Gonzalo Sorondo

Parece que a estatística diz isso: Sorondo passou quatro anos no Inter e, descontando-se os períodos em que não esteve machucado, jogou apenas um. Ao final do ano passado, teve seu contrato rescindido. Claro, o clube não quis seguir pagando um alto salário a quem pouco jogava. Então o Grêmio chamou Sorondo e o contratou. Foi inteligente; fez um contrato de risco: em caso de nova lesão de longo tratamento, o zagueiro seria gentilmente dispensado.

E nunca foi tão rápido. A pré-temporada começou dia 4 e no domingo, dia 8, o excelente jogador e pessoa que é Sorondo via romper-se novamente os ligamentos do joelho direito. No dia 5, em entrevista coletiva, Sorondo dissera estar clinicamente curado. E provavelmente estava.

Além da relativa tragédia de um sujeito que já ganhou o que nunca ganharei mesmo que trabalhe 100 anos, o que me chocou nessa história foi a comemoração de alguns colorados. Ou seja, é gente que achou imperdoável o ato de ter ido para o Grêmio. Uma estupidez comum no futebol. Por outro lado, o Grêmio vai dar assistência médica ao zagueiro de 32 anos que talvez deva desistir do futebol. Mais profissionais, dois de seus ex-companheiros de Inter, D`Alessandro e Guiñazú, publicaram notas lamentando a nova lesão de Lalo.

Sempre achei Sorondo um baita zagueiro. Quando estava em forma, ganhava a posição e dava imensa segurança ao time. Lembro que um torcedor maluco que sentava nas superiores do Beira-Rio, perto do gol do placar e gritava com voz de volume inacreditável um “Sorooooooooondo!” cada vez que a bola era levantada em nossa área ou na do adversário com a presença do uruguaio. E, na maioria das vezes, ou Sorondo cabeceava ou participava dos lances de alguma maneira. Certamente aquele torcedor terá que gritar outro nome agora. Aliás, deve feito uma demonstração de sua voz de barítono antes deste lance pelo qual todo colorado deveria agradecer.

http://youtu.be/eNj8rdnzgEA

Foi fundamental na conquista da Libertadores de 2010.

Uma vez, vi na TV uma entrevista de Roger Federer. Ele tinha uns 23 anos e uma perspectiva real de tornar-se o maior tenista de todos os tempos. Quando foi perguntado a respeito dos recordes que poderia bater, fez uma cara de terror autêntico e deu uma longa e emocionada resposta, inteiramente fora do tom protocolar destas ocasiões. Federer lembrou de vários grandes tenistas que tiveram sua carreira interrompida por lesões. Ou seja, o frio, gelado Federer, tinha pânico da mera possibilidade de ver sua carreira lhe fugir como um rato alucinado entrando pelo ralo.

Por essas e outras, por tantos jogadores que nunca conseguiram voltar ao futebol — Ganso voltou?, mesmo? — , é que lamento muito por Sorondo.

Atualização das 11h15: Vicente Fonseca ontem, no Carta na Manga: “Ficou quatro anos e meio no Beira-Rio e jogou apenas 77 vezes, número pouco superior a uma temporada normal de partidas. É muito pouco”.

Bolívar, o General cagão (?) mete-se em sinuca de bico

Este não é exatamente um texto sobre futebol. Também é, mas o esporte é apenas um ornamento. É um texto sobre a sacanagem, sobre o que penso ser uma tentativa de sacanagem que não está dando certo em razão de circunstâncias incontroláveis. Vamos aos fatos: Bolívar, zagueiro do Inter, capitão do time e vencedor das Libertadores de 2006 e 2010, apelidado de General, grande jogador, vinha jogando mal, muito mal. Porém sua vida estava tranquila. Seus reservas — Moledo e Juan — eram dois jovens inexperientes e os dois outros concorrentes com mais bordel — Sorondo e Rodrigo — estavam e estão gravemente machucados. Só que Bolívar exagerou na má fase. Após ver publicado um Dossiê de 15 minutos com suas falhas no YouTube, conseguiu bater o recorde de conceder, através de seus erros, três gols em dez minutos aos Santos. O Inter vencia por 3 x 0, Bolívar criou um 3 x 3.

