Há diversos tipos de espera. Há a espera por algo que sabemos que vai acontecer, só não sabemos quando. Há a espera por algo que tememos estar se afastando de nós (ou que sabemos estar se afastando). Há outro tipos também, mas estes não me interessam agora.
Vivendo momentos de espera, fui folhear inconscientemente o livro Fragmentos de um Discurso Amoroso, o mais popular de Roland Barthes e, como sói acontecer quando estamos angustiados ou quando um católico abre a Bíblia numa página qualquer, dei de cara com aquela página tudo a ver. Tudo a ver mesmo: abri o livro nos verbetes Espera e Fading. (Há um sinônimo para fading em português?) Pois então, copiei, mexi e certamente piorei alguma coisa nos dois verbetes. Já não lembro o que é de Barthes e o que é de minha pretensiosa intromissão.
Espera. Tumulto doloroso de angústia suscitado pela espera do ser querido.
Espera. A espera é um encantamento: recebi ordem de não me mexer. Me impeço de sair de casa, de ir ao banheiro, de telefonar, me desespero só de pensar que a tal hora tenho um compromisso. Fico recolhido. Estes incidentes seriam momentos perdidos de espera, impurezas da angústia.
Espera. A angústia da espera não é sempre violenta, tem seus momentos de calma. Espero, e tudo que está em volta da minha espera é atingido de irrealidade: neste escritório, observo os outros que entram, conversam, trabalham, se divertem: esses não esperam.
Espera. Apenas o que espera está carente. O ser esperado está na plenitude. Às vezes, ele tenta fingir que é aquela que é esperada; tenta se ocupar com outra coisa, chegar atrasado; mas neste jogo perde sempre. Arruma a casa, mas o que quer que faça, acaba sempre sem ter o que fazer, acaba sempre pontual e até mesmo adiantado. A identidade fatal de quem espera não é outra senão aquele que espera.
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Fading. Experiência dolorosa segundo a qual o ser querido parece se afastar, sem que esta indiferença seja dirigida contra o sujeito apaixonado ou a favor de um rival.
Fading. Quando o fading se produz, fico angustiado porque suas razões me parecem sem fundamento (não é razoável, diz ele) e sem fim. A outra se afasta como uma miragem triste.
Fading. Ela vai se afastando para um outro mundo como uma nave espacial que deixa de piscar. De repente, ei-la sem brilho.
Fading. No fading, a outra demonstra seu cansaço, parece perder todo o desejo, a noite a leva. Sou abandonado pela outra, mas este abandono se divide com o abandono que ela mesma sofre. Recebo sempre um embrulho de cansaço.