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  1. I wanna hold your hand

    Os Beatles constavam em sua discoteca básica dos rejeitados, principalmente porque detestava a canção I wanna hold your hand, tão básica e infantilóide quanto All you need is love ou Hello, goodbye, mas seu arranjo mais jovem guarda fornecia a essência do que era o grupo sem os arranjadores que, por exemplo, elevaram a qualidade das igualmente horrendas canções da Tropicália, que deve mais à Rogério Duprat do que à sua dupla de compositores principais, infelizmente ainda vivos e atuantes.

    O pior de tudo é a alegria, diz-se sempre “contagiante”, da ordinária pecinha musical. Os vocais de programa infantil, parecendo um corinho de crianças.

    No mais, gostava de músicas alegres e curtas. Até dos movimentos mais dinâmicos das músicas clássicas. Canções tristes, adágios, largos, baladas e boleros… Não. Uma concessão ao tango, pela dramaticidade onírica, ou patetice de corno conformado.

    Naquela manhã partilhava sua primeira refeição com a namorada em casa (que, um ano depois, viria a ser sua esposa). Conversavam sobre preferências musicais. Buscavam “a nossa música”, clichê típico da música popular de consumo produzida para cidadãos exemplares e entediantes como nós, ele disse rindo para ela, depois de especificar “tudo, menos Beatles”, ao que ela riu também e cantarolou Te Amaré Y Después. Bonito isso, mas muito triste. É de quem? Silvio Rodriguez. O cubano? Sim, ele. Nada engajada. Não são tantas as canções dele que são políticas. Parece tango. Principalmente a letra. Piegas. Derramada. Termina assim:

    Te amaré, te amaré, junto al viento,
    Te amaré, como unico ser
    Te amaré, hasta el fin de los tiempos
    Te amaré, y después te amaré

    Ela canta bonito. O momento é alegre.

    1. É preciso ter muita coragem para escrever a letra de Hello Goodbye, que ouvi aos 11 anos em 1968 e que acho de contagiante alegria… Pode ser a infância, claro… Será mesmo?

      1. N’A mulher do lado, do Truffaut, a personagem principal diz lá pelo final que só gosta das músicas populares mais ingênuas e bregas, porque soam verdadeiras e dizem coisas como “não posso mais viver sem você”, etc, enfim, o basicão de nossos sentimentos em caos, revoluteando sem eixo ou sentido. Essas músicas dos Beatles, completamente tatibitates, estão entre as melhores deles (com exceção da horrenda O-bla-di O-bla-dá), mas não as credito à infância, e sim ao olhar póstero lançado à infância, que esqueceu o quanto ser criança é uma experiência massacrante, dolorosa mesmo, apesar dos doces, das pipas, das bolas de futebol e gude, etc. No mais, somos esse amálgama de coisas do passado remoto e do projetado futuro, nesse presente em movimento, perdidos e abobados entre sensações prazerosas e suicidantes, cientes de nossa condição de não sábios que criam a partir do que sabem e mais ainda do que nada sabem. Pô, cara, que vidinha complicada! Hello, goodbye.

      2. Eu concordo, Marcos. Quando disse infantil, fiz uma metáfora infeliz sobre a simplicidade dos versos e sobre ao o fatoi de ter conhecido a música em MINHA infância.

        Realmente, deixemos obladi-obladá fora de nosso horizonte. Gosto muito de Hello Goodbye e de quase todas as canções dos Beatles, mesmo as de letra mais babaca. Aliás, os Beatles tinham um Rogério Duprat, George Martin. O homem era (é, não morreu) um arranjador estupendo. O que ele fez em I am the walrus (com uma baita citação de Villa-Lobos), em todo Sgt. Peppers, White Album, Magical Mystery Tour e Abbey Road, com destaque especial para o trio de canções acompanhadas por quarteto de cordas (Yesterday, She`s leaving home e Eleanor Rigby) ainda está para ser superado. E talvez não seja nunca.

        Sua falta foi sentida em Lei it be. E como.

        1. A reparar que não esposo as opiniões do personagem e não acho que Caê e Gil obtiveram de Rogério Duprat qualidades que não tinham, como comprovou-se pelo desdobramento das carreira dos dois até uns anos atrás, quando a coisa degringolou ou simplesmente se esgotou; Duprat abrilhantou maaterial popular de boa qualidade, como George Martin, este último de maneira mais ambiciosa, creio, o primeiro mais funcional, sem deixar de ser por vezes excelente. Além disso, gosto dos Beatles.

      3. Ah, esqueci de Strawberry Fields Forever, com as cordas tocando numa tonalidade diferente de Lennon por um efeito de gênio: ele reduziu a velocidade do gravador, desafinando tudo e mandando Lennon cantar em cima. Tudo porque o ouvido de Lennon o impedia de “desafinar” como Martin desejava.

        Até hoje as pessoas ouvem SFF e acham que há algo de estranho. Há mesmo!

  2. Lembram que o George Martin fez um CD com atores e cantores regravando Beatles? Meu irmão, como todo fã, comprou e se arrependeu. A única coisa que presta no CD (e por isso veio pra cá ao invés de um sebo) é a Goldie Hall em A hard days night. Canta sussurando, a melhor versão que eu já ouvi. Quase ninguém conhece e eu tenho. 🙂

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