Federer x Nadal x Djokovic

Federer x Nadal x Djokovic

20 a 20 a 20. Federer, Nadal e agora Djokovic ganharam 20 torneios Grand Slam cada um. Como, a cada ano, temos 4 destes torneios — os maiores do circuito — e o trio já venceu 60 deles, significa que os três geniais tenistas têm amplo domínio nos últimos 15 anos. Poucos tenistas conseguiram furar o muro formado pelo trio. Lembro que Ciclic levou US Open há poucos anos assim como Wawrinka ganhou um Roland Garros.

Federer fará 40 anos em agosto e não deve abiscoitar mais Grand Slams. Nadal é o flagrantemente o pior dos três — se se pode usar esta palavra num nível tão genial — e parece estar em dificuldades físicas aos seus 35 anos. Já o sérvio está voando aos 34 e vai acabar batendo todos os recordes.

Djokovic ultrapassa Nadal

Djokovic ultrapassa Nadal
Bye-bye, Nadal
Bye-bye, Nadal

Nesta semana, Novak Djokovic subiu para o sexto lugar na lista de tenistas que passaram o maior número de semanas como número 1 no ranking da ATP. Djokovic ficou no topo do tênis profissional masculino por 142 semanas, uma semana mais do que Rafael Nadal, e agora ele tem como objetivo ultrapassar John McEnroe, com 170 semanas. Se ele ultrapassar McEnroe ainda nesta sequência, o que é provável, isto ocorrerá na primeira semana de novembro deste ano.

Estes são os jogadores que têm mais de 100 semanas como número 1.

Tenista
Semanas como Nº 1
1. Roger Federer (SUI)
302
2. Pete Sampras (USA)
286
3. Ivan Lendl (CZE/USA)
270
4. Jimmy Connors (USA)
268
5. John McEnroe (USA)
170
142
7. Rafael Nadal (ESP)
141
8. Bjorn Borg (SWE)
109
9. Andre Agassi (USA)
101

Djokovic diz que Federer e Nadal são os melhores jogadores de todos os tempos, mas isso é pura modéstia de um jogador que fala como se ainda fosse o mesmo jovem piadista que sempre amarelava nas partidas decisivas. Mas isto é passado, é de cinco anos atrás. Na minha opinião, Nole (apelido de Djokovic, também conhecido como Joker) é muito mais jogador do que Nadal. Quanto a Federer, este sim é o melhor de todos os tempos, mesmo que Nole o ultrapasse neste ranking daqui alguns anos (o que é possível, mas improvável).

Fail better

Fail better

Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better.

~ SAMUEL BECKETT ~

Trad.: Sempre tenta. Sempre fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor.
Stanislas Wawrinka

Esta citação de Samuel Beckett está tatuada no braço de Stanislas Wawrinka, que venceu a Djokovic e Nadal no Aberto da Austrália. Ele tinha 14 jogos contra Nadal e nenhuma vitória. Aliás, não ganhara nenhum set do espanhol. Contra Nole os números eram quase iguais. Este é o novo campeão e novo tenista nº 1 da Suíça. Um cara que cita Beckett no braço.

Stanislas Wawrinka ganhou
Stanislas Wawrinka: fracassando cada vez melhor

Nadal desiste do Aberto da Austrália. Mais um ex-tenista?

Quando bate a dúvida

Texto de Alexandre Cossenza

O ano era janeiro de 2006, e Gustavo Kuerten, depois de duas operações no quadril, preparava-se para começar a temporada. Seu último torneio havia sido em setembro da temporada anterior e ainda vivíamos a expectativa – talvez “esperança” seja a palavra mais apropriada aqui – de ver o tricampeão de Roland Garros recuperado, jogando como antes.

O primeiro evento de Guga naquela temporada seria o ATP de Viña del Mar, no Chile. No dia 27 de janeiro, chegou o e-mail de sua assessora de imprensa. Uma torção no tornozelo deixaria o brasileiro fora do evento. Foi o primeiro momento em que ouvi dúvidas. Lembro de ver gente na redação do jornal em que trabalhava questionando a veracidade do release. Seria a torção uma desculpa para não ir ao torneio e não mencionar o quadril, ainda lesionado? Guga, afinal, jamais gostou de entrar em detalhes sobre sua lesão (até hoje, há fatos importantes não revelados sobre aquele período).

