Do escárnio: e o cara continua senador, graças ao impoluto “Supremo”

Do escárnio: e o cara continua senador, graças ao impoluto “Supremo”

Transcrito pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, no despacho responsável por afastar o tucano, obtido e divulgado nesta quinta-feira (18d maio) pelo site Buzzfeed Brasil, a conversa revela como Aécio queria interromper a Operação Lava Jato.

“Ministro da Justiça é ‘um bosta de um caralho'”

aecio gilmar

Aécio — Esses vazamentos, essa porra toda, é uma ilegalidade.

Joesley — Não vai parar com essa merda?

Aécio — Cara, nós tamos vendo (…) Primeiro temos dois caras frágeis pra caralho nessa história é o Eunício [Oliveira, presidente do Senado] e o Rodrigo [Maia, presidente da Câmara], o Rodrigo especialmente também, tinha que dar uma apertada nele que nós tamos vendo o texto (…) na terça-feira.

Joesley — Texto do quê?

Aécio — Não… São duas coisas, primeiro cortar o pra trás (…) de quem doa e de quem recebeu.

Joesley — E de quem recebeu.

Aécio — Tudo. Acabar com tudo esses crimes de falsidade ideológica, papapá, que é que na, na, na mão [dupla], texto pronto nãnã. O Eunício afirmando que tá com colhão pra votar, nós tamo (sic). Porque o negócio agora não dá para ser mais na surdina, tem que ser o seguinte: todo mundo assinar, o PSDB vai assinar, o PT vai assinar, o PMDB vai assinar, tá montada. A ideia é votar na… Porque o Rodrigo devolveu aquela tal das Dez Medidas, a gente vai votar naquelas dez… Naquela merda das Dez Medidas toda essa porra. O que eu tô sentindo? Trabalhando nisso igual um louco.

Joesley — Lógico.

Aécio — O Rodrigo enquanto não chega nele essa merda direto, né?

Joesley — Todo mundo fica com essa. Não…

Aécio — E, meio de lado, não, meio de leve, meio de raspão, né, não vou morrer. O cara, cê tinha que mandar um, um, cê tem ajudado esses caras pra caralho, tinha que mandar um recado pro Rodrigo, alguém seu, tem que votar essa merda de qualquer maneira, assustar um pouco, eu tô assustando ele, entendeu? Se falar coisa sua aí… forte. Não que isso? Resolvido isso tem que entrar no abuso de autoridade… O que esse Congresso tem que fazer. Agora tá uma zona por quê? O Eunício não é o Renan.

Joesley — Já andaram batendo no Eunício aí, né? Já andaram batendo nas coisas do Eunício, negócio da empresa dele, não sei o quê.

Aécio — Ontem até… Eu voltei com o Michel ontem, só eu e o Michel, pra saber também se o cara vai bancar, entendeu? Diz que banca, porque tem que sancionar essa merda, imagina bota cara.

Joesley — E aí ele chega lá e amarela.

Aécio — Aí o povo vai pra rua e ele amarela . Apesar que a turma no torno dele, o Moreira [Franco], esse povo, o próprio [Eliseu] Padilha não vai deixar escapulir. Então chegando finalmente a porra do texto, tá na mão do Eunício.

(…)

Joesley — Esse é bom?

Aécio — Tá na cadeira (…). O ministro é um bosta de um caralho , que não dá um alô, peba, está passando mal de saúde pede pra sair. Michel tá doido. Veio só eu e ele ontem de São Paulo, mandou um cara lá no Osmar Serraglio, porque ele errou de novo de nomear essa porra desse (…). Porque aí mexia na PF. O que que vai acontecer agora? Vai vim um inquérito de uma porrada de gente, caralho, eles são tão bunda mole que eles não (têm) o cara que vai distribuir os inquéritos para o delegado. Você tem lá cem, sei lá, 2.000 delegados da Polícia Federal. Você tem que escolher dez caras, né?, do Moreira, que interessa a ele vai pro João.

Joesley — Pro João.

Aécio — É. O Aécio vai pro Zé (…)

[Vozes intercaladas]

Aécio — Tem que tirar esse cara.

Joesley — É, pô. Esse cara já era. Tá doido.

Aécio — E o motivo igual a esse?

Joesley — Claro. Criou o clima.

Aécio — É ele próprio já estava até preparado para sair.

Joesley — Claro. Criou o clima.

“Como vou entrar numa merda dessa sem advogado?”

A TV Globo também divulgou outro trecho da conversa entre os dois que se refere à negociação de R$ 2 milhões pedidos pelo tucano ao empresário. Na conversa, Aécio indica o primo, Frederico Medeiros, para receber o dinheiro, que seria para pagar o advogado de defesa do senador afastado no processo da Lava Jato.

Aécio também cita a irmã, Andrea Neves, que foi presa nesta quinta-feira. Veja o diálogo:

Joesley – Deixa eu te falar dois assuntos aqui, rapidinho. É…a tua irmã teve lá.

Aécio – Obrigado por ter recebido ela lá

Joesley – Tá…ela me falou de fazer dois milhões, pra tratar de advogado …primeira coisa, num dá pra ser isso mais. Tem que ser….

Aécio – É?

Joesley – Tem que ser. Eu acho pelo que a gente tá vendo tudo, pra mim e pra você… vai ser, a primeira coisa

Aécio – Por que os dois que eu tava pensando era trabalhar (no processo)

Joesley – Eu sei, aí é que tá

Aécio – ….. assim ó …. toma não tem, pronto. Primeira coisa. Eu consigo (…) que é pouco, mas é das minhas é das minhas lojinhas, que eu tenho, que caiu a venda pa caralho

Aécio – [Risos]

Joesley – É rapaz, isso aqui era setecentos, oitocentos.

Aécio – Como é que a gente combina?

Joesley – Tem que ver, você vai lá em casa ou ….

Aécio – O FRED

Joesley – Se for o FRED eu ponho um menino meu pra ir. Se for você sou eu. [risos] Só pra…

Aécio  – Pode ser desse jeito…risos

Joesley – Entendeu. Tem que ser entre dois, não dá pra ser…

Aécio – Tem que ser um que a gente mata eles antes dele fazer delação [risos]

Joesley – [Risos] Eu e você. Pronto… ou FRED e um cara desses…pronto

Aécio – V amos combinar o FRED com um cara desse . Porque ele sai lá e vai no cara. Isso vai me dar uma ajuda do caralho. Não tenho dinheiro pra pagar nada. (…). Sabe porque eu tenho que segurar esse advogado. (…) Porque não tem mais, não tem ninguém que ajuda

Joesley – E do jeito que tá…

Aécio – Antes de ter mandado a ANDREA lá eu passei dez noites sem dormir direito . Falei não vou não porque o cara já me ajudou pra caralho. Mas não tem jeito, eu vou entrar numa merda dessa sem advogado?

Joesley  – Você tá certo.

Aécio – Faz como?

Joesley – Pronto. O menino entra em contato com o FRED.

Aécio – O menino liga pro FRED. O FRED já sai de lá e já deixa na casa do cara e acabou.

