Somos nós que estamos implantando o fascismo

Somos nós que estamos implantando o fascismo

Por Valéria Brandini (*), antropóloga.

É o povo que está elegendo o fascismo. Se não fosse esse militarzinho bunda suja, seria outro. Pesquiso o brasileiro há 25 anos. Já fiz pesquisas presenciais de norte a sul do País e atesto que o brasileiro médio “é isso aí”.

Quando a tendência da diversidade chegou, ela veio “de fora para dentro”, é uma tendência mundial, pegou a parte mais desenvolvida da sociedade, que não deve chegar a 5% – não falo de nível econômico, falo de nível cultural – e pegou o pink money da comunidade LGBTQ. Mas quem estuda tendências socioculturais sabe que uma coisa é a tendência que vem de fora, e outra coisa é sua assimilação de acordo com os valores e tendências emergentes de um grupo, ou povo.

Pois bem, há uns 7 anos entrevistei grupos de jovens homens que diziam que “não dá pra namorar hoje em dia porque só tem puta”, e grupos de jovens mulheres que “queriam casar virgem, porque a mulherada hoje não se respeita”, que acham que “não dá pra trabalhar e ser mãe e esposa ao mesmo tempo”. Isso é o brasileiro médio – homens e mulheres machistas, racistas e homofóbicos.

Entrevistei adolescentes que diziam ter medo de ir em baladas, pois “os caras não aceitam quando você não quer ficar com eles e te agridem”. Entrevistei jovens homossexuais de periferia que disseram que “tirando os Jardins (SP), ser gay na periferia é correr ameaça de espancamento e morte todo dia.

O brasileiro médio nunca foi “bonzinho”, como dizia Kate Lyra nos quadros de humor dos anos 80. O brasileiro médio “odeia viado”, odeia pobre — mesmo quando é pobre — não odeia “a pobreza”, odeia “o pobre”, divide as mulheres entre as putas e as mulheres pra casar, é racista e de um “racismo cordial” nojento, pois diz que tem amigo negro, mas não se importa que a polícia mate jovens negros inocentes. As mulheres são AS grandes machistas, pois o machismo feminino é o que forma homens e mulheres machistas na socialização primária das crianças e elas NAO QUEREM se libertar dos padrões coercitivos do machismo, elas querem manter esses padrões, pois acreditam que nele elas tem privilégios (mesmo tomando porrada de machista e com um índice altíssimo de feminicídio — vivem uma eterna síndrome de Estocolmo) — já no feminismo, teriam que ser responsáveis por suas próprias vidas, teriam que ter autonomia existencial e isso é novo e assustador.

A candidatura de B17 rompeu o lacre do reacionarismo e o protofascismo que orienta o ethos do brasileiro médio, mas que com a tendência mundial de apoio à diversidade, ficava reprimida. Democracia é isso, senhoras e senhores e infelizmente o povo brasileiro “é isso”.

Nós aqui que achamos uma abominação o machismo, homofobia e racismo do PSL, nós que lutamos contra Bolsonaro e sua ideologia de extrema-direita, sua apologia à tortura, seu desmerecimento às mulheres, seu ódio aos LGBTQ e sua depreciação dos negros, somos a minoria numa elite cultural que não representa o brasileiro médio — e não digo isso com orgulho, mas com pesar —, pois somos o que o brasileiro médio não quer.

Então, se você, como eu, acredita nos valores da diversidade, na busca por equanimidade para os excluídos, como base da cidadania, busque inspirar e influenciar os valores da igualdade por onde passar. Use o conhecimento como ferramenta para desconstruir mitos discriminatórios, use o conhecimento como forma de mostrar a realidade do Outro para aqueles fechados em suas bolhas, pois a empatia é o caminho para que estas pessoas entendam que você precisa lutar por quem não tem condições de lutar por si na sociedade. Não fique apenas na tentativa de convencimento de voto. O trabalho para inspirar é trabalho de uma vida inteira, não de uma eleição — e só ele causa mudanças profundas. Não tente “convencer”, mostre o conhecimento, desconstrua os preconceitos pelo conhecimento e deixe que escolham o caminho a seguir. Se 1 em 10 pessoas se inspirar, você venceu.

E aprenda a mandar à merda quem precisa ser mandado à merda, sem medo de que não gostem de você, pois nada é mais precioso do que a integridade, e integridade é ser inteiro no que você acredita.

