Who`s Next?

Publicado em 30 de janeiro de 2007

Eu pensei naquela velha piada do cara que vai ao psiquiatra e diz ‘Doutor, meu irmão está louco. Ele acha que é uma galinha.’ E o doutor responde ‘Bem, mas por que você não tenta convencê-lo do contrário?’. E o cara diz ‘Eu até o convenceria, mas é que preciso dos ovos’. Bom, eu acho que é mais ou menos isso o que penso dos relacionamentos. Sabe, eles são totalmente loucos, irracionais, absurdos, mas continuamos atrás deles, porque a maioria de nós precisa dos ovos”.

ANNIE HALL – Woody Allen

Meu estado de espírito foi lentamente luto do dia 14 para a brutal ironia dos dias subseqüentes e agora estaciona triste e decepcionado. Ontem, porém, fiz uma piada sobre pensando no rumoroso caso Meg-Paulo José Miranda; fiz mal; como resultado, algumas risadas e e-mails pessoais acusando-me de traição à Meg. Os espectadores desta tragédia grave e real, acontecida da forma mais virtual possível, parecem divididos entre os bondosos que depuseram irrestritamente seu perdão, os malvados incondicionamente irritados e os de minha posição, sem vontade de linchar nem afagar.

Teria muitos motivos para espernear indignado: fui eu o primeiro crédulo a divulgar a notícia a pedido de Paulo José Miranda, fui dos primeiros a ver minha caixa de e-mails pululando de textos que apontavam incoerências e pediam retificações a uma história mal contada. Aliás, minha caixa de entrada – uma verdadeira pândega durante a semana passada – tem declarações por escrito de pessoas que afirmam taxativamente fatos que são negados veementemente duas horas depois… pelas mesmas pessoas. O manicômio. Agora, o movimento está voltando ao normal, mas há os pedidos de explicações. São um saco, pois alguns começam assim: “Milton, cadê o Sub Rosa?, a Meg morreu mesmo?” Putz, e lá vai o Milton explicar….

Logo após meu enlutado post, vi a recém fantasmal criatura escrever um scrap no Orkut como Meg, vi-a metamorfoseada como Tereza Quetzal comentando em meu blog, li cético a declaração do Paulo sobre um encontro de ambos em São Paulo, revisei IPs que não apontavam nem por sombra para os Estados Unidos, discuti acerbamente com o Paulo tentando fazer com que ele abrisse os olhos e visse a mentira (e o problema) em que estava começando a charfurdar – mas ele permaneceu convicto – e tive com vários blogueiros diálogos dos mais inesperados de minha vida.

Não vou contar toda a história em detalhes. Acho mais importante afirmar que discordo visceralmente da posição de perdão irrestrito. Dizer que atitudes mentirosas e imorais – mesmo que provocadas com o objetivo de proteger o objeto amado… – são sub-produtos de uma doença é um enorme erro. Mas é a reação da maioria. Muita gente parece possuir o vício mental de trazer, colada à compreensão, o perdão. Se eu compreendo, perdôo. Discordo. Isto faria com que perdoássemos a todos. Também não me alinho na posição dos que execram o casal. Se a Meg reabrir seu blog, irei lá. Ela errou? Sim, mas o Sub Rosa era bom, muito bom. Quando o Paulo publicar um livro, não vomitarei sobre ele, é provável que goste como gostei dos que li. Preciso dos ovos e esta é uma relação escritor-leitor, ou seja, é a mesma que tenho com Diogo Mainardi (escritor?, foi promovido?) ou Franz Kafka.

Há confusão entre vida pessoal e vida na rede. Quando leio Diogo Mainardi na Veja, rio ou acho lastimável ou sinto impulsos de jogar a revista no lixo, mas sempre o objeto da discussão é o texto. Porém, se falo em seu filho que sofre de retardo mental – fato exposto por ele – e o ofendo dizendo que “ele merece”, não estou sendo apenas deselegante como passa a uma esfera onde só deveria entrar com a máxima educação: a dos problemas pessoais. Ora, só discutirei a impotência do blogueiro X se ele me conceder abertura para isso e, se o fizer, será com amizade e cuidado; só falarei em regimes alimentares quando Y se declarar gordo ou anoréxico e pedir conselhos a respeito; não falarei nunca sobre um transtorno bipolar exposto a mim, pois não tenho competência para tanto e procurarei ser apenas carinhoso. Sim, é preciso cuidado, a exposição existe onde mais da metade dos blogs são confessionais (e chatos). No caso em questão, a super-exposição da vida pessoal de um e de outro era inevitável, pois havia no ar a certeza de uma ocorrência muito estranha. E, talvez pior, houve os diagnósticos…

O caso é que uma fato comum da Internet foi levado ao paroxismo.

O que houve? Ora, uma mulher de mais de 50 anos, muito inteligente, jovial, culta e sedutora entra em contato (ou ele entra em contato, não interessa) com um escritor desimpedido, talentoso, culto e mais jovem. Ela lhe abre contatos, apresenta-lhe pessoas e encanta-se por ele, assim como ele por ela. Então, a mulher manda-lhe uma foto tirada há 25 anos. Fez mal, muito mal, pois ele acreditou que ela fosse ainda aquela – por que desconfiaria? O jogo prossegue e o homem quer conhecer a mulher, claro. Mas não pode, pois descobrirá sua idade! Então, ela cria uma enorme fantasia: adquire um câncer, vai para o Nova Iorque e morre por lá. Fez mal, muito mal, pois ele não apenas acreditou novamente, como resolveu pranteá-la publicamente, com foto e tudo. Mas ele também erra: a morte é importante, porém é mais convicente agregada a um romance fugaz. Ele o cria. Enquanto isso – como é difícil livrar-se do vício da Internet! -, ela fica entrando na rede e sendo descoberta quase todos os dias. Ou todos, teria que revisar. (Neste ínterim, já existia uma rede de relatórios informais da blogosfera.) Quando tento, e tentei várias vezes, dizer ao homem que a mulher está viva, que ele está equivocado, ele responde: está morta e ela é a da foto! E fica irritado. Fez mal, muito mal em desconsiderar as advertências. Às vezes até eu estou certo.

No domingo passado nem era Páscoa, mas quando a gorda mentira estava sendo levada merecida e lentamente pelo Inagaki para a estreita via do esquecimento, onde também teria dificuldades, estoura a bomba. Ressurreição! A mulher reaparece. No primeiro momento passam de mentiroso e idealista e de mentirosa e voyeur à mais pura compreensão e solidariedade. Todos erraram, todos pedem perdão. Meg retorna. Paulo envergonhado, diz que as advertências que recebera estavam corretas; Meg pede desculpas. É claro que, passados dois dias, a situação já deve ser outra. Não sei.

Fico triste, são dois amigos. Não sei se permanecerão. Os brasileiros são tolerantes e colocarão a história nos anais da blogosfera como uma curiosidade. Já os blogs portugueses são muito mais sérios e não sei não.

Mas acho que chega desta história, não sou monotemático. Who`s next?

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