Era uma vez em… Hollywood, de Quentin Tarantino

Era uma vez em… Hollywood, de Quentin Tarantino

Talvez este seja o melhor filme de Quentin Tarantino. Saí do cinema muito feliz e passei três dias com várias cenas voltando a minhas retinas tão fatigadas (boa tarde, Drummond!). Mas creio que a catarse do final do filme — fiquem sossegados, não vou contar — apenas possa ser compreendida por quem viveu a época do assassinato de Sharon Tate (Margot Robbie, boa atriz e linda como Sharon) pelo grupo de hippies de Charles Manson, o olhar mais apavorante daquela época em que eu tinha 12 anos. Meu pai falava daquele olhar assassino, minha mãe também.

(Este filme foi visto no Guion Cinemas — convenhamos, a TV ou o computador de casa só devem ser utilizados quando vemos um filme pela segunda vez, né?)

Como escreveu o Paulo Moreira no meu perfil do Face: “Desta vez, me deu um nó na garganta. Quanto eu era criança — 9 anos em 1969 — lembro de ver as matérias da Manchete e da Fatos & Fotos sobre o assassinato, as paredes escritas com sangue, as macas tapadas de lençol sendo retiradas. Aquele ataque bárbaro ficou marcado na minha memória. É divertida… (CENSURADO POR CONTER SPOILER)… mas ainda fica um travo na garganta.

O mundo ficou quase tão chocado com aquele assassinato ritual de extrema violência quanto com o tiro recebido pelo genial beatle pacifista John Lennon na frente do edifício Dakota. Sharon Tate era esposa de Roman Polanski (Rafal Zawierucha) — que recém filmara O Bebê de Rosemary — e ambos eram o casal da hora, ambos estrelas em ascensão que todos amavam.

1969, Los Angeles. Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) é um ator de séries de cowboy da TV que, juntamente com seu dublê Cliff Booth (Brad Pitt), está decidido a fazer o nome em Hollywood, não obstante o fato de estar em decadência na TV. Ele mora do ladinho da mansão de Tate-Polanski, o que o deixa próximo dos fatos que citei acima.

O trabalho de Dalton e Booth permitem que Tarantino brinque dentro de alguns de seus gêneros e formatos preferidos. Há cenas sensacionais com DiCaprio atuando em westerns spaghetti, seriados policiais, caçador de recompensas e garoto-propaganda, porém, por mais citações e inspirações que tenha, este filme está longe de ser uma paródia. Ele é muitíssimo original. Obviamente, trata-se de um Tarantino, com seus diálogos amalucados, cenas longas, carros, etc., mas é também um filme maduro de narrativa madura e com significativos silêncios, o que nos deixa totalmente imersos no mais puro cinema.

Há duas histórias sendo contadas. A de Dalton-DiCaprio, ator de baixa auto-estima e ah… Temos Al Pacino, sensacional como o agente entusiasta que, para reanimar sua carreira, o leva aos spaghetti western, o que faz Danton e Cliff irem à Itália.

Pitt, DiCaprio e Pacino: atuações absurdamente boas | Divulgação

Em paralelo com esta história ficcional acontece outra, real: o ataque da seita de Charles Manson no número 10050 de Cielo Drive, em Los Angeles, moradia onde viviam Polanski e Tate. Há uma cena linda e longa numa sala de cinema onde a atriz se revê na tela. Nela, assistimos simultaneamente ao  maravilhoso desempenho de Tate herself e a felicidade de Margot-Tate ao ver a si mesma na tela. É uma bela homenagem de Tarantino a Sharon Tate.

Ao longo de duas horas e cinquenta minutos, assistimos a uma obra lotada de detalhes. Deve-se ficar atento, pois mesmo as cenas e planos mais longos estão repletos de referências.

Tarantino e sua Sharon Tate, vivida por Margot Robbie | Divulgação

O que é aquela cena com a atriz mirim onde ficam expostas todas as inseguranças do ator Dalton? O que é aquela cena pós-créditos? Por favor, não saiam do cinema durante os créditos! Vão perder uma cena hilariante. Que grande atuação de DiCaprio!

É um baita filme, surpreendentemente comovente e de sutil melancolia. O final fez vir lágrimas aos olhos de minha companheira, algo inimaginável em produções anteriores do diretor. Tarantino encontrou uma linda forma de reescrever e melhorar a história e as quase três horas passam como se fossem 30 minutos.

Sim, eu sei que está na moda criticar Almodóvar, von Trier e Tarantino, mas esqueça as modinhas críticas e vá assistir. Eu garanto.

Trailer 1:

Trailer 2:

Leonardo DiCaprio e o CO2 de esquerda e o de direita

Leonardo DiCaprio e o CO2 de esquerda e o de direita

Não tenho dúvidas que o projeto que passou no Senado sobre o pré-sal seja uma vergonha. É uma capitulação da direita — e aí incluo AMPLOS setores do governo — à indústria do petróleo, mas desastre ainda maior é a queima do petróleo em si. Tanto quanto ficar discutindo se a “riqueza” é nossa ou da Chevron, é hora de pensar nas consequências climáticas de cada ação. Não existe diferença nos efeitos de um CO2 de esquerda ou de direita. Hoje, brigar sobre petróleo sem falar de mudanças climáticas é uma comprovação de incapacidade de entendimento ou de interesse na realidade. Os combustíveis fósseis são necessários para muita coisa que não produz CO2. Para as que produzem, seria melhor começar a pensar em alternativas e deixar tudo o que pudermos no subsolo. A “riqueza nacional” é, bem… Toda a vez que se fala nisso é bom pensar naquilo.

Neste domingo, Leonardo DiCaprio, além de merecer há tempo um Oscar, usou bem os poucos segundos de seu agradecimento. Disse que 2015 foi o ano mais quente já registrado e que a produção de O Regresso teve que ir até longínquas latitudes para encontrar neve em grande quantidade. Disse o que todos sabem, que a mudança climática é real e que precisamos enfrentá-la sem procrastinações. e que está na hora de considerar o apoio a líderes que não falam em nome das grandes corporações poluentes.

Concordo com ele, claro. Se, do ponto de vista econômico, querem vender o Brasil, do ponto de vista ambiental tanto faz se quem vai queimar tudo é a Petrobras, a Chevron ou o Serra. Os céticos do aquecimento global estão calando a boca. Os que defendiam que a associação entre queima de combustível fóssil e efeito estufa era uma fraude, idem. Agora, falta ação. Orgulhar-se de nossa riqueza petrolífera talvez seja apenas burrice.

(Ao final deste ano, a Chevrolet americana lançará o Bolt, carro 100% elétrico com autonomia para 320 Km e desempenho semelhante aos que usam combustível fóssil. É um dos caminhos.)

P.S. — Meu amigo Dario Bestetti acaba de me apresentar os carros elétricos da Tesla.

dicaprio