Mês 80

Hoje é dia de comemoração íntima. Afinal, aquele ansiado número apareceu na balança. Explico: em novembro passado fui ao cardiologista, o qual ficou bastante contrariado com meu peso — 84 desarmônicos quilos espalhados por parcos 1,71 m — e me mandou baixar de peso. Eu sei que não parece, mas em novembro estava com 84 Kg. Bem, as coisas que funcionam na minha vida são aquelas que consigo transformar em jogos, principalmente numéricos. Não vou entrar em detalhes das coisas que sei através dos números, mas uma delas é a média de minutos concedidos de descontos por cada juiz — sei, portanto, quando há uma enorme anomalia — , assim como o tempo que uma sinfonia de Bruckner demora para o primeiro tutti, o número de páginas que um escritor leva para montar um bom conflito num romance e também o número de páginas de livros lidas por mim durante o ano e sua média diária… Também faço descobertas revolucionárias como a que explico ao final deste post… (E que depois é transformada em equação pelo compositor Gilberto Agostinho nos comentários).

Então, quando me vi no canto do ringue sendo açoitado por maravilhosas comidas trazidas por sedutoras e cheirosas garçonetes, decidi que dezembro seria o mês 83 Kg;  janeiro,  o 82; , fevereiro, o 81; março, o 80. Não interessa o que vem depois da vírgula, só o número inteiro. Os objetivos são lentos e modestos — factíveis, portanto, penso eu. As previsões para os meses anteriores tinham sido alcançadas sem sustos e grandes cortes, mas, olha, estava foda de aparecer um 80 na balança. Apenas hoje, dia 11, é que ele deu o ar da graça.

Acordei já preocupado e fui cumprir o ritual. Fui ao banheiro e fiquei nu, depois dirigi-me à privada a fim de depositar 300 g de urina (sim, uma boa mijada dá entre 200 e 300 g, eu conferi) e subi na insidiosa balança. 80,7. Foi como um gol em final de Copa do Mundo. Agora é manter o peso durante todo o mês sabendo que abril é o mês 79.

Eu sei que todo avião tem pneus, mas os meus eram assim de caminhão. Não precisa, né?