Joesley – Pronto. Quinhentos por semana pá pá pá. Eu acho que eu consigo. A partir da semana que vem.

Aécio – Primeiro liga pro FRED

Joesley – Pronto, eles se acertam

O documento conlcui: “Como se vê da transcrição, Joesley e o Senador Aécio Neves, numa reunião intermediada pela irmã do parlamentar, Andrea, que já havia sido a portadora da solicitação da vantagem indevida feita por seu irmão, acertam o pagamento de 2 milhões de reais, em quatro parcelas semanais, a serem recebidos por um intermediário, no caso, seu primo Frederico Medeiros (FRED)”.

Quando Paul McCartney usa o transporte público

Quando Paul McCartney usa o transporte público

Uma boa cidade não é aquela em que até os pobres andam de carro, mas aquela em que até os ricos usam transporte público.
Enrique Peñalosa

Na foto, Sir Paul McCartney num trem em Londres, sozinho, esta semana. Entrou nele na estação de King’s Cross, aquela enorme, bem no centrão. Quem o viu disse que estava sozinho e passou o tempo olhando o seu celular e lendo jornal. Paul foi abordado por umas quatro pessoas. Foi educado, não quis fotos e comentou sobre o novo álbum que vai lançar.

É uma imagem mais significava do que as do Chico Buarque comprando pão e o Caetano atravessando a rua.

Paul McCartney

A mais feliz das músicas (mesmo)

Joseph_Haydn,_målning_av_Thomas_Hardy_från_1792O pai da sinfonia. O sentimento geral é de que Haydn poderia ser tão bom quanto Mozart se não tivesse sido tão incuravelmente feliz durante a vida. Esse espírito de contentamento insinuou-se por toda sua música e diluiu-a. As últimas sinfonias foram compostas em Londres para ganhar dinheiro vivo e a sombra do contrato que pairava sobre ele acrescentou-lhe aquela pitadinha de desgraça que tanto lhe faltara antes. Talvez somente um homem verdadeiramente sem coração poderia ter composto algo tão assombrosamente feliz quanto o final da Sinfonia Nº 88.

Peter Gammond

E não esqueça.

Estudar (e amar) faz bem

Estudar (e amar) faz bem

Um ganho secundário do Almoço Clio Musical é a necessidade de estudar. Mesmo que não seja necessária uma dedicação exaustiva, pesquisar, estudar e escrever sempre me animam muito. Ontem, cheguei meio mal-humorado em casa, com aquela sensação ruim de atraso em coisas que precisam de tempo para serem desenvolvidas. Era o final da tarde e ainda dei mil voltas procrastinatórias. Depois, pensei que se começasse apenas a me organizar para o trabalho, ele se encaminharia naturalmente. Claro, a coisa engrenou e comecei a me sentir cada vez melhor e melhor, chegando quase a algum início de euforia. E tudo ficou (bem) encaminhado. Escrevi bastante sobre o tema A Sinfonia, Parte I: das Origens ao Classicismo.

Então, perto das das 22h, fui buscar a Elena no ensaio da Ospa. Para este bobo apaixonado é sempre uma alegria vê-la e revê-la, mesmo que o intervalo seja de segundos. Fiquei esperando por ela e dei risada com um colega seu de Ospa que me disse que “havia abutres rondando meu avião”. Tá bom. Eu e ela voltamos abraçados, caminhando naquela velocidade que fica entre o medo de ser assaltado e a elegância. Jantamos e pensei no tempo que dura a alegria de fazer um trabalho intelectual, mesmo que este não seja uma loucura de complicado e se este pode ser catalisado por outros fatos da vida diária. E concluí que devo repetir e repetir, ainda que sem o incentivo do Almoço Clio. Ou correr pela rua, pois ambas são atividades que me fazem retornar a um melhor equilíbrio.

Hoje pela manhã, dei uma reajustada na alegria. Caminhei até o trabalho com a 9ª de Mahler nos fones. Sim, é uma tragédia, mas o contato com uma uma realização daquelas sempre me deixa feliz. Ao meio-dia, após um almoço rápido, usei a meia-hora restante dando-me novo empurrão lendo De Amor e Trevas, de Amós Oz, na Biblioteca Pública. É muita sorte trabalhar na mesma quadra que a BPE. A gente ganha mal mas tem sorte.

Acho que tenho que dar um jeitinho de tornar mais frequentes esses estímulos que me deixam feliz. Todos eles. Afinal, estou por fazer 60 anos e é, digamos, minha reta final.

Joseph Haydn: o herói desta edição do Almoço Clio Musical.
Joseph Haydn: o herói desta edição do Almoço Clio Musical.

Bom dia, Guto (com os melhores lances de Brasil 0 x 1 Inter)

Bom dia, Guto (com os melhores lances de Brasil 0 x 1 Inter)

O fato é que o Inter jogou bem melhor contra o Brasil do que contra o Paraná mesmo que, infantil e maldosamente, a RBS tenha tentado colocar a partida sob suspeição. O fato é que o Beira-Rio perturba nosso time e que ele rende melhor fora de casa, onde as vaias não pegam tanto. Contra o Paraná, terça-feira passada, chegamos ao fundo do poço. Foi uma das piores partidas que jogamos em muitos anos e olha que há um bom leque de apresentações abaixo da crítica.

Consagre-se, Guto, a Série B é uma barbada | Foto: Ricardo Duarte
Consagre-se, Guto, a Série B é uma barbada | Foto: Ricardo Duarte

Já contra o Brasil, mantivemos alguma compostura defensiva e perdemos gols e mais gols que permitiriam acabar a partida com tranquilidade. Cirino e Diego demonstraram pontaria zero em três lances que, ainda bem, não foram capitais para o resultado do jogo. Cirino chegou obter uma coisa impossível: uma rosca de cabeça. Antes da bola chegar, ele já a estava cabeceando. Uma coisa que mostra que o moço não tem a menor capacidade motora. Melhor faria se fosse estudar. Vejam abaixo o “Ensina, Romário” deste domingo com as duas chances perdidas por Cirino (as duas primeiras) e a de Diego:

O esquema adotado por ti, Guto Ferreira, foi aquele conhecido de todos e que deveria ser aplicado em todo time desentrosado ou ruim: o velho 4-4-2 brasileiro e suas variações. Se o time não joga junto, se o time não consegue nem disputar o meio-de-campo com o esquema da moda (4-2-3-1), melhor adotar aquilo que todos conhecem e sabem. Deixa a cultura tática para quando o 4-4-2 estiver mais ou menos treinado ou os passes mais corretos. É pura questão de bom senso.

Sasha não jogou nada, mas Diego e Cirino foram ainda piores. Brenner fez a jogada do gol e só por isso não vou criticá-lo. Charles e Edenílson deram para o gasto. Fabinho é o melhor lateral direito do grupo, por incrível que pareça, mas Winck deve ser testado ali ou na meia. Apesar de não ser uma Brastemp, Klaus é infinitamente superior a Léo Ortiz. Faz o básico. Conjunto a gente não tem, mas no 4-4-2 tivemos jogadores postados em suas posições corretas, sem deixar aquele buraco no meio-de-campo para o adversário trabalhar.

