O preconceito contra os ateus

O Ministério Público Federal entrou com ação civil pública para que o programa “Brasil Urgente”, da Rede Bandeirantes de Televisão, se retrate de declarações contra ateus, consideradas preconceituosas, feitas por José Luiz Datena, no dia 27 de julho. Para o procurador regional dos Direitos do Cidadão e autor da ação, Jeferson Aparecido Dias, a emissora descumpriu as finalidades educativas a que a TV aberta se propõe veiculando declarações preconceituosas.

Enquanto a rede de televisão exibia imagens de uma matéria sobre um garoto fuzilado, Datena conversava com um repórter sobre a ‘falta de Deus’ dos criminosos. “Então, Márcio Campos [repórter], é inadmissível, você também é muito católico, não é possível, isso é ausência de Deus porque nada justifica uma crime como esse, não Márcio?”, dizia o apresentador no programa veiculado aos finais de tarde.

Segundo o MPF, em todo o tempo em que a matéria ficou no ar, o apresentador associava aos ateus a ideia de que só quem não acreditava em Deus poderia ser capaz de cometer tais crimes.

“Porque o sujeito que é ateu, na minha modesta opinião, não tem limites, é por isso que a gente vê esses crimes aí”, afirmava o apresentador.

Para o procurador, ao veicular as declarações preconceituosas contra pessoas que não compartilham o mesmo modo de pensar do apresentador, a emissora descumpriu a finalidade educativa e informativa, com respeito aos valores éticos e sociais da pessoa, prestou um desserviço para a comunicação social, uma vez que encoraja a atuação de grupos radicais de perseguição de minorias, podendo, inclusive, aumentar a intolerância e a violência contra os ateus.

“O apresentador e o repórter ironizaram, inferiorizaram, imputaram crimes, ‘responsabilizaram’ os ateus por todas as ‘desgraças do mundo’”, defende o procurador. Procurada pela reportagem da Rede Brasil Atual, a Band informou que ainda não foi notificada pela Justiça. Órgão quer direito de resposta em programa “Brasil Urgente”, do apresentador José Luiz Datena.

Fonte: Virginia Toledo e Letícia Cruz, da Rede Brasil Atual

Encontro (1944) — Gravura de Maurits Cornelis Escher (1898-1972)

11 comments / Add your comment below

  1. O que eu acho é que a Associação de Ateus do Brasil devia ganhar um Direito de Defesa no tal programa para expor, com a maior clareza possível, a enorme quantidade que coubessem em, sei lá, cinco minutos, de crimes insanos contra a humanidade, todos praticados por outros humanos sob a égide divina, inclusive os crimes em pensamento dos católicos hipócritas como a apresentador do programa que, como crente em um tal deus aí, acha razoável a execução de seres humanos sob a justificativa de que criminosos perderam a condição humana ou que tais. Sinceramente, não tem coisa mais escrota do que um imbeecil que emite uma opinião dessa sobre ateus que, como eu, só gostariam de jogar na cara desse sujeito sua própria hipocrisia e os enormes crimes cometidos cob a bandeira dos deuses de todos os tempos, inclusive esse deusinho católico de merda que uns cultuam como se fosse troço de gente séria. Ele que viva com sua hipocrisia, mas me deixe em paz… ahn, aliás, me deixou até agora, que nunca tive o desprazer de conhecer nenhuma opinião dele sobre qualquer assunto. Sugestão: não dê voz àquele que crê; sim, por reciprocidade.

  2. Ah! Não me venha com essa agora. Imagina uma história futura de perseguição a indefesos e assustados ateus, todos colocados em campos de concentração para doutrinamento forçado. Àgua benta aspergida nas cabeças raspadas ao amanhecer, genuflexóes ao pôr do sol, penitências corporais à noite. Muito triste…

  3. Na verdade, estatisticamente é muito mais provável que os criminosos tenham alguma forma de religião. Os ateus declarados no Brasil são pouquissíssimos, com o perdão do superlativo à José Dias.

    Marcos, não creio que um direito de resposta desses seria esclarecedor. Na verdade, seria pior ainda. Incentivaria um “nós contra eles” e não faria quem é crente (lato sensu) nos ver de outro modo. O problema não é tanto “matar em nome de Deus”. O problema é que mesmo quem crê em Deus pode cometer crimes horríveis. É isso que teria de ser deixado muito claro num direito de resposta.
    Fechar isso com chave de ouro seria usar o instituto da confissão: são as próprias religiões confessando (alarme de trocadilho besta) que seus respectivos crentes não estão isentos de crimes, mesmo crimes horrorosos.

    E muito boa a iniciativa do MPF. Dá mais visibilidade ao fato de que “liberdade religiosa” não é “liberdade de crer em qualquer coisa”, mas também “liberdade de não crer”.

Deixe uma resposta