Ospa: músicas francesas e observações sobre penteados

Eu estava cansadíssimo. Trabalhei demais hoje. Porém, a noite começou a ficar animada no intervalo do concerto… Opa, já chegamos ao intervalo? Pois é, é que as duas peças iniciais de Ravel não me interessaram muito, aliás não me interessaram nem naquela caixa de 3 CDs onde o Abbado rege toda a música orquestral do francês. Acho um saco as tais Alborada del Gracioso e a Ma Mére L´oye. E cansado a coisa fica ainda pior. Imaginem que dormi na Mamãe Gansa… Sim, amo Ravel, mas não aquelas peças. Ah, esses repertórios…

No intervalo, começamos a rir. Era impossível não achar graça nas duas senhoras que analisavam o cabelo de todas as moças da Ospa. Elas reclamaram do cabelão de uma violinista loira que antes usava cachos, elogiaram a (bielo)russa que antes usava o cabelo armado e que agora adotara o soltinho descabelado — uuuuh, fica muito melhor! Falaram também da elegância de suas mãos. Criticaram de forma violenta, acerba mesmo, a monotonia de quem nunca muda o cabelo. Qual é a graça? Mulher tem que arriscar!

Na segunda parte do concerto, o Arthur Elias — que não teve o penteado comentado e estava no papel de fauno — deu um show no Prélude à l’après-midi d’un faune, obra difícil, gostosa de ouvir e onde a orquestra saiu-se muito bem. Eu já estava acordado. Chamei o Arthur de fauno porque no poema de Mallarmé, o fauno toca uma flauta e eventualmente excita-se e persegue algumas ninfas. Ele não pegou nenhuma.

O melômano que vos escreve faria vários reparos à interpretação de La Mer — houve um momento especialmente descontrolado na região dos violoncelos — , mas que diabo, é música ao vivo e estas coisas acontecem. Ouvi falar que houve poucos ensaios em relação à dificuldade do programa.

(Sempre penso que o movimento Sirènes está no La Mer (O mar tem sereias, correto?), mas ele finaliza Nocturnes. Não esquece mais disso, Milton!).

Hoje era dia de Ninfas, não de Sereias!

Revelamos quem cometeu o atentado às instalações do Natal Luz

O blog acaba de receber o seguinte comunicado:

Nós, da FGCK (Frente Gaúcha de Combate ao Kitsch), assumimos o atentado às instalações do Natal Luz. Se a coisa for reerguida, invadiremos novamente a Bavária de Plástico. Muito cuidado, portanto!

A qualquer momento, mais informações.

Tcheco imortal na final enquanto Inter recupera (?) General

Bem, aconteceu com o Grêmio o que quase todos — inclusive os mesmo gremistas mais inteligentes — esperavam. A novidade foi a chuva e o desespero de algumas emissoras de rádio para salvar o lamentável discurso de Paulo Odone após o jogo. Os jornalistas procuravam reinterpretá-lo de outra forma. Se a entrevista durou cinco minutos, as explicações e a amenização duraram dez.

Enquanto isso, escondidinho, o técnico Do Rival tentou fechar um treino com a intenção de escalar Bolívar. Ou seja, Do Rival traz um ex-jogador — porém alguém respeitado como líder — para auxiliá-lo a controlar um grupo que teima em dar a ele sua devida  importância. Ou seja, serão dois generais de pijamas, um dentro e outro fora do gramado.  Quando Bolívar salta para cabecear, você tem que ser rápido se quiser colocar uma folha de papel sob seus pés. Quando a bola é levantada na área do Inter, seu comportamento se equipara ao nosso no desejo de que o atacante erre. Como nós, ele torce. Hoje, abro o jornal e o texto é altamente laudatório a Bolívar. Trata-o por General. Os grupos de colorados nas redes sociais dizem exatamente o contrário. O jornal não gosta que falem mal da administração de clubes chefiados por políticos e empresários. Quando a vaia pegar de novo, haverá dez minutos explicando que ficamos nervosos e que torcedor é assim e está em seu direito.