Desta forma, tivemos uma atuação singela e correta, nada demais, mas que, se mantida, será suficiente para levar o Inter para a Série A. Fico feliz de tu teres duas semanas com jogos apenas nos sábados. Poderás trabalhar e talvez dar algumas qualidades a mais a um time que ainda não mostrou que pode vencer em casa.

Há alguns dados surpreendentes, Guto:

  1. Temos a melhor defesa do campeonato.
  2. Temos a melhor campanha fora de casa da Série B.
  3. O site de estatísticas de futebol Chance de Gol já dá 96,1% de chances do Inter voltar à Série A em 2018.

A Série B, Guto, é uma barbada. Para vencê-la ou para ficar entre os 4 primeiros, é só jogar um pouquinho com um alguma organização. Tu tens tudo para ser o técnico que levou o Inter de Volta para a A. Consagre-se, por favor!

O próximo jogo do Inter é sábado (1) contra o Boa Esporte, às 16h30 no Beira-Rio. Estamos em 4º lugar. O Boa Esporte em 15º. Consagre-se, Guto!

Porque hoje é sábado, Kate Moss

Porque hoje é sábado, Kate Moss

Enquanto a Bíblia da nova religião do Politicamente Correto

— pois é disso que se trata — não nos impedir de achar bonitas algumas mulheres

(pois, ao afirmamos tal fato, caímos no pecado da Objetificação),

(pois, elogiamos umas em detrimento de outras que são ou mais feias,

ou menos atraentes ou decididamente feias),

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distingo um dos mais belos rostos que conheço: o da londrina Kate Moss.

Muitas vezes pensei no que torna uma pessoa bonita.

É a simetria? As pessoas lindas seriam as portadoras da média das feições de todos nós?

Seria a perfeita adequação a sua etnia? Ou à cultura vigente?

Que critérios deveria seguir um desenhista para criar um belo rosto? Existe isso?

Porque o rosto de Kate Moss não me parece nem um modelo de simetria,

nem a média da população, nem o modelo exato de inglesa — até pelo contrário —

nem me parece ser cultural minha adoração por ele. Read More

Agualusa é o vencedor do International DUBLIN Literary Award com Teoria Geral do Esquecimento

Agualusa é o vencedor do International DUBLIN Literary Award com Teoria Geral do Esquecimento

Com o Publico.pt

Teoria Geral do Esquecimento, excelente romance de José Eduardo Agualusa resenhado aqui por nós, acaba de receber o International DUBLIN Literary Award, atribuído à edição em inglês do romance, A General Theory of Oblivion. 

O angolano José Eduardo Agualusa
O angolano José Eduardo Agualusa

“É uma alegria grande”, disse José Eduardo Agualusa ao Público.pt, pouco depois de ser conhecida a notícia de que é o primeiro autor de língua portuguesa a vencer um dos mais prestigiados prêmios literários mundiais. “Uma alegria por haver muito bons livros em competição, porque a atribuição é decidida pelas bibliotecas públicas, o que me parece excelente, e porque é uma forma de dar visibilidade a culturas periféricas, já que as obras escolhidas não têm de ser escritas originalmente em língua inglesa, apenas publicadas em inglês”, completou o escritor.

Criado em 1996, este é, em termos financeiros, o maior prêmio literário para uma obra de ficção publicada em língua inglesa. São cem mil euros, montante a dividir entre autor e tradutor (75 mil para o primeiro, 25 mil para o segundo) quando se trata de uma obra originalmente escrita em outro idioma.

A General Theory of Oblivion concorria com obras do escritor turco (e Nobel da Literatura) Orhan Pamuk (A Strangeness in My Mind, — Uma Sensação Estranha, no Brasil), do moçambicano Mia Couto (A Confissão da Leoa), da irlandesa Anne Enright (Man Booker Prize em 2007), com The Green Road. Dos dez finalistas – que incluíam ainda o vietnamita Viet Thanhn Nguyen (vencedor do Pulitzer em 2016 com The Sympathizer), o austríaco Robert Seethaler (A Whole Life), o norueguês Kim Leine (The Prophets of Eternal Fjord), a mexicana Valeria Luiselli (The Story of My Teeth), a nigeriana Chinelo Okparanta (Under the Udala Trees) e Hanya Yanagihara (A Little Life). Agualusa diz ter lido “apenas o livro do Mia”, de quem é amigo e a quem ligou imediatamente após a notícia da atribuição do prêmio: “Se pudesse, gostaria de ter ganhado com ele.”

Bom dia, Guto (com uma seleção especial dos melhores — :¬) — lances de Inter 0 x 0 Paraná)

Bom dia, Guto (com uma seleção especial dos melhores — :¬) — lances de Inter 0 x 0 Paraná)

Ontem, quando li a escalação do Inter, já comecei a brincar no Facebook: “E daí, coloradagem? Preparados para o bom futebol?”. Pois não há o que resista a um time daqueles, ainda mais sem preparo físico. (Aliás, ontem foi a vez de Nico López ter sua lesão muscular. É um ou dois lesionados por jogo, como aviso há semanas… E lesão muscular é um mês fora, como todos sabem).

Não teve nem pressão inicial, o time apenas sucumbiu contra um Paraná que consegue ser igual. Passes errados, um buraco no meio de campo, nervosismo e, infelizmente, a regra é clara: são apenas 3 substituições.

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Quer saber o que eu faria, Guto? Contrataria um preparador físico de primeira linha, colocaria o sub 23 em campo e prepararia os chamados titulares para poderem correr, saltar, amar, viver e sonhar. Treinaria posicionamento e tentaria dar aquele pouquinho de futebol que seria suficiente para disparar num campeonato de nível técnico rasante. E o sub 23 está voando nos campeonatos que disputa. Não pode ser pior que o que vimos ontem. Nada pode ser pior. Fomos derrotados, apesar da sorte de termos somado um ponto. Não há o que comentar. Ninguém joga nada. E temos bons jogadores. Danilo Fernandes, Cuesta, D`Alessandro — coitado, não consegue nem correr –, Pottker, Dourado, Nico, Uendel, etc.

Não creio que tu sejas o cara que escala o time, Guto. Senão, Juan jogaria. Toda vez que ele entra, entra bem. Ontem, eu dava gargalhadas cada vez que Cirino pegava a bola. O cara é um completo inútil! Certamente um empresário o escala. Tu disseste que ele é competitivo… Não seja ridículo, por favor. E ri também quando Nando Gross lembrou Cláudio Cabral e disse: “O Inter treina para aprimorar a ruindade”.

Contratações erradas — nenhum armador, montes de zagueiros lamentáveis –, dispensa do preparador físico João Goulart e treinadores manipuláveis por interesses empresariais é o molho onde estamos nos afogando. Não estou vendo perspectivas sem que mude a diretoria. Não dá para impichar Marcelo Medeiros por vassalagem a Fernando Carvalho?

Olha, Guto, acho que teu reinado será breve. Ninguém escala assim sem ser odiado pela torcida. E sabe a TV? Pois é, todo mundo vê.

