Desfile das Escolas de Samba

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Há poucas coisas mais entediantes do que os desfiles. Tudo começa pela música. As melodias são todas muito parecidas, além do ritmo ser sempre o mesmo e das repetições fazerem parte do sistema. Mas ouvi-lo de longe não chega a ser irritante. Aos poucos, a atenção sobre o que se ouve vai ficando rarefeita e podemos perfeitamente religar nosso toca-discos interno. O som torna-se uma new age percussiva.

Já olhar é pior. A necessidade de “demonstrar 100% de alegria na passarela do samba” é das coisas mais enjoativas. Não é possível fazer um desfile triste e sem erros? E por que não usar uma batida mais lenta? Seria uma revolução… Se uma tem de ser mais alegre e empolgante que a anterior, não há como a coisa não tender à idiotice. E, decididamente, não é arte. É muito mais uma grande lavanderia de dinheiro para os traficantes.

Vi a comissão de frente da Unidos da Tijuca. Aquela troca de roupa é o sonho de todo marido.

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7 comments / Add your comment below

  1. Adoro carnaval e sambas-enredo. Sou único da minha faixa de idade, 20 anos, a gostar. Antigamente as baterias tinham um andamento muitíssimo mais lento. Os sambas eram obras sensacionais, com poesia, melodias variadas. “Hoje” (a partir do final dos anos 80, início dos anos 90), o samba mudou, aliás, o carnaval mudou. As Escolas começaram a fazer carnaval para ganhar dinheiro. Não que antes não ganhassem, mas agora estamos falando de milhões. Até 8 milhões de reais. E esse dinheiro é desviado para jogo do bicho, dependendo da Escola vai até para o tráfico. Os sambas eram feitos por grandes sambistas, que amavam suas escolas, seus bairros, sua gente. Gostavam da festa, das pessoas nas ruas a cantar e dançar, a curtir a folia, não por acaso eram foliões. Mocidade com Toco; Império Serrano dando aula de história do Brasil (aprendi o gosto pela história graças ao samba); Vila Isabel com Noel, Brazão, Martinho e Luiz Carlos, cantando sobre o Boulevard, a gente simples da Vila; Mangueira com Jamelão, Helio Turco e Jurandir, iam da Literatura aos morros com seus barracões de zinco; Portela com Paulo da Portela e Paulinho da Viola, pedindo benção dos orixás; Salgueiro com Noel Rosa e seus sambas afro, contando a história do negro do Brasil. Cada escola com um estilo, uma história para contar. Até os artistas começarem a invadir a avenida. Gente que antes não gostava de se misturar com o povão, começou a aparecer na avenida – para aparecer nas revistas, jornais e televisão. Império Serrano avisou em 1982 sobre o que estava acontecendo, com o Bumbumpaticumbumprugurundum:

    Super Escolas de Samba S/A
    Super-alegorias
    Escondendo gente bamba
    Que covardia!

    É o inconformismo com os famosos, com os turistas, que nem tem ideia do que cantar, tirando pessoas das comunidades dos desfiles, é a revolta contra as Escolas que não escolhiam os melhores sambas, mas os que pagavam mais. Retorno financeiro. Dinheiro, dinheiro. $$$$

    “Já diria Sérgio Cabral: “Brancos, devolvam a escola de samba aos negros”. Como este pedido será atendido hoje em dia? Quem sustentaria o carnaval, de maneira a manter o luxo hoje imprescindível que faz atrair milhares de turistas de lugares do mundo inteiro até as arquibancadas da Marquês de Sapucaí? É brabo de admitir, mas os desfiles das escolas de samba de hoje se resultam numa festa capitalista, pouco importando a qualidade do samba e desprezando os mais humildes das comunidades que amam o samba para dar lugar aos endinheirados caras-pálidas que sequer gostam deste ritmo musical tipicamente brasileiro. E, lamentavelmente, o dinheiro e as super-alegorias que escondem ainda mais a gente bamba acabaram definitivamente por diminuir um pouco a apoteose e a magia do carnaval. Por isso que as vendas dos discos de sambas-enredo despencaram consideravelmente, ao ponto de uma pesquisa divulgada no começo de 2004 mostrar que 60% das pessoas não gostam de carnaval, a prova concreta de que a popularidade do samba-enredo descera por ralo abaixo. Tal rejeição melancólica faz com que as músicas mais tocadas do carnaval sejam da estirpe de “Egüinha Pocotó”, “Tapinha não Dói” e genéricos. É duro admitir! Isso é profundamente triste para quem tem amor ao carnaval e ao samba-enredo: ver este gênero musical ser desprezado por muita gente (sobretudo os jovens).

