Você se masturbaria para mim?

Conto escrito por encomenda em 2007 para a extinta publicação Comendo Carol com Pauzinhos

Na última vez que tinha visto Carol, ela estava se masturbando. Estávamos na faculdade e estagiávamos juntos no setor de informática da universidade. Eu ia muitas vezes à noite até o CPD (Centro de Processamento de Dados) da UFRGS, quando havia pouca gente por lá. Às vezes não tinha ninguém além dos seguranças da portaria. No silêncio da noite, sem os colegas matraqueando, aquele era o melhor horário para se concentrar e produzir mais e com rapidez.

Numa dessas noites, vi uma porta entreaberta e a luz azulada de um monitor ligado. Fui desligá-lo, mas parei um passo antes da porta. Havia movimento. Carol estava sentada em uma cadeira em frente a um vídeo. Ela estava recostada e fazia movimentos que me pareceram de masturbação. Jamais esquecerei de que ela vestia uma saia preta — repuxada para cima — e uma camiseta branca. Nunca tinha visto uma mulher se masturbando. Havia uma revista sobre a mesa para a qual ela olhava. As páginas mostravam sapatos de saltos altíssimos. Ela virava as páginas sofregamente com a mão esquerda e apareciam mais sapatos, sempre de grandes saltos e plataformas. Dizer que eu estava excitado seria um eufemismo.

Fiquei olhando. Pensei em entrar e oferecer algo, mas… Acabei ejaculando ali mesmo. Ah, os universitários… Ficou uma grande mancha úmida no azul da calça. E mal tinha me tocado.

Fui ao banheiro. Vergonha, vergonha. Voltei disposto a tentar alguma coisa com Carol, mas ela já tinha ido embora. A cadeira onde se sentara ainda estava quente. Cheirei o assento. Infelizmente, minha única ação naquela noite foi uma ejaculação nas calças e minha própria sessão de masturbação antes de dormir. Eu não tinha uma foto de Carol para usar, mas tinha uma boa imagem na minha cabeça. Nunca mais a vi.

Avancemos dez anos.

Estava em São Paulo a negócios. Na verdade, terminava meu jantar num restaurante. Faltava apenas meio copo de cerveja quando senti um tapinha no ombro.

 — Você lembra de mim?

A voz era inconfundível. Sua presença também. Carol, em versão de cabelos longos e mais claros.  Ergui-me e notei que ela estava mais alta do que eu. Dei uma olhada rápida em suas sandálias — eram altíssimas.

— Carol! Como você está? Há quanto tempo!

Ela estava linda. Elegante em uma calças pretas. Os seios por baixo da blusa cinza pareciam maiores do que eu lembrava.

Eu disse a ela que estava na cidade a negócios. Ela me contou que morava a poucos minutos dali e que podia até sentar comigo um pouco. Perguntei se ela já tinha jantado e ela respondeu que costumava jantar muito tarde.

Depois do tradicional papo nostálgico sobre os tempos de universidade, ela me convidou para tomar o café em sua casa. Enquanto caminhávamos, as memórias de meu gozo voltaram. Que lamentável.

Empurrado pelo álcool, comecei a contar a ela a história de dez anos atrás. Tudo. Como eu a vi se masturbando e o que fiz em minhas calças enquanto assistia. Como fui me limpar e de que quando voltei ela havia sumido.

Ela pareceu envergonhada, mas um sorriso cristalizou-se em seus lábios por um longo tempo. Disse que não tinha ideia de que alguém a tinha visto fazer aquilo. E que fizera algumas vezes. A atmosfera entre nós começou a aquecer.

Quando chegamos a seu apartamento, eu disse que gostaria de lhe pedir um favor. Afirmei que entenderia se ela dissesse não, mas que esse tipo de oportunidade nem sempre se apresenta.

— Você pode se masturbar para mim? Ali. Naquela cadeira. De frente para a parede. Eu gostaria de repetir aquela noite.

E acrescentei:

— Ah, se você tivesse uma camiseta branca…

Ela olhou para mim com um brilho nos olhos:

— Posso usar a sua? — respondeu, apontando para meu colarinho aberto onde ela entreviu minha camiseta.

Tirei a camisa e a camiseta. Ela sorriu, agarrou-a e foi ao banheiro.

Quando saiu, minha camiseta e suas sandálias altíssimas era tudo o que usava. Vê-la com minha roupa amarrotada, com os bicos dos seios marcando o tecido e a mancha escura do púbis mais abaixo foi extremente excitante. Recuei, saindo do quarto, deixando a porta entreaberta. Eu queria recriar o momento de dez anos atrás. Ela ali, de pernas abertas, se masturbando. Mas logo ela se virou.

— André! Eu … estou tão envergonhada.

— Mesmo?

