Latuff é o cara

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Sim, é preconceito! Mas, por favor, não quero ouvir Snoop Dogg. Soube hoje que ele é um rapper de 32.148.597 curtidas no Facebook e que demonstrou bom gosto ao postar uma obra de arte do cartunista Carlos Latuff.

Vou contar um segredo para vocês, meus sete leitores. O Latuff gosta de discutir as charges que faz para o Sul21 em nossa Redação. Ele chega aqui, a gente ri, briga um pouco e a coisa sai. Ele até já me propôs que eu assinasse uma ou duas junto com ele, mas, na boa, fiquei com vergonha. Eu não desenho uma linha, só complico. Essa aí teve a participação de toda a Redação e a genialidade do Latuff, que traduz nossas ideias confusas em imagens. Vejam essa charge que agora corre o mundo junto com o Sul21. Maior orgulho. Ah, tenho vários esboços dele na minha gaveta. Mas não vendo nem dou. São meus. A charge:

Latuff: Pepe Mujica, Osmar Terra e as diferentes abordagens sobre a maconha

osmar-terra-e-pepe-mujica

 

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9 comments / Add your comment below

  1. Latuff tem outras charges melhores que essa. Passa uma imagem equivocada tanto do Mujica, quanto do propósito da legalização da maconha e dos interesses políticos em volta do “combate” às drogas. Mujica é retratado como um maconheiro simpático, coisa que ele não é (simpático sim, maconheiro não); depois, a legalização da maconha é uma forma que visa não à propagação da erva, mas o fim da criminalidade associada ao tráfico. A legalização das drogas tem em última instância a intenção da acabar com as drogas_ coisa que a maioria dos discursos simplórios parece não entender_, e não o convite juvenil para se acender um cigarrinho na orla da praia. E o quadrinho que retrata um soldado pisando uma planta de canabis é também desconcertantemente ingênua, na medida que descarta o fato de o quanto autoridades que dizem combater o narcotráfico lucra com ele. No mais, uma charge lamentável e sem sentido, e um tanto vergonhoso que esteja aqui com o mote de que um cantor como Snoop Doog tenha lhe avalizado. Fala da nossa irreprimível tendência em celebrar nosso colonialismo.

  2. Só no Brasil mesmo para um sujeito que faz charges a favor do governo (todas sem graça alguma), que é antissemita e que vibra com a morte de policiais ser festejado. Ah, e ainda é o mesmo que se diz contra a censura e contra os direitos autorais e denuncia os opositores por quebra de direito autoral, censurando-os.

    Esquerdista, teu destino é ser hipócrita.

    http://lucianoayan.com/2014/03/03/latuff-o-proprio-ele-mesmo-aquele-que-incita-crimes-contra-policiais-revoltado-com-satiras-estupendas-do-flatuff-ele-perde-a-esportiva-e-pede-arrego-para-facebook-censurar-o-oponente/

    Charlles: esperar o que dessa gente? Repare bem: suas charges sempre carregam um ódio, uma raiva contra os opositores. Nunca são engraçadas. Afinal, esquerda (a brasileira principalmente) não acha graça de nada, mas vibra quando pode se aproveitar da desgraça alheia.

    1. E é a Sheerazhade que é censurada, por apenas dizer que acha “compreensivo” que o cidadão dê uma resposta branda as problemas graves de omissão do estado na segurança? Depois dessa charge grotesca:

      http://lucianoayan.files.wordpress.com/2014/03/latuff_charge_apologia_ao_crime_contra_pms.png