De minha parte, estou tão cansado da política interna de Do Rival que desejo que o Sport passe o final da tarde de domingo levantando bolas em nossa área e fazendo gols. Simplesmente enchi o saco. O pior é que o Sport, que ocupa zona próxima a do rebaixamento, é tão mau time que talvez não consiga fazer nem isso. O contrato de Bolívar vai até o final de 2013.

O Corinthians: dessa vez vai, acho

Liédson, Danilo e Paulinho após o empate corintiano

Pois eu acho que desta vez o Corinthians será finalmente o Campeão da Libertadores. Com um time de implacável pragmatismo, sem ilusões, dedicado à marcação e sem destacados protagonistas, o time mais popular de São Paulo deverá levar não apenas a lenda de mais chato da competição. Apesar do que significa o Boca — se este passar hoje pelo Libertad — , os argentinos estão muito abaixo do que vimos ontem.

Afinal, é o ano dos pragmáticos. O Chelsea já ganhou a Liga dos Campeões vencendo times com melhores jogadores. (Acho que um encontro entre Chelsea e Corinthians deveria ser encaminhado diretamente para os pênaltis, tais suas retrancas.) Mas, ah, há lições a tirar dos enfadonhos.

Se o Chelsea teve sorte contra o Barcelona e principalmente contra o Bayern, o Corinthians demonstrou notável segurança, mantendo distância de quaisquer possibilidades de reversão. Todos, inclusive os atacantes, marcam mesmo. É comum ver Jorge Henrique, Emerson e William atirando-se à marcação com ânimo de volantes de contenção. E o resto do time faz o mesmo. Tanta dedicação aponta para um vestiário fechado e motivado, sem dorivais a impor ordens sem sentido. A marcação é completada por uma excelente organização e sincronia quando com a bola nos pés, prova de que o time não faz apenas os rachões desatentos de dorivais. Se há tanta dedicação e obediência, não há apenas Tite para administrar o grupo , há certamente uma equipe — da qual participa Fabio Maseredjan, dispensado pelo Inter para dar lugar ao preparador da equipe de dorival. OK, apesar de justos, chega de ressentimentos.

Ao ver os torcedores com lágrimas nos olhos e nervosos no final da partida, pensava em quão idiotas somos quando sob grande tensão. Eles deveriam estar tranquilos, tal a serenidade e a segurança do time do Pastor Tite. Apesar da diferença de um gol, o Santos nunca chegou a ameaçar, nem mesmo quando encontrou, sob as camadas da marcação corintiana, aquele gol de Neymar. A coisa estava tão séria e complicada para o Peixe que Neymar comemorou o gol de verdade, sem aquelas dancinhas das suas mais que vulgares músicas.

O gol foi imerecido e acabou sendo corrigido logo no começo do segundo tempo de uma forma bem corintiana — explorando o erro do adversário, no caso, Durval. Pois os times vencedores são assim, punem, estão ligados, prontos para o bote, totalmente instruídos e focados em objetivos, a não ser que sejam formados por Messis e Xavis e não precisem de tanta atenção, só de treino mesmo.

Esqueci de dizer que a objetividade do Tite — tão desapiedada quanto a de um pastor ao retirar o dízimo de seus fiéis — também revela-se quando o Corinthians toma posse da bola. O time vem tocando quase sem dribles e errando poucos passes. Os maestros são o excelente Paulinho e nosso conhecidíssimo Alex. Na reserva, há jogadores do porte de William, Liédson, Douglas, etc. Ou seja, a receita do Corinthians — provável vencedor da Lib 2012 — é foco, organização, dedicação, jogadores experientes e rejeição aos protagonismos.

Quando comparo com aquele meu time do sul… OK, eu paro.

