Pergunta

Comentários como os que o post A (pouca) utilidade das oficinas literárias, segundo Dacanal e outros receberam não podem mais ficar meio escondidos. Há ali observações melhores do que as escritas em meu texto. Tenho que inventar alguma coisa. Estou pensando em imitar o Luís Nassif. Invento um título para o comentário, transformo-o em post e boto no início Por Fulano de Tal. O que acham?

Estou em dúvida MESMO. Nem todos os posts geram bons comentários, porém, por exemplo, este sobre as oficinas fizeram com que eu me envergonhasse de meu texto. O Victor e o Marcos — mesmo em posições antagônicas — escreveram melhor do que eu faria. E aquele onde o Farinatti e o Charlles se engalfinharam no mais alto nível discutindo García Márquez, idem. Tenho que pensar numa solução. Sugestões?

Atualização das 7h30.Casualmente, vejam o que aconteceu (recebido por e-mail):

Já instalado no SUBSTANTIVO PLURAL para ser publicado aí por volta das 10 horas da manhã, no máximo:

Uma recentíssima discussão, no blog de Milton Ribeiro, em torno da duvidosa utilidade das chamadas “oficinas literárias”, permitiu que um colaborador identificado apenas como “Victor” (sem sobrenome), assim se colocasse – isto é, com extraordinária sabedoria e precisão, em “mai modess opinion” [conforme diria o agora acadêmico da honorável Academia Alagoana de Letras, o escritor troglodita-poliglota Fernando Affonso Collor de Melo, nosso novo Machado de Assis – uma vez que ele gosta de resolver tudo a machadadas, com “aquilo roxo”, as ventas acesas e o olhar de doido varrido]:

VICTOR:
on Sep 2nd, 2009 at 1:23 pm

Permitindo-se o Milton afirmar que o ato de escrever é um ato de paixão (e concordo), posso dizer, sem risco de tangenciar a pieguice, que, dentre todas as espécies de paixões, essa é do gênero das desesperadas.

Escrever é, portanto, um ato de desespero – e, por favor, enxuguem a leitura dessa frase de toda glamourização possível. Não há nada de glamouroso, elegante e romântico nesse e em qualquer outro tipo de desespero. Não há espaço para vaidade, autocomplacência e pretensões de superioridade intelectual que sobrevivam ao processo de manifestação dessa pulsão.

Por isso, não consigo imaginar como esse desespero pode ser “elaborado”, aprimorado, por uma oficina. “Venha cá meu amigo, vamos ver como anda essa pressão fudida aí em você. Já verificou se não é algo físico? Uma má digestão? E no terapeuta, você já foi, pra ver se uma catarse psicanalítica não resolve? Já? Perdoe as perguntas, mas é preciso ter certeza de que não há outra alternativa senão impor todo esse palavrório a si e a seu punhado de leitores hipotéticos (veja bem, “hipotéticos”). Então, estando você resoluto, venha cá com nosso grupinho pimpão, porque vamos burilar esse desespero conforme as técnicas narrativas já consolidadas”.

Claro, há algo de técnico nessa espécie de paixão, e exige alguma habilidade, coisas que podem ser aprimoradas (e definitivamente o são, nem que seja na base do pau). Mas acredito piamente que esse aprimoramento é absolutamente idiossincrático, e a última coisa que a literatura precisa agora é que modelos consensualmente aceitos sejam repassados de modo didático a quem não foi capaz de descobri-los sozinho, em suas leituras e escritas – inclusive porque, se o sujeito foi incapaz de perceber por si a necessidade de foco (ou de brincar com a ausência propositada de foco), de musicalidade (ou de quebra cacofônica de todos os ritmos) ou de conflito (ou de expectativa de conflito nunca saciada), então pouco futuro terá como escritor “sério” (olha só essa palavra até cabe), e admita que esse lance de oficina não passou de terapia ocupacional.

Seu sobrenome é Lisboa. Ou, como diria James Bond: Lisboa, Victor Hugo Lisboa.

6 comments / Add your comment below

  1. Respondendo a pergunta: deixa fluir e não encuque, faça o que der na telha, se gostarmos, vamos em frente, senão, metemos o pau em ti (sem trocadilho).

    Observação: percebo nos meus caros amigos uma tendência de julgar todo escritor um “artista torturado”, com laivos de Romantismo anacrônico. Ou um ser suprasensível capaz de retecer um novo universo a partir dos ancestrais fragmentos de grunhidos que é a linguagem. Bah, o escritor é um merda igual a nós, talvez só com um sentido de perversão mais desenvolvido para elaboração de tramas e descaminhos verbais; faz lá seus joguinhos, chamam a gente pra participar, mas nada que os coloque num Olimpo, ao menos como semideus, ou seja, filhos de uma puta comida por Zeus e comparsas de seu divino gênero.

