O sujeito pede o livro “Uma Vida Pequena” e já sai perguntando se é muito deprimente. Eu respondo que não li o livro, mas que ele vende bem e nunca soube de algo especial a respeito. Ele diz que é o presente que sua filha pediu. Ela está fazendo 18 anos, o sr. sabe, né?
Na verdade, não sei nada. Pergunto se ela sofre de depressão. Ele responde que não, é que ela está naquela idade. Ih, rapaz, um controlador.
— Ela tem saído muito? — eu pergunto.
— Não, ela é correta, mas eu tenho medo de tudo, dos perigos reais e das influências, dos namorados também.
— Tu era correto? Ela vai fazer o que tu fazia.
— É disso que eu tenho medo.
Eu tomo a palavra:
— Eu tenho uma filha de 30 que sempre foi de uma franqueza estúpida. Hoje está casada, parece feliz.
— E como foi com o primeiro namorado?
— A primeira vez? Não sei. Eu a levava e buscava sempre nas festas. Um dia, ela me disse muito séria que eu estava livre de buscá-la de madrugada, que podia buscá-la de manhã, perto do meio-dia. Pensei: futebol é bola na rede. No outro dia, fui lá, busquei ela e conversamos um monte de abobrinhas. Só isso. Seguimos nossas vidas.
— Tu é muito calmo.
— Não, ela não era de enrolar. Então, eu provavelmente sabia onde ela estava e, se é para acontecer, não há vigilância que funcione. Digo mais: se é para transar, que transe em casa.
— Pra psicólogo tu não serve. Vou pensar nisso uma semana, sou capaz de bater o carro agora.
Achei graça.