Julian Assange entrevista Rafael Correa, presidente do Equador, ao vivo

A entrevista é de maio deste ano, durante a prisão domiciliar de Assange em Londres. Hoje, Assange está na Embaixada do Equador em Londres, pede asilo político para evitar uma inacreditável extradição para a Suécia, onde acusado de “abuso sexual”. Temos sérias dúvidas… A polícia inglesa já afirmou que o prenderá assim que sair da Embaixada, impedindo-o de ir ao Equador.

O final da entrevista revela dois homens que temem ser assassinados.

Rabelais: o politicamente incorreto que distorcia o mundo a fim de dissecá-lo

Tudo começa com um descomunal banquete. A Primeira Lei de Farinatti é respeitada: “Antes faça mal que vá fora”. A recusa está fora de questão. Gargamelle, mulher de Grandgousier, mastiga tripas de boi até explodir – e come tanto que acaba por parir seus próprios intestinos. Então, com apenas dois orifícios disponíveis, as duas orelhas, dá luz ao Gargântua, pai de Pantagruel, ambos memoráveis glutões.

Gargântua (1534) e Pantagruel (1532) fizeram a fama do respeitado e erudito médico e clérigo François Rabelais (ca. 1490-1553). Ele fez do grotesco e do escatológico uma das mais originais e radicais obras humanistas do final do Renascimento. De seus livros saiu um adjetivo em língua portuguesa, pantagruélico – adj. relativo a Pantagruel, personagem caricatural de um romance de Rabelais, o qual se singulariza por ser amante da boa mesa e do bom vinho. / Abundante em comidas e bebidas. Entre a devoção e o temor a Cristo de sua época, que alternativamente explorava a elegância dos temas clássicos e mitológicos — argh! — Rabelais foi ao encontro da cultura popular e do “mau gosto” a fim de satirizar seus pares.

Há um celebérrimo estudo, A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais, do teórico russo Mikhail Bakhtin, que trata da influência das fontes populares nos livros mais famosos de Rabelais. Desde seu lançamento em 1965, a obra é referência para quem se dedica à história do riso e à cultura popular. Pois o riso e sua penetração merecem ser muito estudados.

A literatura chegou tarde à vida de Rabelais. Foi franciscano – o que já é bastante engraçado – e depois beneditino. Deslocou seus interesses para a ciência-irmã medicina. Tornou-se médico. A literatura veio provavelmente como forma de sustento e logo passou a ser forma de ataque. Em Pantagruel atacava o academicismo da época. E a educação de Gargântua foi esmeradíssima, ele só frequentou os escolásticos, podia recitar obras de cor e salteado, o que não evitou que se tornasse “um idiota, palerma, distraído e bobo”. O autor também era um admirador do caráter laico da Reforma Protestante. Claro que seus livros, grandes sucessos, foram proibidos.

Como todo o verdadeiro humorista, Rabelais não era um mero palhaço. Suas críiticas eram sérias. Durante o Iluminismo, houve muita discussão acerca de sua importância. Em nossos dias, além do ensaio de Bakhtin, houve outro, de Lucien Febvre que conjeturava acerca de um provável ateísmo – coisa em que não acredito. De qualquer modo, a exploração da hipérbole e a distorção do mundo foi-nos mostrada pela primeira vez sob uma forma que é usada até hoje por humoristas, escritores e compositores inteligentes (Shostakovich é um grande rabelaisiano): como uma forma de decompor e recompor o mundo, como uma forma de observar sua anatomia e dissecá-lo.

Rabelais realmente “tirava profiteroles das indulgências”. Como? Olha, há muito que pensar a respeito.

Gargântua tinha que se alimentar, pois não?

