Minha Caixa de Entrada

Publicado em 30 de setembro de 2004

Minha Inbox é uma pândega. Por lá, entram mais de 100 mensagens diárias de pura porcaria. Porém, também entram aquelas 3 ou 4 que precisam ser lidas. Tive algumas trocas de mensagens que gostaria de tornar posts, mas não faria isto hoje, tarde da noite, pois antes teria que pedir permissão, etc. Trata-se de demonstrações tão grandes de civilidade e gentileza, que, por puro deleite, fico lendo e relendo as mensagens. Elas vieram principalmente da Diana Zeit – minha correspondente mais frequente dos últimos dias -, mas também da Magaly, da Denise Amon, da Claudia, da Mônica, da Rosele, da Helen, etc. Só agora me dei conta de que todas são mulheres.

Hoje estou cansadíssimo da festa e mais ainda do pós-festa de aniversário de minha filha Bárbara. Desta forma, vou revisar um post antigo a que me referi em minha correspondência com a Diana. É um post que se refere a dois adjetivos derivados de nomes de escritores. No caso do balzaquiano tenho 100% de certeza do que falo, já no kafkiano, acho que dou larga margem para eventuais contestações. Quando reli o post, achei-o simplório, muitíssimo abaixo do nível que a Diana sempre propõe em nossos contatos, mas, para mim, é uma curiosidade.

Balzaquianas e Kafkianos.

A Mulher de 30 Anos é um dos piores livros de Honoré de Balzac. É, certamente, o pior que li. Logo ele, um minucioso criador de personagens e tramas, escreveu um história frouxa, desarticulada e meio sem pé nem cabeça – devia estar apressado e premido por dívidas, o que muitas vezes lhe acontecia. Não pensem que tenho restrições à Balzac, poderia citar-lhe uma dúzia de romances perfeitos, porém este é ilegível. Apesar disto, seu belo título inspirou-nos a criar o termo “balzaquiana” no Brasil. Esta palavra, que só existe por aqui, serve para caracterizar as mulheres na faixa dos 30 anos, como no título da obra. Na época de Balzac e mesmo depois, a idade de 30 anos era um turning point decisivo para as mulheres: ou estavam caindo fora do mercado casamenteiro para tornarem-se tias – tolerados fracassos sociais, bem entendido – ou, se estivessem vivendo casamentos infelizes, estavam perplexas ante o irremediável, como é o caso da personagem do romance. Isto excita nossa imaginação, mas…

Dos 17 volumes das obras de Balzac editadas e reeditadas pela Globo (com traduções impecáveis de gente como Mário Quintana, Paulo Rónai, etc.), li uns 12. Posso dizer que as balzaquianas são a exceção da obra de Balzac. As balzaquianas típicas são as jovenzinhas e as tias velhas, nunca as mulheres de 30 anos. Nossa confusão criou uma expressão culta e equivocada… pura fantasia sobre o nome de um livro. O autor não deu maior atenção aos problemas das trintonas.

Porém, além das mulheres balzaquianas, existem as “situações kafkianas”… e este penso ser um equívoco mundial. Cada vez que alguém está numa situação que julga incomprensível, passa a vivenciar uma “situação kafkiana”. Concordo que pequena parte da obra de Kafka seja dedicada a problemas de natureza incompreensível, mas e o resto? O fato literário mais típico e perturbador da obra de Kafka é a revolucionária e insistente utilização da parábola. Esta sim é kafkiana. Segundo o dicionário Aurélio, um dos significados da palavra parábola é o de ser uma Narração alegórica na qual o conjunto de elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior. Não é a descrição perfeita de Franz Kafka?

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