Pouco importa agora se aquela entorse foi verídica. A quem interessa, porém, vale lembrar que Guga entrou em quadra no dia 11 de fevereiro para jogar duplas na Copa Davis. Pouco mais de uma semana depois, foi ao Brasil Open e perdeu na estreia para o então desconhecido André Ghem. Seu torneio seguinte seria só nove meses depois – uma derrota na primeira rodada de um Challenger. Ali, já se sabia que o caminho não teria volta. Mas repito: pouco importa agora. Trago o tema à tona porque Rafael Nadal acaba de anunciar que não disputará o Australian Open. E a revelação vem em circunstâncias curiosamente parecidas.

O espanhol estava comprometido com o Mubadala World Tennis Championship, em Abu Dhabi, com começo marcado para o dia 27 deste mês. Citando uma infecção estomacal que provocou febre, o ex-número 1 adiou sua volta para Doha, na primeira semana de 2013. E nesta sexta-feira, fez o anúncio inevitável. Disse que o vírus não lhe deixou treinar e que, por isso, optou pelo caminho conservador. Vai ficar fora de Doha e do Australian Open. A volta, agora, será só em fevereiro, no ATP 500 de Acapulco. E no saibro.

Nenhum tenista gosta de falar sobre suas lesões. Especialmente durante o tratamento. E mais ainda quando a recuperação não vem tão rápido. Fãs de Sharapova devem lembrar-se bem disso. Nadal parece uma exceção. Forneceu várias atualizações em sua conta no Facebook, publicou inúmeras fotos de seu treinamento e sempre evitou estipular uma data precisa para seu retorno. Até a “confirmação” da presença em Abu Dhabi demorou para vir. E o anúncio desta sexta-feira começa citando o joelho: “mi rodilla está bastante mejor”, diz a primeira frase.

Por que citar o joelho se o problema maior foi a infecção estomacal? Talvez para acalmar os fãs e mostrar que não há motivos para preocupação. A lesão maior está sendo tratada. Talvez, contudo, o tiro saia pela culatra. Alguém pode interpretar a explicação sobre o joelho como uma maneira de apenas evitar mais perguntas sobre o longo processo de recuperação, que já dura seis meses.

Nadal estaria mentindo em sua declaração? Impossível saber. Por seu histórico de falar abertamente sobre lesões, eu apostaria minhas fichas em um grande “não”. O leitor, então, pode perguntar: por que escrever os seis parágrafos acima se você acha que a história sobre a infecção estomacal foi verdadeira? Simples. Por mais que eu acredite nas palavras de Nadal, acho perfeitamente compreensível duvidar.

Drops

Enquanto Serra fala pejorativamente no kit-gay do Haddad — na verdade falando sobre o kit anti-homofobia, criado durante a gestão de Haddad no Ministério da Educação com a finalidade de combater a discriminação sexual nas escolas públicas –, enquanto Malafaia é personagem principal da campanha, fico pensando se estas distorções religiosas baseadas na desinformação resolvem alguma coisa. Será que Serra vai subir nas pesquisas? Espero que não. São Paulo não deve ter quase problemas, né?

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Gostaria que houvesse um IDH que pudesse medir as câmaras de vereadores recém eleitas. Podiam falar com com o Amartya Sen… A de Porto Alegre não recomenda muito. Tenho pena da Melchionna, do Ruas, da Cavedon, do Sgarbossa.

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Poucos sabem aqui, mas eu gosto de tênis tanto quanto de futebol. Ontem, saiu o novo ranking. Roger Federer está com 12.165 pontos contra 11.970 de Novak Djokovic nas últimas 52 semanas. São apenas 165 pontos de diferença, mas há um detalhe que beneficia o sérvio. Em 2012, Nole somou 11.410 pontos, contra 9.255 do suíço. São 2.155 de vantagem, com apenas três torneios restando no calendário: Basileia (500), Paris (1.000) e ATP Finals (1.500). Isto é, Federer tem muitos pontos a defender e provavelmente deixará de ser o número 1 nas próximas semanas. Mas isto é daquelas probabilidades das quais a gente duvida. Federer sempre tira um coelho da cartola, mesmo que Nole esteja voando.

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O Inter? Mas por que deveria falar dele? Gente, o ano acabou. Agora são as eleições. Fim.