Lula, Haddad e Maluf

Por Natal Antonini

Vivemos numa democracia.
Numa democracia se governa para todos.
Para se ter um governo democrático de sucesso se deve fazer alianças.
O PP já faz parte da base do governo federal desde o inicio do governo Lula.
O PP resolveu apoiar o PT também em SP, o Maluf é um quadro do PP.
O Maluf é um ladrão FDP.
Os paulistas (que são muito burros) acham que o Maluf foi um ótimo prefeito.
O Maluf se elegeu deputado por SP com uma ótima votação.
SP está, desde o inicio dos governos tucanos, crescendo abaixo do que cresce o Brasil.
Os paulistas (que são muito burros, meeeeeesmo) continuam votando nos Tucanos.
Os Tucanos são aqueles políticos neo-liberais nada “tolinhos”, que quase venderam todo o Brasil.
Nos quais a maioria da juventude burguesa e mimada — com carros pagos pelos pais e camisas lavadas pelas mães – vota.
Essa mesma juventude que ocupava praticamente todas as vagas públicas das universidades brasileiras antes da existência das cotas.
O PT faz o melhor governo que o Brasil já teve.
O Lula quer estender para SP as políticas adotadas pelo PT.
O PT pratica a realpolitik desde que resolveu jogar em pé de igualdade com a direita.
Realpolitik (do alemão real “realístico”, e Politik, “política”) refere-se à política baseada em considerações práticas.
O PSTU é 100% coerente.
O PSTU não aceita a realpolitik.
O PSTU nunca vai ganhar uma eleição para colocar em prática parcelas do seu programa.
O sonho da direita é que o PT fosse o PSTU.
O PT não é o PSTU!!!
E a direita tomou…
Buenas… Não farei a rima óbvia.

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Não nego que a foto abaixo me irrita. Mas a irritação não sobrevive a um pouco de raciocínio. Preferia que Maluf fosse tão idiota quanto um antipetista do gênero Reinaldo de Azevedo e tantos outros, mas ele não é.

Dorival Junior está com o prazo de validade vencido

Participo há anos de algumas listas e grupos (antes, no falecido Orkut, eram comunidades) de torcedores do Internacional. Há listas mais e menos qualificadas, há as mais equilibradas e as decididamente malucas, há as que incluem conselheiros do clube e as só de torcedores. Não leio tudo e já sei de quem eu gosto: gosto daqueles caras que assistem aos treinos. Não é pouca gente, não. E não são apenas aposentados, estudantes ou desocupados: quem vai a treino é o pessoal que trabalha à noite. Dormem em algum horário do dia e têm como diversão ver os treinos de seus times. Desta forma, mesmo sem passar manhãs ou tardes no Beira-Rio, conheço o estilo de trabalho de cada treinador. Para não falar de todos, vamos nos deter em três bons e três ruins.

Sem dúvida, Muricy Ramalho é o melhor que passou pelo Beira-Rio. Trabalha muito, é atento e amigo dos jogadores. Durante os jogos, faz substituições consequentes. Abel vem logo depois, disputando o primeiro posto com Muricy, Também amigo dos jogadores e muito trabalhador, é menos angustiado, mas é muito mais teimoso. Inventa coisas que quer ver funcionar de qualquer jeito, mesmo que a prática demonstre o contrário. E insiste. O principal é que os times destes dois treinadores trabalham tanto que o fundamento do passe e do deslocamento sempre é bem feito. E esqueçam, vocês nunca verão uma equipe treinada por eles chegar perto de uma segunda divisão ou mesmo de um mau campeonato. Os caras são dedicados mesmo. No terceiro posto, viria o uruguaio Jorge Fossati. Este parece trabalhar por objetivos. Em semanas de jogos pouco importantes, é capaz de suspender treinos para contar histórias e transforma as atividades táticas em palhaçadas. Mas é muito bom técnico, o líder tabagista Fossati.

Daí para baixo a coisa piora muito. Roth ofende os jogadores. Descontrola-se com facilidade e é retranqueiro. É treinador para as horas difíceis, quando consegue falar ao amor-próprio dos boleiros. Já Dorival Junior é o preguiçoso da turma. Prefere jogadores disciplinados e treina mesmo é a diretoria, com quem costuma se relacionar muito bem — mas dele falo mais depois. E Falcão é o pior de todos, pois não consegue repassar seu enorme conhecimento ao grupo de trabalho. É o Rei das Entrevistas, mas os boleiros não o compreendem, apesar de Falcão ter sido um deles. Várias vezes li meus correspondentes dizerem: ele pede uma coisa, insiste, os caras fazem outra.

