É difícil encontrar um homem bom, de Flannery O`Connor

O escritor Fernando Monteiro presenteou-me com este livro para que eu lesse o conto de abertura. Ele sabia que eu leria o resto, é claro. Flannery O`Connor (1925-1964) foi uma extraordinária escritora. A leitura dos contos de É difícil encontrar um homem bom é, no mínimo, uma experiência diferente. Escritos com economia, são histórias povoadas por vítimas odiosas, mesquinhas ou ridículas, acompanhadas – o termo é exatamente “acompanhadas” – de algozes involuntários ou indiferentes. Em comum, poderia dizer que todos são estúpidos, têm vozes desafinadas, são crentes e estão irremediavelmente perdidos. Parecendo detestar os próprios personagens, a autora deixa-os ir em direção do grotesco e do gratuito e é duríssima para com o sul dos Estados Unidos, terra de Bush e de proto-Bushes. Não obstante, a contradição entre estupidez e tensão torna algumas histórias extremamente engraçadas. Afinal, um dos modos de se descaracterizar desgraças é recorrer à hipérbole, ou seja, levá-las a inconcebíveis exacerbações. É isto que Flannery faz com maestria e é compreensível que a autora desse gargalhadas enquanto lia seus contos para os amigos. Fortemente recomendado por este blogueiro, o livro está à venda numa edição da Arx.

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  1. Há alguns anos eu li um livro cujo título era “Não mandem flores para Miss Jones”, ou “Uma orquídea para Miss Jones”, ou alguma coisa parecida. Tenho quase certeza que era de O’Connor. Pela violência da história, nunca pensei que fosse uma mulher a autora.
    Talvez eu esteja enganado, mas eu não costumo esquecer nomes de autores de livros de que eu gosto ou que me surpreendem, como foi o caso desse sobre a infeliz Miss Jones.
    Um resumo: uma herdeira, Miss Jones, é sequestrada. A polícia começa a investigar e chega a uma quadrilha tipo Família Baker. A matriarca da quadrilha é presa na “mão grande”* para que os filhos se rendam. Os filhos, apavorados com a prisão da velha, começam a se entregar, menos o responsável pelo sequestro. “Waterboarding” é parque de diversões perto do que a polícia faz com todos, até que alguém diga onde está o sequestrador. A polícia descobre onde está o sequestrador e ele resolve dar uma de James Cagney em “Inimigo Público” (a bem da verdade, querendo ou não ele ia acabar como James Cagney).
    A polícia encontra o quarto de hotel onde está a vítima… o final só lendo o livro. Não quero sacanear ninguém.

    * Sem mandado, sem culpa formada. USA, anos 30.

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