Dois destaques

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Ao comentário do Luís Augusto Farinatti (mais abaixo no link anterior) feito ao post História de Natal. Copio a seguir o que escreveu o Farinatti.

Milton.

O texto me emocionou. Há compaixão nele.

Sobre o culto mariano, sem querer polemizar, ao que me lembro das leituras sobre história medieval, ele ganha força apenas lá pelo século XI ou XII, junto com uma revalorização da figura humana de Jesus.

Me parece que a associação com as inúmeras divindades femininas pagãs, fossem elas romanas, celtas, germânicas ou eslavas estava presente sim. Acho fascinante perceber que isso tem longuíssima duração. Basta peregrinar pelas regiões de colonização italiana no RS. Os gringos não podem ver uma gruta que metem lá uma Nossa Senhora. Nunca um santo homem. É uma tentação aceitar a postura estruturalista de que a gruta é uma metáfora do útero e que a deidade feminina colocada ali é uma reminiscência incosciente da deusa mãe, mãe terra, gaia ou quantos mais nomes tivessem.

Poucas coisas são tão espantosas quanto a concepção e o sexo. Seria muito difícil para qualquer religião apagar o potencial de mistério, encanto e assombro dos homens diante desses momentos, por mais que o cristianismo tanto tenha insistido em dessacralizar esses atos.

Talvez tudo isso tenha mesmo algum sentido. Há um trabalho muito bom, de Maíra Vendrame, sobre os imigrantes italianos no centro do RS. Ela contraria as obras que descrevem a italianada como “pacíficos seguidores dos padres”. Eles era muito religiosos sim, mas tinham suas próprias concepções de religião, muitas delas reatualizações de crenças pagãs que esses camponeses (pagão, pagus, pago, campo, camponês) usavam para entender o mundo. Os padres ficavam furiosos e escreviam cartas indignadas a seus superiores porque os colonos queriam que eles benzessem porcos e galinhas, queriam que abençoassem os campos antes da plantação. Parecia coisa de idólatras pagãos.

A italianada respondia que, se não era para garantir prosperidade, saúde e boas safras, então para que diabos se precisa de um padre? Só para fornicar escondido com viúvas solitárias?

Aliás, a própria construção da crença em santos me parece uma adaptação de uma religião antiga, onde os deuses eram conhecidos, se sabia sua história, do que gostava e do que não gostava, se conhecia seu rosto e se sabia como negociar com eles para conseguir o que se precisava (um amor, o fim de um temporal, uma boa colheita, a cura de uma doença).

Aquele deus do cristianismo, que não tinha rosto, estava em toda parte e em lugar nenhum e precisava dos padres como intermediários era pouco acessível para os camponeses medievais. Talvez os santos tenham preenchido esse espaço. Mas isso já é chute e estou indo muito além dos meus tamanquinhos.

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E, do blog A Origem das Espécies, de Francisco José Viegas, este curto post, publicado ontem, que fala sobre a Beleza da Criação. Da criação de Darwin e da outra. Copio aqui também:

A Origem das Espécies, de Charles Darwin, o livro que mudou a nossa forma de pensar o ser vivo e a sua relação com a Natureza, foi publicado há exatamente 250 anos, assinalados hoje em todo o mundo. Poucos leram A Origem das Espécies – é um livro surpreendentemente bem escrito, onde é visível o dom da clareza. Um retrato assim maravilhado só podia comover os criacionistas, que defendem a intervenção superior da Mão Divina (desta forma ou sob a forma do “desenho inteligente”) na criação do mundo e na evolução do ser vivo; pelo contrário, não só relativizam a importância de Darwin como, em alguns casos, o denunciam como o grande inimigo (“adversário” não basta) da religião. Não interessa. Só o facto de permanecerem imunes à beleza deste livro já é assustador.

Acho notável como dialogam os textos do Farinatti e o de Viegas, lidos por mim um logo após o outro.

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