Hoje estamos sob o “comando” de Dorival. O Genetal Dorrival não gosta de indisciplina. Fala publicamente mal de que o contesta, estabelece punições. Porém, na hora do treino, deixa a coisa rolar e fica conversando. O resultado óbvio da falta de trabalho é que o time não tem dinâmica, é inconsistente do ponto de vista tático, deixa espaços ao adversário e, fundamentalmente e faz aquilo que nenhum time do trio Muricy-Abel-Fossati comete: ERRA PASSES E MAIS PASSES. A partida contra o Botafogo deixou tudo claro: o grupo passou uma semana “treinando” com Dorival — na verdade, eram coletivos mal e mal vistos pelo treinador — e, no final de semana sofreu uma derrota indiscutível contra um adversário bem melhor do que os reservas. Estratégias, jogadas ensaiadas? Não, nada, nunca.

Além disso, uma nova característica uniu-se às citadas: seu comportamento sem convicções e pusilânime durante os jogos. No sábado, o Inter vencia por 1 a 0. Era um milagre, porque o Fogão nos massacrava. Então saiu o gol de empate. Contrariando seu estilo dito “ofensivista”, Dorival chamou Elton, uma de suas ovelhas mais disciplinadas e sem sal, para entrar em campo. Como jogador, Elton é um péssimo volante. A ideia era a de fechar o meio-de-campo… Foi vaiado e chamado de burro COM RAZÃO pela torcida. Quando já estava todo baratinado, olhando para todos os lados, ocorreu o fato que o salvou e enterrou de vez o time: o Bota fez o segundo gol e ele desistiu de Elton.

Eu ouvi o jogo pelo rádio, mas como vejo muito o Inter, sabia o que estava acontecendo. Os comentaristas das três emissoras diziam o mesmo. O Botafogo tem cinco no meio-de-campo, está em maioria contra os quatro do Inter. Como solução, Dorival deveria avançar Fabrício e/ou Nei para o meio a fim de tentar equilibrar a briga pela bola. Afinal, lá atrás tínhamos quatro jogadores contra um do Fogão, Herrera.

Ou Dorival não se apercebeu do fato ou os jogadores nunca tinham treinado aquele movimento. Mas o pior da falta de treinos não é nem a impossibilidade de mudar taticamente, é o time não manter a bola consigo, errando passes lamentavelmente. Como disse Andrade — e esse aí entende da coisa — , quem não tem a bola corre o dobro. Está na hora da troca, novamente. Já deu para ver que Dorival não vai funcionar e sua relação com o grupo — vide Fabrício — vai de mal a pior. Sua saída será um alívio para os jogadores e a torcida. Minha sugestão? O caríssimo Dunga ou o barato e bom Paulo Porto.

Dorival Junior dirigindo-se a um treino: animação contagiante

J. Jota de Moraes (1943-2012): um autodidata na música erudita

(Lamento muito a morte de J. Jota, um sujeito brilhante que me ensinou muita coisa).

IRINEU FRANCO PERPETUO
Na Folha

Quem o ouvia dissertar sobre música com tamanha paixão e propriedade não podia imaginar que ele era autodidata no tema. Assim como os que o viam transitar com tal naturalidade por entre a elite na Sala São Paulo não suspeitavam que ele militara na Ala Vermelha do PC do B, nos “anos de chumbo” da ditadura militar.

Brilhante, polêmico e carismático, J. Jota de Moraes morreu de insuficiência respiratória no Hospital Bandeirantes, em São Paulo, na madrugada de terça para quarta-feira, dia 13, e pode, sem exagero, ser considerado o mais importante crítico de música erudita da cidade nas últimas quatro décadas. Tinha 68 anos.