A antropóloga Valéria Brandini | Foto: valeriabrandini.com

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(*) Valeria Brandini é antropóloga graduada pela Unicamp, especialista em Multimeios (Comunicação e Interdisciplinaridade), Mestre em Publicidade e Propaganda pela ECA – USP, Doutora em Ciências da Comunicação pela ECA – USP em Convênio com a Universitá La Sapienza (Roma) e Central Saint Martin’S School Of Fashion (Londres) e Pós Doutoranda em Antropologia Empresarial pela Unicamp.

Essa gente, de Chico Buarque

Essa gente, de Chico Buarque

Não li todos os livros de Chico Buarque, mas penso que, com alguma margem de segurança, possa dizer que este é seu melhor, ao lado de Budapeste. Manuel Duarte — notem a semelhança sonora com Chico Buarque — é um escritor que gosta de caminhar pelo Leblon, cuja grande obra foi escrita no passado e ainda é muito respeitada.

O livro é escrito em pequenos capítulos como se formassem um diário. São escritos, é claro, na primeira pessoa, só que por vários personagens. (Há uma voz misteriosa que narra em terceira pessoa).  Essa gente é duro, muito carioca e inclui fatos muito recentes. Imaginem que o diário finda em 25 de setembro de 2019. Duarte é autor de diversos livros, dentre eles um sucesso estrondoso — O Eunuco do Paço Real -, mas hoje produz pouco e está na pindaíba. Tem duas ex, uma tradutora e uma decoradora que depois se especializou em procurar homens ricos e liberais do ponto de vista sexual. Com a primeira mulher, tem um filho pré-adolescente com o qual mal conversa.

Enquanto escreve um novo livro e espera pela reedição do Eunuco, Duarte anda atrás de dinheiro e de mulheres. Das suas ex e de Rebekka, uma holandesa, mulher de um salva-vidas muito considerado no morro. O autor não parece muito apaixonado por seus personagens, parece mais fixado e estarrecido pelas circunstâncias, pela conformidade das pessoas em relação à vida que levam, pela comédia que é ignorar o que se passa. É um livro que mostra o espancamento de um mendigo, o bullying sofrido por uma criança em razão de ser filho de “gente de esquerda”, a humilhação de porteiros, tudo coisa normal. É um triste cenário de decadência moral com gente preocupada em salvar sua pele em primeiro plano. É uma realidade estranha, violenta e trágica. O final é especialmente enigmático. Chico nos deixa com o pincel na mão para pintarmos o que se quisermos. E a gente só pensa em tinta preta e em vermelho sangue.

Chico Buarque: retrato do Rio de Janeiro e do Brasil | Foto: Divulgação

Bolsonaro apresenta seu novo partido explicitamente fascista

Bolsonaro apresenta seu novo partido explicitamente fascista

A apresentação da logomarca do partido completamente feita de balas, veio algumas horas após o anúncio de que o número com o qual será apresentado nas pesquisas é 38, conforme o calibre da famosa pistola (“fácil de lembrar”).

Do Il Manifesto
Tradução do blogueiro

Impossível esquecer o lançamento do novo partido de Bolsonaro, Aliança pelo Brasil, nascido da costela (ainda) mais fascista do Partido Social Liberal (Psl), a força política com a qual ele chegou à presidência do Brasil e de onde saiu por discordâncias cada vez mais graves com o presidente Luciano Bivar. Esta é a décima troca de partido de Bolsonazi, como seus muitos o chamam.

Bolsonazi presidirá o partido e o primeiro vice-presidente será o primogênito Flávio, o 01, super enrolado na justiça. Na primeira convenção nacional da Aliança pelo Brasil, que aconteceu na quinta-feira em um hotel da capital, nenhum dos ingredientes estava faltando: insultos a jornalistas por militantes com camisetas elogiando o torturador da ditadura de Brilhante Ustra, referências a Deus e religião, piadas sexuais e slogans anticomunistas (“Nossa bandeira nunca será vermelha”). E, acima de tudo, a apresentação de uma foto com o nome do partido totalmente feito de balas, seguiu dali algumas horas após o anúncio de que o número com o qual será apresentado nas urnas é 38, como o calibre da famosa pistola (“fácil de lembrar”).

