Os 50 maiores livros (uma antologia pessoal): II – Moby Dick, de Herman Melville

Call me Ishmael. Assim inicia o espantoso livro do americano Melville, originalmente publicado em três fascículos por uma editora londrina, no ano de 1851. Mody Dick, em meio a reflexões e narrativas sobre a vida no mar, conta a história do capitão Ahab, o qual deseja incondicionalmente matar o cachalote Moby Dick, o qual destruiu todos os barcos que tentaram caçá-lo e é responsável por arrancar-lhe a perna.

O interesse da tripulação do Pequod é a obtenção de lucro a partir da pesca de baleias. Mas o capitão Ahab tem o objetivo particular de se confrontar com Moby Dick, o Cque, é claro, é temido pelos baleeiros. A grandiosidade polifônica que esta história de obstinação alcança supera em muito qualquer sinopse que possa se escrever. É um livro profundamente humano, profundamente irracional, a descrição de um embate homérico do homem contra o irracional, do homem contra a natureza, do homem contra suas fragilidades. É um livro que passa lenta e inexoravelmente do âmbito humano para o cósmico.

Ishmael é um jovem que decide trocar uma vida segura em terra pela aventura em alto mar. Após algumas experiências, embarca em um baleeiro de Nantucket, o Pequod. É Ishmael quem narra a viagem e a loucura do capitão tomado pela ideia de vingança. A grande baleia branca que escapa a todos os perseguidores levou-lhe a perna e a paz. Enquanto não matá-la, Ahab não desistirá, mesmo enfrentando uma tripulação que apenas quer fazer seu trabalho e voltar para casa.

A recepção ao livro foi fria. Desigual, arrastado, crossover, um romance ensaístico com problemas estruturais evidentes, dizia-se. Passadas algumas décadas, o livro foi visto como antecipatório — um dos primeiros a utilizar o hibridismo entre gêneros, a considerar a realidade como um caos caleidoscópico, a romper com as amarras do romance clássico do século XIX. A baleia branca de Melville pode ser o que quisermos que ela seja:  a morte, deus, o mal, o destino. A bordo do Pequod estamos todos nós.

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  1. O início do romance é belíssimo. Ainda não saí dele, mas tá marcado para até o final do ano a leitura.

    “Me chamem de Ismael. Alguns anos atrás – não importa precisamente quantos – tendo pouco ou nenhum dinheiro na bolsa, e nada que me interessasse particularmente em terra firme, decidi navegar um pouco por aí e ver a parte aquosa do mundo. É um jeito que tenho de espantar a melancolia e regular a circulação do sangue. Sempre que me pego ficando amargo, mandíbula tensa; sempre que em minha alma se faz um novembro chuvoso e cinzento; sempre que me vejo detendo involuntariamente o passo diante de agências funerárias e seguindo a cauda de todo cortejo fúnebre que encontro; e especialmente sempre que minha hipocondria leva a melhor sobre mim de tal forma que só um forte princípio moral me impede de sair à rua e, deliberadamente e com método, aplicar murros na cara dos passantes – nesses momentos, sei que está na hora de me fazer ao mar o mais depressa possível. ”

    (A propósito, é bom divulgar isso: a nova fronteira lançou uma espetacular coleção de bolso, em associação com a saraiva, em que oferece seus principais títulos por preços de bagatela. Há dois Manns, A Montanha Mágica, e Doutor Fausto, este último comprei por inacreditáveis 22 reais. Os preços dos livros de Mann são um trauma para mim, pois na adolescência eu pelejava por meses para poder comprar um volume de sebo. Doutor Fausto, então, era o Graal.)

  2. Eu li uma versão adaptada quando era criança, mas não me lembro de quase nada.

    A linguagem do livro é simples? Eu andava me metendo a tentar ler em inglês até quebrar a cara no Huckeberry Finn. Voltei pro português por uns tempos.

    Espero que até o final da lista apareça pelo menos um que eu tenha lido…

      1. Criei coragem e decidi atacar de novo. O livro escolhido marcou minha infância em versão adaptada. Fazia parte de uma coleção de livros adaptados que me foi dada de presente pelo meu vizinho porque a filha não os lia. A coleção incluía Moby Dick, A Ilha do Tesouro, Aventuras de Sherlock Holmes, Robinson Crusoé, alguns livros do Júlio Verne…bons tempos aqueles.

        O livro escolhido era um dos meus favoritos: O Príncipe e o Mendigo (The Prince and the Pauper), por acaso escrito pelo mesmo Mark Twain que me deu horas de diversão com seu Tom Sawyer e acabou com a minha auto-estima de leitor de inglês com o Huck Finn. Eu comecei lendo feliz da vida por ter me livrado dos dialetos do Huck quando descubro que todo mundo no livro fala inglês arcaico!

        Mesmo assim já li a terça parte, com a ajuda de um bom dicionário. Esse eu termino!

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