros.

José Eduardo Agualusa
José Eduardo Agualusa — fantasia lúdico-poético-política.

Bola em Transe #54: O Caso Ursal — Devaneios sobre Geopolítica e Futebol

Bola em Transe #54: O Caso Ursal — Devaneios sobre Geopolítica e Futebol

Bola em transeNo Bola em Transe dessa semana, analisamos a revelação bombástica feita pelo candidato à Presidente da República Cabo Daciolo sobre a conspiração e a formação da Ursal e suas implicações políticas e esportivas. Nossa, que Seleção teríamos! Também tem Brasileirão e Copa do Brasil. Com Francisco Éboli e Milton Ribeiro.

Bom dia, Renato (com os melhores lances de Flamengo 1 x 0 Grêmio)

Bom dia, Renato (com os melhores lances de Flamengo 1 x 0 Grêmio)

Por Samuel Sganzerla

Pois é, Renato, desde que comecei a escrever por aqui, no final do ano passado, é a primeira vez que venho conversar contigo sobre uma eliminação. Nos mata-mata desta vida, as únicas desclassificações que o Grêmio havia sofrido nesta tua terceira (e vencedora) passagem como técnico haviam sido nos pênaltis. Ontem, foi no campo.

Everton bem marcado. Grêmio chutou pouco no gol do Fla | Foto: gremio.net
Everton bem marcado. Grêmio chutou pouco no gol do Fla | Foto: gremio.net

Se eu quisesse resumir a nossa derrota a chavões de torcedor, Renato, poderia dizer que passou quem errou menos. Diferentemente da primeira partida, o jogo de volta acabou sendo morno. Muito graças ao gol deles, logo no início. Falha infeliz do Cortês, mas também sorte deles. Nada de crucificação.

Porque o Grêmio foi um tanto APÁTICO na maior parte do jogo, Renato. Quando tivermos mais intensidade e velocidade, não conseguimos produzir muito. Predominamos na partida, mas praticamente não criamos chances de gol – e a entrada do Marlos no lugar do Vitinho neutralizou nosso meio campo. Foi um jogo de poucas finalizações.

Enfim, Renato, que bom que não foste teimoso em relação ao Cícero (que vem jogando bem sim, diga-se), colocando Jailson para dar mais velocidade na meia cancha e reforçar a marcação. Tu insististe, porém, com André, que ainda não justificou sua contratação. Ele está precisando não apenas ir para o banco, Renato, mas tomar uma boa chamada do departamento de futebol também.

Enfim, parabéns aos flamenguistas, que fizeram por merecer a classificação, em especial pelo segundo tempo que fizeram aqui na Arena. E, para nós, que esta eliminação, a exemplo daquela do ano passado, traga as lições necessárias.

Temos outras duas competições para nos dedicarmos e buscarmos mais uma taça em 2018. Basta seguir o trabalho, com pé no chão e humildade para corrigir os erros, Renato. Sabemos que é possível. Tenho fé!

Saudações Tricolores!

E segue o baile…

Um (tremendo) concerto secreto em Porto Alegre

Um (tremendo) concerto secreto em Porto Alegre

Porto Alegre é uma cidade curiosa. Parece oferecer pouco, pois as vias de informação em jornal e mesmo na internet passam por uma já longa crise, só que há coisas bem legais para se fazer e que não são descobertas.

O Caderno de Cultura de ZH quase não é lido — tem que ser assinante e muita gente fugiu do jornal por ser de direita e gremista. Na internet, não há um veículo confiável que reúna tudo. A Agenda Lírica ainda está se organizando. Então, os eventos têm de ser meio catados por aí.

Ontem, minha querida Elena avisou: o georgiano Guigla Katsarava vai tocar hoje no Instituto de Artes da Ufrgs, no Auditório Tasso Correa. Sim, sabemos que a Ufrgs não é uma casa de espetáculos. Sabemos também que o organizador do concerto, Ney Fialkow, não trabalha com publicidade. Divulgar algo desse quilate para a cidade seria função para jornalistas, só que… Bem, deixa assim. O que interessa é que fomos.