Formado em Letras Neolatinas, Jota ficou marcado pela atuação no “Jornal da Tarde”, entre 1972 e 2003. Fez programas nas rádios Eldorado e Cultura, escreveu em “O Estado de S.Paulo” e diversas revistas.

Tinha ainda uma relação especial com a Sociedade de Cultura Artística, da qual foi diretor artístico entre 1992 e 2000, e para cujos concertos escrevia regularmente notas de programa.

Na década de 1980, formou uma talentosa geração de musicistas como professor de História da Música na ECA-USP. A partir do final dos anos 1990, vinha compartilhando seu saber com alunos “leigos” em cursos livres de música, ministrados em sua residência.

Com um pouco de sorte, é possível achar em sebos seus dois livros, publicados pela Editora Brasiliense, nos anos 1980: “O que é música” e “Música da Modernidade”.

Porque hoje é sábado e Bloomsday, só irlandesas como Georgia Salpa e Raychel

Pois eu fui procurar irlandesas para o PHES do Bloomsday.

Céus, como seria minha Molly Bloom?

Pesquisei de tudo quanto foi jeito.

Beautiful irish women, girls ireland, sexy, nude, naked, fuck, irish actresses.

Mas só encontrava a linda ruivinha que vocês veem acima

e abaixo.

A tal Raychel cujo sobrenome nem imagino.

mas que apareceu assim, como um raio. Adoro ruivas de olhos azuis.

E então tentei irish ethnicity women fuck sexy full download free, vocês sabem que não escrevi tudo isso, seria uma demasia, estou fazendo graça

E dei de cara com uma mulher 1/2 irish como o Bailey`s, 1/2 Greek como o ouzo

Puxa vida, que maravilha a Georgia Salpa de pai grego e mãe irlandesa

e então entendi

que esse negócio de pedigree

não serve para seres humanos

e que o bom é promover trocas

e fornicações interétnicas, interdisciplinares, intercursos, internacionais e coloradas

para manter a raça

forte e bonita.

Mattinata, de Fernando Monteiro

Em italiano, mattinata significa o período da manhã. Se escrevermos a palavra no Google Images, encontraremos fotos da uma luminosa praia de mesmo nome na Regione Puglia, de uma Cafeteira da Arno e do mais recente livro de Fernando Monteiro. O livro é formado por três poemas narrativos longos: Mattinata, Escritos no Túmulo e E para que ser poeta em tempos de penúria? Mattinata é uma coedição da Nephelibata (SC) e da Sol Negro (RN). Parabéns a ambas, que em parceria trouxeram à tona esta coleção de poemas de Monteiro, do qual já conhecíamos os romances e o extraordinário poema Vi uma foto de Anna Akhmátova.

Se a Mattinata-cidade das fotos é bela e luminosa, podemos dizer o mesmo das paradoxais luzes que invadem lentamente o quarto do casal que se decidiu pela separação na noite anterior. Mas aqui beleza é a descrição da tristeza e da decadência de uma relação. Ele, o homem do poema, despertou, ela dorme, ou finge. O ritmo é clássico.

divididos pelas sombras do que foi dito
e do que foi calado antes da alba

(…)

Algum deus belicoso
seguiu o táxi na volta
e esteve aqui
neste apartamento em que outros
igualmente se separaram
após uma tempestade.

Houve duas tempestades, uma lá fora que derrubou placas e molhou a rua, e outra interna:

Com quem você falava ao telefone?

E, antes quem era aquele
na outra mesa, no maldito reaturante indiano
que seguirá existindo
depois da nossa separação

Aos poucos, de forma incompleta, através de detalhes, impressões e livres-associações, ganhamos alguns subsídios para espreitar o que houve e a tristeza que virá. Há até uma referência a um jogo entre Benfica e Barcelona que me fez ir inutilmente pesquisar a data de seus jogos mais importantes a fim de saber aproximadamente quando aqueles dois separaram-se naquela manhã chuvosa da Via Aurelia. A descrição desta manhã noturna…

aquele que compra um jornal
e o que não compra,
preferindo não saber
sobre a mais nova catástrofe.