Uma escolha na linha da missão de “lutar incansavelmente para garantir a todos os brasileiros o direito inalienável de portar uma arma”. Missão que acompanhará a luta para restaurar a Deus seu lugar “na vida, na história e na alma dos brasileiros”, banir qualquer traço de comunismo e “globalismo” e curar “o flagelo ideológico” da “ideologia de gênero”. Para a estreia real do partido, talvez seja necessário esperar um pouco mais, pois é necessário coletar 500 mil assinaturas em pelo menos nove estados da federação e aguardar o aval do tribunal eleitoral. Uma empresa que dificilmente pode ser realizada a tempo de participar das eleições municipais de 2020.

Entretanto, já está sendo debatida a “orientação explicitamente fascista” da nova força política, sobre a qual enfatiza, por exemplo, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta, que não hesita em descrevê-lo como o “partido da milícia”, em referência aos laços claros do clã Bolsonaro com as milícias paramilitares do Rio de Janeiro envolvidas no assassinato de Marielle Franco, pela qual o filho Carlos está sob investigação, o 02.

E, em matéria de fascismo, houve também o anúncio de um ato solene em homenagem a Pinochet pela Assembleia Legislativa do estado de São Paulo, encomendado por Frederico d’Avila, deputado estadual do PSL próximo a Aliança pelo Brasil, e marcado para 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, essa coisa inútil. É difícil, no entanto, que o evento ocorra: o presidente da Alesp, Cauê Macris, já declarou que vai impedi-lo.

A mesma carta marcada (observações de Marcos Nunes sobre o filme Coringa)

A mesma carta marcada (observações de Marcos Nunes sobre o filme Coringa)

A MESMA CARTA MARCADA, por Marcos Nunes

Fiquei bastante surpreso com o fato de algumas pessoas de minhas relações terem visto – e gostado – de CORINGA. Me obriguei, assim, a vê-lo, ainda que deteste o subgênero “filmes baseados em histórias em quadrinhos com super-heróis”, basicamente porque super-heróis são apenas uma expressão de cultura de massas, que se utiliza da fórmula das soluções mágicas para mascarar a impotência de seus consumidores, inserindo-os em um universo demagógico onde ele tem voz e poder.

Lamento, mas não gostei mesmo do filme, ainda que ele seja diferente dos demais desse subgênero, tanto na construção do roteiro quanto das personagens, além da linguagem cinematográfica que o aproxima mais de filmes realistas como Midnight Cowboy ou hiper-realistas como Taxi Driver e sua violência gráfica. Arthur, o Joker da vez, me pareceu uma fusão de Ratso (de Midnight Cowboy) com Travis (de Taxi Driver).

O tipo esquizo-paranoide que é associado ao cidadão comum, suas mazelas, fracassos e acentuado grau de sociopatia, não me pareceu representar a revolta dos pobres esquecidos pelo capitalismo financeiro versus os ricos que abdicaram de qualquer pretensão a um mundo mais justo e gozam com a multiplicação das injustiças.

Ele me parece mais um… bolsomínion, alheio à política, imerso no ressentimento e, em dado instante, também adepto da solução violenta como expressão de sua potência íntima relegada à marginalidade por um sistema injusto.

Arthur, cuja fisionomia muitas vezes lembra a do vigarista-em-chefe ora no poder, também não sabe de nada, sequer da própria vida e de seu passado. Supostamente a mãe foi vítima de uma trama de ocultação de paternidade sob responsabilidade do vilão da história, o pai de Bruce Wayne (que virá a ser o “Batman”, coisa mais ridícula, um bilionário ocupado em fazer justiça com as próprias mãos para o bem de uma sociedade conflagrada justo pela desigualdade crescente de renda e poder…).

Mas tudo pode ser apenas projeção de mentes paranoicas, mergulhadas no delírio persecutório. Mas também pode não ser.

Nisso entra o discurso subliminar acerca da ignorância, despolitização, incapacidade técnica e fracasso social em que mergulhou a maioria dos habitantes de Gotham City, que passam a cultuar o “assassino do metrô” por ele ter liquidado com três agentes do mercado financeiro (coisa, aliás, bem inverossímil: três corretores do mercado financeiro na madrugada, viajando pelo infecto e perigoso metrô da cidade…).

Isso lembra o que? Exatamente: o revanchismo do pobre que, ao invés de mudar sua condição pela razão e compreensão do jogo político e social de um universo financeirizado, toma para si a figura de um assassino que potencializa suas realizações, dá expressão aos desejos de vingança e às soluções mágicas da violência, da fé cega e faca amolada, que significariam, para essa massa, a fuga do sistema, vitória sobre ele, conquista de força pessoal e coletiva.

