A desconhecida história do vibrador (I)

Revisado e republicado atendendo a pedidos.
Afinal, o filme Histeria tem passado na Net e as pessoas perguntam.

O espírito que norteia nosso blog sempre foi o de ilustrar seus e suas visitantes. Ademais, aprender história dá-nos outros horizontes e podemos captar repetições e nuances que nos permitem fazer projeções para o que vivemos e vamos viver. É rigorosamente dentro deste propósito que contaremos a nossos leitores e leitoras a história do vibrador. Ora, a ideia me surgiu a partir de uma amiga que possui um vibrador-batom… Isto é, se alguém abre sua bolsa, não encontrará algo de grandes proporções e formato suspeito, mas um aparelho fabricado na China, semelhante a um batom. Digamos que não há nada ali para pintar os lábios. Não lhe perguntei se tamanho era algo importante em tratando-se de vibrador, pois, sabem, até minha cara-de-pau de historiador conhece limites e não sou tão íntimo da moça para lhe perguntar sobre o uso de produto tão íntimo.

Antes de chegar a esta solução pequena e elegante, oculta dentro de uma pequena bolsa que pode ser aberta sem constrangimentos, o vibrador percorreu notável história a qual começa, obviamente, pelos nossos espertos psiquiatras. Ao final do século XIX, vivíamos uma das épocas culturalmente mais florescentes. Havia Brahms e Mahler, Thomas Mann e Kafka eram crianças, Dostoiévski e Tolstói produziam como nunca e, prova da inteligência daquele tempo, a histeria era considerada uma doença exclusivamente feminina. Ou seja, a medicina também era a melhor possível e só decaiu com aqueles médicos vienenses que não apreciavam Richard Wagner.

A massagem vulvar foi descoberta como tratamento eficaz para a histeria e a neurastenia. Claro que aquilo não era nada sexual, era antes algo essencialmente técnico. Era como alongar ou tirar nós musculares nos dias de hoje. Mas as mulheres gostavam e as mais espertas rolavam no chão à menor contrariedade, atrás de um libertador diagnóstico de histeria. O tratamento era aquele mesmo: a massagem vulvar. Era uma máquina de fazer dinheiro e, é claro, a massagem só acabava no momento em que acabava ou, melhor dizendo, no momento em que a paciente chegava ao orgasmo. Mas os médicos achavam que passar dez horas por dia atendendo a vasta clientela das massagens vulvares era cansativo e tedioso, além de que muitos temiam ver crescer pelos na palma de suas mãos. Então, os neurologistas inventaram uma forma de mecanizar o processo: a hidroterapia. Era como molhar as plantas: o médico ajustava o jato, regulava sua força do jato e deixava um (ou uma) auxiliar segurando a mangueira:

Observem atentamente a figura acima. Vejam bem o lado esquerdo. O médico ou auxiliar, certamente inglês, preferia pegar numa mangueira. Eu nunca fui mulher, mas imagino que esta troca não tenha sido muito legal para o publico aficionado. Imagino que houvesse variáveis que poderiam dificultar as coisas: a temperatura da água, por exemplo, poderia ser fatal para as friorentas; também acho que os constantes erros de mira do(a) auxiliar do médico obrigavam a paciente a rebolar sobre a cadeira a fim de que o jato alcançasse de forma produtiva o local exato da histeria. E se, na hora da histeria, algo chamasse a atenção do homem da mangueira e este a apontasse para a parede? Ora, neste caso, tudo teria de começar novamente! Afora isso, havia a absurda conta d`água e aquela molhaçada, já pensaram?

Mas voltemos aos vibradores. Em 1880, novamente os ingleses…

… inventaram uma máquina elétrica que, ao menos, não molhava tudo. E a geringonça — espécie de Orgasmotron, lembram de O Dorminhoco de Woody Allen? — podia atender várias pacientes ao mesmo tempo. Imaginem o ganho de produtividade? Foi um enorme sucesso, apesar do enorme risco dos médicos confundirem os êxtases de suas pacientes com meras eletrocuções. As pacientes passaram a chegar ao êxtase em 10 minutos e as mãos dos médicos, assim como suas mangueiras, puderam finalmente descansar.

(continua amanhã, com muito mais informações e fotos)

23 comments / Add your comment below

  1. Observações:

    1) Um filme alemão conta a história de um sexólogo que, entre muitas aventuras homoeróticas, colecionava objetos utilizados para satisfação erótica de seus possuidores, entre eles muitos modelos de substitutivos penianos de origem africana, oriental, ameríndia e o escambau. Portanto, mais uma vez, a exemplo da vacina, os ocidentais só fizeram copiar e patentear objeto já há muito conhecido por civilizações anteriores, ditas bárbaras;

    2) Outro filme, bem tolo, estadunidense, é claro, conta a história de um casal (Matthew Broderick e Bridget Fonda, esta última lindísima no filme) internado num “spa” do Dr. Kellog (Anthony Hopkins, quase irreconhecível) para resolver alguns problemas, principalmente sexuais; a esposa fica adepta de um método de manipulação da vulva por um especialista na utilização das mãos, o que não é nada inglês, bem mais satisfatório que a hidroterapia que a bela Bridget anteriormente experimentara; a historinha se passa ou nos fins do século XIX ou no comecinho do século XX;

    3) Os outros não sei, mas Thomas Mann publicou Os Buddenbrook, se não me engano, em 1901; assim, nos últimos anos do século XIX ele não era mais criança;

    4) Orgasmatron aplicou a outra Fonda (ah, que nome sugestivo!), Jane, em Barbarella, pelo doutor Durand Durand (sim, o nome do grupinho pop foi inspirado nele); depois, ainda, virou música (?) do Motorhead, regravada em seguida pelo Sepultura; será Woody usou o nome com os devidos créditos?

