A solidão do amanhã, de Henrique Schneider

A solidão do amanhã, de Henrique Schneider

Este livro é um notável thriller com os dois pés na realidade brasileira dos anos 70. É realmente um livro para ser lido em uma sentada — ou duas, meu caso…

Fernando participava do movimento estudantil de resistência à ditadura civil-militar brasileira. Um dia, sua casa é invadida por milicos, com aquela truculência típica dos que podem tudo. Ele vai para a prisão, mas é logo libertado. Sabendo que pode ser novamente preso, ele e seus companheiros decidem que Fernando deve emigrar para o Uruguai, destino igualmente perigoso. Ele consegue que o pai de um amigo de infância o leve até Aceguá, próximo de Bagé, na fronteira seca entre os dois países. Este pai, Jorge Augusto, é, digamos, um funcionário púbico acima de qualquer suspeita. A viagem, dentro de uma incerta Variant, é o thriller, provocando enorme expectativa no leitor.

Mas não é somente a tensão pela tensão. A solidão do amanhã demonstra que a política está misturada a tudo, mesmo que Jorge Augusto evite o tema. Os excelentes diálogos do livro, seus vários narradores — indicados no início da cada capítulo — e a sólida construção dos personagens mais do que arranham a realidade, mostram pessoas vivas e o que é a vida e o medo durante uma ditadura. Um medo que perpassa tudo, desde a viagem até o futuro no país vizinho. E mesmo que se acredite na luta que se trava.

É claro que as pessoas que hoje pedem o retorno da ditadura jamais lerão esta obra de Henrique Schneider, mas deveriam. Para os que estão na outra trincheira, A solidão do amanhã é uma grande história — excepcionamente bem narrada — sobre uma época que deveria estar apenas nos livros de história. E nas histórias.

Henrique Schneider | Foto: Literatura RS

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