A nossa?

Ora, não é sequer
um caso,
uma notícia vaga,
um boato
cruzando a rua à frente dos que tiveram de
acordar
antes das aves.

O muito elegante Mattinata é o poema que prefiro no livro, apesar da importância sociológica dos dois seguintes. Ele ocupa 48 páginas do volume de de 81. A seguir vem Escritos no túmulo todo em caixa alta e itálico, de modo a nos endereçar às lápides de antigos — certamente antiquíssimos — cemitérios. O objetivo de Monteiro não é o de nos explicar a antiguidade, mas de explicar nosso tempo a partir dela. Afinal, hoje, a …

PORNOGRAFIA GROSSA
GRASSA POR TODA PARTE
PORÉM PINTURAS DE DOIS
MIL ANOS SÃO INTER
DITAS “LICENCIOSAS”
POR EXIBIREM O ARDOR
DO AMOR DE UM HOMEM
POR OUTRO REFLEXO
NO VIDRO A FOSFORECER
NA PELE IRIDESCENTE
DOS AMPLEXOS

A interdição de nossos dias a algo que deveria — por que motivo? — ser necessariamente sacro e anódino, chega a ser cômica, não fosse antes burra e preconceituosa. Mas não devemos restringir o símbolo de Escritos no túmulo ao “amor de um homem a seu reflexo”, mas àquilo que o passado pode nos apontar. Porém, não resisto e sigo reduzindo e dizendo que o citado símbolo é tanto mais poderoso por usar como vetor aqueles que hoje estão na ponta de lança das transformações sociaisComo sempre, a história e o que se deseja que esteja morto vêm apontar seus dedos trêmulos para nós.

Um dedo lastimavelmente trêmulo também está apontado para nós no terceiro poema, E para que ser poeta em tempos de penúria? Intenso, sociológico e grave, ele tem como foco a vida — e principalmente a morte — de Roberto Piva (1937-2010). Poeta pobre, solitário, vítima de Parkinson, transgressor ao estilo de Pasolini, fragmentário e pagão, teve uma morte anônima que serve como modelo para um mundo em consumação não apenas física e planetária, como de ponto de vista prévio: o cultural — pois parece que nosso desmonte será por partes.

Tudo tão verdadeiro quanto distante
da essência de outras penúrias
entre esquinas de garoas
e galerias de arte em vernissages
cujo rumor de cálices noturnos
chega aos guardadores de carros
como a música do paraíso
de inalcançáveis perdizes.

Para que ser poeta em tempos assim?

Quando Piva faleceu (e faz pouco tempo),
evitaram cuidadosamente
a simplicidade descocertante
da interrogação relativa
aos Tempos de Penúria

E, quando uma moça pede para Monteiro dar uma palestra, o diálogo:

“Eu aceito, mas vou para falar sobre o Roberto Piva”.

Ela: “Quem?”
Eu: “Piva, o poeta que acaba de morrer.”
Ela: “Era seu amigo?”
Eu: “Não”.
Ela: “E por que o senhor quer falar sobre ele?”
Eu: “Porque um de seus últimos versos não me sai da cabeça”.
Ela: “É tão bonito assim?”
Eu: “Versos não precisam ser bonitos. Versos precisam ser verdadeiros.”
Ela: “Diga ele”.
Eu: “Diga-o”.
Ela: “Eu não sei qual verso é esse que não sai da cabeça do senhor.”
Eu: “Eu sei.”
Ela: “Então, diga”.
Eu: “E para que ser poeta em tempos de penúria?”

O pequeno livro de Monteiro, tão bom e relevante, teve uma primeira edição de poucos exemplares. Provavelmente, Mattinata não irá espraiar-se por aí se não houver outras edições ou meios de distribuição. É impossível não relacioná-lo com “penúria”, mas não a financeira. O desinteresse pelo grandes temas, ainda mais quando incomodam,  ainda mais quando expressos em poesia, são sintomas graves de outras penúrias.

