A tolice das redes sociais neste fim de semana foi tamanha que desisti de ler as postagens. Era gente reclamando da bandeira da França nas fotos de perfil, era gente reclamando de que a lama de Mariana tinha virado nota de rodapé — bem, com nossa imprensa e políticos, o que esperavam? –, era gente que chegava ao ponto de comparar o incêndio na boate Kiss com o massacre do Bataclan.
Pessoalmente, minha solidariedade pessoal vai para Paris, Minas Gerais, África, Japão, Oriente Médio e para as periferias brasileiras. O que houve em Mariana e em Paris têm nome: são ambos crimes e espero que sejam punidos rigorosamente. Essa comparação de tragédias, misturadas com nacionalismo, é muito pouco humanista.
Nestes momentos, o melhor a fazer é ficar quieto e tentar não ler a montanha de gente que resolve dar sua contribuição após passar dias e dias ignorando o que acontece no mundo. Pois é muito irritante ler as “soluções” propostas.
A questão de Mariana é gravíssima. Trata-se de um crime ecológico de enormes proporções e de longa duração. A destruição de fauna, flora e solo ao longo da bacia do Rio Doce é algo gigantesco e de consequências incalculáveis. O desastre remete à velha exploração indiscriminada de nossos recursos naturais, com altos custos ambientais e com os principais ganhos indo para o exterior. Mas o governador de Minas deu coletiva em plena sede da empresa causadora da lama… Enquanto isso, a empresa inventava um “abalo sísmico”, mas ele garantiu que esta realizava todos os esforços para minorar o problema.
Se as responsabilidades forem abrandadas e se o descaso reinar, nosso país estará entregue a própria sorte. Uma das analogias para o caso de Mariana é a de dizer que trata-se de um tumor primário do qual começam a se desprenderem células cancerígenas para a corrente sanguínea. O que fazer? Não sei.
Já Paris é o câncer em âmbito mundial. Para o Brasil, Mariana é muito mais importante. Para o mundo, bem, o Estado Islâmico considera-se o agente do Apocalipse, tá bom?
Nestes momentos, todos esquecem que o Ocidente optou por investir no fundamentalismo islâmico, escolhendo-o como “solução” ao nacionalismo árabe. Depois, quando estes grupos passaram a criar problemas, passaram a invadir e bombardear as regiões dominadas por estes grupos. (Quem lucra sempre? Ora, os fabricantes de armas!) Só que esta reação gerou tal ódio que começaram os atentados no Ocidente. Então, pensa o Ocidente, vamos atacá-los ainda mais. E nós, decidem os fundamentalistas, cometeremos ainda mais atentados. Ou seja, é uma questão complexa, não é discussão para ignorantes como eu. É o momento de ler quem entenda do assunto e seja minimamente honesto.
O autoproclamado Estado Islâmico não é um simples grupo de psicopatas. É um grupo religioso com crenças que acho perfeitamente imbecis, mas que são cuidadosamente pensadas, entre elas a de que o grupo será o agente do apocalipse que se aproxima. Querem saber mais? Comecem por aqui. Sim, é complicado.
O ISIS é diferente dos grupos anteriores. Não estamos mais no campo do bando de xaropes que vende religião, nem no do grupo dos que quer matar os infiéis. Eles são um grupo que se visa acabar com tudo, inclusive e principalmente com a história. E… São 30 mil caras que controlam um território maior que o da Inglaterra e que têm dinheiro para recrutar pessoas. E… É dinheiro ocidental. Afinal, nações aliadas aos Estados Unidos estavam financiando os rebeldes sírios que lutavam contra a ditadura de Bashar Al Assad. O que fazer? Não sei.