Também preciso me encontrar

René Magritte, Le Double secret (1927)
René Magritte, Le Double Secret (1927)

Ontem, ouvi uma menina dizer que estava procurando a si mesma, que tinha que se encontrar. Eu estava olhando para ela. Parecia inteira. E se ela já estivesse dentro de si mesma? Onde teria se perdido? E se ela se encontrar e não se reconhecer? E se estiver dividida? E se não gostar do encontro? E se, quando chegar, já tiver ido embora?

Ai, meu deus, que nervoso.

Logo depois, tive uma experiência metafísica durante minha corrida noturna. Quando ia em direção a uma luminária da Vasco da Gama, uma sombra formava-se cada vez mais forte atrás de mim, aproximava-se e, por momentos, eu me encontrava. Quando passava a luminária, via a mesma sombra, agora na minha frente, mas alongando-se e ficando cada vez mais fraca. Corria atrás dela, mas quanto mais eu corria mais eu ficava sem mim.

Meu psicanalista remoto, o Dr. Claudio Costa, fez uma afirmativa erudita e uma pergunta curiosa. A erudição: Durante sua corrida, você teve uma experiência do mito da caverna platônica, Milton.

Só que a sombra estava no chão, e não na parede do fundo… E a pergunta: Quando “eu” falo “de mim”, somos um? 

Olha, doutor, creio que a resposta a sua pergunta é: Não, somos dois, no mínimo.

Seguindo a vida, hoje tenho vários compromissos, mas depois de ir ao advogado, tenho mais o pensar. Por exemplo, alguém sabe o que faz uma pessoa dizer que merece ovos mexidos pela manhã?

https://youtu.be/cRw8XZy1unc

Deixe uma resposta