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  1. Métodos

    – Mais, mais, mais pra cima, mais, levanta essa porra, caralho!

    Talvez por erro de cálculo, a viga, suspensa por um guindaste, o fez pender para a frente e cair sobre várias peças e materiais de construção depositados no galpão ao lado do estádio cuja construção ainda se iniciava; mais do que as perdas de material, a queda vitimou o operador do guindaste mais cinco operários que andavam por ali, transportando ou armazenando alguns itens da obra.

    A sindicância apurou a responsabilidade exclusiva do operador do guindaste; as testemunhas que acompanharam a operação monitorada pelo engenheiro ratificaram a conclusão, e os familiares dos operários mortos fizeram jus apenas às indenizações de praxe, pagas de forma escalonada pela construtora, uma família por vez e por seis meses cada quantia.

    As obras ultrapassaram o cronograma oficial, permitindo ao prefeito e governador várias cerimônias quando do cumprimento de cada etapa, mesmo sob atraso. O estádio, ultra moderno, será para sempre, diz-se nos discursos sucessivos.

    Dois anos depois da inauguração, a contabilidade ainda está sob suspeição no Tribunal de Contas, prefeito e governador foram reeleitos para mais um mandato cada um e as famílias dos operários mortos se espalharam pela cidade, em bairros distantes, alguns constando no efetivo de milícias, outros vendendo doces, alguns são camelôs e circulam software e discos piratas, uns poucos seguiram o destino das vítimas do acidente e também morreram, sob variadas circunstâncias. O estádio tem infiltrações e problemas outros de manutenção; encontra-se em um bairro distante e é subutilizado.

    – Mais, mais, mais pra cima, mais, levanta essa porra, caralho!

    O engenheiro ainda repete a mesma voz de comando.

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