E os times da Série B são ridículos. Trata-se do Campeonato mais fácil que disputamos em anos. Era para disparar na frente e bocejar a cada nova vitória.

Menos mal que não há Gre-Nal marcado. Nosso próximo jogo é contra o Brasil-PE no Bento Freitas, sábado, às 16h30. Talvez eu TORÇA para eles. Gosto muito do Xavante.

Carta a um jovem poeta de 23 anos

Carta a um jovem poeta de 23 anos

Recebi este e-mail. Como ainda não pedi permissão para publicar o nome do autor, este fica por enquanto anônimo.

Olá, Milton. Há algum tempo que acompanho seu blog. Como vi no seu curriculum vitae que você possui uma certa sistematização de suas leituras, anotando cada livro lido (com seu número de páginas), e que possui uma vasta bagagem cultural, gostaria de saber como você concilia o trabalho e outras atividades pessoais à leitura de tantas obras literárias e quanto tempo por dia, em média, dedica-se a esse intento. Pergunto isso por me deparar com uma vasta quantidade de clássicos diante de mim e não possuir o tempo que gostaria para apreciá-los. Quantos livros é possível ler em 1 mês? Refiro-me aos grandes: Joyce, Proust, Thomas Mann, Musil, Faulkner… E, para finalizar, já que você sabe quantos livros e páginas leu desde 1971, poderia me dizer quantos foram? Curiosidade de um jovem de 23 anos diante de um abismo de ignorância a ser sobrepujado.

Georges Seurat [ Man Reading ] 1884
Georges Seurat [ Man Reading ] 1884

Em primeiro lugar, não acho que a tal bagagem seja tão grande. O tamanho que possa ter está mais ligado ao tempo em que estou vivo do que a uma suposta sistematização. Em segundo lugar, leio muita ficção e crítica literária, mas não sei nada de filosofia, política e de muitos outros assuntos. Posso ter conhecimentos hipertrofiados aqui e ali, mas fico constrangido quando me chamam de “pessoa culta” porque não ignoro minhas atrofias acolá. Elas me impedem muitos movimentos. O pouco que li e sei não é fruto de uma fórmula pré-determinada e clara, mas tenho certeza de que começa pelo pequeno hábito de ter SEMPRE um livro à mão. SEMPRE significa SEMPRE. Tá bom, não levo o livro que estou lendo ao futebol nem tomo banho com ele ao lado, mas nas outras circunstâncias há sempre um objeto desses por perto. Por exemplo, no último sábado à noite tive de ir a um bar buscar minha filha e amigas. Eu estava saindo de um cinema, era quase meia-noite. Os pessoas costumam perguntar “Para que sair em pleno sábado à noite com um livro?”. É, mas olha só: eu já estava chegando ao bar onde ela estava me esperando quando recebi um telefonema. Uma amiga tinha recém chegado e elas queriam ficar mais meia hora, uma hora. Sem problemas. Ganhei um tempo de leitura num café. Foi bom.

Na correria em que vivemos, sobram muitos espaços de espera. Fazemos inúmeros deslocamentos durante o dia. Garanto que hoje leio mais fora de casa do que sentado confortavelmente. Leio a qualquer hora e já me acostumei com as súbitas interrupções. Outra coisa, se conseguirmos sentar, os ônibus são locais muito bons para ler. Não consigo ler em pé no ônibus porque carrego uma tralha pesada demais e tenho medo que alguém aperte este notebook onde te escrevo. Já no metrô a coisa volta a ficar possível, desde que abraçado a uma daquelas colunas (“pole reading?”).

Aproveito também meu horário de almoço. A lei me dá 1 hora, por enquanto. Então, falo minha refeição em 30 min e subo correndo até a Biblioteca Pública, perto do meu emprego no centro de Porto Alegre, para ganhar 30 min de leitura. Isto me acalma e reorganiza. É um oásis em meio à loucura diária.

Não sei quanto tempo dedico-me a ler e nem me programo. Eu abandonei a leitura antes de dormir, pois o sono me vence facilmente. Há o time eater do facebook, quase inevitável, mas que deve ser dosado.

[ Charlotte Greenwood ] 1928
[ Charlotte Greenwood ] 1928

Quando jovem, fui mais obsessivo e cuidava para ler um mínimo de 30 páginas por dia. Hoje, um negócio desses é inviável. Leio o que dá, quando dá. Outra coisa: não se force a ler o que não gosta. Não adianta. A gente demora muito lendo coisas chatas, pois é penoso manter a atenção. Shakespeare ensina que “ONDE NÃO HÁ PRAZER NÃO HÁ PROVEITO”. É uma verdade. Se não houver prazer, você vai esquecer do que leu. Ler é diversão. Não adianta, se você achar algum Faulkner um saco, mude de livro ou de autor. Se você passar a amar, por exemplo, Kafka, atire-se sobre ele como se sua vida dependesse disso. Em algum momento, Kafka dialogará com outro livro e fará a indicação de quem deve ser lido logo após. Sim, os livros dialogam entre si. Um cita outro ou você, na sua ânsia de descobrir mais fatos sobre um autor de que gosta, pesquisará em qualquer lugar e encontrará outras obras afins pelo caminho. Terá curiosidade sobre elas e a impressão de que são eles, os livros, que te obrigam a lê-los, se formará. Meu who`s next é inteiramente regido por essas escolhas que “eles” fazem entre si.

Houve uma época em que li todos os romances de Balzac em sequência. Só que isso só pode ser feito se você gostar mesmo do autor. Se você não suportar a pieguice de Dickens, não o enfrente. Com o tempo, algum outro autor lhe dirá que há apenas dois Dickens que são muitíssimo bons: Pickwick e Grandes Esperanças. É importante uma boa primeira abordagem, por isso, inicie Flaubert por Madame Bovary, Balzac por Ilusões Perdidas ou Pai Goriot — talvez A Prima Bette — e Joyce por Ulisses ou Retrato do Artista Quando Jovem; evite começá-los pelo duvidoso Salambô, pelo ridículo A Mulher de Trinta Anos ou por Finnegans Wake, ilegível para 99,9% dos mortais mesmo em português, including me.

Eu só aconselho a amar de paixão dois autores que realmente são fundamentais para quem nasceu no Brasil: Machado de Assis e Guimarães Rosa. Não é difícil amá-los e mesmo a prosa à principio intrincada de Rosa passa a funcionar após algumas páginas de sofrimento. Ela requer alguma adaptação mental do leitor, mas o pequeno esforço vale a pena. E como!

Como escrevi no Curriculum Vitae, tinha anotados todos os livros que li. Parei com isso há uns 5 anos. Tinha tudo num caderno, não no Excel. Fazia uma espécie de tabulação anual. Cada louco com sua mania, OK? Posso te dizer é que lia de 18 a 20.000 páginas por ano quando tinha entre 16 e 30 anos, 3.000 páginas nos anos em que meus filhos nasceram, e que hoje fico lá pelas 7 ou 8.000 paginas. Escrever em 2 blogs toma algum tempo, mas escrever me é sempre prazeroso e sou rápido. É impossível dizer quantos livros se lê por mês, se for poesia dá para ler vários, se for Ulysses, dará mais de um.