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Na segunda quinzena de novembro, vou tirar férias com uma missão: a de arrumar os livros em casa. Não consigo encontrar nada. 15 dias para fazer tudo. A partir de hoje, tenho 30 dias para planejar a colocação das estantes e coisa e tal. Estou com férias em atraso, completando dois anos. (Mas, após uma procura insana, acabei encontrando o livro que queria emprestar para a Natália Otto, se ela ainda estiver interessada. De que vale uma biblioteca se não encontramos nada nela?)

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Brasil enfrenta o Japão neste momento. Escuta, alguém dá bola pra seleção do Mano?

O Onyxzão 2010 e o Aberto da Austrália

Ontem, tarde da noite, eu enchi o saco de ver o Inter C enfrentar o terrível Porto Alegre — investimento da família Assis Moreira. O Inter já fizera seu gol e o Porto Alegre não atacava. Não atacava porque é ruim e não há uma torcida que lhe cobre uma postura mais competitiva. Levava o jogo como quem leva um pagode até o fim, apenas isso. O Onyxzão 2010 é uma dessas coisas lamentáveis que nossa política mantém apenas para satisfazer alguns caciques locais (presidentes de federações e agregados) que, por sua vez, sistematicamente votam e mantêm o cacicão Ricardo Teixeira.

Ana mostra o tamanho do seu jogo

Muito mais interessante estava o Aberto da Austrália. Na ESPN, a musa Ana Ivanovic (acima), ex-número 1 do mundo, via desmancharem-se seus planos de um grande 2010. A argentina Gisela Dulko inequivocamente reagia a um set perdido de forma quase casual e só um milagre salvaria a bela sérvia. Porém, os grandes jogadores tiram forças sabe-se lá de onde e eu, enquanto conversava com minha filha, esperava uma virada firme de Ana sobre uma adversária comum. E aqui volto a tocar no assunto de minha admiração pelas mulheres. As expressões, os rostos. A derrota de Ana estava em sua cara quase uma hora antes de ocorrer. Ela não conseguia deixar de expressar seu desespero, de comunicar ao estádio, à adversária e aos milhões que assistiam pela TV que, desde a metade do segundo set, estava perdida e impotente frente à argentina. O jogo acabou em 6/7 (6/8), 7/5 e 6/4 em favor de Dulko.

Toda vez que Ana ia pegar as bolas para um novo saque, estampava-se em seu rosto coisas como: “todos esperam, até eu, que a ex-número 1 reaja e massacre esta ridícula”, “estou decadente aos 22 anos”, “por que erro tanto?”, “por que não consigo jogar como dois anos atrás?”, “que vergonha ser eliminada na segunda rodada”, “como tudo é injusto!”, etc. O desalento e os erros de Ana eram tamanhos que Dulko também começou a errar lastimavelmente e o jogo tornou-se uma tour de force psicológica para averiguar quem poderia ser pior. Dulko errava por estar eliminando uma das favoritas ao torneio, Ana errava por estar quase chorando de impossibilidade e vergonha.

Sem Sharapova e Ivanovic,
o torneio feminino vira apenas uma série de jogos de tênis. Nhé.

O jogo do Inter terminou 1 x 0, né? Não devo ter perdido nada.

Diferentes formas de sobrevivência

.: 1 :.

O veterano Rubens Barrichello teve um grande 2009. Após quase não arranjar equipe, Rubens acabou o mundial de pilotos em terceiro lugar e em alta. Para completar, saiu da habitual passividade e reagiu ao fato de ser uma piada em todo lugar. Nesta semana, ganhou um processo contra o Google, obrigando a que o gigante retire, principalmente do Orkut, mais de trezentos falsos perfis onde Barrichello era tratado como tartaruga, chofer, etc., além de 90 comunidades ofensivas. O motivo da ação foram as reclamações dos filhos do piloto. O valor da indenização é uma piada para os padrões da Fórmula 1, US$ 500 mil, e a grana vai para instituições de caridade. Barrichello, claro, é multimilionário e só alguns brasileiros o acham incompetente.

.: 2 :.

Enquanto isso, o ex-tenista Andre Agassi escolheu outra forma de sobrevivência: o suícidio póstumo como atleta. Em sua autobiografia Open, o vencedor de oito Grand Slam confessa ter tomado regularmente a droga cristal — também conhecida como MD cristal, crystal meth ou ice. Uma vez ao ser flagrado num antidoping, mentiu, em carta por escrito, que seu auxiliar havia colocado a droga num refrigerante e a ATP acreditou ou não quis levar o caso adiante. O auxiliar que “batizara” o refri foi mandado embora e Agassi seguiu a carreira nas quadras e no cristal. Uma maravilha.