E vimos o melhor recital do ano na cidade. Katsarava tinha tocado em um concerto com a Ospa em junho do ano passado. Dias depois, apresentou-se na Casa da Música. Ou seja, sabíamos que se tratava de um pianista de impressionante técnica e sonoridade. Presentes na plateia, apenas os especialistas: pianistas, professores e alunos. Imaginem que a pianista Catarina Domenici chegou direto do aeroporto, sabendo que valeria a pena o esforço.

O programa começou com Grieg (Peças Líricas) e seguiu com duas peças de Scriabin. Depois, tivemos a Suíte Nº 2 para dois pianos de Rachmaninov — a partir daqui o excelente Ney Fialkow entrou em cena — e a surpreendente The Garden of Eden: Four Rags for Two Pianos, de William Bolcom. O bis foi talvez a melhor peça da noite: La Valse, de Ravel, em versão para dois pianos.

Ney e Guigla | Foto: Sala Cecília Meirelles
Ney e Guigla | Foto: Sala Cecília Meirelles

O nível esteve sempre lá em cima, foram interpretações de rara sensibilidade, mas gostei menos das obras dos russos Scriabin e Rach do que das outras.

A peça de Grieg é finalizada com a linda Bodas em Troldhaugen. A de Bolcom é puríssimo e fino fun, se posso me expressar assim. E La Valse é a vertiginosa apoteose da valsa vienense. Parece que nunca vai se realizar, mas depois acontece da forma surpreendente e nervosa. Dá a impressão do final de uma época. Ravel aparenta dizer: agora a alegria da valsa tem de lutar para chegar a nossos ouvidos.

Ele mesmo escreveu:

Através de nuvens, são vistos aqui e ali pares que valsam. A névoa se dissipa gradualmente, distinguindo-se um imenso salão povoado por uma multidão que baila. A cena se torna cada vez mais iluminada. As luzes dos candelabros se acendem. Situo este valsa num palácio imperial.

A dupla Katsarava e Fialkow vai se apresentar na Sala Cecília Meirelles amanhã, quinta-feira, no Rio de Janeiro, às 20h. Atenção, cariocas! Eu não perderia por nada. Ah, lá vai ter Bolcom e Ravel!

P.S. — Post escrito às pressas. Peço desculpas.

Bom dia, Odair (com os lances de Fluminense 0 x 3 Inter)

Bom dia, Odair (com os lances de Fluminense 0 x 3 Inter)

O Inter não fez uma partida de encher os olhos contra o Fluminense e, mesmo assim, fez muito mais do que o suficiente. O placar é claro. Nosso início foi frouxo e com muitos erros de passes, no que era respondido à altura pelo Fluminense. E o primeiro gol saiu justamente num erro de passe do Flu. Rodrigo Dourado interceptou uma saída errada de bola e passou a Nico López, que está numa fase tão boa que simplesmente não perde gols. Depois, ainda no primeiro tempo, fizeram Álvez e novamente Nico. Só gols uruguaios, como veem.

Fotos: Ricardo Duarte
Jonatan Álvez e Iago comemoram o segundo gol, obra deles | Fotos: Ricardo Duarte

E o Fluminense desmanchou, é óbvio. Com 0 x 3, o clima não ficou dos melhores. Então, o Inter tirou o pé do acelerador. Tirou tanto que Marcelo Lomba acabou como uma das maiores figuras da partida. Fez defesas incríveis, deixando certamente Danilo Fernandes preocupado em casa. Aliás, Danilo… Deixa pra lá. Afinal, ontem foi dia de vitória das grandes e não vou criticar ninguém.

