Leonardo DiCaprio e o CO2 de esquerda e o de direita

Não tenho dúvidas que o projeto que passou no Senado sobre o pré-sal seja uma vergonha. É uma capitulação da direita — e aí incluo AMPLOS setores do governo — à indústria do petróleo, mas desastre ainda maior é a queima do petróleo em si. Tanto quanto ficar discutindo se a “riqueza” é nossa ou da Chevron, é hora de pensar nas consequências climáticas de cada ação. Não existe diferença nos efeitos de um CO2 de esquerda ou de direita. Hoje, brigar sobre petróleo sem falar de mudanças climáticas é uma comprovação de incapacidade de entendimento ou de interesse na realidade. Os combustíveis fósseis são necessários para muita coisa que não produz CO2. Para as que produzem, seria melhor começar a pensar em alternativas e deixar tudo o que pudermos no subsolo. A “riqueza nacional” é, bem… Toda a vez que se fala nisso é bom pensar naquilo.

Neste domingo, Leonardo DiCaprio, além de merecer há tempo um Oscar, usou bem os poucos segundos de seu agradecimento. Disse que 2015 foi o ano mais quente já registrado e que a produção de O Regresso teve que ir até longínquas latitudes para encontrar neve em grande quantidade. Disse o que todos sabem, que a mudança climática é real e que precisamos enfrentá-la sem procrastinações. e que está na hora de considerar o apoio a líderes que não falam em nome das grandes corporações poluentes.

Concordo com ele, claro. Se, do ponto de vista econômico, querem vender o Brasil, do ponto de vista ambiental tanto faz se quem vai queimar tudo é a Petrobras, a Chevron ou o Serra. Os céticos do aquecimento global estão calando a boca. Os que defendiam que a associação entre queima de combustível fóssil e efeito estufa era uma fraude, idem. Agora, falta ação. Orgulhar-se de nossa riqueza petrolífera talvez seja apenas burrice.

(Ao final deste ano, a Chevrolet americana lançará o Bolt, carro 100% elétrico com autonomia para 320 Km e desempenho semelhante aos que usam combustível fóssil. É um dos caminhos.)

P.S. — Meu amigo Dario Bestetti acaba de me apresentar os carros elétricos da Tesla.

dicaprio

3 comments / Add your comment below

  1. Recomendo o documentário Cowspiracy, pra sairmos um pouco do debate de combustíveis entrarmos num assunto mais profundo e delicado sobre a destruição do meio ambiente: o agronegócio e a pecuária. O documentário mostra que falar sobre aquecimento global, mudanças climáticas e sustentabilidade sem entrar nesse assunto é pra tomarmos medidas paliativas, apenas…

  2. Por que a humanidade vai beirar a extinção em menos de 50 anos? Porque não há volta no processo. Por que não há volta? Em vez de colocar a culpa nas megacorporações e no capitalismo, façamos, cada um, a simples pergunta: hoje mesmo, nesse exato instante, cada um seria capaz de nunca mais usar o carro e nunca mais comer carne vermelha? Teria que ser NESSE EXATO INSTANTE, sem procrastinação alguma. Mesmo que todos nós aceitássemos essa impossível ação conjunta, não comermos mais carne de gado e abdicarmos de nossos carros, haveria muitíssimo mais a se fazer afim de aplacar o desastre. Por isso, é óbvio que nos resta apenas esperarmos o fim progressivamente, com muito sofrimento durante o processo. A humanidade, em milênios de história, nunca se prestou a alguma organização coletiva, sempre foi dominada e arrastada por minorias egoístas cujo mal maior foi serem reflexos das ambições da grande massa de populacho autômata. O estado onde moro, um dos maiores produtores de carne vermelha do mundo, está a um nível de desertificação incontornável; tudo aqui é direcionado ao pasto e à devastação do pouco verde que sobra pela plantação de bio-diesel. É assustado o megassauro montante de dinheiro que vem da indústria do gado; essa indústria compra tudo, o judiciário, a política, a religião, o entretenimento de massa e todas as corporações da mídia. É o grande poder do Brasil de hoje, o Grande Faraó. Seus líderes são a espécie mais obtusa, gananciosa e depravada em todos os sentidos da realidade nacional. Muitos deles estão entre as sumidades mais ricas do mundo. Nada há a se fazer. Por isso, a única solução é o impossível: a reação do lado do consumidor, também um rebanho de milhões de pessoas obtusas, gananciosas e depravadas, cujo projeto de vida é pragmatizarem brutalmente suas paixões por carros e suas compulsões pela picanha.

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