Mas tudo que se produz a partir desse herói imerso em complexo de inferioridade é o caos, a anarquia.

Me pareceu que a conclusão do filme é óbvia: dar poder ao povo significará caos irremediável. A miséria que existe é responsabilidade apenas dos próprios miseráveis, mentalmente incapazes e psicologicamente destruídos por uma fusão de ignorância total e desejos irrealizáveis.

Ao imergir na cultura das massas, chega-se à conclusão que o mais perigoso para a sociedade é render-se à demagogia da assimilação dos conceitos do homem comum para melhor feitura e conclusão de um Estado capaz de atender a todos, não apenas àqueles que, em termos darwinistas sociais mais bem dotados, tomam o poder nas mãos, e isso é posto como absolutamente legítimo.

O que é a falta de poder do Coringa se não inadaptabilidade social derivada de males psicológicos derivados não dos conflitos de classe e poder, mas apenas de relações afetivas instáveis e marcadas pelo pendor à esquizofrenia?

Me parece bem estranho que pessoas “de esquerda” tomem o Coringa como símbolo para uma revolta consequente das massas. O que o filme apresenta é justo o posto: ressentidos cuja arma revolucionária é apenas a violência direcionada genericamente aos “ricos”, sem que compreendam qualquer coisa acerca do tecido social construído por determinado modo de produção.

O Coringa representa, isso sim, os bolsomínions, o cara ignorante, violento, preconceituoso, que emerge das massas como expressão do obscurantismo essencial das mentes imersas nas piores patologias. A massa o acolhe como herói, um homem antissistema, despolitizado, que vence como símbolo da estupidez coletiva empoderada.

Funciona, assim, como um aviso contra lideranças políticas “populistas”. E nesse balaio cabe, prioritariamente, quaisquer lideranças políticas de esquerda, jamais os tecnocratas do liberalismo econômico.

Funciona como imagens reveladoras da degradação dos povos, sob única responsabilidade… deles mesmos. São as cartas marcadas de sempre: ou o povo é conduzido por déspotas esclarecidos, ou cria um despotismo próprio, o fascismo, elegendo um líder carismático e pondo-o a serviço de sua irracionalidade patológica.

Não serve como expressão de revolta legítima contra um sistema político e econômico que condena as massas à pobreza e à miséria, mas o inverso: como tal revolta apenas expõe uma massa de ressentidos cuja fúria leva tão somente à perseguição, tortura e morte dos inimigos, designados apenas como “os ricos”.

Diante disso, “chama o Batman”.

E isso é muito pouco. E certamente demais para ter ganho um Leão de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Veneza.

 

O homem infelizmente tem que acabar, de Clara Corleone

O homem infelizmente tem que acabar, de Clara Corleone

Se minhas resenhas são exemplos de jornalismo gonzo, esta talvez bata meus recordes no estilo. Eu conheço Clara Corleone faz algum tempo. Leio seus textos nas redes sociais e gosto deles. Certa vez, tivemos uma dessas tretas de internet — tenho problemas reais com textos que possam levar a linchamentos virtuais — e certamente seríamos inimigozinhos se Clara não fosse tão generosa ao iniciar um papo meio bobo inbox, semanas após a confusão. Agradeço muito a ela, que tem a enorme sabedoria de não cultivar bobagens, pois eu exagerei feio na crítica. Mas fazer o quê? Ela me mostrou o caminho e eu fui. O cômico é que algumas pessoas arregalam os olhos quando digo que estamos de boas, que conversamos, que já tive a honra de participar do sarau literário que ela mantém, que uma de suas irmãs trabalhou na Bamboletras, etc. Bem, espero que ela tenha notado que não sou totalmente escroto…

O homem infelizmente tem que acabar é uma coletânea revisada das melhores crônicas de Clara. A primeira questão seria examinar se os textos suportariam a passagem para o formato livro ou se tornariam um saco vazio. Não, o papel lhes caiu muito bem.

Os temas são conhecidos de quem a lê: o sexo — início (abordagem), meio (convivência) e fim (separações) –, o feminismo, as diversas formas de assédio, o medo, o amor, com sua poesia e sacanagem, o machismo circundante e a sorte de ter uma família calorosa e sensacional, tudo pontuado com muita música e sarcasmo.