    Vejamos Kant, um tipinho de quem se dizia tão previsível e ordinário que seria possível acertar os relógios pela passagem dele por determinado lugar. Construiu boa parte da arquitetura na qual se sustenta o mundo moderno, mas era de uma trivialidade imensa no campo pessoal. Mas deixemos Kant pra lá, porque os escritores estão muito aquém dele. Diabos, então por que falei em Kant?

    1. Sempre modesto, Milton, o que é uma bela característica sua. Hoje estou com pouquíssimo tempo, falando de uma lanhouse, mas li agradecido seu post e os comentários. Esse Victor (que tem um complemento nominal que soa tão bem nessas nossas paragens de escritores de nomes compostos) em nada me surpreendeu com suas outras contribuições desde que li aquele insight pynchoniano dos poetas irlandeses falando em latim (se me engano, que o “mauro” me defenda), em sua defesa de Rosa. Reconhece-se o talento só por uma frase voluntariamente mal acabada. Há muito que me sentia afundado numa falta de diretrizes e referências literárias, esquecido nesse canto de mundo onde o que vale é o progresso à toda a prova, o mundo financeiro e a igreja universal, até quase a gente se indispor seriamente com a idéia de Deus pelo próprio conceito de “espírito” não mais fazer sentido. retornando ao GGM, e que o Farinatti me dê razão, o colombiano era alicerçado por um número incontável de amigos intelectuais, naquela inexpressiva tribo chamada colômbia. Teu site, tuas idéias, esses comentaristas que sabe-se lá de qual rincão do milagre saíram para surrealizar teu blog, fazem muita diferença para dispersar um pouco esse niilismo sombrio onde sou só um numero num contra-cheque, mesmo que um consolo virtual (mas isso não está transvertando valores?).

      Para o Nunes: parafraseio o Jean Genet: escrever é manter o rigor no desespero.

      Agora fecho o livro e vou ordenhar a Vaca.

  2. Ô Milton, como sua dúvida é séria (respeito o uso das maíusculas), vou dar minha opinião: sou habitual visitante do Nassif e, embora ocasionalmente eu leia os comentários de terceiros que ele “posta”, faço isso com uma vontade muito da meia-boca – e, mesmo nesse caso, o que me interessa realmente são os comentários que o Nassif faz em cima desses outros comentários.

    Em suma, se visitamos o blog de alguém, é para curtir suas palavras. Os terceiros sempre soam meio intrometidos.

    E tem mais. Há comentadores nobres que desejam colaborar com o autor e contribuir com suas idéias para o debate. Porém, há comentadores como eu, que recorrem a esse hábito justamente pelo que há de “covarde” e oportunista na posição (e, portanto, divertido): poder opinar e ficar na berlinda, sem exposição, sem se sujeitar à contradita, voando baixo, recolhendo-se no anonimato quando a coisa aperta. Comparando aos soldadinhos de plástico verde de nossa infância, comentadores como o Mauro e o Charlles seriam aqueles soldados de pé, arma em punho, ligeiramente inclinados para afrontar o inimigo, enquanto comentadores como eu, que sequer informam o sobrenome, seriam os “snippers” deitados no chão, arrastando a barriga na grama feito minhoca, para dar tiros no meio do matagal sem levar um balaço.

    E veja que eu já estou num certo prejuízo! Enquanto o Mauro maneja, com sapiência e familiaridade, o nome de Kant, há texto na internet em que, sem querer (e em que pese a indiscutível excelência da intenção do Fernando Monteiro, que muito me honra), meu nome figura quase ao lado do de Fernando Collor! Assim é sacanage…

  3. Milton
    Já que perguntou e seguindo um pouco o que disseram o Marcos, o Charlles e o Victor Hugo Lisboa, eu gosto mais do jeito que está. Você sobre os comentários para post quando julgar legal. Mas é só uma idéia de quem vem sempre e comenta pouco.

    Ah… Charlles: eu te dou razão. Mas queria apontar um fragmento do teu comentário:

    “esses comentaristas que sabe-se lá de qual rincão do milagre saíram para surrealizar teu blog”

    Ouça o eco da música do GGM aí!!!! E muito bem usado, muito bem!!!

    1. hahahaha! Devo te agradecer, pois isto foi um elogio, Luís. Isso deve ser uma espécie de sinal maçônico. Há frases minhas em que detecto essa ressonância da música de GGM, mas sempre me consolei pelo pensamento de que ou fosse impressão equivocada, ou senão tal assoviamento passaria despercebido. Mas eis que tu aparece e me desmascara. É igual quando eu era adolescente viciado em Hemingway, o que derivou em uma epidemia de redações escolares e pequenos contos engavetados com aquela voz de índio lacônico do Hemingway dominando tudo.

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