Fail better

Fail better

Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better.

~ SAMUEL BECKETT ~

Trad.: Sempre tenta. Sempre fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor.
Stanislas Wawrinka

Esta citação de Samuel Beckett está tatuada no braço de Stanislas Wawrinka, que venceu a Djokovic e Nadal no Aberto da Austrália. Ele tinha 14 jogos contra Nadal e nenhuma vitória. Aliás, não ganhara nenhum set do espanhol. Contra Nole os números eram quase iguais. Este é o novo campeão e novo tenista nº 1 da Suíça. Um cara que cita Beckett no braço.

Stanislas Wawrinka ganhou
Stanislas Wawrinka: fracassando cada vez melhor

Nadal desiste do Aberto da Austrália. Mais um ex-tenista?

Quando bate a dúvida

Texto de Alexandre Cossenza

O ano era janeiro de 2006, e Gustavo Kuerten, depois de duas operações no quadril, preparava-se para começar a temporada. Seu último torneio havia sido em setembro da temporada anterior e ainda vivíamos a expectativa – talvez “esperança” seja a palavra mais apropriada aqui – de ver o tricampeão de Roland Garros recuperado, jogando como antes.

O primeiro evento de Guga naquela temporada seria o ATP de Viña del Mar, no Chile. No dia 27 de janeiro, chegou o e-mail de sua assessora de imprensa. Uma torção no tornozelo deixaria o brasileiro fora do evento. Foi o primeiro momento em que ouvi dúvidas. Lembro de ver gente na redação do jornal em que trabalhava questionando a veracidade do release. Seria a torção uma desculpa para não ir ao torneio e não mencionar o quadril, ainda lesionado? Guga, afinal, jamais gostou de entrar em detalhes sobre sua lesão (até hoje, há fatos importantes não revelados sobre aquele período).

Pouco importa agora se aquela entorse foi verídica. A quem interessa, porém, vale lembrar que Guga entrou em quadra no dia 11 de fevereiro para jogar duplas na Copa Davis. Pouco mais de uma semana depois, foi ao Brasil Open e perdeu na estreia para o então desconhecido André Ghem. Seu torneio seguinte seria só nove meses depois – uma derrota na primeira rodada de um Challenger. Ali, já se sabia que o caminho não teria volta. Mas repito: pouco importa agora. Trago o tema à tona porque Rafael Nadal acaba de anunciar que não disputará o Australian Open. E a revelação vem em circunstâncias curiosamente parecidas.

O espanhol estava comprometido com o Mubadala World Tennis Championship, em Abu Dhabi, com começo marcado para o dia 27 deste mês. Citando uma infecção estomacal que provocou febre, o ex-número 1 adiou sua volta para Doha, na primeira semana de 2013. E nesta sexta-feira, fez o anúncio inevitável. Disse que o vírus não lhe deixou treinar e que, por isso, optou pelo caminho conservador. Vai ficar fora de Doha e do Australian Open. A volta, agora, será só em fevereiro, no ATP 500 de Acapulco. E no saibro.

Nenhum tenista gosta de falar sobre suas lesões. Especialmente durante o tratamento. E mais ainda quando a recuperação não vem tão rápido. Fãs de Sharapova devem lembrar-se bem disso. Nadal parece uma exceção. Forneceu várias atualizações em sua conta no Facebook, publicou inúmeras fotos de seu treinamento e sempre evitou estipular uma data precisa para seu retorno. Até a “confirmação” da presença em Abu Dhabi demorou para vir. E o anúncio desta sexta-feira começa citando o joelho: “mi rodilla está bastante mejor”, diz a primeira frase.

Por que citar o joelho se o problema maior foi a infecção estomacal? Talvez para acalmar os fãs e mostrar que não há motivos para preocupação. A lesão maior está sendo tratada. Talvez, contudo, o tiro saia pela culatra. Alguém pode interpretar a explicação sobre o joelho como uma maneira de apenas evitar mais perguntas sobre o longo processo de recuperação, que já dura seis meses.

Nadal estaria mentindo em sua declaração? Impossível saber. Por seu histórico de falar abertamente sobre lesões, eu apostaria minhas fichas em um grande “não”. O leitor, então, pode perguntar: por que escrever os seis parágrafos acima se você acha que a história sobre a infecção estomacal foi verdadeira? Simples. Por mais que eu acredite nas palavras de Nadal, acho perfeitamente compreensível duvidar.

O Onyxzão 2010 e o Aberto da Austrália

Ontem, tarde da noite, eu enchi o saco de ver o Inter C enfrentar o terrível Porto Alegre — investimento da família Assis Moreira. O Inter já fizera seu gol e o Porto Alegre não atacava. Não atacava porque é ruim e não há uma torcida que lhe cobre uma postura mais competitiva. Levava o jogo como quem leva um pagode até o fim, apenas isso. O Onyxzão 2010 é uma dessas coisas lamentáveis que nossa política mantém apenas para satisfazer alguns caciques locais (presidentes de federações e agregados) que, por sua vez, sistematicamente votam e mantêm o cacicão Ricardo Teixeira.

Ana mostra o tamanho do seu jogo

Muito mais interessante estava o Aberto da Austrália. Na ESPN, a musa Ana Ivanovic (acima), ex-número 1 do mundo, via desmancharem-se seus planos de um grande 2010. A argentina Gisela Dulko inequivocamente reagia a um set perdido de forma quase casual e só um milagre salvaria a bela sérvia. Porém, os grandes jogadores tiram forças sabe-se lá de onde e eu, enquanto conversava com minha filha, esperava uma virada firme de Ana sobre uma adversária comum. E aqui volto a tocar no assunto de minha admiração pelas mulheres. As expressões, os rostos. A derrota de Ana estava em sua cara quase uma hora antes de ocorrer. Ela não conseguia deixar de expressar seu desespero, de comunicar ao estádio, à adversária e aos milhões que assistiam pela TV que, desde a metade do segundo set, estava perdida e impotente frente à argentina. O jogo acabou em 6/7 (6/8), 7/5 e 6/4 em favor de Dulko.

Toda vez que Ana ia pegar as bolas para um novo saque, estampava-se em seu rosto coisas como: “todos esperam, até eu, que a ex-número 1 reaja e massacre esta ridícula”, “estou decadente aos 22 anos”, “por que erro tanto?”, “por que não consigo jogar como dois anos atrás?”, “que vergonha ser eliminada na segunda rodada”, “como tudo é injusto!”, etc. O desalento e os erros de Ana eram tamanhos que Dulko também começou a errar lastimavelmente e o jogo tornou-se uma tour de force psicológica para averiguar quem poderia ser pior. Dulko errava por estar eliminando uma das favoritas ao torneio, Ana errava por estar quase chorando de impossibilidade e vergonha.

Sem Sharapova e Ivanovic,
o torneio feminino vira apenas uma série de jogos de tênis. Nhé.

O jogo do Inter terminou 1 x 0, né? Não devo ter perdido nada.