Não, nada de Revolução, propaganda ou discursos políticos. Mas quem já leu Trótski pode facilmente intuir o grande narrador (e leitor) que há por trás do revolucionário. Por trás? Não, aqui, o narrador está no centro do palco. Traduzido pela primeira vez no Brasil e escrito pelo próprio protagonista da aventura, Fuga da Sibéria narra a fuga em um trenó de renas por mais de 800 Km na Sibéria. Ele leva mais de um mês indo de trem em trem, sempre altamente vigiado, junto de outros políticos presos, inventa uma doença para não chegar ao destino e foge com a ajuda de um siberiano totalmente bêbado…
Como participante da Revolução de 1905, sufocado pelo poder czarista, Trotsky, de 27 anos, foi julgado e deportado perpetuamente para a Sibéria. O destino final está localizado acima do Círculo Polar Ártico, a 1.600 km da estação ferroviária mais próxima. Num dos postos da viagem, o prisioneiro inicia a sua fuga pela estepe siberiana, um território selvagem e extremo, com temperaturas inferiores a -25 ºC e populações com costumes, alcoolismo, pobreza e solidariedade desconhecidas.
Este é o relato em primeira pessoa daqueles dias exaustivos de perseguição. Temendo a cada momento sua captura e confiando sua vida e liberdade ao imprevisível cocheiro Nikífor, Trótsky torna-se, talvez contra sua vontade, um viajante preocupado. Ele viaja pela tundra, fica fascinado pelas renas, passa as noites perto do fogo como qualquer outro nômade siberiano, tenta colocar Nikífor na linha, traça estratégias para evitar ser reconhecido, faz anotações e sempre tem o revólver em mãos como último recurso. Este diário de viagem, escrito enquanto ocorria nas paradas para descanso e alimentação, agitado pelo suspense e pela expectativa, é muito bom, parece um filme de ação. com algum humor. Curiosa e felizmente, Fuga da Sibéria mostra-nos como pensava o jovem Trotsky, um narrador literário na sua forma mais pura.
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