Nadal desiste do Aberto da Austrália. Mais um ex-tenista?

Quando bate a dúvida

Texto de Alexandre Cossenza

O ano era janeiro de 2006, e Gustavo Kuerten, depois de duas operações no quadril, preparava-se para começar a temporada. Seu último torneio havia sido em setembro da temporada anterior e ainda vivíamos a expectativa – talvez “esperança” seja a palavra mais apropriada aqui – de ver o tricampeão de Roland Garros recuperado, jogando como antes.

O primeiro evento de Guga naquela temporada seria o ATP de Viña del Mar, no Chile. No dia 27 de janeiro, chegou o e-mail de sua assessora de imprensa. Uma torção no tornozelo deixaria o brasileiro fora do evento. Foi o primeiro momento em que ouvi dúvidas. Lembro de ver gente na redação do jornal em que trabalhava questionando a veracidade do release. Seria a torção uma desculpa para não ir ao torneio e não mencionar o quadril, ainda lesionado? Guga, afinal, jamais gostou de entrar em detalhes sobre sua lesão (até hoje, há fatos importantes não revelados sobre aquele período).

Pouco importa agora se aquela entorse foi verídica. A quem interessa, porém, vale lembrar que Guga entrou em quadra no dia 11 de fevereiro para jogar duplas na Copa Davis. Pouco mais de uma semana depois, foi ao Brasil Open e perdeu na estreia para o então desconhecido André Ghem. Seu torneio seguinte seria só nove meses depois – uma derrota na primeira rodada de um Challenger. Ali, já se sabia que o caminho não teria volta. Mas repito: pouco importa agora. Trago o tema à tona porque Rafael Nadal acaba de anunciar que não disputará o Australian Open. E a revelação vem em circunstâncias curiosamente parecidas.

O espanhol estava comprometido com o Mubadala World Tennis Championship, em Abu Dhabi, com começo marcado para o dia 27 deste mês. Citando uma infecção estomacal que provocou febre, o ex-número 1 adiou sua volta para Doha, na primeira semana de 2013. E nesta sexta-feira, fez o anúncio inevitável. Disse que o vírus não lhe deixou treinar e que, por isso, optou pelo caminho conservador. Vai ficar fora de Doha e do Australian Open. A volta, agora, será só em fevereiro, no ATP 500 de Acapulco. E no saibro.

Nenhum tenista gosta de falar sobre suas lesões. Especialmente durante o tratamento. E mais ainda quando a recuperação não vem tão rápido. Fãs de Sharapova devem lembrar-se bem disso. Nadal parece uma exceção. Forneceu várias atualizações em sua conta no Facebook, publicou inúmeras fotos de seu treinamento e sempre evitou estipular uma data precisa para seu retorno. Até a “confirmação” da presença em Abu Dhabi demorou para vir. E o anúncio desta sexta-feira começa citando o joelho: “mi rodilla está bastante mejor”, diz a primeira frase.

Por que citar o joelho se o problema maior foi a infecção estomacal? Talvez para acalmar os fãs e mostrar que não há motivos para preocupação. A lesão maior está sendo tratada. Talvez, contudo, o tiro saia pela culatra. Alguém pode interpretar a explicação sobre o joelho como uma maneira de apenas evitar mais perguntas sobre o longo processo de recuperação, que já dura seis meses.

Nadal estaria mentindo em sua declaração? Impossível saber. Por seu histórico de falar abertamente sobre lesões, eu apostaria minhas fichas em um grande “não”. O leitor, então, pode perguntar: por que escrever os seis parágrafos acima se você acha que a história sobre a infecção estomacal foi verdadeira? Simples. Por mais que eu acredite nas palavras de Nadal, acho perfeitamente compreensível duvidar.

Gonzalo Sorondo

Parece que a estatística diz isso: Sorondo passou quatro anos no Inter e, descontando-se os períodos em que não esteve machucado, jogou apenas um. Ao final do ano passado, teve seu contrato rescindido. Claro, o clube não quis seguir pagando um alto salário a quem pouco jogava. Então o Grêmio chamou Sorondo e o contratou. Foi inteligente; fez um contrato de risco: em caso de nova lesão de longo tratamento, o zagueiro seria gentilmente dispensado.

E nunca foi tão rápido. A pré-temporada começou dia 4 e no domingo, dia 8, o excelente jogador e pessoa que é Sorondo via romper-se novamente os ligamentos do joelho direito. No dia 5, em entrevista coletiva, Sorondo dissera estar clinicamente curado. E provavelmente estava.

Além da relativa tragédia de um sujeito que já ganhou o que nunca ganharei mesmo que trabalhe 100 anos, o que me chocou nessa história foi a comemoração de alguns colorados. Ou seja, é gente que achou imperdoável o ato de ter ido para o Grêmio. Uma estupidez comum no futebol. Por outro lado, o Grêmio vai dar assistência médica ao zagueiro de 32 anos que talvez deva desistir do futebol. Mais profissionais, dois de seus ex-companheiros de Inter, D`Alessandro e Guiñazú, publicaram notas lamentando a nova lesão de Lalo.

Sempre achei Sorondo um baita zagueiro. Quando estava em forma, ganhava a posição e dava imensa segurança ao time. Lembro que um torcedor maluco que sentava nas superiores do Beira-Rio, perto do gol do placar e gritava com voz de volume inacreditável um “Sorooooooooondo!” cada vez que a bola era levantada em nossa área ou na do adversário com a presença do uruguaio. E, na maioria das vezes, ou Sorondo cabeceava ou participava dos lances de alguma maneira. Certamente aquele torcedor terá que gritar outro nome agora. Aliás, deve feito uma demonstração de sua voz de barítono antes deste lance pelo qual todo colorado deveria agradecer.

http://youtu.be/eNj8rdnzgEA

Foi fundamental na conquista da Libertadores de 2010.

Uma vez, vi na TV uma entrevista de Roger Federer. Ele tinha uns 23 anos e uma perspectiva real de tornar-se o maior tenista de todos os tempos. Quando foi perguntado a respeito dos recordes que poderia bater, fez uma cara de terror autêntico e deu uma longa e emocionada resposta, inteiramente fora do tom protocolar destas ocasiões. Federer lembrou de vários grandes tenistas que tiveram sua carreira interrompida por lesões. Ou seja, o frio, gelado Federer, tinha pânico da mera possibilidade de ver sua carreira lhe fugir como um rato alucinado entrando pelo ralo.

Por essas e outras, por tantos jogadores que nunca conseguiram voltar ao futebol — Ganso voltou?, mesmo? — , é que lamento muito por Sorondo.

Atualização das 11h15: Vicente Fonseca ontem, no Carta na Manga: “Ficou quatro anos e meio no Beira-Rio e jogou apenas 77 vezes, número pouco superior a uma temporada normal de partidas. É muito pouco”.