Em 2016, Sartori quer ainda ‘menas’ cultura

Esperamos que o servidor faça o mesmo com o Papai Noel Sartori
Esperamos que o servidor faça o mesmo após examinar os presentes do Papai Noel Sartori

Neste final de ano, Sartori voltou a utilizar a habitual estratégia do político fraco e pusilânime. Em pleno período de festas, entre dois feriadões de quatro dias cada, o polenta faz um pedido de convocação extraordinária para que a Assembleia Legislativa aprecie ainda nesse ano um novo pacote de ajuste fiscal encaminhado pelo Executivo. A data foi escolhida a dedo para fazer passar, sem grandes protestos, projetos de desmonte do estado, de massacre dos servidores públicos e de descaso com a população. É um Pacotão de Natal, um Pacotão de Maldades.

Estado do servidor após a leitura do pacote
Estado do servidor após a leitura do pacote

Ontem a repórter Jaqueline Silveira, do Sul21, apontou uma série de pequenas alterações, daquelas ao estilo das letras pequenas que não lemos nos contratos e que são, na verdade, o cerne do monstro, as coisas que mudam tudo e que os deputados certamente não terão tempo para ler neste período de viagens e festas.

Bem, já que até já fui processado por uma Secretária de Cultura — não deveria fazer um crowdfunding para rever a grana que perdi? — fui direto à parte do artigo que diz respeito à Cultura. Vejamos:

(E olha que o foco do Sartorão de Natal nem é a Cultura, mas o fim da licença-prêmio e as limitações nos reajustes salariais, ou seja, a destruição de conquistas de décadas).

Limite de recursos para o Programa de Incentivo, Programa de Apoio à Inclusão e Promoção Social e Sistema Estadual de Apoio Unificado e Fomento às Atividades Culturais – (…) Em relação às atividades culturais, investimento não pode ser superior a 0,5% do ICMS da receita líquida. Pela lei anterior, o parâmetro também era 0,5% do ICMS da receita líquida, porém estabelecia que não poderia ser inferior ao limite do ano anterior. (Ou seja, como a arrecadação diminuiu, teremos ainda menos dinheiro para a Cultura)

Ou seja, são três palavrinhas que diminuem o que já é miserável.

Há uma história atribuída a Winston Churchill que o governo do nosso estado certamente desconhece. Ela é muito conhecida. Durante a II Guerra Mundial, os esforços britânicos para resistir aos ataques nazis obrigaram Winston Churchill a fazer cortes duros nas despesas das pastas que não tinham relação com a defesa do país. Durante esse processo, alguém sugeriu que fossem feitas reduções significativas no orçamento da Cultura. Churchill recusou terminantemente. Seu argumento foi arrasador: “Respondam-me, por favor: por que é que estamos lutando?”.

Esta devia ser a pergunta que todos os que defendem contas públicas saudáveis deviam também fazer a si mesmos. Hoje, quem vai à Inglaterra sabe o resultado de atitudes como essa. O resultado está não apenas na produção cultural, mas disseminada por um dos povos mais educados do planeta. Dito isso, vamos a uma dica literária:

Victor Hugo

1 comment / Add your comment below

  1. Desde que me lembro criança eu escuto e vejo esse humor brasileiro. Cada povo tem um humor que o define, o nosso é o da descrição bonachã e malemolente da corrupção política. Só nós, brasileiros, podemos honrosamente ostentarmos esse humor. Me recordo do Jô Soares em um esquete em que um de seus personagens criava um corrupto em uma gaiola, um animal sempre oculto por um pano e que seu sustentador o consolava sempre que ele ficava intempestivo ao som de algumas palavras proibitivas. Lembro das charges e cartuns sobre corrupção na política do Angeli, Glauco e toda a turma do Chiclete com Banana. Lembro das charges da imprensa, diária e bravamente desde o início da minha vida letrada de homem de 42 anos fazendo seu humor por vezes genial com o tema da corrupção brasileira. Nosso humor não é mais adstringente, como deve ser por obrigação o humor para funcionar. Nosso humor não nos consola com um estoicismo à espera de um ponto futuro de apaziguamento na realidade. Nosso humor vem sendo cada vez mais redundante e vicioso; promíscuo em sua desistência de que não tem um ponto a mais a ultrapassar. Chegou-se, há décadas já, a todo o limite e resultados e nada há além disso. Quando o humor se estanca a tal ponto, ele perde para a grosseria da realidade e passa a ser um reflexo pobre da vida real. O governo do Rio não paga os salários dos servidores e abre, festivamente, concessão de crédito para que estes façam empréstimos com o Bradesco e se tornem ainda mais endividados? Parcelamento de salários, a acintosa política de privatizações disfarçadas do sistema educacional e de saúde, a retirada brutal de direitos trabalhistas. O governador do estado de Goiás, junto a seus apanagiados na Assembleia Legislativa, aposentar sua primeira-dama com um salário de aproximados 15 mil reais, utilizando 15 anos de trabalho voluntário realizado por essa mulher. Escolas ocupadas porque os alunos do país que sempre ocupou a rabeira das listas de piores índices educacionais do mundo querem estudar, em atitude contrária aos governadores que, à vista de toda a população, querem lucrar com laranjas e empresários mancomunados com o desvio “legalizado” do dinheiro público destinados a essas escolas? Que povo mais estupidificado e frouxo somos nós. Tudo feito às nossas caras, e nem nosso humor nos salvaguarda mais, nosso humor que há décadas já perdeu a validade. E assim vamos vivendo nessa masturbação ególatras e vergonhosa de acharmos que estamos em uma democracia e somos consumistas plenos, com direto às atitudes forjadas de que somos um povo civilizado. Alguém disse em algum lugar que pensa em soluções heterodoxas; sobre isso podem ficar descansados os políticos brasileiros, o judiciário e a imprensa coercitiva brasileira, nossos três poderes plenipotenciários. Êta povinho besta.

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