Bom, era isso. Para ti, FP, o bom seria começar por Doutor Fausto, de Thomas Mann, traduzido por meu amigo Herbert Caro. É uma das maiores obras literárias que conheço e fala bastante de uma coisa que amamos muito.

Grande abraço.

Dora Carrington [ Portrait of Lytton Strachey ] 1916
Dora Carrington [ Portrait of Lytton Strachey ] 1916

Bom dia, Guto (com os melhores lances de Santa Cruz 0 x 0 Inter)

Bom dia, Guto (com os melhores lances de Santa Cruz 0 x 0 Inter)

Sabem como terminei meu último “Bom dia, Guto”? Assim ó:

O próximo jogo do desfalcado Inter é contra o Santa Cruz, sábado, em Recife, às 16h30. Aguardamos mais lesões musculares.

E tivemos mais duas: Danilo Silva e Ernando. Não, não sou brilhante nem tenho bola de cristal. É que não adianta, gente. Se o Inter contratasse o Messi e o Cristiano Ronaldo, eles encontrariam uma bagunça tão grande lá dentro que (1) não poderiam explorar todo seu potencial num time sem esquema e (2) iriam parar logo no Departamento Médico porque não há preparação física decente no Beira-Rio.

Agora, temos os zagueiros Víctor Cuesta, Danilo Silva e Ernando lesionados; o primeiro, com um problema na coxa esquerda, enquanto os outros dois, na direita. O atacante Pottker também está fora.

Em compensação, Cirino e Léo Ortiz conseguem não se machucar. E como seria bom se isso acontecesse! A zaga contra o Santa Cruz foi Klaus e Léo Ortiz. Sabem como Klaus saiu do time no tempo de Zago? O último jogo de Klaus foi há mais de quatro meses, na vitória por 2 a 0 sobre o Princesa do Solimões, pela Copa do Brasil, quando… Bem, apresentou uma lesão muscular na coxa direita.

Torcida do Inter no Arruda: super animados com o futebol de Marcelo Cirino | Foto: Ricardo Duarte (SC Internacional)
Torcida do Inter no Arruda: super animados com o futebol de Marcelo Cirino | Foto: Ricardo Duarte (SC Internacional)

Mas há, apesar de tudo, uma agenda positiva, certamente criada pela ruindade de nossos adversários, talvez maior que a nossa. Dos 8 jogos do Inter até agora, 5 foram fora de casa e 3 no Beira-Rio. Quando equilibrar, talvez, quem sabe, sabe-se lá, estejamos com mais pontos. Na 12ª rodada teremos 6 jogos em casa e 6 fora. Então, nossa posição na tabela será mais real.

O amigo Marcelo Furlan vem com outra análise positiva. No ano passado, pela Serie A, contra o Figueirense, America-MG e Santa Cruz, tivemos 3 derrotas (zero pontos) em três jogos fora. Esse ano, contra os mesmos adversários, jogando novamente fora de casa, foram 1 vitoria e 2 empates (5 pontos). Que coisa, né?

Marcelo Cirino

Está provado. Marcelo Cirino é o homem à prova de ruindade, que nunca sai do time. Guto Ferreira disse na entrevista coletiva que ele seria um jogador competitivo. Sim, para a Série C, claro. Por que Marcelo Cirino não pode ser sacado do time do Inter? É que o Inter é uma instituição de empresários, não é um clube de futebol. Sai Nico, saem quase todos, só não podem sair alguns escolhidos dos deuses, como o Cirino. É que ele tem um empresário mais forte dentro do clube, só pode.

Trouxemos Alex Santana de volta ele não ficou nem no banco. Juan é uma grande promessa e não joga. Winck enche os adversários de gols no sub-23 e não sobe para o time principal. Trocamos o técnico e seguimos jogando sem armadores. Quando Dale sai, por que não é substituído por ninguém da função como Alex, Juan ou Winck??? O que estão fazendo no Beira-Rio???

A torcida jamais quis Cirino. Mas nossa diretoria passou seis meses negociando, o cara chegou e foi titular na hora, mesmo sem jogar nada.

Barrios chega ao Grêmio como maior reforço da temporada e vai para o banco até mostrar merecimento para ser titular.

Jogador chega no Inter — titular mesmo jogando nada.

O jogo de sábado foi vagabundérrimo, sem chances de gols ou lances de emoção. Um horror num campo ruim. Vejam se vocês aguentam ver até o final desses três enormes minutos.

Na terça-feira (20), às 21h30, o Inter pega o Paraná. É para pontuar para entrar no G-4 ou ver a crise crescer.

Porque hoje é sábado, Karolina Szymczak

Porque hoje é sábado, Karolina Szymczak

É engraçado como esta simpática coluna sabatina, também conhecida como PHES,

atrai as mulheres, hetero, homo, bi, etc.

Uma amiga de uma amiga, recente amiga minha — entenderam? — veio ao Sul21,

durante esta semana, e reclamou que o PHES estava muito contido ultimamente.

Desta forma, a partir desta edição, empreenderei um (falso) esforço de alongamento,

procurando ir no sentido contrário a um comportamento contido
(altamente proibido pelos norte-americanos que dominam a rede).

Em exaustivo trabalho de pesquisa, encontrei esta mulher incrível

nascida na Polônia.

Karolina Szymczak tem tantos encantos que não saberia dizê-los

da mesma forma que não consigo pronunciar seu nome.

Szymczak deve iniciar por Chem…, assim como Szymborska.

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Bloomsday

Bloomsday

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Escrevi tanto sobre Ulysses neste blog e em outros locais, dei palestras a respeito, li e reli, admirei e readmirei tanto o livro que me sinto liberado de escrever mais longamente. Nada de textão. Hoje é o dia que dá vontade de abrir Ulysses a fim de notar mais um detalhe das centenas que ficaram para trás.

Nunca fui a uma “festa de Bloomsday”. Acho que a festa é mais uma celebração interna que pode acontecer em qualquer lugar, como fiz agora há pouco, ao voltar a pé para casa.

Fico sempre feliz de lembrar que Joyce escolheu o dia 16 de junho para ser imortalizado porque foi este o dia em que fez sexo pela primeira vez com sua futura mulher, Nora, à época uma jovem virgem de vinte anos. Na verdade, Nora teve medo de completar o coito e o masturbou “com os olhos de uma santa”, como Joyce relatou em uma carta em que relembrava o acontecido.

É um livro quase sem enredo. É pura vivacidade e energia verbal. As pessoas não são sutis ou elegantes. Não há nada mais lindo do que Bloom se masturbando e Molly explodindo em sua insônia, nada mais frágil do que o não-machista Bloom — o homem que menstruava, segundo seus amigos — comprando fraldas. Nada literariamente mais brilhante do que Joyce fazendo pouco dos padres. Não há pose, pompa, grandiosidade, apenas um enorme amor pelo humano. É uma alegria que tal livro seja o único que mereceu um feriado. Diz bem da humanidade.