      Realmente, Matheus, não sabia que o chargista professa esse tipo de apologia estúpida. Tem gente que vive no anacronismo. Num anacronismo escapista. Fala a seu próprio umbigo e fantasia ser uma mente brilhante com inúmeros seguidores. E o que tem na verdade é um mundo de algodão doce que beira a psicopatologia. O que vemos nos jornais de esquerda do Brasil hoje? Defesa de música de pornochanchada e feita por uma távola redonda de traficantes; defesa do atraso cultural em que vivemos, da malemolência e da pobreza intelectual como fatores dignos de serem sustentados como uma bandeira de força. O Brasil já atingiu o guturalismo e avança na barbárie, e seus intelectuais se juntam aos gritos tribais de guerra. Claro que qualquer coisa que se fale contra isso é automaticamente visto como oposição partidária. O Brasil cada vez mais próximo da África, em sua cartilha da permissividade absoluta e do relativismo geral. Enquanto países que saíram por cima e construíram um sistema educacional que visa o mérito e a disciplina, como Coréia do Sul (cujos professores davam aulas em cavernas, até poucos anos atrás, e os pais e avós acompanham o desempenho dos alunos do lado de fora das salas), e Finlândia, o Brasilzão eterno do samba e do futebol e dos heróis da pátria se afunda cada vez mais no assistencialismo mental. Aqui não se precisa pensar, mas comungar com um senso comum pré-fabricado. E salve Snoopy Doog e Valesca Popozuda.

      1. Estamos fodidos, Charlles. Lembra dos protestos do ano passado, onde você e alguns de nossos confrades daqui e de lá estavam esperançosos por uma mudança do povo brasileiro, que o gigante havia, de fato, acordado? Pois bem, sempre ri disso e creio que hoje tu concordas.

        Porém, penso que uma mudança possa estar ocorrendo lentamente, a partir dessas revoltas mais agressivas e diretas partindo da população, amarrando bandidos em postes, pegando de montão esses desgraçados na rua e sentando a porrada. A redenção através do jorro de sangue, da quebra de ossos, extirpando o mal diário mais próximo, mudando um pouquinho o seu entorno para depois, só bem depois, mudar o resto. Matando um bandidinho normal da rua, peneirando um desgraçado que invade uma casa; dizendo chega! ao tratamento de gado em hospitais, repartições públicas, quebrando tudo, ameaçando médicos a trabalharem 8 horas de verdade; tocando o terror em políticos corruptos e seus defensores de todas as frentes, na mídia, internet (os MAV criados pelos PT), na rua em protestos de alguns minguados desmiolados; partindo, então, para um novo Carandiru, sim, isso mesmo, com invasões a TODOS os grandes presídios do país metendo bala em todos os presos, selecionando os mais famosinhos, líderes de facções e do tráfico, para uma sessão especial: colocá-los em linha, um do lado do outro, com 20 câmeras em sua direção, imagem HD, vários ângulos, aguardando a entrada de homens simples que perderam suas casas, seus familiares, seus amores, suas vidas por causa deles. Todos munidos de facões, machados, tesouras, rasgando suas gargantas num maravilhoso zoom em Alta Resolução 1080p, vê-los estrebuchando no chão vermelho podre. Após o serviço (bem) feito, olhar em direção à câmera central, e dizer “vocês serão os próximos”. Eles saberão quem são e se apavorarão ainda, sabendo que a deles Hora chegou. Usarão de subterfúgios para tentar mais uma sobrevivência indevida, mas não adiantará. A sua Hora chegou.

        Mas nada disso acontecerá, convenhamos.

        Ser esquerdista hoje é ser bom, do bem, que ama a tudo e todos, sem preconceitos. Há tempos atrás se dizia “cristão” mesmo quem não ia à igreja, não seguia nada do cristianismo, mas via nisso algo bom. A esquerda conseguiu mudar as imagens de si e da igreja, inverteu-se tudo e mesmo quem não tem noção do que é esquerdismo acaba acatando-o por medo de parecer racista, elitista, sem sentimentos e blábláblá. Repreender o funk é preconceito elitista de quem não quer ver o valor da cultura do “povo”. Corrigir um aluno pelo seus erros de português é preconceito lingüístico elitista. Ir à Igreja? Errado! Somente os ateus militantes estão corretos, são os únicos seres inteligentes, que devem dirigir a sociedade ao bem maior. Os bárbaros já atravessaram os muros, aliás, não existem mais muros, tomaram quase tudo e todos e qualquer tentativa de restauração das coisas é vista como retrógrada, ultrapassada.

        Acabou.