A vitória é um bom costume e esta não é apenas uma frase sem noção. A vitória acostuma. Depois daquele retrancão no Gre-Nal, o Inter fez 13 jogos. Venceu 9, empatou 3 e perdeu 1. Foram 30 pontos, 24 gols a favor e 9 contra. A gente vem se habituando às vitórias e achando estranho perder. Sabemos que tudo o que é bom acostuma rápido.

Mas é importante saber porque estamos vencendo. A solidez defensiva é fundamental neste processo. Um time que quase não leva gols acaba conseguindo alguma coisa lá na frente. E, quando falo em nossa defesa, digo que ela começa na marcação dos homens da frente, passa pelo meio de campo e chega até os zagueiros. Todo mundo participa e se diverte, principalmente Dourado e Moledo, que têm sido soberbos.

Estamos em terceiro lugar, a três pontos do primeiro colocado. Nesta 18ª rodada, todos os 5 líderes venceram. Temos 35 pontos, e se vencermos a próxima partida, chegaremos à 66% de aproveitamento nestas primeiras 19 rodadas — todo o primeiro turno. Nosso jogo no domingo, às 11h, no Beira-Rio, é contra o lanterna (e touca) Paraná. Não pensem que acho que será fácil.

Bom dia, Renato (com os lances da goleada de 4 x 0 do Grêmio sobre o Vitória)

Bom dia, Renato (com os lances da goleada de 4 x 0 do Grêmio sobre o Vitória)

Por Samuel Sganzerla

Renato, confessa: tu não alternas os times titular e reserva conforme a competição. Tu tens dois times MISTOS, montados para terem bastante equilíbrio e tentarem ir com força máxima em todos os torneios que disputamos. Só pode!

Gols de Douglas e de Jaílson foram comemoradíssimos | gremio.net
Gols de Douglas e de Jaílson foram comemoradíssimos | gremio.net

Porque nada explica a intensidade e a facilidade com que os jogadores “reservas” do Grêmio jogaram nas últimas duas partidas. Está certo que o Vitória não anda lá muito bem das pernas ultimamente. Mas no sábado passado a vítima foi o mesmo Flamengo com que nos preocuparemos até quarta-feira.

O início avassalador do Grêmio ontem deixou a impressão de que, com nem 10 minutos, já poderíamos ter construído uma boa vantagem no placar. E ela veio logo mesmo! Nesse ritmo, não precisamos nem chegar na metade do primeiro para já ter feito 2 a 0.

Depois, o time encaminhou com naturalidade a partida, para ampliar o escore. Sabe como é, Renato, goleada nossa na Arena, no Dia dos Pais, já virou tradição. Algumas delas, inesquecíveis – ontem, só faltou o zagueiro deles marcar um gol contra para fecharmos a mão.

A grande vitória de ontem à noite nos deixa a cinco pontos do líder. Sempre ressaltei que o Brasileirão é extremamente difícil de ser disputado quando se está mirando também a Copa do Brasil e a Libertadores. Mas é bom se manter próximo ao topo. Daqui a pouco, VAI QUE…

Enfim, cumprido o nosso compromisso, o foco agora é depois de amanhã, lá no Rio de Janeiro. Queremos todos, Renato, ver o time “titular” com essa mesma intensidade e brilho de ontem. É difícil, mas é possível. Já fizemos o crime mais de uma vez lá no Maraca.

Que já comecem por lá a acender o braseiro, espetar a carne, ferver a água do chimarrão e gelar a ceva: porque a Nação Tricolor está chegando em terras cariocas para copar, sempre no ritmo do trago, alento e amizade. Que voltemos de lá com a classificação!

Saudações Tricolores, Renato!

E segue o baile…

P.s.: Matheus Henrique é diferenciado. Só manda pararem de comparar o guri com o Arthur. O Rei está lá, começando a brilhar no Barcelona; nossa mais nova prata da casa está começando a escrever sua história com o Manto Tricolor agora. Deixa ele seguir o seu tempo!