Fui até ela, com meu pau querendo explodir.

Ela abaixou meu zíper. Eu quero comê-la. Eu quero transar com ela. O boquete que ela começou foi um dos melhores que eu já recebi. Com o punho direito na base do pênis e a quantidade certa de saliva. A mão quente tocando minhas bolas conforme o ritmo. Alguns segundos depois, ela colocou a mão livre de volta em sua vagina.

E então sussurrou:

— Primeiro eu gozo.

Ela se afastou de mim, recostou-se na cadeira, brincando com sua boceta cada vez mais rápido. Estava claro o momento em que seu orgasmo a dominaria. Sua respiração acelerou. Ela gemeu.

Assisti tudo, espantado com a beleza de Carol e imaginando seu clitóris…

— Mmmm, sua vez. Venha aqui, André. É hora de engolir seu pau.

Carol voltou ao boquete. Passou a chupar mais rápido. Quando minhas bolas estavam a ponto de explodir, de transbordar, ela afastou seu rosto e mandou eu cobri-la de porra. Um jato desenhou um traço branco sobre seu nariz e sua boca. Depois, vários pingos caíram sobre a camiseta.

Então ela se levantou limpando parcialmente a boca com a língua, abaixou a cabeça e deu-me um profundo beijo. Senti minha porra em seus lábios e língua. Segurei firme a nuca dela.

Depois ela sorriu com o batom manchado. Colocou os dedos fortemente na boceta e os levou até minha boca. Sentir primeiro minha porra e depois sua umidade foi demais. Nos beijamos novamente por longo tempo.

— É assim que você imaginou há dez anos?

Tudo o que pude dizer foi:

— Minha imaginação foi pobre, comparada com isso.

Ela disse que estava com fome e que ia esquentar a comida do dia anterior. Fomos à cozinha e ela jantou, mantendo-se em minha camiseta o tempo todo. Eu apenas bebi vinho e dividi a sobremesa.

Dormi na cama dela. Mas Carol fez o despertador tocar muito cedo, antes do amanhecer. Justificou, tirando finalmente minha camiseta:

— Não pense que vai embora sem me penetrar…

Ela atirou longe minha camiseta e pude finalmente ver seus belos e grandes seios, certamente turbinados.

A camiseta ficou lá. Um dia eu busco.

O Conselheiro

Passei boa parte de minha vida em Salvador. Ou, sendo franco, uma má parte dela. Salvador não é para mim, sabe? Nada tenho contra negros, mas detesto trepar com negras. Tudo bem, atualmente quase todas são limpinhas e algumas podem até ler razoavelmente, o que não suporto são aqueles beições aproximando-se de meus lábios caucasianos. Dá-me arrepios.

Uma vez, logo ao chegar, saí à noite com um amigo a fim de arranjar mulher. Meu atraso naquela cidade era monumental, estava a ponto de comer qualquer uma, sabe? Coisa inteiramente contra meus princípios. Meu amigo chamava-se Rudá e apareceu com um carro enorme, luxuoso mesmo, dizendo que seu pai era produtor de Gilberto Gil e de Jorge Amado — talvez ele pensasse que Amado estivesse vivo e fosse cantor — e, enfim, entramos na geringonça. Claro, o que nos apareceu foram negras, mas eu estava tão a fim que toparia até a Aracy de Almeida. A moça era bonita para quem gosta de samba e fez de tudo comigo. Porém, apesar de meu pau estar em riste, meu sangue caucasiano negava-se a doar esperma para aquela mulher. Ela, inteligentemente, pensou que eu quisesse outra coisa e resolveu oferecer-me o traseiro, que foi aceito de bom grado. “Assim, ela fica de costas”, pensei. Não vou entrar em detalhes a respeito, mas o ato provocou-lhe um efeito de supositório e, meus amigos, o fecaloma desceu com espetacular pressão. O filho do dono do carro ficou absolutamente possesso com aquilo. Eu também, claro; afinal, o desarranjo ocorrera no meu colo. Só que eu não tinha nada a ver com o resto. Os bancos eram de couro, mas grande parte da cabine ficou suja por aquela explosão inesperada. Havia salpicos por todo lado, pois eu tentara escapar de qualquer jeito. O que fazer? A menina pediu desculpas, ficou mesmo penalizada com a involuntária lavagem intestinal que fizera sobre mim e quis ir embora. Meu amigo berrou que ela tinha que lavar tudo, mas eu fui contra, pois como ela poderia limpar o carro no estado em que se encontrava? Fomos até o MacDonald`s mais próximo, onde entramos no banheiro. Os clientes nos olharam admirados, pensando que talvez fosse barro, mas logo sentiam em suas narinas a inequívoca verdade. Empestamos todo o banheiro. Estava tão maluco que pensei ter visto vermes subindo em minhas calças. O segurança da casa queria nos tocar para fora, mas eu lhe respondi que só sairia dali abraçado com ele e o cara foi embora tapando o nariz.