.oOo.

Não obstante, não falo sozinho. Mattinata já foi multi criticado de forma sempre elogiosa. Vejamos:

Nelson Patriota
Entrevista na Tribuna do Norte
Lívio Oliveira no Substantivo Plural
Diogo Guedes no Jornal do Commercio
José Castello no Valor Econômico
José Castello em O Globo

Fernando Monteiro

Obrigado, Palmeiras!

Foto encontrada pela colega colorada Rachel Duarte

Felipão ainda manda no Olímpico. Preferia a queda numa final contra o São Paulo, mas assim já está bom. O importante para os colorados é que o Grêmio não vá à Libertadores 2013. Penso que é importante que a Arena sirva ao semi-amador Campeonato Gaúcho no início do ano que vem.

Provocações à parte, a falta de luz na Vila Belmiro fez com eu visse o finzinho do jogo no estádio da Medianeira. Vi tudo, não? Acho que o Victor não falhou o segundo gol. O cara errou a cabeçada, surpreendendo a todos e fazendo a bola ir chochinha para o gol. Nunca esqueçam das lições do gênio Luis Artime. 1/3 dos gols de centroavante saem de erros. O cara quer uma coisa, consegue outra e é feliz. É da vida.

Obrigado, Palmeiras! Achei bonito. E muita atenção em São Paulo. Vocês não têm time para sairem rebolando por aí.

Ospa: túnica, boa música e baixa miscibilidade

Richard Strauss: um estranho entre latinos

Copland, um novaiorquino fazendo música mexicana; Gandarias, um guatemalteco falando de sua infância; Krieger, um catarinense polifônico; Guerra-Peixe, um fluminense falando de Minas e Richard Strauss em seu entardecer alemão. Tudo isto regido por um maestro vestido com uma túnica muito pouco discreta — coloridíssima, de cor predominantemente amarela escura, disse minha mulher (sou daltônico, lembram?) — e cuja provável intenção étnica me fugiu totalmente. Parecia algo africano, mas acho que sua origem deve ser alguma artesanía latino-americana, suponho a partir da música.

Apesar da divertida cara de surpresa de alguns músicos ao observarem a espetacular entrada do maestro Cláudio Ribeiro, o concerto foi seríssimo e do mais alto nível artístico. El Salón Mexico, de Copland, é muito boa e não é culpa da obra o fato de sermos remetidos a velhos seriados de faroeste. As Quatro Últimas Canções, de Strauss, foi o grande momento do concerto. Arrepiou MESMO, mesmo que a acústica ou a projeção da soprano Janette Dornellas fizessem com eu não a ouvisse nas partes mais delicadas da música. Mas é grande música, verdadeiramente sublime! Destaque para o solo de Israel Oliveira (trompa) na segunda canção, Setembro.

Edino Krieger: melhor prestar atenção nele

Após o intervalo, veio Desde la infancia, de Igor de Gandarias, obra curta e cheia de citações. A surpresa da noite foi a envolvente Passacaglia para o novo milênio, de Edino Krieger. A passacaglia (ou passacalha) é uma forma musical de tema e variações onde aquele é repetido pelos baixos enquanto o resto da orquestra se diverte. Depois de um começo que lembra a Música para Cordas Percussão e Celesta, de Bartók, a obra ganha ritmo e ares populares para retornar a seu início. Acho que Krieger merece mais atenção. O concerto finalizou com a conhecida Museu da Inconfidência, de César Guerra-Peixe, com um show da percussão e do fagotista Adolfo Almeida Júnior.

A orquestra esteve muito bem. Aliás, nos concertos deste ano o nível artístico das apresentações da Ospa não merece senão elogios. Minha crítica é ao programa. Certo, foi um bom repertório, cheio de ineditismos — ao menos para mim — mas a mistura de Richard Strauss e suas canções sobre a morte próxima com o restante do programa… Bem, alguém há de me explicar.