Atrás do balcão da Bamboletras (LXV)

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O sujeito pede o livro “Uma Vida Pequena” e já sai perguntando se é muito deprimente. Eu respondo que não li o livro, mas que ele vende bem e nunca soube de algo especial a respeito. Ele diz que é o presente que sua filha pediu. Ela está fazendo 18 anos, o sr. sabe, né?

Na verdade, não sei nada. Pergunto se ela sofre de depressão. Ele responde que não, é que ela está naquela idade. Ih, rapaz, um controlador.

— Ela tem saído muito? — eu pergunto.

— Não, ela é correta, mas eu tenho medo de tudo, dos perigos reais e das influências, dos namorados também.

— Tu era correto? Ela vai fazer o que tu fazia.

— É disso que eu tenho medo.

Eu tomo a palavra:

— Eu tenho uma filha de 30 que sempre foi de uma franqueza estúpida. Hoje está casada, parece feliz.

— E como foi com o primeiro namorado?

— A primeira vez? Não sei. Eu a levava e buscava sempre nas festas. Um dia, ela me disse muito séria que eu estava livre de buscá-la de madrugada, que podia buscá-la de manhã, perto do meio-dia. Pensei: futebol é bola na rede. No outro dia, fui lá, busquei ela e conversamos um monte de abobrinhas. Só isso. Seguimos nossas vidas.

— Tu é muito calmo.

— Não, ela não era de enrolar. Então, eu provavelmente sabia onde ela estava e, se é para acontecer, não há vigilância que funcione. Digo mais: se é para transar, que transe em casa.

— Pra psicólogo tu não serve. Vou pensar nisso uma semana, sou capaz de bater o carro agora.

Achei graça.

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