        1. O Brasil só se resolveria em um plano hipotético, pois é o país distópico por natureza, Matheus. E nem isso, essa única parte do discurso que tem alguma substância, é entendida da maneira correta. Não se entende que o modo como o brasileiro propõe soluções de mudança é uma metalinguagem mental. Quem diz que quer a ditadura de volta propõe um aspecto a ser explorado em diversos matizes que escapa à insuficiência da nossa linguagem nacional. Só os muitos obtusos ou os muito mal informados que desejam uma ditadura ipsis literis, e esses são poucos. A maioria quer um estado forte, quer uma democracia forte e não uma restrição de direitos como foi o país sob os militares. Essa visão sua é improvável, mas não impossível, e mesmo você que prediga o fim do estado não faz outra coisa em seu comentário do que uma metalinguagem em busca de um Brasil plenipotenciário que FUNCIONE. Eu gostaria, eu daria tudo, para que esse Brasil surgisse. Um Brasil finlandês, um Brasil onde a hipocrisia fosse varrida para longe. O fim do jogo idiota entre a esquerda filistina e a direita heróica_ pois os papéis no Brasil estão trocados: os que defendem a ocorrência do Evento são os de direita, não mais os de esquerda: e isso não por altruísmo ou questões de salvação pátria, mas por mera e banal antagonismo: um partido aqui nesse país de merdas sempre vai defender tudo o que o outro ataca.

          A esquerda no Brasil está povoada de gente inexpressiva assim. Vão se levando em ponto morto e ninguém dá mais a mínima. O que é perigoso. O ocaso sempre é terreno fértil para Bolsonaros e Felicianos, e esses cada vez mais vem ganhando simpatia popular. Eu jamais defenderia a morte de policiais_ o assassinato de policiais, como recuso a acreditar que o tal Latuff defende na charge do link acima. Se houvesse uma intenção verdadeira na mudança, a esquerda estaria trabalhando para um FIM PAULATINO E PROGRAMADO da Polícia Militar. E como eles pensam em fazer isso? Na velha tática de assar o porco queimando a casa. Propõe o assassinato de policiais, como se todos fossem monstros do império, seres geneticamente repulsivos e maus. Um funcionário vestindo farda num calor de 40 graus subindo um morro carioca com um fuzil obsoleto em mãos, ganhando menos que 4 salários mínimos por mês. Esses são os inimigos cruéis a serem combatidos por Latuff e cia; não são pais de família, não são cidadãos que empreendem conquistas pessoais como aperfeiçoamento em estudos universitários, não são pais de família. São, mera e maniqueisticamente, vilões em uma história de super-heróis. São pessoas que, não tendo a redenção de terem o alento mínimo para o desenho para professarem seus ódios em charges de jornais de esquerda, viram palhaços com alvos de alvejamento nas costas, personagens de gracinhas apologéticas a seus assassinatos como o desenho do Latuff.

          Há pessoas boas de se ler no Sul 21. Em um post de uma delas, postei esse comentário:

          Eu odeio milícias e uniformes, hierarquias estúpidas do quartel. Tenho 40 anos, ou seja, vivi o restolho da ditadura em uma adolescência semi-consciente do que passava no país, os Chacrinhas, a rede Globo como um todo maciço que pesava sobre minhas tristíssimas tardes de domingo diante uma catarse que sequer tinha a forma insinuada nos programas de televisão. Esses dias me deparei com um dos programas do Chacrinha na tv paga, e, sério, foi uma experiência psicológica aterrorizante. Só não gritei porque o conforto da distância temporal me assegurava que não se deve fazer isso quando uma lembrança demasiadamente ruim volta para nos assombrar. E ver o Chacrinha, um velho vestido de palhaço espacial, com ceroulas e bermuda prateada, falando e falando e ninguém escutando_ ninguém ouvindo sua caquética voz anciã_, enquanto alguém da plateia erguia um cartaz pago escrito “Deixem o Sarney trabalhar. Ele é amigo do Brasil”, me fez ter uma pane psíquica. Senti um enorme desejo de deitar no colo da minha esposa, ou voltar para a casa da minha mãe para que fizesse isso com ela, e ser consolado. “Calma, Charlles! Foi só um sonho ruim. Passou”. Revi as salas escuras da minha infância, senti subindo de novo pela espinha a burrice centenária sacralizada pelos esquemas da pátria, a estupidez ufanista que me mantinha sempre de cabeça baixa e sem horizontes, sempre à espera da latente ordem de fracasso que me abateria em minha vida adulta. Como fugir desse regramento? Como escapar do mais latino-americano dos países latino-americanos? Como colocar a cabeça por sobre a superfície e… RESPIRAR? Ver os Titãs no Chacrinha, o Leo Jaime magrinho sem camisa, cantando sua parcela paga de alienação e todo mundo aceitando gratificado como se ele fosse os Beatles. Um mundo sem concorrência, sem diversidade, um mundo falso em que o pior do pior em matéria de entretenimento era jogado sem piedade em cima de nós, a ponto de colocarem um velho_ um velho! (parece revolucionário em seu nonsense, mas em se tratando do Brasil de 1980, era apenas a mais intrancedente das gambiarras), para nos distrair nas tardes de domingo, nas sagradas tardes de tédio cósmico dos domingos. Só um brasileiro médio da minha idade, no universo todo, sabe plenamente o quanto um domingo pode ser metafisicamente triste. O quanto a televisão é um Aleph aleijado que foca unica e exclusivamente um mesmo ponto em toda a infinitude, e declara, como o arauto de Joseph K., que aquele ponto está aberto para mim e mesmo assim, essa pobreza toda, está destinada a me expulsar um dia.
          Olhando o Chacrinha, eu confirmei o que acontece. O que mudou em nossa vida psíquica de brasileiro? Para boa parte de nós estarmos, mesmo que retoricamente (porque jamais os militares retornarão ao poder, para grande alívio), brincando com uma nostalgia da ditadura? Para mim, ouso diagnosticar, é porque ainda estamos em uma espécie de infância nacional. Olha só o que fizemos quando fomos 120 mil na Rio Branco: nada! Tivemos toda a estrutura flamejante da mudança em mãos (com a rede Globo pedindo desculpas ao vivo no JN, e os políticos cogitando criar um parágrafo na lei em que a corrupção seria crime hediondo!), e a deixamos perder. Como um cão que corre atrás de um carro, e que quando o carro para olha constrangido para o vazio com uma imensa vergonha de não saber qual o gigantesco passo adiante que deveria dar. Tenho pena dos que falam a sério sobre uma ditadura como salvação para o Brasil. O Brasil não tem salvação. Simplesmente isso. Vamos afundar, e afundar, e afundar cada vez mais, até que algo além de nós aconteça, algo que não depende da benevolência ou maldição de nenhum deus, mas de uma configuração matemática. Quando o estado brasileiro sucumbir de vez diante tanta hipocrisia e prostituição moral de toda as mais distorcidas formas, a equação atingirá seu zero de retorno ao início. Pode ser que esse dia seja um dia glorioso de sol, ou mais um desses domingos cinzas de irretocável tristeza. O bom é que eu já não estarei mais aqui. O guardião da porta já terá me expulsado há muito tempo.

          1. Brasil funcionando? É uma eterna tela azul do windows.

            “Deixem o Sarney trabalhar. Ele é amigo do Brasil”

            Farei uma petição online super séria para que essa seja a frase na bandeira do Brasil. Mais condizente que o Desordem e Retrocesso atual…

            (Espero que não venha nenhum babaca “progressista” me acusar de faxxxista! pelo textinho que fiz primeiramente. Mas são burros, não entendem o que leem…)

  3. Sem dúvida, a charge do policial baleado é assustadora… E, por favor, não estou a fazer apologia da violência policial… O fato é que fomentar a violência, ainda que no campo da arte, traz como consequência apenas o aumento da mesma.
    Não levando em consideração casos patológicos, a atual violência brasileira é um sintoma duma sociedade brutalizada há décadas. Logo, combater o sintoma, escolhendo-se bodes expiatórios ocasionais, não elimina a doença; ao contrário, fomenta apenas a escolha de novos, e nada mais. Além disso, o XX, que passou, parece ter demonstrado claramente as consequências geradas quando um processo político opta, como superação duma dada contradição histórica, pela eliminação de bodes expiatórios (essa é a solução medíocre proposta por todos os fascismos à esquerda ou à direita).

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