Joyce com o filho Giorgio
Joyce com o filho Giorgio

14 de junho de 2017: A Noite da Maldade em Estado Puro

14 de junho de 2017: A Noite da Maldade em Estado Puro

O RS é um estado triste administrado por um merda. Porto Alegre — local onde nasci e onde vivo — é uma cidade truculenta, capaz de desalojar crianças numa noite como a de ontem. Somos um estado hipócrita e sujo, que tem Campanha do Agasalho para que a primeira dama apareça e que depois, em noite gelada, pede para a Brigada tirar o teto de 200 pessoas que não têm para onde ir. Foi uma noite horrorosa, de guerra contra desarmados e desamados, patrocinada por Sartori, pelo PMDB gaúcho e seus aliados. Espero que ninguém esqueça da noite desumana de 14 de junho de 2017 na hora de votar em outubro de 2018. Noite gelada, famílias postas no olho da rua, silêncio de parte da imprensa e prisão de deputado — fato apenas importante em relação às famílias por não ter ocorrido desde a ditadura. Meu pequeno consolo é não ter votado em nenhum deles. Nem de perto. Isso não me dá nenhum mérito. Gauchada burra, vá tomar no cu!

Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21

Aline S. G. (não pretendo sujar meu blog com seu nome completo, nem receber eventuais visitas deste tipo de gente) é o nome da juíza que autorizou a reintegração de posse de um prédio que ficou mais de dez anos abandonado e que nos últimos dois anos abrigava 70 famílias (homens, mulheres, crianças, idosos, etc.). Preocupada com o trânsito de veículos na região, determinou que a desocupação ocorresse à noite, autorizando o uso de força contra crianças, idosos, mulheres e homens. Esta senhora recebe um salário de milhares de reais. Além de outros tantos benefícios, percebe também R$ 4.300,00 de auxílio moradia, pagos com dinheiro público.

Bom dia, Guto (com os melhores lances de América-MG 1 x 1 Inter)

Bom dia, Guto (com os melhores lances de América-MG 1 x 1 Inter)

Não devo comentar o jogo de ontem por uma razão muito simples: não o vi. Escolhi ver a Ospa tocando o Concerto Nº 2 de Prokofiev com a maravilhosa Helena Berg. Fiz bem.

Mas soube da lesão de William Pottker — sua lesão e a de Cuesta são subprodutos de má condição física do grupo — e da loucura de não escalar Nico López. Nico entrou no lugar de Pottker e acabou marcando nosso gol, um golaço. É natural e é o que ele quase sempre faz. Ele trabalha muito, está em todas as jogadas de ataque, perde e faz muitos gols. É de seu ofício. Se não perdesse, seria um Romário e estaria na Europa ou na China.

Nico López ouvindo os críticos | Foto: Ricardo Duarte
Nico López ouvindo os críticos | Foto: Ricardo Duarte

Vi bem do gol do América-MG. Acho que Moledo é uma palavra muito poética.

Outra bobagem é o terceiro cartão de D`Alessandro. Nosso craque maior não se dá conta que não consegue controlar as arbitragens e segue falando e falando. E vou colocar na conta da coincidência o fato de ele NUNCA IR ao Nordeste, tá?

De resto, foi um alívio a multa de 720 mil reais pelos e-mails fraudados. Acho que Vitório Piffero e Fernando Carvalho deveriam dividir a conta, não? O Inter deveria pagar imediatamente a CBF e cobrar judicialmente a dupla de débeis. De resto, fiquemos quietinhos, pois o resultado foi bom (no Tribunal).

O próximo jogo do desfalcado Inter é contra o Santa Cruz, sábado, em Recife, às 16h30. Aguardamos mais lesões musculares.

https://youtu.be/UR83Y7XhSAw

Poemas, de Wisława Szymborska

Poemas, de Wisława Szymborska
A edição da Cia. das Letras
A edição da Cia. das Letras

Na semana passada, minutos após comprar este livro na Ladeira Livros, fui almoçar com meu amigo Norberto Flach no Tuim. Cheguei à mesa onde ele estava sentado e lembrei que tinha esquecido o celular. Estamos passando pela tortura de reformas em casa e é sempre bom estar com o aparelho por perto. Antes de voltar rapidamente ao Sul21 ali pertinho para pegá-lo, disse para o Norberto meio de brincadeira: “Fica lendo isso aqui que eu já volto”. Quando voltei, ele falou que parecia que a poetisa falava em seu ouvido. Boa observação. A sensação de profunda, inteligente e simpática empatia, além da beleza, talvez sejam mesmo as características mais fortes da grande Wisława Szymborska, Nobel de 1996, escritora vinda do mais poético dos países onde as consoantes mandam recados assustadores aos ignorantes como eu.

O personagem japonês de Paterson — no final do filme, lembram? —  diz que ler poesia traduzida é como tomar banho de capa de chuva, mas a única forma de tomar conhecimento com a maravilhosa obra da polonesa Szymborska é a tradução e eu achei lindos, verdadeiramente inesquecíveis, os poemas traduzidos por Regina Przybycien. Não sei o quanto perdi usando capa de chuva, mas o que sobrou foi muito.

Alguns chamam Szymborska de o Mozart da Poesia e creio que a comparação não é nada absurda. A irresistível de combinação de ousadia e leveza é Mozart, mas a de sinceridade e intimidade são Tchékhov. Quando a comparo alguém a Tchékhov, estou fazendo comparações com o escritor que mais valorizo, com aquele que, como disse Konchalovsky, a gente fala quando escreve alguma coisa duvidosa. “O que você acharia disso, Anton?” e só prossegue após o consentimento do russo.

Em 60 anos de vida literária, Szymborska publicou apenas uns vinte livros curtos. Ela explica: “Escrevo os poemas à noite, mas releio-os à luz do dia, e nem todos sobrevivem”. Aprendam, meninos.

Szymborska tem humor de Drummond, boa filosofia, amor pelo humano, fluência, fabulação, ou seja, tudo o que gosto. É uma poesia coloquial, anti-sentimental e despojada de efeitos fáceis, de sofisticada simplicidade. Faz perguntas “inocentes”, terrivelmente inocentes. A clareza é absoluta. Fico imaginando o que são seus famosos artigos em revistas, onde dava mais vazão à veia humorística.

É difícil falar sobre um livro tão delicado e do qual se gostou tanto sem a indelicadeza da adjetivação. Talvez seja melhor dizer logo que — agora que o li e vou pegar outro — tenho vontade de morder o livro para seguir sentindo seu gosto.

Ah, os poemas dela, mesmo em português, estão por toda a internet. Então só vou deixar um com vocês. Um dos mais famosos. E super recomendo o livro.

Alguns gostam de poesia

Alguns —
ou seja nem todos.
Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria.
Sem contar a escola onde é obrigatório
e os próprios poetas
seriam talvez uns dois em mil.

Gostam —
mas também se gosta de canja de galinha,
gosta-se de galanteios e da cor azul,
gosta-se de um xale velho,
gosta-se de fazer o que se tem vontade
gosta-se de afagar um cão.