    http://www.sambariocarnaval.com/index.php?sambando=1982

    Hoje, os grandes sambistas estão de fora. Martinho, por milagre, conseguiu colocar um samba na Avenida, em homenagem a Noel Rosa, com a Vila Isabel. Infelizmente o samba foi destruído na avenida, pois o andamento foi por demais acelerado… Traficantes colocaram sambas noutras escolas, enchendo de dinheiro as diretorias…

    Os desfiles não servem para mais nada. Não há graça. Já sabemos sempre quem fica na frente, entre os 6 primeiros. O bicho manda. A bala manda.

    E eu, burro que sou, já estou esperando os sambas de 2011, só para ver e ouvir a mesma merda, sambas imbecis, sem qualquer qualidade.

    Aí tenho que ler “Tudo começa pela música. As melodias são todas muito parecidas, além do ritmo ser sempre o mesmo e das repetições fazerem parte do sistema” e tenho que concordar… Ler “E por que não usar uma batida mais lenta? Seria uma revolução… Se uma tem de ser mais alegre e empolgante que a anterior, não há como a coisa não tender à idiotice. E, decididamente, não é arte. É muito mais uma grande lavanderia de dinheiro para os traficantes” e ter de balançar a cabeça novamente, confirmando.

    🙁

    * Beija-Flor tem por característica ter sambas mais lentos e tristes.

  2. Nossa, virar post? Se virar, ficarei honrado, Milton. Se não, ficarei honrado mesmo assim porque alguém leu meu textinho revoltoso, coisa que achei que não aconteceria hehe

    Pois é Rafael. A Beija-Flor, após os fiascos da primeira metade da década de 90, começou em 97 para a 98 a deixar de lado a “modernidade” de sambas chulos com letras simplórias e ritmo lá em cima. É fácil de notar que de lá pra cá ela vem escolhendo sambas cadenciados, com a bateria indo num ritmo que dê condições do folião CANTAR E SAMBAR, não PULAR E GRITAR, como nas outras escolas. Percebe-se que o povo canta que é uma loucura os maravilhosos sambas dela de 98 até agora. Ah, o engraçado é que, para mim, os melhores sambas da história da BF sejam de agora (98,99,01,04 e 05), com um tom mais pra baixo, triste, ao contrário de todas as outras escolas, que estão no passado, nos LP. A BF antigamente era conhecida pelo luxo de Joãosinho 30 com sambinhas safados, INCLUSIVE COM SAMBAS PRÓ-DITADURA!

    É de novo Carnaval
    Para o samba este é o maior prêmio
    E o Beija-Flor vem exaltar
    Com galhardia
    O Grande Decênio
    Do nosso Brasil que segue avante
    Pelo céu, mar e terra

    Nas asas do progresso constante
    Onde tanta riqueza se encerra (bis)

    Lembrando PIS e PASEP
    E também o FUNRURAL (bis)
    Que ampara o homem do campo
    Com segurança total

    O comércio e a indústria
    Fortalecem nosso capital
    Que no setor da economia
    Alcançou projeção mundial
    (E lembraremos…)
    Lembraremos também
    O MOBRAL, sua função
    Que para tantos brasileiros
    Abriu as portas da educação
    (E é de novo…)

    Vamos exaltar
    Vamos exaltar (bis)
    As professoras
    Que ensinam o bê-a-bá

    E relembramos os jesuítas
    Os primeiros colégios criaram
    Para dar aos brasileiros
    Cultura e educação
    Brasil terra extraordinária
    Venham ver a nossa
    Cidade Universitária

    Uni-duni-tê
    Olha o A-B-C (bis)
    Graças ao MOBRAL
    Todos aprendem a ler

    Aí percebemos que os Carnavais Patrocinados existiam muito antes da Grande Rio e seu Camarote Nº1 (Brahma)…

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