Mesmo assim, mesmo com o inacreditável jogo, mesmo que o dossiê devesse crescer, o zagueiro não foi especialmente vaiado em campo. Nunca foi. Há respeito por sua biografia. As críticas da torcida vieram pelas Redes Sociais, blogues, twitter (pela hashtag #eubolivei para dizer “errei”) e pelo tal vídeo no YouTube. E então o zagueiro tornou-se enxadrista e deu seu lance: aproveitando que Índio, seu companheiro de zaga, fora suspenso por 3 jogos pela CBF, o General pediu para também sair do time, provavelmente apostando numa crise ao deixar a batata quente na mão dos jovens. A diretoria do clube, que não tem mais pulso para controlar seus jogadores, assentiu. Só que o tiro estava saindo mais ou menos pela culatra. O Inter empatou com o Ceará e venceu o América-MG com atuações aceitáveis da dupla de jovens. A defesa seguiu falhando, mas por Nei, o lateral direito.

É claro que o general esperava que o time perdesse vários jogos para voltar nos braços do povo. Era uma aposta, uma boa aposta até, apesar de nada ética. Só que nosso personagem principal foi deixado cedo demais numa sinuca de bico. O zagueiro Moledo lesionou-se ao final do último jogo e todos os olhos voltaram-se para Bolívar. Por quê? Ora, porque o próximo jogo é contra o time que força especialmente o jogo na maior deficiência defensiva do Inter e de Bolívar, a bola alta. O que se deve fazer? Escalar de novo o grande General — apesar de a diretoria dizer que ele volta quando quiser… — ou chamar o sétimo zagueiro ou o oitavo zagueiro, os quais nunca jogaram no Brasileiro? Explico melhor a situação: são duas vagas e a situação é a seguinte:

(1) Índio (suspenso)
(2) Bolívar (férias)
(3) Sorondo (lesionado)
(4) Rodrigo (lesionado)
(5) Moledo (lesionado)
(6) Juan (jogando)
(7) Dalton (disponível)
(8) Romário (disponível)

Então, Bolívar viu antecipada a necessidade de retorno. Se houve mesmo, sua estratégia furou como contra Borges no jogo contra o Santos. É o momento de ele provar que está “na grande forma” em que diz estar. Ficar de fora seria pusilânime. Bolívar deixaria o técnico Dorival Junior mandar a campo Dalton, um jogador que Falcão disse que nunca poderia vestir a camisa do Inter, para seguir em férias?

Agora o General tem que assumir a responsabilidade de encarar o jogo contra o Palmeiras a fim de mostrar que tem ainda futebol ou pelo menos culhões. Eu observo o impasse me divertindo, pois agora teremos a noção de quem é o verdadeiro General, o verdadeiro líder. Afinal, a direção disse para ele decidir quando quer voltar. Se ele tiver coragem, volta agora. A sinuca de bico foi criada por ele mesmo: se jogar e confirmar a má fase estará acabado; se não jogar, estará claramente dizendo: foda-se o time. Ou seja, só lhe resta jogar. E bem.

Escrito com o auxílio involuntário de Marcelo Furlan e Nelson Baron

Inter 1 x 0 Estudiantes

O Internacional não jogou bem, mas o Estudiantes acabou punido por sua baixa voracidade ofensiva. Quem muito fica atrás pode tomar, sabe-se. Veio uma bola alta, a cabeçada de Sorondo e a vantagem. A surpresa do Inter foi a boa produção defensiva; o ataque permaneceu uma piada. Time por time, o Estudiantes é melhor. Corremos muito atrás dos argentinos tocadores de bola. Eu fiquei cansado só de olhar. Verón ainda é um supercraque, é um prazer e uma aula vê-lo jogar.

A vantagem do Inter é maior do que parece, pois, se fizer um gol na Argentina, obrigará o time de Sabella a fazer três. Foi menos emocionante, mas nosso resultado mostra-se muito superior matematicamente aos 4 x 3 do Grêmio. Viram as vantagens da mediocridade? Bem, como chegamos às quartas-de-final aos trancos, quem sabe não vamos às semis da mesma forma?

Só espero que Fossati não entre em transe místico e escolha jogar com três zagueiros. Toda a segurança defensiva que vi este ano foi obtida com dois, não com três zagueiros. Ah, e Glaydson (belo nome) merece a vaga de Nei na lateral, certo? Na próxima quinta, mais sofrimento. Abaixo, o gol de Sorondo e uma foto do rapaz.

Vai dizer que eu não sei fazer gol?