Saramago recusa encontrar-se com o Papa em Lisboa

Enquanto um imenso grupo de baba-ovos tentar arrumar um lugarzinho no encontro que Ratzinger, o Papa Bento XVI, terá com “representantes” da cultura portuguesa, José Saramago já declinou previamente do convite. O convescote está marcado para o dia 12 de maio, no Centro Cultural de Belém. “Não temos nada para dizer um ao outro”, garantiu o escritor que recentemente se envolveu em recente polêmica com a Igreja Católica, por conta de seu romance Caim.

Saramago autografa Caim, em foto recente

Certa vez, Graham Greene pediu para ser apresentado a Augusto Pinochet, só para ter o prazer de negar-lhe o cumprimento. Seria uma grande ideia para Saramago, mas acho desaconselhável em sua idade, ainda mais que o Papa estará cercado por uma claque de perigosa de carolas.

A Igreja Católica descreve Bento XVI como um homem da cultura e um apaixonado por filosofia, que procura reunir-se com artistas e intelectuais nos países que visita. Posso imaginar o papo.

De minha parte, gostaria de entrevistar-me com São Pedro a fim de que ele me explique a temperatura dos últimos dias em Porto Alegre. Não quero falar com Deus, que é vingativo e mau caráter. São Pedro me basta. Vou escrever ao Vaticano.

Vinde a mim, vamos conversar…

35 comments / Add your comment below

  1. Percebe que geralmente as pessoas quando vão envelhecendo juntamente ficam moralistas? Mas não Saramago :D.

    Ontem mesmo meu pai veio com um papo de bíblia… a seguir o diálogo:

    Ele: Hoje fui até a barbearia, aquela que tem aquele senhor que é crente e um tempo atrás veio fazer pregação na porta de casa com direito a microfone e que voce chamou a polícia para ele, lembra?
    Eu: Inesquecível!
    Ele: A mulher dele veio com a bíblia dizendo que o mundo anda essa perdição por conta do homem ter comido a maçã. E eu disse a ela que não foi o homem, mas a mulher (Eva). Ela ficou sem graça e teve que aceitar, afinal está lá na bíblia.
    Eu: Ah! Vai o senhor querer me dizer que acredita nesse papo? Pois eu não acredito. Como disse minha filha quando questionou sobre o assunto: quem estava lá para confirmar essa estória e quem me garante que o homem colocou a culpa nas costas da mulher? A gente vê isso até hoje! 🙂

    Não tenho a menor vontade de conhecer o Papa, mas adoraria ganhar um autógrafo do Saramago no meu livro. O alemão que gostaria de ter conhecido? Friedrich Nietzsche 😉

    1. Como é que é? Então se um sujeito vem pregar na frente da tua casa tu chamas a polícia?

      SEN-SA-CIO-NAL !!!

      (Eu também queria um autógrafo do Saramago…)

  2. O Ratz já falou sua cota de bobagens logo no início do seu reinado, agora não tendo o que fazer, vive viajando e “enchendo o saco” dos outros, para mim, ele deveria estar 24 horas de joelhos pedindo a DEUS perdão para o que a igreja dele fêz durante a inquisição e que devolva tudo aquilo que o vaticano ROUBOU nesse referido período.

    1. Vá ao Musei Vaticani em Roma. É deslumbrante, uma aula de história. E é também o maior roubo e exposição de riqueza por metro quadrado possível.

      O dinheiro e o poder do Vaticano deve deixar louco qualquer evangélico dono de igreja.

  3. O que me pergunto é como o papa se interessa em se encontrar com uma figurazinha de quinta categoria da literatura, como Saramago.
    O papa é uma figura simbólica, Saramago é pouco, ou não é nada.

    1. Josias, permita-me discordar.

      Saramago tem alguns grandes livros. Não li Caim, mas posso defender tranquilamente Jangada de Pedra, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Ensaio sobre a Cegueira (o livro, não o filme) e o esplêndido As Intermitências da Morte. Tenho bons argumentos para todos eles.

      Também escreveu alguns livros bastante ruins, como Todos os nomes e aquele sobre sua infância (esqueci o nome), mas considerá-lo de quinta categoria…? Nem o Lobo Antunes acha isso, penso!

      Abraço.

    1. OK, mas me diga uma coisa: por que o tom de extremo desprezo, por que chamar Saramago de “quinta categoria”?

      — por ele ser comuna?
      — por ele ser ateu?
      — pelo aspecto cronístico de seus livros?
      — pela falta de planejamento que transparece em algum deles?
      — por preconceito…?
      — por inveja do primeiro Nobel de língua portuguesa?
      — por absoluta necessidade de pisotear quem é próximo e bem-sucedido? <— Coisa tão brasileira e portuguesa.
      — por amar Lobo Antunes?

      Hã?

  4. Ora,
    o Saramago foi simplesmente, educado.
    Se não tem o que falar que não vá, atitude adequada de uma pessoa que já se consagrou (quinta categoria é a avó) e não tem tempo para fuleirices.
    Ir para não não cumprimentar não tem sentido. (Com o Pinochet é diferente, não vamos exagerar)

    Acho que eu não iria também. Pensado bem, talvez fosse, talvez eu pensasse que não ir seria uma deferência exagerada a um homem comum. Sei lá.

    Para um agnóstico, esta discussão é meio desprovida de sentido. Por outro lado quem leu “o que crêem os que não crêem” do U. Eco e Carlo Martini (Cardeal, mas não é tratado assim na discussão), viu que é possível discutir sem intolerâncias e praticar o que Aristóteles chamava de comércio de idéias. Mas quantos o conseguem?

    Branco

  5. Grande coisa o Sara dá um autógrafo. O dinheiro vai para ele, e não para quem precisa, por uma obra medilcre, que agrediu a consciência de muitos tolos. Mas o legal da vida é isso, dar valor a quem prega a inteligência, mas no fundo para quem”?

  6. Ao lado de Graham Greene, Flannery O’Connor, Paul Claudel e Walker Percy, o francês Georges Bernanos figura entre os grandes escritores cristãos do século XX, ao ponto de o grande teólogo alemão Hans Urs von Balthasar ter-lhe dedicado um livro inteiro. Sua obra tem sido publicada no Brasil pela É Realizações Editora, e agora sua passagem pelo país é narrada ao público local. O estudo de Sébastien Lapaque “Sob o Sol do Exílio: Georges Bernanos no Brasil (1938-1945)” acaba de ser publicado, trazendo à luz a visita de Bernanos a várias cidade do Rio de Janeiro e Minas Gerais, sua estadia no sítio Cruz das Almas, sua revolta contra a mediocridade dos intelectuais e a ascensão do totalitarismo, sua amizade com pensadores brasileiros e a visita que Stefan Zweig lhe fez à véspera de se suicidar.

    Matérias na Folha de S. Paulo a propósito do lançamento do livro: http://goo.gl/O8iFve e http://goo.gl/ymS4lL
    Para ler algumas páginas de “Sob o Sol do Exílio”: http://goo.gl/6hAEOM

    Confira também:
    Diálogos das Carmelitas: http://goo.gl/Yy3ir3
    Joana, Relapsa e Santa: http://goo.gl/CAzTTk
    Um Sonho Ruim: http://goo.gl/Kd091z
    Diário de um Pároco de Aldeia: http://goo.gl/ISErLc
    Sob o Sol de Satã: http://goo.gl/qo18Uu
    Nova História de Mouchette: http://goo.gl/BjXsgm

Deixe uma resposta