A Semana Mais Importante da História

Publicado em 11 de dezembro de 2006 (Casualmente, a semana que vem será análoga a esta…)

Esta é a semana em que o Internacional de Porto Alegre poderá sagrar-se Campeão Mundial Interclubes. Atualmente, este título existe e é oficial, sendo reconhecido pela FIFA e disputado por seis times. Antes, o campeão mundial saía de um jogo entre o campeão da América do Sul (o vencedor da Libertadores da América) e o da Europa (o ganhador da Champions League); agora, foram acrescentados os campeões da América do Norte, da África, da Ásia e da Oceania. Apesar do fato da Fifa ter oficializado todos os títulos anteriores, é indiscutível a maior autenticidade do campeonato atual, que só deixa de fora a América Central, uma tão representativa quanto a fraca Oceania.

O centro do país não dá a menor importância a nossa cidade, mas, aqui em Porto Alegre, estamos no centro da maior expectativa latino-americana para o Mundial. Nossa população está sofrendo de monotematismo e qualquer reunião de pauta frouxa resvala para o Mundial. O estranho é que a expectativa é até maior do lado gremista. O nervosismo dos bananas é justificável para quem pensa que o futebol é uma contagem de títulos. Acho bom saber que ganhamos o Campeonato Brasileiro de 1979 e que este foi nosso terceiro título nacional. É natural dizer que somos tri-campeões brasileiros, todavia é inteligente pensar que estamos estáticos nesta situação há 27 anos… Ou seja, nosso título faz parte da História, assim como o do Grêmio. Os títulos duram um ano e depois têm de ser revalidados. Desta forma, quando um gremista diz ser campeão do mundo eu respondo que o Grêmio foi o autêntico campeão de 1983, tendo deixado de ser em 1984, quando o Independiente (Argentina) venceu o Liverpool. Porém, é claro, sei que a Copa Toyota de 1983 – ex-mundial de clubes, reconhecido tardiamente pela FIFA – é o único argumento de uma superioridade que hoje mora apenas na estatística.

Lembro do jogo de 1983. O Grêmio – reforçado por jogadores como Paulo César Caju e Mário Sérgio, que jogariam apenas aquela partida – iniciou melhor e fez 1 a 0. A partir dali o Hamburgo dominou inteiramente o jogo, pressionando o tricolor e perdendo gols. Eu estava assistindo a partida entre amigos gremistas e comecei a me desesperar e gritar contra a inexatidão dos atacantes alemães, que só foram empatar a partida numa bola alta em que a defesa do Grêmio, pela centésima vez, não conseguiu rebater e que sobrou limpinha para uma sumidade qualquer fazer o favor de marcar o gol. Depois, na prorrogação, o Grêmio seguiu levando um baile, mas o craque Renato Portaluppi fez um belo gol e o Hamburgo acabou derrotado. Quando digo para meu filho que o Hamburgo deu um chocolate no Grêmio e que a vitória foi casual, ele – apesar de colorado – me olha estranho. A imprensa gaúcha, com o tempo, tornou aquela partida uma grande atuação. Tenho certeza que os são-paulinos também esquecerão logo – isto se já não o fizeram! – que levaram o mesmo banho de bola do Liverpool no ano passado e que foram auxiliados por uma peculiar arbitragem.

Concordo com Rubens Minelli: futebol é o momento atual, o que aconteceu antes é História. Acho que quem gosta mesmo de futebol prefere analisar os jogadores e a tática. O resto é estatística. Desta forma, a única relação que vejo entre os jogos desta semana e o Grêmio é a história e a geografia portoalegrense. É o suficiente para quem gosta de se comparar, é claro. Talvez eu seja um dos poucos gaúchos que se desligam do futebol quando o Grêmio vai bem. É uma negação explicada por Freud, porém, nos últimos anos, ando sempre ligado…

Haja o que houver, jogaremos duas partidas no Japão. A primeira será quarta-feira, em Tóquio, às 8h20 da manhã, contra o Al Ahly, que venceu o Auckland City por 2 a 0 ontem. O Al Ahly é um time que não deverá assustar: joga com três zagueiros, ataca sempre pelo meio e tem alguns bons jogadores, como o angolano Flávio e o egípcio Aboutrika, que disputariam posições em times brasileiros; no mais é um time previsível que insiste de forma quase comovente em fazer corta-luzes espetaculares. A segunda partida dependerá desta: se ganharmos, vamos para a final, domingo, às 8h20, em Yokohama; se perdermos, vamos para uma melancólica partida de despedida, no mesmo estádio, três horas antes. Não acho escandaloso perder o Mundial, mas ficaria muito decepcionado se não chegássemos a disputar a final. Sei que uma de nossas principais características é a desmedida vocação para tragédias em jogos decisivos e que, ultimamente, elas estão afastadas de nós. Mas ser colorado é ser cuidadoso. Não faz parte da nossa índole a arrogância gremista do “já-ganhou-pois-somos-os–maiores”. Todo colorado teme o fiasco. Já ouvi vários dizendo que só fazem questão de ganhar do Al Ahly e que o resto estará nas mãos de Deus. Acho muito perigoso deixar tudo em Tais mãos – até porque Ele parece gostar bastante de Ronaldinho – e dou risadas porque o medo comum do fiasco faz minha alegria de observador. (No jogo de despedida, antes da viagem para o Japão, no Beira-rio, com uma torcida alegre e festiva, jogamos contra um desinteressado Goiás e tomamos 4 x 1… Isto é a nossa cara perfeita!)

Mas desta vez será tudo diferente e entraremos em campo no próximo domingo, às 8h20 da manhã, certamente…

Nosso time é muito bom, conta com esteios importantes como Fabiano Eller, Índio, os dois volantes Edinho e Wellington Monteiro e, principalmente, Fernandão, o jogador que deu a maior contribuição para mudar o Inter nos últimos anos. Chegou em 2004, e hoje aos 28 anos, no auge da carreira, já jogou 136 partidas pelo clube, marcando 58 gols e dando passes para o dobro. Como se não bastasse, fez um gol na final de Libertadores, deu o passe para o outro e é nossa maior esperança. Alex é um ponto importante de equilíbrio, mas grande parte de nossa atenção irá para a atuação do “prodígio” Alexandre Pato, de apenas 17 anos e 59 minutos de titularidade. É convicção no Beira-rio que Pato será um super-craque. Eu concordo e espero ele seja muito jovem para saber que deveria ficar nervoso no Mundial. Há os pontos fracos, como o imprevisível goleiro Clemer – capaz de dias de fechar o gol e dias de inacreditáveis frangos – e o discreto lateral Hidalgo, um peruano que bate bem na bola, mas que é mau apoiador e mau marcador.

Bem, aguardemos a manhã de quarta-feira. Penso que o Inter só perderá se fizer a tradicional patacoada. Se jogar direitinho, chega à final.

P.S.- Às vezes, encontramos boas notícias no obituário. Pinochet morreu e Michelle Bachelet já avisou que não vai ao enterro! Uhu!

3 comments / Add your comment below

  1. Mundial com maior autenticidade, é?
    Porque é FIFA?
    Beleza, qual foi o último título autêntico do brasileirão do inter?
    Se não me falha a memória, vocês tem, se ratiar nem isso, só um título brasleiro- CBF. Até 1979 (bahhh, mas faz tempo!) a instituição se chamava CBD – Confederação Brasileira de DESPORTOS.

    Cara, vocês nasceram do nosso repúdio e diz que não gosta de se comparar???

    Boa sorte contra os poderosos times da oceani, ásia e áfrica..UHUUUU!

Deixe uma resposta