Andrei Konchalovsky escreve (maravilhosa e amorosamente) no aniversário de Tchékhov

Andrei Konchalovsky escreve (maravilhosa e amorosamente) no aniversário de Tchékhov

Tradução livre de Elena Romanov *
Especialmente para os sete leitores deste blog
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Hoje, 29 de janeiro, é a data dos 155 anos do nascimento do meu escritor e ser humano favorito, Anton Tchékhov (1860-1904). Quando eu estava filmando Tio Vânia, aos 33 anos de idade, eu tinha certas ideias sobre a vida, sobre os personagens, sobre as pessoas, sobre mim mesmo, etc. Desde então, se passaram mais de 40 anos. Minha atitude mudou para com Tchékhov. Em primeiro lugar, porque eu me dediquei muito a ler sua correspondência e a saber sobre sua vida, sua atitude para com as pessoas, para com as mulheres, para com os homens, para consigo mesmo. Com o passar do tempo, Anton Pávlovich, que antes era, para mim, um sujeito de óculos com olhos cansados ​​e tristes, tornou-se meu censor espiritual, o homem que se senta às minhas costas e para o qual viro-me e olho, para descobrir se ele está de acordo ou não…

anton tchekhov

Ele não era de esquerda nem de direita. Dizia: “Eu sou um homem livre” e escrevia sobre o que viu. Em sua profundidade, Tchékhov amava as pessoas pelo que elas eram, não pelo que elas deveriam ser. Tchékhov amava as pessoas porque elas todas iam morrer. Ele as amava porque elas não entendiam a vida. Ele as amava porque elas próprias não se entendiam. Ele as amava e ria delas porque elas se imaginavam muito melhores do que realmente eram. Porque elas falavam tolices como se fossem pérolas. Eu, quanto mais velho fico, mais entendo os personagens de Tchékhov .

Em cada uma de suas peças, há muitos motivos para tentar entender a vida, assim como muitos detalhes para tentar compreender o que ele queria expressar. Ele sabia que o sublime e o prosaico, o trágico e o cômico — tudo está misturado nesta vida. Via de regra, todas as suas peças terminam em uma grande interrogação. Isto faz parte da sabedoria de Tchékhov, ele não deixa respostas para muitas coisas.

Anton Pávlovich viu, como todos os grandes, a falta de sentido de tudo… Mas há a necessidade de viver! Aqueles que pensam que todos nós morremos vivem numa dimensão, e aqueles que não pensam, vivem em outra. E uns e outros estão corretos. Não precisamos de respostas. Mas há os sentimentos. O importante é se envolver. E, quando há envolvimento, há compaixão, nunca indiferença…

* Com Milton Ribeiro

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