To the Solar da Gaurama

Nesta data, em 1927, o marido de Virginia Woolf publicava To the Lighthouse (Ao Farol ou Passeio ao Farol ou ainda Rumo ao Farol) por sua Hogarth Press. Dizem que as primeiras resenhas foram mornas, pricipalmente se as compararmos com a visão moderna de que o romance é um dos melhores do século. Lembro de tê-lo lido em Tramandaí no início dos anos 80. Está no mesmo nível e gaurad semalhanças com Mrs. Dalloway e Orlando.

Olha, nada aconteceu naquela estranha casa cheia de gente legal, mas ainda assim tudo parece ocorrer: a futilidade trágica, o absurdo, a beleza patética da vida que vivemos — tudo isso nas sete horas da existência desperdiçada ou não pela Sra. Ramsay. Vemos a vida e o mundo através das letras do romance.

Enquanto o escrevia, Virginia experimentava grande agitação e euforia, tanto que o produziu com grande rapidez. “Nunca, nunca tinha escrito nada com tamanha facilidade, nunca imaginei tão profusamente”. Apesar de ser uma revisora ultra minuciosa — tanto que Leonard Woolf costumava “roubar-lhe” os originais quando achava que a revisão já fora excessiva… — , ela sempre achou que estava produzindo “simplesmente o melhor dos meus livros” e anos depois ainda dizia: “Meu Deus, quão boas algumas partes do farol são!”. Mas Virginia tinha receio de ser julgada como suave, rasa, insípida ou sentimental”.  Nunca vi medos mais bobos.

Grande parte do livro é autobiográfico. Sua irmã Vanessa foi profundamente tocada por “um retrato da mãe, que é mais parecida com ela do que qualquer coisa que eu jamais poderia ter imaginado possível. É quase doloroso tê-la assim ressuscitada dentre os mortos”. (Só falta alguém vir corrigir Nessa, dizendo que todos os ressuscitados estavam mortos). Mais tarde, Virginia Woolf escreveu que a escrita foi um ato terapêutico de efeito oposto: “Deixei de estar obcecada com a minha mãe. Já não ouço a voz dela, não mais a vejo”.

E o excelente Ao Farol completa 84 anos hoje.

~o~

É mais do que a idade que atribuí ao Guto (ou Luís Augusto Farinatti) e a Nikelen (Witter), que estiveram lá em casa na última segunda-feira, para profundo desespero desta aqui e menos desta aqui, muito mais racional… Foram 3 encontros em nossa casa, muitas mensagens trocadas, e pronto, parece que nos conhecemos há anos.

Há a pose de encomenda para a Caminhante, dona dos dois últimos links:

Atenção, Curitiba: os comensais em pose especial para Fernanda (Foto: Bárbara Ribeiro)

E há mais. Poucas, porque queríamos comer e conversar, conversar e comer. E beber vinho.

Com galhardia,a intelectual suporta a exposição enquanto sonha com a comida (Foto: Milton Ribeiro)
Com as mãos contraídas e o superego em alerta a fim de não atacar o prato antes das fotos, Guto sorri (Foto: Milton Ribeiro)
Na tentativa de fotografar o repasto e os convidados, o fotógrafo pega o copo da filha Bárbara, a desorganização dos livros lá atrás e o Guto já ligeiramente alcoolizado (Foto: Milton Ribeiro)

14 comments / Add your comment below

  1. Ah vai, admite, eu estou na maior forma para 64 anos. Rsrsrs
    Milton, você fez maldade comigo agora. Esta breve resenha do Farol unida ao comentário da visita. Falo porque estou em busca deste livro (já o localizei, graças ao Charlles, apenas não tive tempo de buscar), obcecada em lê-lo e com a promessa de resenhá-lo para minha turma de H. Contemporânea II.
    Assim, você uniu duas coisas que movimentam meu entusiasmo. O romance de Virgínia (uma antiga conhecida, por quem você me estimulou a me apaixonar). E a sua família fantástica.
    Tem toda razão: foram três encontros e parece que nos conhecemos há anos.
    Um enorme abraço nos três, na Juno e na cachorrinha dela também.

    P.S.: Eu ia tripudiar sobre a Caminhante, mas minha educação “antiga” não permite que eu diga expressões que não cabem na boca de uma dama da minha idade.

  2. Vou ter que revisitar a Virgina Woolf. Li o Farol há dez anos ou mais, gostei muito, estava a procura do “estilo woolfiniano” de escrever, de que tanta gente falava. Aliás, ninguém aí leu Margareth Atwood não (teria uma interrogação aqui, mas digito do computador da minha irmã e não acho), para mim a maior escritora das últimas décadas.

    Algo me diz que o Farinatti daqui a dez anos vai ser a sua cara, Milton.

      1. Leia imediatamente Madame Oráculo, e, depois, o impagável A Noiva Ladra. Duvido que não adore. Ela tem uma visão única da mulher, de suas fragilidades, astúcias e forças. Mas não comece por O Assassino Cego (ótimo também, mas de menor empatia).

      2. Charlles.

        Vi a Atwood na Flip. Se mudar de opinião é por tua causa. Poucas vezes vi alguém menos atraente. Só reclamava — dos editores, dos leitores, da vida, das viagens, etc.

        1. Lembro firmemente de um post seu a esse respeito, e o quanto a Atwood passara uma imagem de antipatia. Bom, é aquela velha conversa do homem e do escritor (nesse caso, muda-se o gênero), já li entevistas de um Pamuk pra lá de arrogante, e a entrevista de Saramago assim que ganhou o nobel ao Jô afastaria qualquer telespectador impressionável. Os livros dela são muito divertidos, leitura absorvente e de alto-nível. Lembro que em Madame Oráculo, a personagem narradora descreve a vez aos 10 anos quando, gordinha e bullymizada pelas outras colegas, é amarrada no poste de uma ponte e deixado sozinha, justo quando há a ameaça de um estuprador pela vizinhança. É tudo cheio de muita graça e surpresas, e, tirando as papas da ligua, de um ponto de vista feminino desapiedadadmente encantadora.

  3. Ah, a sempre adorável, melancólica, por fim depressiva, Virginia Woolf… Sabe, o primeiro livro que li dela o fiz porque só porque gostei do nome dela e da foto impessa na capa do volume da Nova Fronteira. Era Orlando, eu estava com 18 anos, por aí. Ê, como o tempo passa.

    O vinho era Carmenére?

  4. Esse post é uma armadilha. Eu desconfiei ao ver o título, mas a foto do livro me tranquilizou. Pra quê! Embaixo, maldosamente, estavam as fotos que meu coração invejoso não queria ver!

    Mas tudo bem. Aqui em Curitiba nós temos… temos… um clima mais frio que não me faz ter inveja nenhuma de POA. Agora mesmo vou buscar meu Matte Leão na cozinha e conversar com meus amigos via twitter (snif!).

  5. Não sei se posso me considerar um dos primeiros convivas a subir as escadarias do Solar da Gaurama… por isso não tenho inveja dos últimos merecedores da distinção, mas que gostaria de estar novamente usufruindo do inefável convívio de Monsieur Ribeiro e Mme. Antonini, ah!, como gostaria…

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