De poesia —
mas o que é isso, poesia.
Muita resposta vaga
já foi dada a essa pergunta.
Pois eu não sei e não sei e me agarro a isso
como a uma tábua de salvação.

(Livro comprado na Ladeira Livros).

Wisława Szymborska (1923-2012)
Wisława Szymborska (1923-2012)

As Quatro Estações, de Antonio Vivaldi

As Quatro Estações, de Antonio Vivaldi

Antonio Lucio Vivaldi nasceu em Veneza em 1678. Era o mais velho de sete irmãos. Seu pai era barbeiro e também um talentoso violinista — alguns chegaram a considerá-lo como um virtuose do instrumento. Depois de iniciar o primogênito na música, matriculou-o, ainda pequeno, na Capela Ducal de São Marcos, para aperfeiçoar seus conhecimentos musicais e induziu-o a estudar Teologia.

O Palácio Ducal em Veneza
O Palácio Ducal em Veneza

Em 1703, aos 25 anos, Vivaldi foi ordenado padre. Mas um ano depois abandonou as missas para dedicar-se apenas à música. Permaneceu padre, trabalhava para a igreja, apenas não rezava missas. O motivo alegado foi sua saúde. Falemos um pouco dela.

Vivaldi viveu 63 anos, até 1741, e dizia sofrer terrivelmente de asma. Há controvérsias. Alguns inimigos o acusavam de fingir ser doente para não perder tempo preparando e conduzindo missas e dedicar-se apenas à música. Vivaldi afirmava que muitas vezes tinha que se retirar também de concertos em razão das frequentes crises. Mas, como poucos viam tais fatos acontecerem, ele acabou sendo denunciado pelo compositor Benedetto Marcello, seu inimigo, que chegou ao ponto de escrever um panfleto contra Vivaldi, alegando ser ele um fingido que não apenas não era doente como tinha amantes — o que realmente era um fato público. Toda Veneza sabia que ele não era nada adepto do voto de castidade. Novamente, em 1737, um sacerdote atacou-o pelo fato de não oficiar missas e por seu, digamos, estilo de vida. Vivaldi respondeu por escrito:

Benedetto Marcello
Benedetto Marcello

Há 25 anos que não dou missas e não pretendo fazê-lo novamente, não por causa de alguma proibição ou qualquer ordenança, mas por minha própria vontade, por causa de uma doença que sofro desde a infância e ainda me assombra.

Depois de ser ordenado sacerdote, disse Missas por um ano, mas depois decidi parar porque em três dias consecutivos tive que deixar o altar antes da celebração final por causa da minha doença.

Por esta razão eu vivo principalmente dentro de casa e nunca saio a não ser de gôndola ou de carruagem, já que não posso andar sem dor ou aperto no peito.

Nenhum cavalheiro convida-me para ir a sua casa, mesmo o nosso príncipe, porque todos sabem de minha fraqueza.

Eu passeio após o jantar, mas nunca vou caminhando. Esta é a razão pela qual nunca rezo missas.

O fato é que não se conhece muito da biografia de Vivaldi. Sabemos que ele era um grande virtuose do violino, que era um notável professor de música e, dizem os contemporâneos, não costumava abandonar um solo para tossir. Além disso, como dissemos, Il Prete Rosso — o Padre Vermelho, como era conhecido por ser ruivo — tinha saúde suficiente para vários casos amorosos, um dos quais com uma de suas alunas mais famosas, o contralto Anna Giraud (ou Anna Girò). O caso era escandaloso e público. Anna foi a inspiradora de muitas de suas óperas e, dizem alguns biógrafos, motivo de grandes tormentos. Sabia-se que Vivaldi fazia tudo o que ela pedia, chegando a adaptar várias árias de óperas, escolhidas por ela, para sua voz. Ele também viajava com ela em turnês.

Bem, não vamos ofender a memória de nosso biografado. Não somos moralistas e, como vocês verão a seguir, Vivaldi era um ser humano dotado de enorme compaixão.

E criou uma grande obra. Escreveu 770 composições, dentre os quais 477 concertos e 46 óperas, aproximadamente. Sua obra ficou esquecida por cerca duzentos anos após sua morte. Sua redescoberta ocorreu apenas por volta de 1940, através de musicólogos, quando sua música voltou a ser divulgada. Na verdade, nos anos 40 e 50, houve um boom vivaldiano.

Igor Stravinsky
Igor Stravinsky

Na época, Stravinsky criou uma frase muito famosa: “Vivaldi não escreveu 477 concertos, ele escreveu o mesmo concerto 477 vezes”. Mas é somente uma frase de efeito, não podemos concordar com o russo. A frase de Stravinsky é genial porque contém ofensa e explicação. Isso porque Vivaldi é inconfundível e original apesar de seus concertos terem sempre a mesma estrutura. Então, de um ponto de vista moderno, talvez seja razoável dizer que ele fez sempre o mesmo concerto de forma diferente. 477 vezes.

Bem, quando deixou de rezar missas, sempre em Veneza e compondo, Vivaldi assumiu o cobiçado cargo de professor de violino no Ospedale della Pietà, uma instituição religiosa que fornecia abrigo e formação musical para meninos carentes. Foi nesse respeitado conservatório que compôs e apresentou o melhor de sua obra para reis e rainhas. Foi lá o local onde obteve prestígio e fama internacionais.

O Ospedale della Pietà
O Ospedale della Pietà

No orfanato, desempenhou diversas atividades. Chegou lá em 1704 como professor. Em 1713, tornou-se responsável por todo o ensino musical do Ospedale e, em 1716, tornou-se regente da orquestra. Apenas se desligou do Ospedale em 1740, 36 anos depois de entrar e um antes de falecer. Mesmo quando em viagem, enviava pelo menos dois novos concertos mensais para serem interpretados pelas meninas. Trabalhava muito além da encomenda.

Mas quem eram estas meninas? O Ospedale della Pietà é uma casa fundada em 1346 pelo governo de Veneza a fim de receber meninas órfãs ou abandonadas, que muitas vezes lá permaneciam por toda a vida, caso não fossem adotadas. Meninos eram aceitos apenas temporariamente, devendo partir aos 16 anos após aprenderem ofícios simples como carpintaria.

A Roda dos Expostos
A Roda dos Expostos

O Ospedale tinha a chamada Roda dos Expostos ou Roda dos Enjeitados. Tais mecanismos ficavam nas fachadas de instituições religiosas, embutidas na parede, dando para a rua. Consistiam em mecanismos utilizados para abandonar os recém-nascidos indesejados, que assim ficavam ao cuidado da instituição. O mecanismo era uma caixa cilíndrica que girava sobre um eixo vertical com uma portinhola ou apenas uma abertura. Quem desejava abandonar um recém-nascido, colocava ali seu filho e girava o cilindro, dando meia volta. Desta forma, quem abandonava a criança não era visto por quem a recebia. As rodas também serviam para que pessoas piedosas oferecessem anonimamente alimentos e medicamentos a tais casas. As crianças eram normalmente filhas de pessoas pobres, para quem seria um peso receber mais uma boca para alimentar, ou filhas de mães solteiras, nobres ou burguesas, que não desejavam ver descoberta sua gravidez.

