Desinformado, pobre blogueiro recalcado e formatado

Concedo direito de resposta ao maestro Tiago Flores, que se julgou atacado por este post. O pedido foi feito por e-mail e imediatamente atendido.

Num recente post em seu blog, o blogueiro Milton Ribeiro fez críticas desqualificadas e rebaixou o debate a respeito de música erudita e popular ao pior nível já visto, citando inclusive Aury Hilário, que coloca sua opinião sobre o tema sem jamais ser ofensivo. No caso de Milton, que atacou universidades, artistas, regentes, público e empresas financiadoras de iniciativas culturais e até mesmo o jornalista Juarez Fonseca, há uma clara vocação à critica esvaziada, motivada, talvez, por recalque.

A Orquestra da Ulbra, dirigida e regida pior mim, citada no referido post, realiza, em média, 25 concertos por ano. Destes, ao menos 20 são de execução da música orquestral tradicional com obras do período barroco, clássico, romântico, século XX e XXI. São realizados, anualmente, cerca de quatro Concertos Dana com repertório popular de diversas linguagens: rock internacional, rock nacional, tradicionalista, entre outros. Diferentemente do que diz em seu blog, os concertos não misturam dois gêneros musicais. Ora, tocar música popular com orquestra é apenas utilizar outros instrumentos na execução das obras, e não há mistura de gêneros. O que acontece é mistura de timbres. Isso se faz tanto na música erudita quanto popular.

É puro desrespeito dizer que os concertos são “pura vulgaridade” [sic] e que tocar música popular com orquestra é “bagaceiro” [sic]. Comentário que revela tremendo preconceito do comentarista.

Os concertos Dana são realizados desde 2001 e se consolidaram como uma iniciativa de grande repercussão na agenda cultural do Estado. Para além da atração do público jovem, que a partir deste contato acompanha outros concertos tradicionais, uma importante troca cultural e promoção de artistas nacionais e locais é oportunizado por esta experiência. Entre os artistas que já se apresentaram com a Orquestra nos ditos “bagaceiros” [sic] concertos estiveram Zeca Baleiro, Yamandu Costa, Edu Lobo, Nico Nicolaiewsky, Fernanda Takai, Vitor Ramil, Kleiton & Kledir, Victor Hugo, Bebeto Alves e Antonio Villeroy, apenas para citar alguns. Além disso, realizei em 2014 outros concertos “vulgares” [sic]: OSPA com Gilberto Gil e Orquestra da ULBRA com Lenine. Os artistas convidados adoraram o trabalho. O público ficou extasiado. Os músicos participantes sentiram-se honrados. Porque a música popular não pode ser tocada por orquestras?

Num de seus comentários ofensivos, o blogueiro utiliza (sem autorização) foto de Concerto da Orquestra da Ulbra com a legenda: “Ulbra acabando com os Beatles”. O referido concerto teve público recorde no salão de Atos da UFRGS em quatro edições, além de 42 músicos (entre os melhores de Porto Alegre) em palco. Para realização deste concerto foram contratados arranjadores reconhecidos, sem contar que o referido espetáculo ganhou, em 2008, Prêmio Açorianos – importante reconhecimento da cultura local promovido pela Prefeitura da Capital com júri especializado.

O espetáculo foi bastante elogiado e os profissionais envolvidos, sem exceção, falaram entusiasticamente bem do show. Não eram arranjos fáceis ou mal escritos como citado o blog. Alguns, inclusive, muito complexos. Apenas para que se tenha uma ideia, nomeio alguns eruditos professores do IA da UFRGS como Fernando Mattos, Daniel Wolff e Lúcia Carpena envolvidos no projeto. Por isso, inicio este texto de esclarecimento referindo-me ao blogueiro como um crítico vazio, um comentarista não especializado que vem prestando um desserviço a quem quer se informar sobre música e cultura em nosso estado.

Por fim, seguindo a lógica do blog, o próximo ataque é “O que estas orquestras têm feito… repertório nhemnhemnhem para ignorantes, com a desculpa da formação de público”. De todas as ofensas descritas, esta é a pior, passando totalmente dos limites do respeito. Chamar o público de ignorante é de uma arrogância sem proporções. A ideia não é formar público e sim proporcionar à comunidade contato com orquestra, conhecer novos instrumentos e novos timbres. Não é preciso desculpas para tocar música popular. Tocamos porque gostamos, porque o público assiste e porque tem muito valor.

Repito aqui as palavras do Juarez Fonseca: deixe-me trabalhar em paz e, por favor, pare de escrever sobre música sem informação e sem formação. Dê solidez e embasamento às suas palavras ou serão apenas formas mortas da (in)formação. Aliás, não se compare ao referido jornalista mencionando que ele deu uma “escorregada”. Ele é um dos mais respeitados comunicadores do estado, e a diferença entre a carreira de vocês é a grande prova disso.

Tiago Flores
Músico Regente
Diretor artístico da OSPA
Diretor Artístico da Orquestra de Câmara da Ulbra