Crítica no estilo dos jornais dos anos 70

Noites no Belvedere é um soco no estômago do espectador, uma voadora no senso comum e um tiro na testa da alienação. O roteiro deste filme é um coice no conformismo. Esporeando a fantasia, a obra estrangula com cuidado e minúcia o romantismo, deixando em pandarecos a consciência do público. Tudo causa desconforto nesta obra de arte que expõe, de forma sufocante, as entranhas de cada um de nós, que se vê refletido monstruosamente neste espelho de Dorian Gray. Assistir Noites no Belverere é perturbador como a TPM e dolorido como receber chutes no saco.

Insultuosa e intempestiva, a pancadaria regida pelo diretor Lazlo Schwarzenbeck é um verdadeiro estupro que toma de assalto a cabeça de cada um de nós. É um choque de lógica que deixa transidos e injuriados os amantes do politicamente correto, pois afronta impetuosamente as motivações mais recalcadas de nossa alma. Autêntica tirania artística, Noites no Belvedere é um espetáculo que você não deve perder.

Noites no Belvedere, o filme que vai esganar você

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  1. O que mais impressiona em Noites no Belvedere não é sua realização delirante, mas seu anacronismo. A busca pela superação da decupagem clássica produz uma sucessão de elipses que impede a consecução da trama que fosse possível. O que temos aqui são procedimentos de vanguarda tão novos quanto aqueles tornados cacônimos por Serguei Eisenstein, sem, contudo, atingir o relativo grau de excelência deste último, apesar de seus objetivos esquerdizantes e que nos trouxeram, por resultado, a destruição da arte em prol da propaganda, mal felizmente sepultado pela retração relativa do que seria a proposta revolução permanente. Nos anos que correm o que vemos é justamente o contrário das presciências do materialismo dialético e histórico: o triunfo do liberalismo na forma da evolução dos padrões de vida nas nações que souberam levar adiante o projeto do capitalismo com face humano.

    Enquanto isso, Noites no Belvedere se posta ideologicamente na defesa do campo oposto da Guerra Fria sustentada pela ação expansionista soviética: supostamente a defende, e dizemos supostamente porque nos foge à compreensão a sucessão desarvorada de cenas chocantes e caricatas, expressão do grotesco daquelas que seriam as classes dominantes e seus hábitos e costumes em consonância ao mais afetado barbarismo, mal oculto por leve pátina de sofisticada hipocrisia.

    Lazlo Schwarzenbeck, se um dia prenunciou o artista que poderia advir após o rigoroso senso de pesquisa que motivou sua realização anterior, Os Silêncios e as Formas, agora demonstra que toda sua pretensão tornou-se bomba de efeito retroativo, sobrepondo-se à promessa o simples ridículo. A sugestão é, em se plenejando uma ida ao cinema, privilegiar a última obra de Sidney Pollack. Este Noites no Belvedere frustrará até mesmo o fiel público que existe para as metáforas do realismo mágico, e só trará satisfação àqueles que, por razões óbvias, preferir noitadas na Boca do Lixo. Uma obra lamentável. a que fomos obrigados, por dever de ofício, a acompanhar da primeira a última cena. Que, aliás, nos desobrigamos a comentar, por demais chocante à sensibilidade de qualquer pessoa que guarde em si algum senso de estética e, porque não dizer, também de moral.

    por Elmyr Wierzchowski

    1. Muito bem posto, Elmyr. Pegaste Noites no Belvedere a partir de uma perspectiva crítica inescrutável àqueles que desconhecem o vínculo da Boca Do Lixo com a problemática da subdeterminação kantiana. Há, no filme, um princípio cognato de falha de montagem que jamais seria visto na obra de Eisenstein ou Brecht. E sei lá, viu?
      (Mais parece um artigo acadêmico da Ilustrada).

      1. Ora, “princípio cognato de falha de montagem que jamais seria visto na obra de Eisenstein ou Brecht” realmente não poderia ser visto, dada a inexistência de um corte epistemológico capaz de sobredeterminação em um contexto de síntese hegeliana.

  2. Faço minhas as palavras de um certo professor da PUC, em algum ponto remoto do Paraná: “A substancialidade icônica ou meio de representação artística do símbolo possui um significado filosófico digno de uma apreciação mais acurada, pois tem o sentido profundo de uma ontologia evanescente, virtual, que carrega em si, como num processo quântico, a própria alma da natureza.”

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