O Questionário de Proust (XI) – Responde Marcelo Backes

Publicado em 23 de fevereiro de 2007

Conheço Marcelo Backes há muitos anos. Gaúcho de Paca Norte, noroeste do estado, é o cara que mais sabe sobre literatura dentre todas as pessoas que conheço. Além de incontáveis traduções – incluindo Goethe, Kafka, Marx, Heine, Nietzsche, Schnitzler e outros de língua alemã – é autor de três livros: Estilhaços (Record, 2006), A Arte do Combate (Boitempo, 2003) e Lazarus über sich selbst: Heinrich Heine als Essayist in Versen (Peter Lang Verlag, 2005). Também selecionou e traduziu os contos do esplêndido Escombros & caprichos: O melhor do conto alemão no século 20 (L&PM, 2004). Tudo isso, é claro, está longe de ser desprezível, mas a mim o que interessa é o grande amigo de frases surpreendentes e lapidares que, como eu, sofre com as agruras do Internacional de Porto Alegre. O que mais sinto em relação ao Marcelo são saudades; porra, como este cara viaja! Atualmente mora no Rio com sua Nina, mas hoje, neste momento, está na Alemanha. Não disse?

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Prometer tudo e não fazer nada; eu não prometo nada – e não estou falando de trabalho – e tento fazer alguma coisa.

Como gostaria de morrer?

Gaúcho e missioneiro que sou, na guerra mundana ou em batalha amorosa.

Qual é seu estado mental mais comum?

Letargia, combatida e vencida todo dia. É pena, mas tem de ser assim.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

O príncipe Míchkin, de “O idiota”, de Dostoiévski.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Entre as confessáveis, volubilidades como passat alemão, armani, osklen e que tais…

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Ignoro muitas, tento me ocupar de poucas delas a ponto de chegar a desprezá-las.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Admiro muito o Zezinho Queiroga, por exemplo, e Juli Zeh, uma autora alemã de trinta e bem poucos anos.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Na condição de touro, mas no pampa bravio e selvagem de vários séculos atrás.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Sempre que a verdade especulativamente doeria mais; mas apenas se a coisa for de foro privado, pois em questão pública não se mente.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Viver muito bem de direitos autorais sem me prostituir intelectualmente. Ave, paraíso!

Qual é seu maior medo?

Ter o filho que um dia quero ter.

Qual é seu maior ressentimento?

Não ser um grande jogador de sinuca.

Que talento desejaria ter?

Talvez cantar, que seria onde eu ganharia mais, uma vez que partiria do zero absoluto, na condição de pior cantor do mundo. Diria ser um grande jogador de futebol, mas sou capaz de fazer 200 embaixadinhas.

Qual é seu passatempo favorito?

Olhar o mundo em todas as suas protuberâncias.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Não mudaria nada, mudar o outro segundo nosso manual é piorá-lo, e ademais eu gosto de meus familiares como eles são.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

A fome; outro dia vi um casal na parada de ônibus, e o marido disse a mulher: “Não vamo pegá esse que a passagem tá dois”. A do outro, que ele pegaria vários minutos mais tarde, era um e noventa.

Onde desejaria viver?

Berlim.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

O sucesso, que em muitos casos é inversamente proporcional à capacidade. O que eu mais admiro são esses talentos grandiosos, que sucumbem pelo fato de serem humanos, demasiado humanos: Mike Tyson, Maradona, Jan Ullrich, um ciclista alemão, por exemplos; o Zidane, outro dia: defendo e defendi a cabeçada dele.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

A bondade.

Quando e onde você foi mais feliz?

Na cama, em diversos lugares diferentes deste vasto mundo.

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