Rascunho sobre a Bárbara, que fará 10 anos sábado

Publicado em 23 de setembro de 2004

Minha querida filha está de aniversário novamente. Já recebeu antecipadamente seu presente – mais um bicho em nossas vidas -, mas creio que o mais importante ainda está por vir: a Claudia está organizando sua primeira reunião dançante – com DJ e tudo o mais. A evolução que a Bárbara teve nos últimos 12 meses é visível em centímetros e sensível quando falamos com ela. Mudou muito, tornou-se uma pequena mulher, cheia daquelas surpresas que estes seres não param de nos apresentar. Sob uma perspectiva muito pessoal, as últimas novidades são as inumeráveis variações de que se utiliza para expressar sua paixão por mim.

Ela disputa com a Claudia o número de beijos trocados comigo, diz que me conheceu antes (e que, por isto, já me deu muito mais beijos do que a Claudia poderia dar algum dia), quer e oferece provas de amor a cada momento, costuma ficar olhando e provocando minha companheira enquanto me faz carinho, mete-se entre nós quando nos abraçamos, diz que é mais bonita e é criativa ao imaginar suas vantagens, vinganças, trunfos. Faz tudo isto com inalterado bom humor para com sua grande amiga e colega de equitação e loucuras, que lhe retribui a amizade da mesma forma. Pela manhã, costuma invadir nosso quarto dizendo para a Claudia se afastar, pois, afinal, tu já passaste a noite inteirinha com ele, né…? Rimos muito. O que ela faz é uma caricatura sincera de ciúmes. Sorri muito, achando maravilhoso desafiar a Claudia e ficar me chamando de bonitinho, fofinho, quentinho. Eu adoro.

Filha de pais separados, tornou-se atenta à agendas e compromissos, às roupas que estão lá e cá, às coisas que tem que ser carregadas e costuma ver com antecipação os problemas que ocorrerão por incompatibilidade de horários. Tem extremo medo disto e quer agradar aos dois lados quando destes impasses. É tarefa impossível, Bárbara.

E, ora bolas, seus medos geram dor de barriga! Quando fica angustiada, é sempre acometida deste tipo de dor. Ao saber disto, minha mãe revirou os olhos e disse que até nisto ela é igual a mim. Dor de barriga, mãe? Sim, acompanhada de muito choro. Faz um mês, um cavalo mais agitado disparou quando ela lhe cravou os calcanhares. Ela não caiu, nada de grave ocorreu, só o susto. Mas depois, toda a vez que chegava a hora da equitação, vinham as dores. Ficou 15 dias sem poder ir às aulas de equitação.

Nos últimos 12 meses, seu desenvolvimento na escola foi estupendo. Sua organização começou a aparecer nos temas e no interesse em aprender. Já não era sem tempo! Não é nada literária, gosta de matemática e de animais, só lê quando obrigada, normalmente ameaçada por terríveis torturas. Por motivos que não entendo, fico comovido quando a vejo fazer seus temas, torço para que surjam dúvidas e para que ela não me interrompa imediatamente com um “Já entendi!” que sei nem sempre ser verdadeiro.

(Meus filhos não lêem meu blog. Escrevo isto sobre a Bárbara na esperança de que ela um dia se interesse por estas memórias a seu respeito. É uma forma simples de registrar a passagem do tempo, como os aniversários também fazem. É uma forma simples de registrar como sempre foi bom amá-la.)

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