Respondendo a uma pergunta

Me fizeram uma pergunta daquelas nos comentários. De onde tirei a citação engraçadíssima de Heine com que encerrei o post anterior? Tenho a mania de copiar, em um arquivo do Word, citações que poderei utilizar um dia. Só que eu tinha esquecido de copiar a fonte daquela de Heine. A citação era esta:

Eu tenho uma mentalidade pacífica. Meus desejos são: uma cabana modesta, telhado de palha, uma boa cama, boa comida, leite e manteiga; em frente à janela, flores; em frente à porta, algumas belas árvores. E, se o bom Deus quiser me fazer completamente feliz, me permitirá a alegria de ver seis ou sete de meus inimigos nelas pendurados. De coração comovido eu haverei, antes de suas mortes, de perdoar todas as iniquidades que em vida me infligiram – sim, temos de perdoar nossos inimigos, jamais antes, porém, de eles serem enforcados.

Depois de algum trabalho aqui está: a citação foi retirada de “Pensamentos e Idéias” (Gedanken und Einfälle) e encontrei-a no prefácio de “Noites Florentinas” (Florentinische Nächte), Mercado Aberto, 1999, tradução de Marcelo Backes.

“Noites Florentinas” é uma excelente novela e o restante de minhas anotações – um pouco bagunçadas – sobre o livro é este:

É muito prazerosa a troca de papéis que Heine faz em relação ao modelo das 1001 Noites. Se nas 1001 Noites, Sherazade – uma mulher – conta histórias e mais histórias a fim de não morrer, nas NF Maximilian – um homem -, faz o mesmo para que Maria sobreviva. Sei lá se o Rei das 1001 Noites dormiu durante alguma história; mas posso dizer que fiquei quase escandalizado ao descobrir que, ao final da primeira noite, Maria dormia. Eu estava acordadíssimo. Outra surpresa é o clima erótico sugerido por Heine. A história se passa ao pé do leito de Maria e o escritor eleva a temperatura diversas vezes. Relembremos a passagem na qual os amigos “…olharam-se em silêncio por longo tempo. Em ambas as almas surgiam pensamentos que cada qual tratava de dissimular ao outro. A mulher segurou de súbito a mão do homem e a cobriu de beijos ardentes”, depois há o toque dos lábios de Max nos pés de Maria e a frase “Sorrindo cheio de afeto ao olhar afirmativo de Maria…”. Se tais trechos não servem àquilo a que a Playboy se propõe, pelo menos nos fazem sonhar. Alguns capítulos depois, a história de Mademoiselle Laurence também vai fundo neste sentido, apesar do onírico da situação. O trabalho do tradutor-prefaciador Backes é impecável.

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