Clara não faz grandes teses, mas dá exemplos e exemplos a respeito de como (sobre)vive uma mulher solteira e sexualmente ativa numa cidade como Porto Alegre. Olha, não é fácil, não há paz nem para passear com as cachorras no bairro Bom Fim. Eu nunca assobiei ou chamei mulher de gostosa na rua, mas é óbvio que me reconheci em algumas posturas de machismo mais sutil. Só que também comemorei. Não sou 100% tosco.

Mas sabe o que é bom mesmo no livro? A autora. Ela é uma jovem na primeira metade dos 30 anos que gosta do melhor cinema, da melhor música brasileira e que sabe misturar sua enorme cultura e bom gosto em narrativas do dia a dia. Como deve ter uma jukebox em permanente funcionamento na cabeça, Clara também tem o costume de surpreender, integrando perfeitamente letras de canções em meio aos textos. O bom humor é onipresente e ele torna a crítica mais potente. Clara não tem nada do estereótipo da feminista mal-humorada — provavelmente criado por nós, homens — e está rindo e nos ridicularizando, mesmo que aprecie nosso instrumental. E os textos poéticos sobre o amor são excelentes.

Como não sou um leitor em busca de teses e penso que a ficção e os casos bem contados arranham mais a realidade do que os ensaios, gostei muito de O homem infelizmente tem que acabar. O título? Ora, leia o livro que você entenderá. Tem que acabar mesmo.

Clara Corleone em seu sarau no von Teese | Foto: Carolina Disegna

Imagens cruzadas durante ‘O Messias’ de Händel na Igreja das Dores

Imagens cruzadas durante ‘O Messias’ de Händel na Igreja das Dores

Eu estava assistindo ao Messias de Händel na Igreja das Dores com uma série de amigos. Quando olhei para trás, vi Elena sentada na lateral do confessionário ao lado de Jonatha Arruda.

Foto: Milton Ribeiro

Ela me viu.

Foto: Milton Ribeiro

Ao meu lado, a Cláu Paranhos me fotografava com Marisa Monte — na verdade Marina Vilaça — em primeiro plano.

Foto: Cláu Paranhos

O Jonatha também fotografou a mim e à Elena.

Foto: Jonatha Arruda

Na nossa frente, estava o Mateus Rosada, mais conhecido pelo apelido de Bisnaga.

Foto: Elena Romanov

Ele é um talentoso arquiteto e desenhista e, enquanto ouvia  música, registrava a Igreja.

Desenho de Mateus Rosada

E, no celular da Lia Maria de Medeiros, apareceu isto…

Saiba porque a obra-prima de Scorsese ficará apenas duas semanas em Porto Alegre

Saiba porque a obra-prima de Scorsese ficará apenas duas semanas em Porto Alegre

A Netflix não se importa muito com o antigo modelo de negócios cinematográfico, ela quer é ver seus assinantes felizes e adimplentes. Então, com produção da Netflix, ao custo de US$ 159 milhões, O Irlandês terá somente 2 semanas em cartaz nos cinemas — li em vários lugares que seria apenas uma, mas o Guion confirma duas. Em Porto Alegre, como disse, ele está no Guion Cinemas com exclusividade porque as grandes redes não aceitaram as exigências da Netflix.

E isso ocorrerá no mundo todo. Nos Estados Unidos, por exemplo, apenas 65 salas exibirão o filme. No Brasil, serão 19 salas espalhadas por 15 cidades a partir do dia 14 de novembro. E fim. É claro que a Netflix está mais interessada em promover seu streaming do que as salas de cinema trabalhadas pelas produtoras tradicionais. Mas também está de olho nos prêmios como o Oscar. Então, temos uma pequena chance na tela grande.

O Irlandês narra mais uma uma saga de Scorsese sobre o crime organizado nos Estados Unidos pós-guerra. Contado através da perspectiva do veterano da Segunda Guerra Mundial Frank Sheeran, um assassino profissional que trabalhou ao lado de algumas das personalidades mais marcantes do século 20, o filme aborda o desaparecimento do lendário líder sindical Jimmy Hoffa – e se transforma em uma jornada pelos corredores do crime organizado, com seus mecanismos, leis, rivalidades e associações políticas.

O filme é baseado no livro O Irlandês: Os Crimes de Frank Sheeran a Serviço da Máfia, de Charles Brandt. O livro tem um sugestivo título original: I Heard You Paint Houses, que é uma expressão do submundo do crime dos Estados Unidos, que significa “pintar casas”, melhor dizendo, significa matar, uma gíria derivada do sangue que espirra dos corpos e das cabeças nas paredes contra as quais os mortos se chocam após o impacto dos tiros.

