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  1. Reconhecimento

    Correu para cumprir a encomenda no prazo, e o fez três semanas antes. Claudio era um criador de software de primeira linha no ramo de telecomunicações, e a operadora ficou muito satisfeita com a incrível solução oferecida por ele, uma pequena revolução no mercado de telefonia móvel: o usuário registra um tema pessoal em seu próprio aparelho e, quando ele faz uma ligação para terceiros, estes ouvem o padrão temático do primeiro em seus aparelhos, reconhecendo o emitente da chamada pelo seu gosto musical, fosse ele apurado ou não. Uma bela inversão da tecnologia já existente. O problema é que, depois de implementada a invenção, o faturamento da operadora diminuiu, pois muitos deixavam de atender as chamadas, não tanto por reconhecer o emissor, mas por detestar o tema escolhido por ele. O próprio Claudio, erudito, escolheu a abertura do Quinteto para Piano Op. 57 de Shostakovich; desde então, suas ligações se interrompiam depois de pouquíssimos segundos de execução da peça. Essa nem tua mulher aguenta, lhe dissera um amigo empregado na mesma softhouse, que, por precaução, trocara o número do celular e bloqueara todos os números de pessoas que passaram a utilizar a tecnologia, pouco tempo depois posta em desuso. Gosto não se discute, lamenta-se, conforme dizia o ditado devidamente repaginado, e Claudio aprendera que nada irritava mais alguém do que um outro querer impor a ele seus próprios gostos, ideias e medidas sobre o mundo e as coisas. Como recebera à vista pelo trabalho, menos mal; ao menos a esposa pudera finalmente redecorar a sala com móveis mais modernos. Dos quais ele não gostou nem um pouco.

      1. Não dá para falar direto com os chefões do tráfico pois todos os telefonemas passam necessariamente e preliminarmente pelas autoridades de segurança, que convertem o sinal e ouvem somente o hino queeniano “We are the champions”.

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