A imagem clássica de Vivaldi
A imagem clássica de Vivaldi

Muitas mães que entregavam seus filhos a tais instituições ofereciam-se depois como amas-de-leite e talvez amamentassem a própria filha ou filho.

As meninas eram abandonadas em maior número do que os meninos. A causa é bastante óbvia. Os meninos representariam uma força futura de trabalho produtivo e possibilidade de lucro, enquanto a ideia do sexo feminino como investimento ou lucro não existia. Tais instituições eram planejadas como moradias temporárias, mas frequentemente tornavam-se lugar definitivo. No orfanato, havia a garantia de alimentação, educação e cama.

Como o Ospedale della Pietà era um convento, orfanato e escola musical para mulheres, lá havia uma orquestra. A fama da orquestra de meninas era imensa e os concorridos concertos eram assistidos pela aristocracia veneziana e estrangeira. Havia todo um mistério, pois os concertos eram realizados atrás de um biombo que impedia que a plateia visse as intérpretes. Jean-Jacques Rousseau, de passagem por Veneza, assim descreveu sua impressão dos concertos e das intérpretes. Peço-vos que perdoem a falta de correção política do parágrafo de Rousseau.

Concerto no Ospedale
Concerto no Ospedale

“Não posso conceber nada mais voluptuoso, nada mais emocionante do que esta música. Desejava ver quem eram estas meninas exiladas, de quem apenas sua música atravessava as grades, as quais certamente ocultavam anjos adoráveis. Um dia comentei o fato na casa de um rico senhor veneziano. ‘Se estais tão curioso para ver estas mocinhas, posso facilmente satisfazer-vos a vontade. Sou um dos administradores da casa, e vos convido a lanchar com elas’, disse-me. Quando me dirigia com ele à sala que abrigava as desejadas beldades, senti tamanha agitação de amor como jamais experimentara. Meu guia apresentou-me uma após outra àquelas afamadas cantoras e instrumentistas, cujas vozes, sons e nomes já me eram todos conhecidos. ‘Vem, Sofia’… Ela era horrenda. ‘Vem, Cattina’…. Ela era cega de um olho. ‘Vem, Bettina’… A varíola a havia desfigurado. Mal haveria uma ou outra sem qualquer defeito considerável. Duas ou três eram apresentáveis. Fiquei desolado. Durante o encontro, elas se alegraram. Encontrei charme em algumas delas. Finalmente minha maneira de as considerar mudou tanto que quase me enamorei daquelas meninas disformes.”

Sim, é claro que as famílias também colocavam na Roda dos Expostos alguns de seus filhos que tivessem nascido com alguma deformidade física, mas o mais importante é acentuar o fato de que Vivaldi, nosso biografado, projetava e providenciava instrumentos especiais para que estas meninas pudessem tocar.

Aliás, Vivaldi tinha grande cuidado na educação das suas discípulas, muitas vezes ordenando grandes quantias para compra de bons instrumentos para elas, alguns deles de fabricantes ilustres como Antonio Stradivari, Nicolò Amati e Andrea Guarneri.

Muitas, é claro, não tinham nome de família, sendo conhecidas pelo instrumento que tocavam, como Anna Maria dal Violin e Meneghina dalla Viola. Pelo menos duas delas se tornaram compositoras de algum prestígio: Anna Bon e Vincenta Da Ponte.

.oOo.

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Mas abordemos As Quatro Estações. Afinal, Vivaldi ficou conhecido do grande público principalmente por estes quatro concertos para violino e orquestra compostos em 1723. Ao contrário da maioria de seus concertos, esses quatro têm um programa claro: descrevem as quatro estações do ano e vêm acompanhados por sonetos ilustrativos impressos na parte do primeiro violino, cada um sobre o tema da respectiva estação. Não se sabe a origem ou autoria desses poemas, mas especula-se que o próprio Vivaldi os tenha escrito.

Também não se sabe o que surgiu primeiro, se a música ou os sonetos. O fato é que, desde que As Quatro Estações foram publicadas em 1725, em Amsterdam, os concertos vieram acompanhados de quatro sonetos que descrevem muito bem a música de cada uma das estações.

A partitura na edição de 1725
A partitura na edição de 1725

Examinando a dedicatória do Op. 8, chamado O diálogo entre a harmonia e a criatividade (Il Cimento dell’Armonia e dell’Invenzione), em que os quatro primeiros concertos são As Quatro Estações, entende-se duas coisas: (1) os concertos já eram conhecidos antes de serem publicados, e (2) os sonetos vieram depois. O que não se sabe é quem os escreveu.

As partituras dos quatro concertos trazem aqui e ali indicações do que a música estaria retratando, para que os próprios músicos pudessem saber que tal trecho retratava “pássaros”, “cachorro”, um “vento horripilante” e assim por diante.

Antes de Vivaldi não havia um modelo para o concerto solista, e cada compositor escrevia de acordo com seu próprio estilo. Os mais comuns recaíam no formato da sonata da chiesa (movimentos lentos e rápidos alternados, às vezes incluindo uma fuga) ou na sonata da camera (prelúdio e sequência de danças). Vivaldi seguiu o modelo de Albinoni com um movimento lento central e dois agitados nos extremos, e esse esquema rápido-lento-rápido acabou “pegando” e ficando como definitivo em concertos.

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Minha primeira lembrança do mundo

Minha primeira lembrança do mundo

Minha primeira lembrança do mundo foi de um pós-operatório, aos 5 anos de idade. Eu era estrábico divergente e a operação fora para corrigir a coisa. Acordei no meu quarto do hospital e a primeira pessoa que vi foi o Maneco, ex-marido da minha prima Vera Luiza Cunha, que por algum motivo estava na minha frente. E começaram as delícias. Eu não sentia dor e era tratado como um deus, só porque tinha um curativo tapando um olho. Tudo o que pedia era atendido imediatamente. Quando voltei para casa, ainda com o tapa-olho, todos me faziam carinho, era uma maravilha ser o coitadinho-bonitinho-fofinho-operadinho. Os parentes e amigos estavam na minha mão. Então o desgraçado do oftalmo tirou o curativo e, em três dias, o encanto se desfez e tudo voltou ao normal.

Milton Ribeiro Iracema Ribeiro Gonçalves

Dia dos Namorados 2017

Dia dos Namorados 2017

Abraçar, beijar, dormir, abraçar, desejar bom dia, beijar, sair, chegar, conferir, conversar, ouvir, ficar, abraçar, beijar, telefonar, comer, caminhar, abraçar, conversar, admirar… Assim, o verbo amar vai adquirindo muitos outros verbos durante os dias, confundindo-se com respirar e outros que devem ser fundamentais, mas que não me ocorrem agora. Nossa, este será um Dia dos Namorados nada glamuroso! Tu vais ensaiar à noite e eu vou revisar o que devo falar num evento amanhã. Mas não adianta, Elena: o Dia é nosso também. É super ultra hiper nosso.

Elena Romanov e Milton Ribeiro