Mas é pior. Depois dessa, a ATP afrouxou o controle sobre o doping. Hoje, os tenistas apenas escrevem onde estiveram e o que tomaram. Uma piada. Rafael Nadal e Marat Safin tiveram reações bastante fortes. Nadal foi sério:

— Não entendo porque disse isso agora, já que está aposentado. É uma forma de prejudicar o esporte sem nenhum sentido. Se nesses momentos a ATP escondeu o assunto (do doping) de Agassi e puniu outros, parece uma falta de respeito com todos os esportistas. Quero acreditar e espero que nada disto esteja acontecendo agora. Acho que temos um esporte limpo e sou o primeiro a desejar isso, mesmo sem estar de acordo com a forma (em que são realizados os exames antidoping). Os trapaceiros devem ser punidos, e se Agassi trapaceou em sua época, deveria ter sido punido — disse.

Agassi disse estar triste e arrependido. Coitado.

O tenista russo Marat Safin, mantendo a habitual irreverência e ironia que me fazem admirá-lo, propôs a solução para o “problema de consciência” de Agassi.

— Ele sente culpa? Então que ele devolva os seus títulos, dinheiro e seus Grand Slams — , afirmou Safin em entrevista ao jornal francês L’Equipe. — Se ele agora é limpo e franco, poderia fazê-lo. Vocês sabe, a ATP tem uma conta bancária e ele pode fazer a restituição, basta querer — completou.

Como Safin é do meu time e não alivia, seguiu mandando bala:

— Eu não vou escrever minha biografia, não preciso de nenhum dinheiro. A questão é: por que ele fez e por que confessou após aposentar-se? — , perguntou. — O que ele quer é vender mais livros, é completamente estúpido — , criticou o russo. Safin encerrou sua carreira esta semana em Paris fazendo uma grande partida contra Juan Martin del Potro. Foi eliminado ao perder por 2 x 1.

Além do russo e do espanhol, poucos se manifestaram. Guga foi cauteloso e político.

— Eu confesso que não sei até que ponto essa notícia pode se tornar algo real — , disse. — O Agassi que conheço é um sujeito competitivo e sincero nas palavras dele. Na realidade, se comprovado, ele deve ter tentado demonstrar no seu livro momentos de sua trajetória em que enfrentou dificuldades.

Mas é ainda pior. Os médicos revelam que, em algumas circunstâncias, o cristal provoca pânico e…

Bem, Agassi afirma em seu livro que perdeu de maneira proposital para Michael Chang na semifinal do Aberto da Austrália em 1996, pois queria fugir de Boris Becker na decisão. Apesar de transparecer sempre sério e objetivo. Agassi agora diz que tinha medo de Jim Courier, Thomas Muster, Yevgeny Kafelnikov, Boris Becker (que chama de “maldito alemão”) e de Pete Sampras. Estranho. Sobre Chang, Agassi tem algumas pérolas bastante interessantes:

— Eu o odiava. Ele dava graças à Deus e atribuía suas vitórias a Deus, isso me irritava muito. Por que Deus se importaria com uma partida de tênis? E por que ele se colocaria contra mim e a favor do Chang? Isso é ridículo. Quando ele venceu Roland Garros em 1989, fiquei com vontade de vomitar. Me perguntei: “Por que logo o Chang? Por quê, entre tantos outros, logo ele foi vencer um Slam antes de mim?”

.: 3 :.

E a Feira do Livro de Porto Alegre? Por que agoniza? Ora, por sua exclusiva culpa. Há anos que este blogueiro de sete leitores diz que a Feira tornou-se uma grande livraria, que não há variedade, que a quantidade de livros iguais — se a gente pede alguma coisa diferente, os livreiros têm de encomendar (?!) — torna a Feira um espetáculo nauseante. Este ano, não comprei nenhum livro lá, até porque sei que dificilmente os livros que procuro estarão lá. Alguém encontrou na Feira o livro o recentíssimo Música Mundana de John Neschling? Alguém viu por lá a trilogia do Gaúcho a Pé de Cyro Martins naquela bela edição comemorativa ao centenário de Cyro Martins lançada no ANO PASSADO? Melhor o site da Cultura ou a Estante Virtual, né? E, de quebra, não se precisa caminhar no meio de corredores cheio de livros de vampiros e autoajuda. De bom, a Feira tem os bares. Lá é onde estão atualmente os leitores.

