A Caminhante, certa vez escreveu um post falando sobre a sistemática superioridade dos livros sobre os filmes análogos. Penso que ela tenha razão em grande parte e deixei o assunto em suspenso, mas ontem, ao comentar o fato com meu filho Bernardo, ele teve uma reação inesperada. Primeiro uma risada. E depois o argumento:
— Pai, empresta para ela A Laranja Mecânica do Burgess, Jules e Jim do Roche, O Conformista (1) e A Estratégia da Aranha (2), feitos pelo Bertolucci, todos os livros em que o Kubrick se baseou e todos os que usou o Hitch! Nada a ver! Vá se …
Dear Walker, perdoa os 19 anos do menino.
(1) De Alberto Moravia
(2) De Jorge Luis Borges
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— E daí, gatinha, tenho uma coisa pra te mostrar.
— Xiii…, eu não curo reumatismo, viu?
— Nada disso, princesa, quero te mostrar aqueles motivos curtos e repetitivos.
— Repetitivos está OK, mas curtos…?
— Sim, e afirmativos.
— Em riste?
— Certamente! Vamos para aquele cantinho ali? Me parece mais adequado.
Os dois vão e sentam, a mulher prepara-se para os amassos quando o homem tira um fone de ouvidos do bolso e um celular. Arruma tudo e enfia no ouvido da gata.
— É a 10ª de Beethoven.
A mulher faz uma cara de decepção e responde.
— Um, eu não estou aqui para ouvir eruditos, quero testosterona, meu! E, dois, Beethoven jamais chegou à décima, assim como tu jamais chegarias à 2ª, quiçá à 1ª!
— Minha cara, nada disso. Acabam de remontar o primeiro movimento da décima.
— Quem?
— Um Wyn qualquer coisa.
— Vin? A propósito, podias ser um cavalheiro e pedir um vinho pra aquecer.
— Garçon!
— Então podemos retirar Beethoven da “Maldição da Décima”?
— O que é isso?
— Véio, tu não sabes que Bruckner, Mahler, Dvorargh, Beethoven e Spohr escreveram nove sinfonias e aí veio um raio e fulminou com todos? Isto é, com um de cada vez… Não sabia?
— Mas Mahler fez o Adagio da Décima.
— Sim, mas era um adagio, não tinha muita ação. Aquilo lá devia estar moribundo como o teu Ludwig van.
— Então a décima é perigosa? Pode matar?
— Sim, haja disposição para chegar lá…
— Eu tenho.
Ele bem que tentou, mas acabou por deixar a terceira inacabada. Ainda hoje se encontram. Ela, feliz, faz o papel de furacão maduro, ele, não menos, o de pau amigo.
(*) PQP Bach não deu título à sua narrativa. Desto modo, batizei-o eu.
Mas se for assim, Dado (já estou íntima do teu filho), eu acrescentaria à lista os excelentes O Advogado do Diabo e O Curioso Caso de Benjamin Button. Dependendo do gosto Eu, Robô. Nos três casos, o filme e o livro só tem um ponto de partida em comum – um advogado diabo, um homem que rejuvenesce, as 3 leis da robótica- , a maneira como a história é desenvolvida e até mesmo as reações dos personagens são diferentes. O que torna o roteiro do cinema algo totalmente original, como se fossem duas obras diferentes. Quando falo da superioridade do livros sobre os filmes, estou falando de adaptações fiéis.
E antes que eu me esqueça, Milton: curitibana é a mãe!
Não nasceste em Curitiba, só a tua mãe? Ah, desculpa. Explica aí!
Paulistanas, as duas.
Feita a correção, peço desculpas.
[antes de ler o post, um off, milton: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1§ion=Geral&newsID=a2877275.xml ]