Hoje à noite, Porto Alegre vai parar

Certa vez, entrevistei o Zé Victor Castiel e ele me disse que uma das piores coisas que pode acontecer a um espetáculo teatral, em Porto Alegre, é competir com jogos da Libertadores. As pessoas simplesmente somem. A mulher não vai porque o marido quer ver o jogo ou o contrário. A namorada vai acompanhar seu rapaz no bar a fim de assistir a partida. Os gremistas roem as unhas, pedindo aos deuses do futebol que o Inter seja derrotado ou vice-versa. E não saem de casa. Os cinemas e teatros, assim como os restaurantes em que não são mostrados os jogos, ficam desertos. Naquele horário, quem caminha pelas ruas trabalha ou estuda. O dia é ideal para marcar um blind date e não ser visto. Como ficam os motéis? Sei lá, mas acho que é um bom dia, mesmo estejam vendo o jogo na portaria. Os casados que mentiram ver o jogo e foram a um motel também devem ficar de olho para poderem comentá-lo em casa quando chegarem. Só saber o resultado, hoje, não basta.

Sabe o que atrapalha muito o teatro? O calendário do futebol. Temos que pegar a tabela da Libertadores da América e do Brasileiro e fugir daquelas datas e horários. Houve uma vez em que o Grêmio estava nas semifinais da Libertadores e jogaria numa quarta-feira. Nós tínhamos uma apresentação no Bourbon Country na terça e na quarta. Terça tivemos a casa lotada e na quarta, nada. Tabela de futebol é uma coisa que influencia muito. Temos que ficar de olho nela.

Zé Victor Castiel

Perdendo o foco no trabalho | Imagem: Corneta Colorada
Perdendo o foco no trabalho | Imagem: Corneta Colorada

A coisa é tão absorvente que a gente, lá pelo meio da tarde, já vai perdendo o foco no trabalho. Começa a pensar em como será o jogo e, tão importante quanto, no que precisa fazer para ver tudo com conforto. Fui ao supermercado antes da partida contra o Atlético-MG em Belo Horizonte. Um monte de gente comprava cervejas e um idoso, de certamente mais de 80 anos, estava extasiado na fila do caixa, bem na minha frente, contando que seus netos iam ver o jogo na sua casa e que estava comprando aquelas Stellas para eles, todos colorados.

Quem fica de fora não entende. Assim como eu não entendo os religiosos, quem não acompanha futebol deve ficar achando o mundo muito idiota. E somos mesmo um bando de imbecis. Mas nos divertimos.

Ontem à noite, no viaduto para pedestres do Parcão, surgiu uma faixa desesperada, feita por gremistas ou por um colorado muito debochado. Pedia que parassem de falar em imortalidade e contratassem alguém como D`Alessandro, o argentino que tornou-se símbolo do Inter. Eles querem voltar ao protagonismo. Conheço isso de ficar torcendo para um time diferente a cada semana. É mesmo chato. Melhor torcer para o nosso.

gremistas nervosos

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