Scorsese fez seus filmes recentes, incluindo O Lobo de Wall Street e O Aviador, na Paramount. Se tivesse feito O Irlandês em um estúdio tradicional de Hollywood, tudo teria transcorrido normalmente, e seria provável que ele aparecesse em um cinema perto de você. Mas a Paramount não se interessou, por causa do orçamento robusto de um filme que abrange décadas.

A Netflix foi a única empresa disposta a assumir o risco do projeto — um filme com ritmo lento de três horas e meia de duração, que conta a história de como o crime organizado se interligou ao movimento trabalhista e ao governo nos Estados Unidos ao longo do século passado.

“A Netflix está recusando uma quantia significativa de dinheiro”, disse irritado John Fithian, presidente da Associação Nacional de Proprietários de Cinemas. “Pense em Os Infiltrados, de 2006. O filme arrecadou US$ 300 milhões em todo o mundo. Garantiu o Oscar de melhor diretor a Scorsese. Ganhou a estatueta de melhor filme. Ficou muito tempo nos cinemas e rendeu uma tonelada de dinheiro. Por que a Netflix não gostaria de gerar receita com isso antes de ir para o streaming? Ele ainda ficaria exclusivo na Netflix”. Ué, mas a Paramount quis esses 300 milhões, né? E quem aceitou investir tem suas regras, não?

Então, como a Netflix quer atrair mais e mais assinantes, daqui a alguns dias o único lugar em que você poderá vê-lo é em casa. Paciência. Pois é claro que o lugar dele é mas telonas.

Mais uma coisa: dizem que a grande cena do filme ocorre só aos 45 min do segundo tempo.

Foto: Divulgação

Lula vai percorrer o Brasil

Lula vai percorrer o Brasil. Vai falar com líderes internacionais. Vai às praias sujas de petróleo do nordeste (um absurdo que Boçalnato nem foi olhar!). Vai falar sobre o desmonte do estado patrocinado por Paulo Guedes. Vai mostrar o plano de Guedes para nos tornar uma colônia dos EUA — o cara é um singelo baba-ovo anos 70. Vai falar da estagnação econômica. Vai comparar. Vai mostrar, com sua oratória brilhante — e não sou lulista –, que Boçal é burro demais. Vai ver Macron e dar beijos em Cristina e Alberto Fernandez. Se a Frente Ampla ganhar no Uruguai, ele vai visitar.

E nós vamos nos foder com este Congresso de baixo nível que os boçalnaristas colocaram lá. (Religião e direita é o mesmo que intolerância e autoritarismo). E a tendência é uma grande explosão. Mas eu vou parar de me preocupar e amar a bomba, porque os estúpidos eleitores de Boçalnato merecem isso mesmo.

E eu vou dizer que prefiro o 6 x 5 ao 7 x 1 deles, bando de trouxas amantes de milicianos. E meu sonho de Pollyanna é que seja instalada inteligência artificial nos eleitores do Bozo. E que, enquanto eles não receberem esse acréscimo, que fiquem quietos, dormindo, sonhando com o AI-5. E fim.

P.S. — E os boçalnaristas nem poderão reclamar muito do STF, pois este colegiado é que está garantindo a não prisão dos filhos de Bolso — que são os verdadeiros Irmãos Petralha. Quem leu Tio Patinhas na infância sabe disso.

P. P. S. — E quem mandou matar Marielle?

Atrás do balcão da Bamboletras (XVIII)

Atrás do balcão da Bamboletras (XVIII)

Eu estava vindo para a Livraria num Uber. Eu e o motorista, um negro, vínhamos falando mal do Inter e ofendendo severamente nossa diretoria. Eles merecem. Bah, merecem muito, mas isso não interessa.

No meio do papo, eu, por algum motivo, falei no livro “Liga da Canela Preta”, de José Antônio dos Santos para a Editora Diadorim. E contei um pouco da história da liga dos negros, enquanto o sujeito arregalava os olhos.

— MAS EU NÃO CONHECIA ISSO!!! Ah, não. Eu preciso ler este livro HOJE.
— Olha, tem na minha livraria e nós estamos indo pra lá.
— Então vou estacionar e comprar o livro. Depois volto pro trabalho.

Quando saímos do carro ele disse:

— Tu sabe que o negro não conhece a própria história, né?