Usamos todos os papéis higiênicos e mais o conteúdo dos vidrinhos de sabão líquido. Meu amigo pediu mais:

— Ô Segurança! Acabou o sabão e o papel!

Veio o gerente da loja. Estava irritadíssimo e nos corrigiu dizendo que o MacDonald`s não tinha seguranças e sim Agentes de Prevenção à Perturbações e Interferências. Bem, acho que a caganeira entrava na segunda parte. E na primeira também. Mas ele foi buscar o que pedimos, sob a condição de que saíssemos imediatamente após a limpeza. Era um pobre de cabelo bem cortado, vestido de dândi, como o Mac gosta. Ele entrou com o material, entregou-nos e acendeu um cigarro. Fiquei puto com aquilo, sou pela saúde, mas o cara me respondeu que agüentaria melhor nossa presença com um cheiro conhecido. OK.

Explicou-nos que a segurança é satisfatória quando é capaz de retardar ao máximo uma possibilidade de agressão e é capaz de desencadear forças – no menor espaço de tempo possível – capazes de neutralizar a agressão verificada. Não sei bem onde entrávamos nós e o cigarro naquela bela falação, porém ele continuou dizendo que estava ali porque nada devia impedir o curso normal da empresa e devíamos sair dali com ar satisfeito, mesmo que tivéssemos entrado como entramos. Foi um interessante momento cultural com que Salvador me brindou.

Depois que saímos todos molhados do estabelecimento, Fred queria achar a mulher que causara aquilo a fim de que lhe limpasse o carro. Claro que ela havia sumido. Vi o estado do carro e declarei a Fred que aquilo não era trabalho para uma empregada doméstica, aquilo requeria uma limpeza profunda com higienização interna, lavagem e aplicação de bactericida em carpete. Ficou claro que a cidade de Salvador e as soteropolitanas não eram para mim.

Ademais, havia poucos leitores de Chesterton na cidade e, os que haviam, ficavam tresloucados ao primeiro rufar de um tambor. Não era possível levar nada à sério e sou um homem assim, sério, empenhado nas coisas e que tenta guardar alguma coerência perante a vida. Sou um neoliberal culto que não fica tantalizado por tambores, que não se alegra em ver gente pulando e que teve sua última grande alegria com a queda do muro de Berlim e a ascensão de Collor. Poderia dizer que sou um neoliberal da linha dura. Sou íntegro, pragmático, mas costumo dar minha rezadinha, e, se hoje dedico-me ao comércio, demonstro minha honestidade em cada ato, fazendo questão de pagar os impostos extorsivos que não resolvem os problemas de nosso país, servindo apenas a que ministros desta nova dita esquerda roubem e se locupletem em convescotes, muitas vezes regados a canções de nosso ministro-cantor.

É um absurdo fazer-nos pagar essas coisas, mas eu pago. Só soneguei quando não me restava mais nada a fazer. Coerência é algo importante, porém ela só poderia ser cobrada se as atitudes de nossos governantes formassem uma linha reta, uma estrada plana, não a cobra peçonhenta e tortuosa que vemos. Somos então obrigados a refletir sobre cada mudança e decidir, sempre segundo a ideologia que nos apóia. Olha, não é fácil, há que ter força mental e muitos caem pelo caminho, seduzidos pelo fácil.

Já lhes disse que o nome de meu amigo cujo pai era produtor de Gilberto Gil (e Jorge Amado) era Rudá. Seu pai deu-lhe este nome ridículo por causa do filho de Oswald de Andrade. Quando conheci seu pai, para tentar agradar, perguntei sua opinião sobre Memórias Sentimentais de João Miramar. Como resposta, obtive um “o que é isso, é um livro?”. Então, naquele momento, entendi que o produtor cultural gostava de uma fachadinha, de um polimento bonito, de uma citação e que só sabia da Semana de Arte Moderna e olhe lá. Esse pessoal é muito imbecil mesmo. Só que ele me arranjou emprego para auxiliá-lo. Não houve risco algum, não refutei as idéias que me movem. Minha função era arranjar belas mulheres para os artistas que se apresentassem na cidade. Era um trabalho fácil, ao qual dedicava-me com afinco. Tinha catálogos com características e fotos de muitas moças e, do outro lado, procurava descobrir o que cada artista gostava mais. Foi assim que descobri que os negros escolhiam sistematicamente as loiras; só que pele branca e o cabelo amarelado eram produtos raros naquela zona tropical.

Foi neste ínterim que conheci Isaura, mas creio que é chegada a hora de abrir novo capítulo.

(continua)