Time dos Sonhos, de Luís Fernando Verissimo

O problema de Time dos Sonhos (Objetiva, 2010) não é o autor, mas sim a forma como o livro foi montado. Trata-se de crônicas futebolísticas — quase todas referindo-se a Copas do Mundo — publicadas em jornais entre o anos de 1997 e 2009. Ou seja, há unidade temática, porém esta é desfeita pelo fato dos textos não obedecerem à ordem cronológica. Para quem acompanha futebol, é desagradável ter de adivinhar o contexto de cada crônica ou olhar o final do livro em busca da data de publicação original. A todo momento, saltamos da Copa de 2006 para a de 1998, para depois cair em lembranças de 1990 e voar para a vitória de 2002. As quatro subdivisões do livro — Para que serve o futebol, O time dos sonhos, Ser Brasil e Jogo de cintura — , não me disseram muito. Não obstante este chateação, o texto de Verissimo permanece enxuto, engraçado e compreensivo para com a loucura dos tarados pelo esporte.

Há crônicas extraordinárias, principalmente aquelas sobre com referências a João Saldanha, às domingadas, à comida mexicana, à vida dos jornalistas durante uma Copa do Mundo e aos principais jogadores que encantaram o autor. Este, excelente observador e escritor, é exato, jocoso e nunca inferior aos fatos descritos, mesmo que os conheçamos em detalhes. Uma pena a desorganização do volume. O que poderia ser um livro de referência é confusão.

Indico o livro aos loucos por futebol e aconselho que sua leitura seja feita na base de uma crônica por dia. A leitura de todas em sequência prega sustos e nos faz cometer repetidos equívocos.

8 comments / Add your comment below

  1. Entre um jogo e outro…

    BRINQUEDOS
    by Ramiro Conceição

    É bonito
    ver brinquedos
    espalhados
    numa sala:
    é a ordem que
    desobedece
    a desordem
    da morte
    que não basta;
    é a vida que,
    sem medo,
    se espalha
    entre seres
    e galáxias.

  2. Luís Fernando Veríssimo é ótimo. Foi febre nos meus tempos de colégio, e todo mundo, mesmo os que não gostavam de ler, devorava as crônicas do Analista de Bagé, e seus muitos mini-contos de matar de tanto rir. Acho-o o maior humorista do mundo, junto com Sholem Ash.

    Não leio nada, deliberadamente, sobre futebol. Fui limitado no campo da alienação apenas ao rock, um vício que nunca consegui abandonar (há dez anos, achando o Jagger, o Ian Anderson e o Zep tudo uma grande palhaçada, vendi uma coleção invejável de vinil e cd, a preços módicos. Tinha discos piratas do Pink Floyd que muita gente daria um dos braços para ter, inclusive a famosa trilha sonora não aproveitada do filme do Antonioni, Zabriskie Point, que eu havia comprado num dos muitos lançes de sorte que sempre tive em sebos). Por isso, jamais lerei esse livro, mesmo sendo do Veríssimo.

    Mas lembro que, numa tarde de tédio absoluto, deparei-me numa biblioteca com a “Pátria de Chuteiras” ou coisa assim, o volume pela companhia das letras das crônicas futebolísticas do Nelson Rodrigues. Fui lendo, folheando, deixando-me encantar. Pensei: pô, se todos os aficcionados em futebol enxergam a coisa por esse prisma, trata-se de uma grande perda da minha vida. Lembrei-me do rancor de ter marcado um gol apenas_contra_ nos tempos de minha infância, e de, na época, ser sempre o deplorado, o que ninguém gostaria de ter no time, até que me conformei e, não sem um fino e trabalhado ódio, abandonei tudo relacionado a futebol. (Fui campeão de natação e damas, e uma vez entrei para os anais da história do Colégio Marista por ter contribuído por uma derrota vergonhosa de minha turma no vôlei.)

    Nelson Rodrigues…ninguém escreve como ele sobre trivialidades cotidianas e futebol. Cometeu alguns romances, mas sua seara é a da crônica. Lembro que até hoje, do muito que li, pouca coisa calou tão profundo quanto as três ou quatro crônicas que ele escreveu sobre a morte de Guimarães Rosa. “O maior escritor do Brasil”, admite.

    Cadê o post sobre Simenon?

    1. Também li este livro do Nelson Rodrigues Sobrenatural de Almeida. É ótimo!

      Bem, eu fui um jogador médio, apreciado pelos companheiros em função do esforço. Meu trauma é gostar demais…

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