A parte hipócrita da imprensa gaúcha

A combativa imprensa gaúcha diz que o Estado está falido, que é necessário um pouco de sacrifício e aguentar o parcelamento de salários há anos sem reajuste…

Então, para ter uma graninha a mais, o Leitinho cobra o IPVA em janeiro sem parcelamento e a mesma imprensa diz que é um absurdo, que não pode ficar assim!

E o governador — do alto de suas inabaláveis convicções — recua…

Um abuso (ou quase)

Meu pai era um dentista de conversa leve e cômica. Mesmo quando se irritava era leve. Jamais sairia falando sobre ABUSO. E ele era engraçado. Mesmo sério era engraçado. Quando minha irmã, aos 15 anos, disse que estava namorando, ele respondeu “Mas é platônico, não?”. Isso tornou-se uma clássica piada familiar. Mas eu estava dizendo que ele tangenciava e evitava os papos mais difíceis e que por isso não falaria sobre abuso.

Porém, na noite em que eu — tinha uns 8 anos (1965) — estava passeando com o cachorro e depois saí numa fuga a toda velocidade porque um sujeito sentado numa mesa de bar primeiro puxou conversa, depois acariciou minhas pernas e pegou na minha mão, algo me disse que devia falar com ele. Entrei em casa ofegante e contei o acontecido. Ele me olhou com a maior calma e perguntou:

— Foi só isso?
— Foi.
— Mão nas pernas e depois na tua mão?
— Sim.
— Tu reconheceria o sujeito?
— Reconheceria.
— Então, se a gente cruzar com ele, me mostra.
— Mostro.

E ele me olhou fixamente.

— E nunca mais chega perto ou fala com esse cara.

Meses depois, eu mostrei o cidadão para o pai.

— Mas ele é meu cliente! Incrível.

Um tempo depois ele me disse que o tal cliente tinha marcado hora.

— Vou falar com ele.

Com o sujeito de boca aberta, meu pai disse que tinha um filho que levava nosso cãozinho para fazer xixi na rua, às vezes à noite, que eu devia passar perto do bar tal. E que…

— Essa cárie está muito infectada. Acho que vai doer. Muito. Demais.

Meu pai ria dizendo que o sujeito suava e suava. E que sumiu depois desta consulta.

(Só eu, ele e minha mãe soubemos dessa história. Nada de escândalos).

Ser pedestre em Porto Alegre

Ser pedestre em Porto Alegre

Tudo pelo carro nesta Porto Alegre de merda.

Tente atravessar a João Pessoa na altura da República. As sinaleiras para pedestre não são sincronizadas e há quatro pistas. Duas para carros e duas para ônibus. É complicado de atravessar e até de entender. Tem gente que vai e volta correndo… Um perigo.

Ah, é exceção? Então tente atravessar a Borges na altura do Centro Administrativo, no pé da elevada. São 3 pistas que se leva 5 minutos para atravessar. É claro que todo mundo faz a travessia correndo, quando dá uma folga.

E experimente caminhar pela perimetral vindo da ex-Medicina em direção à Procergs pelo lado direito da rua. Há a pista dos carros, que é laaaaarga, e a calçada, que é dividida entre uma pista para ciclovia e outra caminhantes formando uma trança sem fim. Parece feita para que os ciclistas nos atropelem.

Mas o carro… Ah, este tem metros e metros. São outras 4 lindas pistas.

Tudo pelo carro.

E há locais onde a gente atravessa é dá de cara com uma grade…

Foto: Youtube

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Comentário de Eduardo Canto:

Difícil ser pedestre, difícil ser ciclista. Ainda na gestão do Fortunati, foram criadas calçadovias, como a da Restinga, que simplesmente transformou calçadas em ciclovias. Tiraram o pedestre pra botar o ciclista. E com isso se fomenta a guerra entre pedestre e ciclista, pois ai de quem mexer com os carros. O mesmo ocorre em frente ao Barra Shopping. Um pouquinho depois do Centro de Treinamento do Grêmio, termina a calçada e fica só ciclovia. Sobre as sinaleiras, eu já filmei mais de 8 minutos de espera da sinaleira para pedestres e ciclistas no cruzamento da Beira-Rio com Ipiranga, ali ao lado do Dilúvio e do Guaíba. Ou seja, são sistemas feitos para serem burlados. Quer mais? Ciclocoisa da Ipiranga: tem alguns semáforos com 3 tempos para conversão de carros da Ipiranga para pontes que levam ao norte. O ciclista chega, aperta o botão e tem que esperar o novo ciclo para que tenha 10 ou 12 segundos para atravessar. Se chegar e apertar o botão mesmo antes da hora em que o semáforo abriria para ele, ele tem que esperar o novo ciclo. Quando vendi o carro e comecei a pedalar, eu ficava de trouxa no sinal esperando, até me dar conta de que este SISTEMA PENALIZA QUEM NÃO USA CARRO. E agora, eu atravesso quando dá. Mas pior mesmo do que esse descaso dos gestores público-privados (prefeitos a serviço das empresas financiadoras de campanha) é o comportamento de boa parte dos motoristas: odeiam o ciclista, como se ele fosse apenas um pé de chinelo que não tem carro porque é pobre (e aí se fosse?!) e não conseguem enxergar a quantidade de gente que já não entope as ruas com carros para andar de bike. E mais ainda, a quantidade de gente que só não faz o mesmo porque tem medo de ser atropelada. Estamos muito atrasados. Assim como fomos o último país a abolir, pelo menos oficialmente, a escravidão, seremos o último a abandonar o conceito de que ter carro é imprescindível para a felicidade. E, claro, seremos os últimos a termos consciência de classe, que é a raiz de todos esses problemas. Logo nós, um dos países mais lindos desse planeta…

Ah, sim, e quem tem carro e berra é ouvido: a gritaria sobre a ameaça de não parcelamento do IPVA foi ouvida no dia seguinte e o Leitinho, o governador das empresas, já abriu as pernocas.

Bom dia, Zé Ricardo (com os lances de Inter 1 x 1 Athlético)

Bom dia, Zé Ricardo (com os lances de Inter 1 x 1 Athlético)

Para usar um termo que está na moda, o Inter é tóxico, faz mal. Na verdade, a diretoria e seu guru Fernando Carvalho fazem mal. Pois só uma pressão de cima justifica certas escalações. Pô, Patrick a esta hora? Ele só poderia jogar na lateral esquerda, naquele lugar para onde temos Natanael, Uendel, Zeca Oktoberfest, etc.

Já pensaram em somar os salários deles? Acho que dava um, digamos, Filipe Luís + um guri da base na reserva. E se somássemos os salários de Sóbis, Trellez e Parede? Acho que teríamos um bom reserva pro Guerrero. E se pegássemos o Bruno Silva e o Rithely? Bem, não me digam que estas contratações eram loteria, que poderiam dar certo. Quem apostava em Sóbis (há anos não faz um bom jogo), Trellez (idem) e Parede (reserva no Ypiranga), quem conhecia Natanael ou acreditava em Uendel? Ninguém. A margem de erro das contratações pode baixar sim.

Lindoso: um dos poucos acertos da diretoria | Foto: Ricardo Duarte

Ontem jogamos muito, mas muito mal. O primeiro tempo foi de rara pobreza. A saída de bola estava um caos. Lindoso simplesmente deixou de circular entre os dois zagueiros para fazer a saída de bola — ordem de Zé Ricardo? Como consequência, Moledo e Cuesta passaram a dar chutões, no que foram auxiliados por Lomba. Já disse, o Inter é tóxico. Uma providência singela — pedir para que Lindoso fosse uma opção segura de passe — não foi tomada.

Só que Lindoso fez um golaço, mas Zeca Oktoberfest providenciou o empate do, falemos sério, fraco time do Athlético-PR. Os curitibanos jogaram muito mal, se esforçaram para perder, mas nós não sabemos ganhar.

Jogamos 12 pontos contra o Athlético-PR e ganhamos 1. O time deles tem Wellington Martins de volante e capitão. E mais não digo.

No segundo tempo, pressionamos bastante. Perdemos gols e até um pênalti batido por Guerrero. Não sei o que houve com Nico, mas o gol perdido por ele no final da partida — coisa bem comum — foi diferente: Nico queria o gol bonito, não o gol, se me entendem.

E assim seguimos para o Gre-Nal. Estamos prontos para tomar nova goleada. Algo há naquele vestiário, certamente insatisfação, brigas, má gestão. Cada vez fica mais complicado pagar a mensalidade para ver tanta confusão espirrando para dentro do campo.

PS: o Inter teve 6 pênaltis a seu favor em 2019. Errou 4. Devemos treinar muito este e outros fundamentos…