    Quanto as demais “colocações”, prefiro não explanar coisa alguma, por receio de abordagens “feministas”.

    1. Hahahahaha! Pensei a mesma coisa que você, Ramiro, mas não me atrevi a dizer.

      Taí o que eu chamo de escritor que submete tudo ao crivo da experiência.

    2. Olha, vocês deixem de ser babacas, que não era eu que tava a experimentar coisa alguma, mas meu computador que, excitado pela velocidade dos meus dedos, começou a trepidar de forma estranha, e deu nessa bosta aí. Mas tá na hora de vocês aproveitarem para dar uma limpeza em seus respectivos consolos.

  2. Procurei em minha memória algum evento digno ao elevado assunto do post, mas dessa vez não deu. As mulheres da antiga casta dos Campos ou efetivamente se submeteram à extrema pudicícia imposta pelos rigores masculinos em anularem por completo fantasias eróticas particulares, ou mantiveram tudo debaixo do mais maçônico sigilo. Mas já que o uso desse interessante instrumento, pelo que nos diz o Dr. Ribeiro, se relaciona com casos de histeria, me sobra pela rabeira da lembrança os ataques da única louca dessa família tão irritantemente _ tão desesperadamente_ agarrada aos dúbios privilégios da normalidade. Essa tia, caçula e de uma beleza dita arrebatadora nos anos de sua juventude, se descambou para uma severa beatitude, se entregando a essa instituição alquimista que transforma toda vida e movimento saudável em uma hermética desconfiança espiritual contra o mundo_ chamada Igreja Assembléia de Deus. Após instigantes aventuras de isolamento em seu apartamento em Belo Horizonte, essa tia aceitou relacionar-se com o seu primeiro_ e, como se verá ainda neste capitulo: definitivamente o único_, sob o aval do pastor da igreja, homem santo e sabedor do código de acesso e número privadíssimo de Nosso Senhor, portanto inconcebível de erro. Esse namorado, fiel da igreja e contribuinte assíduo da sacolinha dizimal,foi tentado pelo Satanás( coisa frequente que o Murrinha tente os mais próximos de Deus, daí a situação comum de pastores abduzidos em suas ações, se pegam de surpresa em armadilhas diabólicas de se verem em puteiros com duas profissionais das trevas exercendo a mando do Belzebú uma severa felação em seus membros abençoados; ou com seus nomes agraciados no cabeçalho de exames laboratoriais como pais comprovadoramente 99,99% legítimos dos filhos de algumas das jovens ovelhinhas do seu rebanho_tudo obra do Coisaruim.) Esse namorado fugiu com 40 mil que essa tia tinha numa conta da poupança, para nunca mais. Ficou louca, a coitadinha. Diante a reclamação dos vizinhos de que ela incutia medo generalizado por sua insistência em convertê-los à Verdade divina, a família se viu obrigada a interná-la.

    Moral da história: para algumas mulheres, a procura de deus seria mais salutar e adstringente não em igrejas ou no espaço inominável, mas… que tal em um objeto de constituição fisiológica precisa, de tamanhos variados (conforme o merecimento da fé), e que pode passar desapercebido dentro da bolsa? Nem o diabo dá conta.

  3. Ah, Milton! Talvez as mulheres, sempre mais esclarecidas, estejam rindo de nossa singela inocência masculina.Existem utensílios bem mais modernos para o prazer onanista feminino do que o vibrador; menores, não intrusivos, limitados à estimulação daquelas complicadas e deliciosas estruturas vaginais, de forma que pode-se usá-los em segredo no trânsito, na instrução de divórcio, no escritório, nas reuniões de condomínio, nos elevadores da empresa, na faxina da casa, no conselho da escola dos filhos, na comunhão de recebimento da hóstia, e, até mesmo, durante a relação sexual com o marido ( o fim do orgasmo fingido).

    Por isso essa paranóia de quando discuto com minha mulher eu ficar atento a seu sofrimento e indignação sinceros. Terrível perceber um sorrizinho, ou um suspiro sequer, vindo dela durante as brigas.

  4. Já que estamos falando em história e em sexo, lembrei daquela descrição maravilhosa no Memorial do Convento, onde o Saramago vai descrevendo uma procissão com auto-flagelantes como masoquistas se exibindo para as mulheres nas sacadas, de terços nas mãos, a roçar as coxas por debaixo dos longos vestidos, assistindo a passagem do cortejo em meio a frêmitos de prazer.

  5. Seu Milton,você, profundo entendedor destes assuntos vibratórios vai abranger o uso do celular no Vibra Call como sucedâneo moderno e prático dos consolos arcaicos?

  6. Eu não sei o que é melhor, ler os artigos ou ler os artigos e os comentários. Talvez eu deva voltar mais tarde, vocês ficam muito criativos quando o assunto é sexo. Mal posso esperar por tanta revelação.

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