.: 4 :.

Cada um busca a aposentadoria que pensa merecer. Barrichello aspira a uma dignidade tardia. Agassi faz o exato contrário. Barrichello quer entrar na história de uma forma diferente do que foi sua vida; Agassi quer o desprezo, mas antes venderá livros. A Feira está em fase minguante, mas não sou nada apocalíptico a respeito. Talvez até melhore.

Equilibrando-me entre o futebol e o tênis

Sou daqueles homens que podem passar horas abobalhados assistindo a um jogo de futebol ou de tênis. O que fazer se nascemos com esta estranha necessidade, tão comum entre os homens e tão rara entre as mulheres? Tenho absoluta certeza de que o motivo maior pelo qual fico vendo futebol não é o ódio mortal (e perfeitamente natural) que cultivo ao Grêmio nem o amor que devoto ao Inter (algo mais natural ainda). Posso ficar igualmente hipnotizado se a atração for Boca X River, Manchester United X Milan, Náutico X Íbis ou uma pelada entre garotos. Trata-se de um defeito de fabricação muito comum entre nós, seres mais apreciados por elas pela produção de testoterona.

E o pior é que tenho absoluta certeza de que o motivo pelo qual gosto de futebol e tênis é estético, é plástico… Entendem? O futebol, principalmente quando visto no campo, é algo belíssimo, digníssimas senhoras. A movimentação, a tática que os jogadores obedecem ou não, é muito interessante. A dinâmica do jogo é complexa e alguns treinadores levam enorme tempo para gerar aquela sincronia a qual denominamos bom futebol. Tá bom, concordo que isto é parcialmente desmentido pelas entrevistas que ouvimos aos finais de jogos. Nossas mulheres devem questionar se a mente de quem fala daquela maneira pode gerar, noutras circunstâncias, quaisquer pensamentos abstratos. Outra dúvida possível é se a complexidade do futebol não é um fato apenas imaginado por nós com a finalidade de valorizar o triste fato de sermos fanáticos adoradores de algo imbecil. Mas sei que alguns jogadores podem ser verdadeiramente geniais dentro de campo, tal como Johan Cruyff, Tostão e Zidane; enquanto que outros — como Ronaldinho Gaúcho — são provas vivas de que uma excepcional coordenação motora pode ser comandada por um cérebro burro sem grandes problemas…

Algumas mulheres se irritam conosco, outras — mais espertas — suportam bravamente nossas características. A minha está no segundo time. Ela já foi adestrada (desculpe, meu amor) por um marido italiano que passava todo o domingo na frente da televisão em Verona. Como sou capaz de ficar apenas 3 horas contínuas atento aos jogos, talvez eu seja uma evolução em sua vida. Semana passada, durante uma preguiçosa e amorosa manhã, víamos um torneio de tênis e tratei de explicar-lhe as regras que regem um jogo daqueles. Foi complicado, pois não conheço a raiz histórica que faz com que contemos os pontos de forma tão estapafúrdia — 1 a 0 no game é 15-0, 2 a 0 é 30-0, 3 a 0 é 40-0… –, só sei que é assim. Como ela não costuma aceitar explicações vagas, tendo a irritante mania de dominar todos os conceitos fundamentais, não é adequado dizer-lhe que é assim porque é. Graças ao bom Deus, ela concluiu que devia ser algo inventado por ingleses, povo que tem o sistema monetário e de medidas mais complicado do planeta. No final, ela já estava até fazendo comentários pertinentes…

Ontem pela manhã, liguei a TV para ver LDU x Pachuca. Me entusiasmei além da conta com a cobrança de falta de Bolaños e disse o que deveria ter evitado: Olha, a trajetória desta bola! Não é pura arte? E completei a merda de forma condigna: Parece um traço de Picasso. De onde tirei uma besteira dessas? Recebi de volta apenas um arquear de sobrancelhas. Aquele arquear, entendem? Aquele que significa 100% de ceticismo, que nos reduz a meros adoradores de algo que não vale coisa alguma e que só poderá ser reequilibrado se ela ficar duas horas se arrumando para uma festa, provocando constrangedor atraso…

Céus, quanto investimento jogado fora!